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Contra o valor fixado na aplicação do artigo 387, caput e IV, CPP.

No documento Ministério Público Federal (páginas 102-107)

GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH incorreram, assim, na prática do delito de corrupção ativa,

3.10. Contra o valor fixado na aplicação do artigo 387, caput e IV, CPP.

Do dispositivo da sentença constou:

935. Com base no art. 387, IV, do CPP, fixo em R$ 46.412.340,00 o valor mínimo necessário para indenização dos danos decorrentes dos crimes, a serem pagos à Petrobras, o que corresponde ao montante pago em propina à Diretoria de Serviços e Engenharia e que, incluído como custo das obras no contrato, foi suportado pela Petrobrás. É certo que parte menor desse valor também remunerou serviços técnicos de Milton Pascowitch, mas sendo utilizados os contratos de consultoria como veículos para propina, tornou-se inviável a discriminação dos valores. O valor deverá ser corrigido monetariamente até o pagamento. Os condenados respondem na medida de sua participação nos delitos, segundo detalhes constantes na fundamentação e dispositivo.

Para se chegar ao referido valor, confira-se a fundamentação do Juízo:

455. Os repasses da Engevix Engenharia para a empresa Jamp Engenheiros Associados foram formalizados em contratos de consultoria e assessoria. São eles (evento 3, arquivos comp95, comp96, comp97, comp98, comp100, comp101):

- contrato de prestação de serviços nº P-8887/01-MO-PJ-1014/05, celebrado em 01/12/2005, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase II), no valor de R$ 5.450.016,00, com vinte e quatro notas fiscais e repasses líquidos de R$ 5.114.840,05 entre 09/01/2006 a 05/12/2007;

- contrato de prestação de serviços nº 8887/01-MO-PJ-1018/09, celebrado em 01/08/2007, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase II), no valor de R$ 1.412.696,22, com dezoito notas fiscais e repasses líquidos de R$ 1.325.817,28 entre 06/12/2007 a 27/04/2009;

- contrato de prestação de serviços nº P-8993/00-MO-PJ-1011/07, celebrado em 13/04/2007, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase III), no valor de R$ 28.866.786,00, com quarenta e seis notas fiscais e repasses líquidos de R$ 27.091.478,77 entre 25/06/2007 a 16/11/2010;

- contrato de prestação de serviços nº P-8983/00-MO-PJ-1031-07, celebrado em 01/09/2007, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase III), no valor de R$ 1.549.057,06, com onze notas fiscais e repasses líquidos de R$ 872.621,27 entre 16/11/2010 a 16/01/2012;

- contrato de prestação de serviços nº P-8993/00-IO-PJ-1008-10, celebrado em 01/10/2010, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase III), no valor de R$ 1.411.377,63, sem informação quanto aos repasses líquidos;

- contrato de prestação de serviços nº P-8983/00-IO-PJ-6009-11, celebrado em 23/08/2011, vinculado ao contrato da Engevix para Cacimbas (Fase III), no valor de R$ 414.102,85, com duas notas fiscais e repasses líquidos de R$ 425.338,62 entre 03/10/2011 a 06/12/2011;

- contrato de prestação de serviços nº P-1015/00-IO-PJ-1000-08, celebrado em 19/03/2008, vinculado ao contrato da Engevix para a URE da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), no valor de R$ 2.369.333,00, com dezoito notas fiscais e repasses líquidos de R$ 1.495.771,91 entre 30/05/2008 a 15/03/2010;

- contrato de prestação de serviços entre a Jamp e Consórcio Integradora - URC (Engevix/Niplan/NM), de nº P1169/00-IO-PJ-0094/10, celebrado em 09/10/2010, vinculado ao contrato Consórcio para a URC da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), no valor de R$ 2.369.333,00, com nove repasses líquidos de R$ 2.453.491,56 entre 10/11/2010 a 02/02/2012;

- contrato de prestação de serviços nº P-8994/00-MO-PJ-1005/08, celebrado em 19/03/2008, vinculado ao contrato da Engevix para a Unidade de Propeno na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR), no valor de R$ 3.484.206,00, com dezoito notas fiscais e repasses líquidos de R$ 3.363.777,33 entre 10/09/2009 a 20/01/209

- contrato de prestação de serviços nº P-8984/00-MO-PJ-1000-10, celebrado em 01/03/2010, vinculado ao contrato da Engevix para a Unidade de Propeno na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR), no valor de R$ 929.304,00, com duas notas fiscais e repasses líquidos de R$ 187.700,00 entre 25/05/2010 e 25/06/2010;

- contrato de prestação de serviços nº P-1079/00-MO-PJ-1001/09, celebrado em 01/11/2008, vinculado ao contrato da Engevix para a carteira de diesel da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no valor de R$ 6.377.504,80,00, com vinte e seis notas fiscais e repasses líquidos de R$ 5.834.199,43 entre 27/07/2009 a 21/09/2011;

- contrato de prestação de serviços nº P-1079/00-I0-PJ-0008/11, celebrado em 25/11/2008, vinculado ao contrato da Engevix para a carteira de diesel da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no valor de R$ 381.879,33, com uma nota fiscal e repasse líquido de 358.393,75 em 21/10/2011.

