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Oposição à análise do Juízo quanto às causas de diminuição e de aumento de pena

No documento Ministério Público Federal (páginas 78-83)

GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH incorreram, assim, na prática do delito de corrupção ativa,

3.7. Contra a dosimetria da pena fixada na sentença recorrida

3.7.3. Oposição à análise do Juízo quanto às causas de diminuição e de aumento de pena

3.7.3.1. Da incidência do aumento de pena previsto no artigo 2º, §4º, III e V da Lei 12.850/2013 nas penas fixadas a FERNANDO MOURA, JOSÉ DIRCEU, JULIO CÉSAR, LUIZ EDUARDO e ROBERTO MARQUES, bem como a CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES

O artigo 2º, §4º da Lei n. 12.850/2013 prevê, em seus incisos II, III e V, que a pena pela prática do delito de organização criminosa será aumentada de 1/6 a 2/3 se (ii) há concurso de funcionário público, sendo esta condição utilizada pela organização criminosa para a prática de infração penal; (iii) se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo, ou em parte, ao exterior; e (v) se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.

Embora tenha a sentença reconhecido a aplicação da causa de aumento do artigo 2º, §4º, II da Lei n. 12.850/2013, em relação a FERNANDO MOURA, JOSÉ DIRCEU, JÚLIO CÉSAR, LUIZ EDUARDO e ROBERTO MARQUES, impende, ainda, o reconhecimento das majorantes previstas nos incisos III e V do mesmo dispositivo legal.

Conforme exaustivamente demonstrado no âmbito das investigações da Operação Lava-Jato e explanado pela denúncia (evento 1) e pelas alegações finais (evento 879) da ação penal nº 5045241-84.2015.4.04.7000, a organização criminosa destinada à prática de delitos no seio e em desfavor da Petrobras é una, embora composta por diferentes núcleos.

Referida organização criminosa remetia o produto das infrações penais para o exterior (como reconhecido, por exemplo, nas sentenças das ações penais nº 5026212- 82.2014.4.04.7000 e 5036528-23.2015.4.04.7000) e mantinha conexão com outras organizações criminosas independentes (ex: as organizações criminosas capitaneadas por NELMA KODAMA e CARLOS HABIB CHATER).

Nesta senda, faz-se necessária a aplicação das causas especiais de aumento de pena previstas no artigo 2º, §4º, III e V da Lei n. 12.850/2013 às penas atribuídas a FERNANDO MOURA, JOSÉ DIRCEU, JÚLIO CÉSAR, LUIZ EDUARDO e ROBERTO

MARQUES, majorando-as no fator máximo de 2/3 (dois terços).

Especificamente no que toca a CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, caso provido o quanto requisitado no item “3.1” do presente recurso de apelação, necessária não apenas a aplicação das causas especiais de aumento de pena previstas no artigo 2º, §4º, III e V da Lei n. 12.850/2013 às penas que lhes forem atribuídas, como também da majorante prevista no inciso II do mesmo dispositivo legal, uma vez que RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, membros da organização criminosa em comento, eram funcionários públicos no sentido do artigo 327 do Código Penal, majorando-se, portanto, sua pena no fator máximo de 2/3 (dois terços).

3.7.3.2. Da incidência do aumento de pena previsto no artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 nas penas fixadas para GERSON ALMADA, JOSÉ DIRCEU, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR, FERNANDO MOURA, assim como em relação a CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES e RENATO DUQUE

A sentença recorrida, embora tenha reconhecido a existência de uma organização criminosa voltada à prática de vários delitos em desfavor da Petrobras e tenha condenado quase todos os apelados pelo crime de lavagem de capitais, deixou de aplicar a causa especial de aumento de pena prevista no artigo 1°, §4º, da Lei nº 9.613/98.

A majorante supramencionada, de acordo com a redação original do dispositivo (anterior a 09/07/2012), aplica-se aos casos em que o crime de lavagem de capitais é cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa, em alguma das hipóteses descritas nos incisos I a VI do caput, in verbis:

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

(...)

V - contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a

prática ou omissão de atos administrativos; (...)

§ 4º A pena será aumentada de um a dois terços, nos casos previstos nos incisos I a VI do caput deste artigo, se o crime for cometido de forma habitual ou por intermédio de organização criminosa.

