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FORÇA-TAREFA LAVA JATO

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 13ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA/PR.

AUTOS Nº: 5045241-84.2015.4.04.7000 CLASSE: Ação Penal

AUTOR: Ministério Público Federal

RÉUS: Fernando Antonio Guimarães Hourneaux de Moura, José Dirceu de Oliveira e Silva, Cristiano Kok, Gerson de Mello Almada, João Vaccari Neto, José Adolfo Pascowitch, José Antunes Sobrinho, Julio Cesar dos Santos, Julio Gerin de Almeida Camargo, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, Milton Pascowitch, Olavo Hourneaux de Moura Filho, Pedro José Barusco Filho, Renato de Souza Duque e Roberto Marques.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL comparece, tempestivamente, perante Vossa Excelência, para apresentar RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO interposto, requerendo seu envio ao E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região após a apresentação de contrarrazões pelos apelados, para processamento e julgamento.

Curitiba, 11 de julho de 2016.

Roberson Henrique Pozzobon Procurador da República

Julio Carlos Motta Noronha Procurador da República

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

AUTOS Nº: 5045241-84.2015.4.04.7000 APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL APELADOS: CRISTIANO KOK

FERNANDO ANTONIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA GERSON DE MELLO ALMADA

JOÃO VACCARI NETO JOSÉ ANTUNES SOBRINHO

JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA JULIO CESAR DOS SANTOS

LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA RENATO DE SOUZA DUQUE

ROBERTO MARQUES.

RAZÕES DE APELAÇÃO Colenda turma,

Eminentes Julgadores,

Douto(a) Procurador(a) Regional da República

SUMÁRIO

1. RELATÓRIO... 5 2. OBJETO... 11 3. FUNDAMENTAÇÃO... 13 3.1. Contra a absolvição de CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES das imputações dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro...13

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... 31 3.3. Contra a absolvição de JULIO CÉSAR de parte das imputações de prática do delito de lavagem de capitais (itens 4.3.2 e 4.3.5 da denúncia), por falta de prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP)... 41

3.4 Contra a absolvição de LUIZ EDUARDO de parte das imputações de prática do delito de lavagem de capitais (itens 4.2.2 e 4.3.5 da denúncia), por falta de prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP);... 49

3.5. Contra a não consideração dos contratos nº MO-PJ-1014/05 e P-8887/01-MO-PJ-1018/09 celebrados entre a ENGEVIX e a JAMP para o compto das condutas de lavagem de ativos praticadas por GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES e RENATO DUQUE58

3.6 Contra o número de atos de corrupção considerados no dispositivo da sentença recorrida... 63

3.7. Contra a dosimetria da pena fixada na sentença recorrida...65 3.7.1. Oposição à análise do Juízo quanto às circunstâncias judiciais enumeradas no artigo 59 do Código Penal... 66

3.7.1.1. Da culpabilidade considerada nas penas de GERSON ALMADA, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU, FERNANDO MOURA, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR e ROBERTO MARQUES, assim como CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES e RENATO DUQUE38...67

3.7.1.2. Da conduta social considerada nas penas de GERSON ALMADA, RENATO DUQUE, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU, FERNANDO MOURA, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR e ROBERTO MARQUES, assim como CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES...69

3.7.1.3. Dos motivos considerados nas penas de GERSON ALMADA, RENATO DUQUE, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU, FERNANDO MOURA, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR e ROBERTO MARQUES, assim como CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES...71

3.7.1.4. Das circunstâncias consideradas nas penas de LUIZ EDUARDO e JULIO CÉSAR, assim como CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, em relação a todas as imputações, de RENATO DUQUE, em relação ao delito de lavagem de capitais, de FERNANDO MOURA, no que respeita aos delitos de lavagem de dinheiro e organização criminosa, e de JOSÉ DIRCEU e ROBERTO MARQUES, no tocante ao delito de organização criminosa...72

3.7.2. Oposição à análise do Juízo quanto às circunstâncias atenuantes e agravantes...74 3.7.2.1. Da agravante prevista no artigo 61 do Código Penal em relação ao delito de corrupção praticado por GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, RENATO DUQUE, JOÃO VACCARI, JOSÉ DIRCEU e FERNANDO MOURA...75