- contrato de prestação de serviços nº P-1079/00-IO-PJ-1001/11, celebrado em 17/05/2011, vinculado ao contrato da Engevix para a carteira de diesel da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no valor de R$ 2.625.325,36, com quatro notas fiscais e repasse líquido de R$ 787.271,65 entre 21/10/2011 a 20/03/2012;

- contrato de prestação de serviços nº P-1079/00-IO-PJ-0013/12, celebrado em 23/03/2012, vinculado ao contrato da Engevix para a carteira de diesel da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no valor de R$ 1.396.734,04, com seis notas fiscais e oito repasses líquidos de R$ 2.656.489,10 entre 20/04/2012 a 21/12/2012.

456. Como a denúncia não abrange propinas efetivamente pagas em relação aos contratos da Engevix Engenharia com a Petrobrás para Cacimbas (Fase II), os dois

primeiros contratos do rol podem ser desconsiderados na presente sentença.

Os demais, considerando os repasses líquidos identificados, somam R$ 46.412.340,00.

Verifica-se, assim, que a propina objeto destes autos, considerada vantagem indevida recebida, perfez R$ 46.412.340,00. No entanto, o valor indicado não configura o montante total do crime.

Como se pode concluir a partir da leitura da sentença, o douto Juízo a quo considerou, para fins de cálculo do valor correspondente ao produto do crime, o montante líquido efetivamente repassado pela ENGEVIX à JAMP Engenheiros Associados, empresa de MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH. Tais valores líquidos são resultantes da subtração dos custos de emissão de nota fiscal do montante bruto a ser pago. Desta feita, uma vez que referidos custos foram também suportados pela ENGEVIX, de modo que foram contabilizados pela empreiteira como valores a serem pagos a título de vantagens indevidas, a oneração a que submetida a Petrobras corresponde ao valor bruto repassado à JAMP pela ENGEVIX, o qual totaliza R$ 46.464.575,08.

Ademais, o montante de R$ 46.464.575,08, como anteriormente dito, configura o produto do crime, e não baliza para a indenização, como fixado na sentença.

Nesse contexto, é relevante destacar que o art. 91 do Código Penal estabelece, como efeitos da condenação, a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, e a perda em favor da União do produto do ato delituoso.

Dessa forma, o MPF entende necessário o perdimento dos valores auferidos com a corrupção, ou do seu equivalente, servindo para tanto os numerários bloqueados em contas e investimentos bancários e os montantes em espécie apreendidos em cumprimento aos mandados de busca e apreensão, na quantia de R$ 46.464.575,08 , correspondentes ao valor comprovado de corrupção ligada às obras denunciadas e objeto da lavagem de capitais.

Tratando-se de condenação que engloba crimes de lavagem de dinheiro, de relevo a disposição especial do §1º do artigo 7º da Lei nº 9.613/98, que prescreve:

Art. 7º São efeitos da condenação, além dos previstos no Código Penal:

I - a perda, em favor da União - e dos Estados, nos casos de competência da Justiça Estadual -, de todos os bens, direitos e valores relacionados, direta ou indiretamente, à prática dos crimes previstos nesta Lei, inclusive aqueles utilizados para prestar a fiança, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé;

II - a interdição do exercício de cargo ou função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas referidas no art. 9º, pelo dobro do tempo da pena privativa de liberdade aplicada.

§ 1º A União e os Estados, no âmbito de suas competências, regulamentarão a forma de destinação dos bens, direitos e valores cuja perda houver sido declarada, assegurada, quanto aos processos de competência da Justiça Federal, a sua utilização pelos órgãos federais encarregados da prevenção, do combate, da ação penal e do julgamento dos crimes previstos nesta Lei, e, quanto aos processos de competência da Justiça Estadual, a preferência dos órgãos locais com idêntica função.

Com essa norma especial, o Estado brasileiro indica a destinação dos valores perdidos envolvidos em delitos de lavagem aos órgãos de persecução penal, em resposta à preocupação internacional de assegurar a eficácia aos órgãos de combate a crimes de corrupção, lavagem de capitais e organização criminosa45.

Todavia, conforme aponta Luiza Cristina Fonseca Frischeinsen, "a destinação final dos bens deverá ser fixada na sentença"46. A observação é de todo pertinente, já que

é necessário que o juiz não apenas destine os valores aos órgãos federais, como também especifique a quais deles em que montante.

