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Oposição à análise do Juízo quanto às circunstâncias atenuantes e agravantes

No documento Ministério Público Federal (páginas 74-78)

GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH incorreram, assim, na prática do delito de corrupção ativa,

3.7. Contra a dosimetria da pena fixada na sentença recorrida

3.7.2. Oposição à análise do Juízo quanto às circunstâncias atenuantes e agravantes

3.7.2.1. Da agravante prevista no artigo 61 do Código Penal em relação ao delito de corrupção praticado por GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, RENATO DUQUE, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU e FERNANDO MOURA

Apesar de a recorrida sentença não ter contemplado qualquer circunstância agravante em relação ao crime de corrupção, vislumbra-se a incidência de duas hipóteses daquelas previstas na alínea “b” do inciso II do artigo 61 do Código Penal40, quais sejam, o

cometimento do delito para facilitar e assegurar a execução de outro crime.

A tipificação do delito de corrupção ativa não envolve qualquer questão acerca do animus do agente, suas intenções, ambições ou desejos, visando apenas a reprimir aqueles que incorrem em uma das condutas trazidas pelos elementos objetivos (oferecer ou

prometer). Com isso, não existe, em sede de análise da tipicidade, qualquer carga sobre o

objetivo da conduta.

Reconhecida a pluralidade delitiva, cabe observar se essas condutas possuem uma sequência conexa, ou seja, se a existência das demais condutas possui o condão de assegurar a manutenção de um esquema delitivo. No caso da presente ação penal, o crime de corrupção teve como objetivo assegurar e facilitar a manutenção do cartel e do ajuste fraudulento de licitações (conexão teleológica).

Corroborando a tese, o reconhecimento da existência de crimes perpetrados ao longo de muitos anos demonstra que a corrupção atingiu o seu fim: assegurou a manutenção do cartel existente em face das licitações realizadas pela Petrobras.

Da mesma forma, evidenciado o envolvimento de funcionários da Estatal, sobretudo de RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, e do núcleo político que mantinha RENATO DUQUE na condição de diretor, é irrefragável que a corrupção visou a facilitar a perpetuação do crime de fraude às licitações.

A corrupção poderia ter sido pontual; a corrupção poderia ter como objetivo a prática de um ato de ofício legal; mas, não. O crime de cartel perdurou por longo período (assegurado pela corrupção) e o crime de fraude à licitação envolveu atos ilegais dos funcionários públicos (facilitados pela corrupção).

40 Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime:

[...]

Com isso, havendo claro intuito de criar e manter um esquema pernicioso no seio da Administração Pública, os atos de corrupção ativa e passiva não serão proporcionalmente reprimidos se não existir uma regra específica no tocante ao seu exaurimento (conexão com os demais delitos).

Ante o exposto, quanto às condenações pelo crime de corrupção ativa, pleiteia-se a reforma da pena fixada para GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, e quanto às condenações pelo crime de corrupção passiva, pugna-se pela reforma da pena fixada para RENATO DUQUE, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU e FERNANDO MOURA, com a incidência da agravante prevista no inciso II, alínea “b”, do artigo 61 do Código Penal.

3.7.2.2. Da incidência da agravante prevista no artigo 62, inciso I, do Código Penal nas penas fixadas para RENATO DUQUE, JOSÉ DIRCEU e GERSON ALMADA

O Código Penal brasileiro, em seu artigo 62, inciso I, confere especial atenção e prevê o agravamento da reprimenda penal a ser aplicada ao agente que comanda, organiza ou favorece a prática de um delito.

No caso em tela, considerando-se a existência de diversos núcleos e subgrupos criminosos na organização que se delineou no seio e em desfavor da Petrobras, verifica-se a existência de diversos dirigentes dos ilícitos perpetrados.