3.7.2.2. Da incidência da agravante prevista no artigo 62, inciso I, do Código Penal nas penas fixadas para RENATO DUQUE, JOSÉ DIRCEU e GERSON ALMADA...76

3.7.2.3. Da incidência da agravante prevista no artigo 2º, §3º da Lei 12.850/2013 na pena fixada a JOSÉ DIRCEU... 77

3.7.3. Oposição à análise do Juízo quanto às causas de diminuição e de aumento de pena. 78 3.7.3.1. Da incidência do aumento de pena previsto no artigo 2º, §4º, III e V da Lei 12.850/2013 nas penas fixadas a FERNANDO MOURA, JOSÉ DIRCEU, JULIO CÉSAR, LUIZ EDUARDO e ROBERTO MARQUES, bem como a CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES...79

3.7.3.2. Da incidência do aumento de pena previsto no artigo 1º, §4º da Lei nº 9.613/98 nas penas fixadas para GERSON ALMADA, JOSÉ DIRCEU, LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR, FERNANDO

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MOURA, assim como em relação a CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES e RENATO DUQUE...80 3.7.4. Considerações finais quanto à dosimetria das penas fixadas aos apelados...83 3.8. Contra o reconhecimento da continuidade delitiva quanto aos atos de corrupção ativa e passiva envolvendo a ENGEVIX... 85

3.9. Contra o reconhecimento da continuidade delitiva quanto aos delitos de lavagem de ativos... 90

3.10. Contra o valor fixado na aplicação do artigo 387, caput e IV, CPP...102 4. PEDIDOS... 106

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1. RELATÓRIO

Trata-se de processo criminal iniciado por denúncia (evento 01) oferecida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em desfavor de, dentre outros acusados1, FERNANDO ANTONIO GUIMARÃES HOURNEAUX DE MOURA [“FERNANDO MOURA”], JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA [“JOSÉ DIRCEU”], CRISTIANO KOK, GERSON DE MELLO ALMADA [“GERSON ALMADA”], JOÃO VACCARI NETO [“JOÃO VACCARI”], JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, JOSÉ ANTUNES SOBRINHO [“JOSÉ ANTUNES”], JULIO CÉSAR DOS SANTOS [“JULIO CÉSAR”], JULIO GERIN DE ALMEIDA CAMARGO [“JULIO CAMARGO”], LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA [“LUIZ EDUARDO”], MILTON PASCOWITCH, OLAVO HOURNEAUX DE MOURA FILHO [“OLAVO MOURA”], PEDRO JOSÉ BARUSCO FILHO [“PEDRO BARUSCO”], RENATO DE SOUZA DUQUE [“RENATO DUQUE”] e ROBERTO MARQUES, pela prática de diversos crimes, no período compreendido entre 2003 e 2015, conforme a seguir exposto.

Sucintamente, apurou-se um gigantesco esquema voltado para a prática de crimes no seio e em desfavor da Petrobras, perpetrados por meio de um verdeiro cartel formado por grandes construtoras do país. Nesse desiderato, houve o pagamento de propinas a pessoas que detinham altos cargos na Estatal, e também a agentes políticos, a fim de preservar o alto lucro das empresas componentes do cartel e a divisão das obras na forma escolhida pelos executivos das empreiteiras. Frustrava-se, assim, a competição dos certames e se garantia a hegemonia das empresas cartelizadas.

Dentre as empresas formadoras do núcleo econômico da organização criminosa constam as sociedades empresárias integrantes do Grupo ENGEVIX. Cabia aos réus GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, na condição de gestores e agentes das empresas, a função de as representar nos negócios espúrios mantidos com 1 O Juízo a quo promoveu o desmembramento do feito no que respeita a CAMILA RAMOS DE OLIVEIRA E SILVA e DANIELA LEOPOLDO E SILVA FACCHINI para os autos de ação penal nº 5030173-60.2016.4.04.7000, após o Tribunal Federal Regional da 4ª Região dar provimento ao Recurso em Sentido Estrito nº 5049160-81.2015.4.04.7000 interposto pelo parquet federal contra decisão proferida pelo Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba que negou o recebimento da denúncia em relação às acusadas.