Após alteração legislativa, a redação de referida causa de aumento tornou-se a seguinte:

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

(...)

§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei

forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

Os delitos de lavagem de capitais perpetrados pela organização criminosa descrita nos presentes autos dataram, conforme constante da sentença objurgada, de 01/12/2005 até 13/11/2013. Nessa senda, conforme reconhecido na decisão, perfeitamente aplicáveis em sua integralidade os dispositivos constantes da Lei n. 9.613/1998, tanto em sua redação original, eis que vigente à época de parcela dos fatos, quanto em sua nova redação.

Tendo isso em linha de conta, restando, ainda, patente a configuração in casu de crimes praticados contra a administração pública, merece reforma a sentença a fim de que reste reconhecida a causa especial de aumento em apreço. Primeiramente, reconhece-se que a lavagem de capitais pelos integrantes da organização criminosa se dava de maneira habitual, porquanto perpetrados repetidamente atos (reiterados) de lavagem de valores oferecidos e aceitos a título de vantagens indevidas, durante determinado e considerável período de tempo.

Nesse contexto, diante do número de condutas constantes da exordial acusatória e reconhecidas na sentença, as quais se estenderam por um interregno de aproximadamente oito anos, afigura-se configurada a hipótese descrita, que deve, inclusive, ante as peculiaridades do caso, observar a fração máxima prevista.

organização criminosa delineada na presente ação penal, reconhece-se presente, ainda, a outra possibilidade de aplicação da causa de aumento em questão, porquanto existente uma organização criminosa.

A despeito de a Lei n. 9.613/1998, na linha do que observado na Lei n. 9.034/1995, não se ocupar de definir a expressão “organização criminosa” por ela trazida, o que só ocorreu com o advento da Lei n. 12.850/2013, encontrava-se, ainda à época, preenchimento a essa lacuna legal no direito internacional.

A Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional, cognominada Convenção de Palermo, datada de 2000 e promulgada pelo Brasil por meio do Decreto n. 5.015, de 12/03/2004, confere, em seu artigo 2º, definição legal à noção de “grupo criminoso organizado” como “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material”. “Grupo estruturado”, por sua vez, de acordo com o mesmo dispositivo, seria o “grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração, ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada”, enquanto “infração grave” seria o “ato que constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior”.

De acordo com o posicionamento majoritário atualmente adotado pelo Supremo Tribunal Federal, edificado quando do julgamento do Recurso Extraordinário n. 466.343, em 2008, e acaudilhado pelo Ministro Gilmar Mendes, diante do que disposto no §3º, do artigo 5º, da Constituição Federal, tratados internacionais de direitos humanos, tais quais a Convenção de Palermo, após sua ratificação, possuem status de supralegalidade (e infraconstitucionalidade) no ordenamento jurídico brasileiro, fazendo-se, assim, aplicáveis ao direito interno.

o tipo penal de pertinência a organização criminosa, que, portanto, apenas a partir do referido ano passou a ser crime no Direito brasileiro, havia, à época dos fatos narrados na exordial acusatória anteriores a este período, definição legal à ideia de “organização criminosa” inserta na majorante do §4º, do artigo 1º, da Lei n. 9.613/1998, podendo ser, desde logo, reconhecida a sua configuração para fins de observância da causa especial de aumento trazida pela Lei n. 9.613/1998.

Mencione-se, ainda, que a aplicação dessa majorante consiste em uma resposta legal ao uso da lavagem de dinheiro para fortalecimento de organizações criminosas, inexistindo, portanto, bis in idem, configurando-se duas objetividades jurídicas distintas. A lavagem de capitais tem como bem jurídico tutelado a ordem econômico-financeira, ao passo que o crime de organização criminosa, assim como o de quadrilha, é espécie de crime contra a paz pública41.

Portanto, impende majorar, em sua fração máxima, a pena imposta pela prática de lavagem de dinheiro a GERSON ALMADA, JOSÉ DIRCEU, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR42 e FERNANDO MOURA, assim como a CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES e

RENATO DUQUE, em sendo provido o recurso quanto aos itens “3.1”, “3.2” e “3.5” das presentes razões.

3.7.4. Considerações finais quanto à dosimetria das penas fixadas aos

No documento Ministério Público Federal (páginas 78-83)