Nesse sentido, depreende-se da prova carreada aos autos que GERSON ALMADA era o responsável pela promoção e pela organização do núcleo criminoso instaurado na ENGEVIX, bem como pelos delitos por meio deles perpetrados. Orientando a atuação dos demais agentes e administradores da empresa, exercendo controle em todas as etapas de atuação ilícita atinentes à empreiteira, nos operadores financeiros e agentes públicos, foi responsável pela prática de delitos de corrupção, formação de cartel, lavagem de dinheiro, fraude à licitação e crimes contra o sistema financeiro nacional, todos de forma reiterada.

certames licitatórios conduzidos pela Diretoria de Serviços – gerida por RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO – o principal foco dos pagamentos de vantagens indevidas. Foram eles, assim, que permitiram o funcionamento do cartel de empreiteiras no seio da Estatal e que, diretamente ou por intermédio de operadores, organizaram a oferta e o recebimento das propinas.

JOSÉ DIRCEU, por sua vez, na condição de membro do núcleo político, não apenas indicou RENATO DUQUE, como o manteve no cargo de Diretor de Serviços da Petrobras, a fim de que, ao permitir o funcionamento do cartel de empreiteiras no âmbito da companhia, organizasse a oferta e o recebimento, direta ou indiretamente, dos valores indevidos, os quais eram, então, divididos com membros de referido núcleo político.

Assim, verifica-se que, na organização criminosa que se delineou no seio e em desfavor da Petrobras, RENATO DUQUE, JOSÉ DIRCEU e GERSON ALMADA exerciam, cada qual em seu contexto, função de liderança, de modo que impende agravar a pena imposta aos apelados ante o reconhecimento da agravante prevista no artigo 62, inciso I, do Código Penal.

3.7.2.3. Da incidência da agravante prevista no artigo 2º, §3º da Lei 12.850/2013 na pena fixada a JOSÉ DIRCEU

A sentença recorrida, embora tenha reconhecido a existência de uma organização criminosa voltada à prática de vários delitos em desfavor da Petrobras, tendo condenado o apelado JOSÉ DIRCEU pelo delito tipificado pelo artigo 2º da Lei 12.850/2013, deixou de aplicar a agravante prevista no artigo 2º, §3º do diploma legal em comento.

Especificamente no que respeita ao papel desempenhado por JOSÉ DIRCEU, o d. Magistrado consignou:

Não reconheço José Dirceu de Oliveira e Silva como o comandante do grupo criminoso, pelo menos considerando-o em toda a sua integralidade (empresários,

intermediários, agentes públicos e políticos), motivo pelo qual deixo de aplicar a agravante do art. 2º, §3º, da Lei n.º 12.850/2013.

No entanto, merece reforma a respeitável sentença.

A agravante em questão determina que “a pena é agravada para quem exerce o

comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução”.

Conforme demonstrado nas alegações finais apresentadas pelo parquet federal (evento 879), JOSÉ DIRCEU exerceu, efetivamente, o comando do núcleo político da organização criminosa em comento, mesmo que coletivamente com outros agentes políticos.

Observe-se que foi o responsável pela indicação e pela própria manutenção de RENATO DUQUE no cargo de Diretor de Serviços da Petrobras, recebendo, em contrapartida, parcela das vantagens indevidas a ele prometidas. Nesta senda, conclui-se que JOSÉ DIRCEU não foi apenas mero beneficiário dos valores espúrios destinados aos funcionários da Diretoria de Serviços da estatal, como, dentro do subnúcleo criminoso do Partido dos Trabalhadores - PT, detinha o comando necessário para coordenar a conduta dos demais agentes, mantendo, enquanto foi de seu interesse RENATO DUQUE em seu cargo.

Impende, portanto, agravar a pena imposta pela prática de organização criminosa a JOSÉ DIRCEU, com base na agravante prevista no artigo 2º, §3º da Lei 12.850/2013.

3.7.3. Oposição à análise do Juízo quanto às causas de diminuição e de

No documento Ministério Público Federal (páginas 74-78)