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agentes públicos e operadores.

Apurou-se, ainda, que os cargos de comando de diretorias da Petrobras eram preenchidos por meio de indicações de integrantes do Poder Legislativo e Executivo, com o intuito de que fosse garantido o pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos, sendo que esse núcleo político se encontra, em parte, sob investigação perante os Tribunais Superiores e, em parte, em Curitiba.

Por sua vez, os funcionários do alto escalão da Petrobras (núcleo administrativo) também tinham sua participação no recebimento de propina, assegurando às empreiteiras formadoras do cartel as obras que tinham interesse e a membros da agremiação política que os haviam indicado o recebimento de vantagem indevida.

A Diretoria de Serviços, por indicação do Partido dos Trabalhadores (PT), no interregno de 2003 a 2012, restou ocupada por RENATO DUQUE, a qual tinha, ainda, de 2003 a 2011, PEDRO BARUSCO na Gerência Executiva de Engenharia. RENATO DUQUE foi indicado à Diretoria de Serviços da Petrobras pelo então Ministro-Chefe da Casa Civil JOSÉ DIRCEU. Em decorrência, o Partido dos Trabalhadores – PT e o próprio JOSÉ DIRCEU, em conjunto com LUIZ EDUARDO, JULIO CÉSAR, ROBERTO MARQUES e FERNANDO MOURA e OLAVO MOURA, recebia parcela das vantagens indevidas destinadas pelas empreiteiras contratadas pela Petrobras à Diretoria de Serviços.

Para a operacionalização desse esquema criminoso, um núcleo financeiro assegurava que os pagamentos indevidos (“propina”) chegassem ao seu destinatário final sem que os sistemas de controles detectassem o percurso dos valores espúrios. Nesse esquema, figuravam como importantes operadores financeiros, dentre outros, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, bem como JULIO CAMARGO e JOÃO VACCARI.

Diante de tal quadro, os réus CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH foram denunciados pela prática dos seguintes crimes, em concurso material: 1) organização criminosa (art. 2º, caput e § 4º, II, III, IV e V c/c art. 1º, §1º, da Lei nº 12.850/13); 2) corrupção ativa (art. 333, caput e

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parágrafo único do Código Penal): CRISTIANO KOK, JOSÉ ANTUNES, e MILTON PASCOWITCH, por 129 vezes em concurso material; JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, por 128 vezes em concurso material; 3) lavagem de dinheiro (art. 1º c/c art. 1º, §4º da Lei nº 9.613/98): CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, por 19 séries independentes de atos delituosos em concurso material; MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, por 25 séries independentes de atos delituosos em concurso material.

A FERNANDO MOURA e JOSÉ DIRCEU foram imputados a prática dos seguintes delitos: 1) organização criminosa (art. 2º, caput e § 4º, II, III, IV e V c/c art. 1º, §1º da Lei nº 12.850/13); 2) corrupção passiva (art. 317, caput e §1º, c/c art. 327, §2º, todos do Código Penal): FERNANDO MOURA, por 4 vezes em concurso material; JOSÉ DIRCEU, por 31 vezes em concurso material; 3) lavagem de dinheiro (art. 1º c/c § 4º da Lei nº 9.613/98): FERNANDO MOURA, por 5 séries independentes de atos delituosos em concurso material; JOSÉ DIRCEU, por 11 séries independentes de atos delituosos em concurso material.

Os réus JULIO CESAR, LUIZ EDUARDO, OLAVO MOURA e ROBERTO MARQUES foram denunciados pela prática dos delitos de: 1) organização criminosa (art. 2º, caput e § 4º, II, III, IV e V c/c art. 1º, § 1º da Lei nº 12.850/13); 2) lavagem de dinheiro (art. 1º c/c § 4º da Lei nº 9.613/98): JULIO CÉSAR, por 3 séries independentes de atos delituosos em concurso material; LUIZ EDUARDO, por 9 séries independentes de atos delituosos em concurso material; OLAVO MOURA, por 5 séries independentes de atos delituosos em concurso material; ROBERTO MARQUES, por 1 série de atos delituosos.