Ocorre que a sentença recorrida limitou-se a fixar o valor do dano mínimo a título de indenização, nada falando quanto ao montante do perdimento e à sua destinação.

Assim, impondo-se o perdimento dos valores auferidos com a corrupção, no montante de R$ 46.464.575,08 , é necessário, ainda, que seja dada a correta destinação, 45 Nesse sentido, podem-se citar, exemplificativamente, os artigos 7, 9, 11 (em especial o item 2), 29 e 31 da Convenção de Palermo, inserida no Direito Interno por meio do Decreto nº 5.015/04. A mesma preocupação é manifestada em outros mecanismos internos, como, por exemplo, as ações de 2015 aprovadas na XII Reunião Plenária da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, que prescrevem, como ação 11, a necessidade de “Identificar mecanismos que possibilitem maior efetividade dos órgãos de fiscalização, controle e persecução penal nas ações de prevenção e combate à lavagem de dinheiro por meio do comércio internacional”.

46 FRISCHEISEN, Luiz Cristina Fonseca in DE CARLI, Carla Veríssimo (org). Lavagem de Dinheiro – Prevenção e Controle Penal. 2ª ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2013. p. 721.

nos termos previstos no art. 7º, §1º, da Lei nº 9.613/98: aos órgãos federais de persecução e julgamento penal, mais especificamente, ao Ministério Público Federal, à Justiça Federal, à Polícia Federal e à Receita Federal, em quotas iguais.

Tal valor deverá ser objeto de perdimento sem prejuízo do arbitramento cumulativo do dano mínimo, a ser revertido em favor da Petrobras, com base no art. 387, caput e IV, do CPP.

Considerando os contratos e aditivos em relação aos quais se comprovou corrupção envolvendo a ENGEVIX e empregados da Petrobras, bem como que houve pagamento de propina a RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO enquanto permaneceram em altos cargos da Petrobras correspondentes à soma dos valores repassados pela ENGEVIX à JAMP em razão de cada um dos contratos e respectivos aditivos relacionados às obras dos Módulos 2 e 3 da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas – UTGC Fase III, da Refinaria Presidente Bernardes – RPBC, da Refinaria Getúlio Vargas – REPAR e da Refinaria Landulpho Alves – RLAM, estima-se o prejuízo mínimo em R$ 46.464.575,08. Assim, imperiosa a condenação também nesse montante, a título de dano mínimo. Observado que a propina foi paga com recursos oriundos dos contratos e aditivos obtidos de forma fraudulenta junto à Petrobras, não há como fixar valor menor que o correspondente à peita para indenizá-la. Esse valor é calculado independentemente da quota parte da ENGEVIX nos consórcios que executaram tais instrumentos, ante a natureza solidária da obrigação, conforme dispõe o art. 942, caput, segunda parte, do Código Civil.

4 . PEDIDOS

Por todo exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL pugna pelo conhecimento e provimento do recurso nos termos colocados, com a manutenção da sentença nos pontos não recorridos, mas reformando-a para:

1. condenar CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, considerando o quanto alegado nos itens “3.5”, “3.6”, “3.8” e “3.9” das presentes razões de apelação, pela prática

dos delitos de (i) pertinência à organização criminosa (art. 2º, caput e § 4º, II, III, IV e V c/c art. 1º, §1º, ambos da Lei 12.850/13); (ii) corrupção ativa (art. 333, caput e parágrafo único do Código Penal), por 128 vezes, em concurso material (art. 69 do Código Penal); e (iii) lavagem de ativos (art. 1º, V, c/c o art. 1º § 4º, da Lei 9.613/98 (na redação anterior à Lei 12.683/2012)), por 18 séries independentes de branqueamento de capitais, consubstanciadas nos pagamentos decorrentes da celebração de 14 contratos de prestação de serviços fraudulentos com a JAMP Engenheiros Associados e de 4 contratos de prestação de serviços fraudulentos com a JD ASSESSORIA, na forma do art. 69 do Código Penal, nos termos do item “3.1” da presente peça;

2. condenar a) GERSON ALMADA, por 18 séries independentes, b) RENATO DUQUE, por 14 séries independentes, c) JOSÉ DIRCEU, por 8 séries, d) LUIZ EDUARDO, por 8 séries independentes, e) JULIO CÉSAR, por 3 séries independentes, e f) FERNANDO MOURA, por 5 séries independentes, como incursos nas sanções do art. 1º, caput e §4º, da Lei n. 9.613/98, em concurso material (art. 69 do Código Penal); nos termos dos itens “3.2”, “3.3”, “3.4”, “3.5” e “3.9” da presente peça;

3. condenar a) GERSON ALMADA, por 128 vezes, como incurso nas sanções do

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