A GERSON ALMADA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e JULIO CAMARGO não foi imputado o crime de organização criminosa porque já condenados pelo delito em outros feitos conexos2. Contudo, foi GERSON ALMADA denunciado pela prática, por 129

vezes, em concurso material, de corrupção ativa (art. 333, caput e parágrafo único, do Código Penal), enquanto RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO foram denunciados pela 2 GERSON ALMADA foi condenado em sede da ação penal nº 5083351-89.2014.4.04.7000. Já RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e JULIO CAMARGO foram condenados pela prática do delito de associação criminosa (art. 288 do Código Penal) em sede da ação penal nº 5012331-04.2015.4.04.7000.

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prática, por 31 vezes em concurso material, do delito de corrupção passiva qualificada, em sua forma majorada (art. 317, caput e §1º, c/c art. 327, §2º, todos do Código Penal). Da mesma forma, GERSON ALMADA, RENATO DUQUE, PEDRO BARUSCO e JULIO CAMARGO restaram denunciados pela prática do delito de lavagem de capitais (art. 1º c/c §2º, II e §4º da Lei nº 9.613/98): GERSON ALMADA, por 19 séries independentes de atos delituosos em concurso material; RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, por 14 séries independentes de atos delituosos em concurso material; e JULIO CAMARGO, por 1 vez.

JOÃO VACCARI foi denunciado tão somente pela prática delituosa, por 31 vezes, em concurso material, do delito de corrupção passiva qualificada, em sua forma majorada (art. 317, caput e §1º, c/c art. 327, §2º, todos do Código Penal).

Finalmente, JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, MILTON PASCOWITCH e LUIZ EDUARDO foram também denunciados pela prática do delito de fraude processual (art. 347, caput e §1º do Código Penal).

Esboçados os contornos das imputações veiculadas na presente ação penal, retoma-se a partir do já consignado no detalhado relatório constante dos memoriais do MPF (evento 879).

O assistente de acusação apresentou alegações finais em sede do evento 884. Em sede do evento 895, o Juízo competente determinou que fosse o sigilo dos autos de interceptação telemática nº 5031929-41.2015.4.04.7000 levantado, a fim de que fosse viabilizado o acesso aos defensores, bem como a juntada das decisões judiciais de homologação dos acordos de colaboração de PEDRO BARUSCO, JULIO CAMARGO, MILTON PASCOWITCH, JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, AUGUSTO MENDONÇA, RICARDO PESSOA, EDUARDO LEITE e DALTON AVANCINI, a qual foi efetuada no evento 896. Na mesma oportunidade, estendeu, em decorrência das medidas então adotadas, o prazo para que as defesas apresentassem seus memoriais até o dia 02/05/2016.

A defesa de JOÃO VACCARI apresentou suas alegações finais em sede do evento 914. Considerando-se o despacho de evento 895, porém, o Juízo concedeu-lhe prazo até 02/05/2016 para complementação da peça, caso desejasse (evento 917).

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Diante das alegações, apresentadas pela defesa de JOSÉ DIRCEU e LUIZ EDUARDO (evento 923), de que estaria impossibilitado o acesso à mídia em que constante o resultado das medidas cautelares objeto dos autos nº 5031929-41.2015.4.04.7000, o Juízo estendeu o prazo para a apresentação de memoriais até o dia 03/05/2016, considerando-se que o problema fora resolvido em 27/04/2016, apenas um dia após reclamação da defesa.

Promoveu-se a juntada dos memoriais dos réus GERSON ALMADA (evento 958), CRISTIANO KOK (evento 960), MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH (evento 962), OLAVO MOURA (evento 964), JOSÉ ANTUNES (evento 966), JOSÉ DIRCEU e LUIZ EDUARDO (evento 969), FERNANDO MOURA (evento 971), JULIO CÉSAR (evento 973), PEDRO BARUSCO (evento 974), ROBERTO MARQUES (evento 976), JULIO CAMARGO (evento 977) e RENATO DUQUE (evento 979).

Após, portanto, a regular instrução, a sentença foi prolatada no evento 985, momento em que o Juízo a quo julgou parcialmente procedente a pretensão punitiva, conforme segue:

888. Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva. 889. Absolvo Cristiano Kok, José Antunes Sobrinho, Júlio Gerin de Almeida Camargo e Olavo Hourneaux de Moura Filho das imputações por falta de prova suficiente para condenação (art. 386, VII, do CPP).

890. Absolvo Renato de Souza Duque, Pedro José Barusco Filho, João Vaccari Neto e Roberto Marques das imputações de crime de lavagem de dinheiro por falta de prova suficiente para condenação (art. 386, VII, do CPP).

891. Condeno Milton Pascowitch, José Adolfo Pascowitch, José Dirceu de Oliveira e Silva, Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, Roberto Marques e Júlio Cesar dos Santos pelo crime de pertinência à organização criminosa do art. 2º da Lei nº 12.850/2013.

892. Condeno Gerson de Mello Almada:

a) pelo crime de corrupção ativa, por cinco vezes, pelo pagamento de vantagem indevida a Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho, em razão do cargo destes na Petrobrás (art. 333 do CP), e ao grupo político de José Dirceu de Oliveira e Silva, por solicitação deles (art. 333 do CP);

b) pelo crime de lavagem de dinheiro do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, por dezesseis vezes, consistente nos repasses, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos provenientes dos contratos da Engevix Engenharia obtidos com cartel e ajuste fraudulento de licitação, através de contratos superfaturados ou simulados, para a Jamp Engenheiros Associados e a JD Assessoria.

893. Condeno Renato de Souza Duque pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes pelo recebimento de vantagem indevida em razão de seu cargo como Diretor na Petrobrás e o pagamento, por sua solicitação, de vantagem indevida ao grupo

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político dirigido por José Dirceu de Oliveira e Silva (art. 317 do CP).

894. Condeno Pedro José Barusco Filho pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes pelo recebimento de vantagem indevida em razão de seu cargo como gerente na Petrobrás e o pagamento, por sua solicitação, de vantagem indevida ao grupo político dirigido por José Dirceu de Oliveira e Silva (art. 317 do CP).

895. Condeno João Vaccari Neto pelo crime de corrupção passiva, a título de participação, pelo direcionamento ao grupo político de José Dirceu de Oliveira e Silva de parte da vantagem indevida destinada à Diretoria de Serviços e Engenharia da Petrobrás e que foi acertada com o Diretor Renato Duque em decorrência de seu cargo como Diretor na Petrobrás (art. 317 do CP).

896. Condeno Milton Pascowitch:

a) pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes, pela intermediação do recebimento de vantagem indevida para Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho em razão dos cargo destes como Diretor e gerente na Petrobrás, com direcionamento de parte para o grupo político de José Dirceu de Oliveira e Silva por solicitação deles (art. 317 do CP); e

b) pelo crime de lavagem de dinheiro por doze vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente na intermediação do paamento, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos provenientes dos contratos da Petrobrás.

897. Condeno José Adolfo Pascowitch:

a) pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes, pela intermediação do recebimento de vantagem indevida para Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho em razão dos cargo destes como Diretor e gerente na Petrobrás, com direcionamento de parte para o grupo político de José Dirceu de Oliveira e Silva por solicitação deles (art. 317 do CP); e

b) pelo crime de lavagem de dinheiro por doze vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente na intermediação do pagamento, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos provenientes dos contratos da Petrobrás.

898. Condeno José Dirceu de Oliveira e Silva:

- pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes, pelo recebimento de parte da vantagem indevida destinada pela Engevix à Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobrás, em razão do cargo de Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho na empresa estatal (art. 317 do CP); e

- pelo crime de lavagem de dinheiro por pelo menos oito vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente nos repasses e recebimentos, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos.

899. Condeno Luiz Eduardo de Oliveira e Silva pelo crime de lavagem de dinheiro por pelo menos duas vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente nos repasses e recebimentos, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos.

900. Condeno Júlo Cesar dos Santos pelo crime de lavagem de dinheiro por pelo menos uma vez, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente nos repasses e recebimentos, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos.

901. Condeno Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura:

- pelo crime de corrupção passiva, por cinco vezes, pelo recebimento de parte da vantagem indevida destinada pela Engevix à Diretoria de Engenharia e Serviços da Petrobrás, em razão do cargo de Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho na empresa estatal (art. 317 do CP); e

- pelo crime de lavagem de dinheiro por pelo menos duas vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente nos repasses e recebimentos, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos.

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No evento 1004, o Juízo a quo expediu mandado de prisão preventiva contra FERNANDO MOURA. No evento 1020, encaminhou ofício ao Supremo Tribunal Federal, endereçado ao Excelentíssimo Ministro Luís Roberto Barroso, no interesse dos autos da Execução Penal 2/DF, informando a condenação de JOSÉ DIRCEU.

No evento 1040, procedeu o Juízo sentenciante à correção de erro material da sentença, consignando que MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH foram condenados pelo delito de corrupção ativa, bem como reconheceu a atenuante do art. 65, I, do Código Penal para JOSÉ DIRCEU, passando a pena do acusado a ser de 20 anos e 10 meses de reclusão e 245 dias-multa. Na mesma oportunidade, deu provimento aos embargos de declaração apresentados pela defesa de LUIZ EDUARDO (evento 1037), de modo a agregar no dispositivo da sentença a absolvição, por atipicidade, de LUIZ EDUARDO, MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH da imputação da prática do crime do art. 347 do Código Penal, corrigindo, assim, erro material da sentença.

Quanto aos demais embargos, opostos pela defesa de MILTON PASCOWITCH (evento 1028) e GERSON ALMADA (evento 1065), não houve procedência (eventos 1030 e 1065).

É o relatório.

2. OBJETO

O presente recurso volta-se apenas aos seguintes aspectos da sentença, que, no mais, merece ser mantida na íntegra:

1. Contra a absolvição de CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES das imputações dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de ativos por falta de prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP);

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lavagem de ativos, por falta de prova suficiente para condenação (art. 386, VII, CPP);

3. Contra a absolvição de JULIO CÉSAR de parte das imputações de prática do delito de lavagem de capitais (itens 4.3.2 e 4.3.5 da denúncia), por falta de prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP);

4. Contra a absolvição de LUIZ EDUARDO de parte das imputações de prática do delito de lavagem de capitais (itens 4.2.2 e 4.3.5 da denúncia), por falta de prova suficiente para a condenação (art. 386, VII, do CPP);

5. Contra a não consideração dos contratos nº P-8887/01-MO-PJ-1014/05 e 8887/01-MO-PJ-1018/09 celebrados entre a ENGEVIX e a JAMP para o compto das condutas de lavagem de ativos praticadas por GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES;

6. Contra o número de atos de corrupção considerados no dispositivo da sentença recorrida no que respeita ao Grupo ENGEVIX;

7. Contra a dosimetria das penas fixadas na condenação dos apelados, especialmente em relação à análise do Juízo a quo quanto às circunstâncias judiciais enumeradas no artigo 59, caput, do Código Penal; à análise do d. Juízo quanto às circunstâncias atenuantes e agravantes; e à análise do Juízo quanto às causas de diminuição e de aumento de pena;

8. Contra o reconhecimento de continuidade delitiva entre os crimes de corrupção ativa e passiva em relação aos fatos denunciados nesta ação penal envolvendo o Grupo ENGEVIX;

9. Contra o reconhecimento de continuidade delitiva entre os crimes de lavagem de capitais relativos aos fatos denunciados nesta ação penal;

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3 . FUNDAMENTAÇÃO

3.1. Contra a absolvição de CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES das imputações dos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro

CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES restaram denunciados pela prática delituosa dos crimes de (i) pertinência a organização criminosa, (ii) corrupção ativa, por 129 vezes, em concurso material, e (iii) lavagem de ativos, por 19 séries independentes de atos delituosos, em concurso material, consubstanciadas nos pagamentos decorrentes da celebração de catorze contratos fraudulentos de prestação de serviços entre a ENGEVIX e a JAMP Engenheiros Associados e cinco contratos fraudulentos de prestação de serviços entre a ENGEVIX e a JD ASSESSORIA.

A sentença proferida pelo Juízo a quo reconheceu a materialidade dos delitos de pertinência a organização criminosa e corrupção ativa – exceção feita ao ato envolvendo o contrato da ENGEVIX para as obras do Módulo 1 de Cacimbas – Fase II –, assim como parcialmente do delito de branqueamento de capitais. De acordo com a decisão, não há que se falar em lavagem de dinheiro decorrente dos dois primeiros contratos celebrados entre a ENGEVIX e a JAMP Engenheiros Associados, uma vez que não denunciado o efetivo repasse dos valores. No mesmo sentido, não haveria repasse de valores indevidos decorrentes da primeira contratação da JD ASSESSORIA pela ENGEVIX, pois comprovada a prestação de serviços pela empresa de JOSÉ DIRCEU:

231. Reporta-se a denúncia aos seguintes contratos obtidos pela Engevix Engenharia junto à Petrobrás por cartel e ajuste de licitações e nos quais teriam sido oferecidas propinas aos dirigentes da Petrobrás:

a) dois contratos da Engevix Engenharia para construção dos módulos 1, 2 e 3 da Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas (UTGC;

b) contrato do Consórcio Skanska-Engevix URE para a execução de obras e implementação das unidades de recuperação de enxofre III e de tratamento de gás residual na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC);

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de obras de adequação da URC da Refinaria Presidente Bernardes (RPBC);

d) contrato do Consórcio Skanska/Engevix para a execução das obras de implementação do on-site da unidade de propeno da UN-REPAR, na Refinaria Presidente Getúlio Vargas - REPAR; e

e) contrato do Consórcio Integração (Engevix e Queiroz Galvão) para a execução das obras de implementação das tubovias e interligações do off-site da carteira de diesel da Refinaria Landulpho Alves – RLAM.

(…)

556. Considerando cumulativamente a ausência de prova da prestação de qualquer serviço, salvo em relação ao primeiro contrato, e os próprios depoimentos de Milton Pascowitch e de José Antunes Sobrinho, além dos das testemunhas arroladas pela própria Defesa no Peru, de se concluir que os repasses decorrentes dos contratos em questão, salvo do primeiro, visavam mero repasses de valores, sem causa lícita, da Engevix para a José Dirceu de Oliveira e Silva.

557. Esse o relato sintético das provas documentais dos repasses entre a Engevix Engenharia, a Jamp Engenheiros, a JD Assessoria, Pedro José Barusco Filho e Renato de Souza Duque.

(…)

645. Reputo caracterizado um crime de corrupção por contrato, ou seja, cinco, ainda que tenham se consumado mediante dezenas de repasses de dinheiro e envolvido mais de um beneficiário.

646. Não reputo suficientemente provado o crime de corrupção em relação ao primeiro contrato de Cacimbas (Fase II). Para este contrato, teria havido, segundo a denúncia, mera oferta de propina, sem aceitação e pagamento. Sem aceitação e pagamento, a única prova a respeito da oferta consiste nas declarações de Milton Pascowitch e que, sozinha, não ampara a condenação criminal.

647. Como os valores utilizados para pagamento da propina tinham como parcial procedência contratos obtidos por intermédio de crimes de cartel (art. 4º, I, da Lei nº 8.137/1990) e de frustração, por ajuste, de licitações (art. 90 da Lei nº 8.666/1993), e como, para os repasses, foram utilizados diversos mecanismos de ocultação e dissimulação da natureza e origem criminosa dos bens, os fatos também caracterizam crimes de lavagem de dinheiro tendo por antecedentes os referidos crimes, especialmente o segundo contra a Administração Pública (art. 1.º, V, da Lei n.º 9.613/1998).

648. Com efeito, caracterizadas diversas condutas de ocultação e dissimulação, tudo isso no âmbito das obras contratadas pela Petrobrás.

649. Os crimes de lavagem ocorreram, em um primeiro momento, pelos repasses mediante superfaturamento dos doze contratos de consultoria e assessoria celebrados, no período de 13/04/2007 a 21/12/2012, entre a Jamp Engenheiros e a Engevix Engenharia. O valor da vantagem indevida devida a Milton Pascowitch, aos agentes da Petrobrás e ao grupo político foi embutido no contrato, a fim de conferir às transações a aparência de licitude.

650. Prosseguiram com os quatro contratos de prestação de serviços simulados entre a Engevix Engenharia e a JD Assessoria no período de 01/03/2009 a 02/11/2010 e que, conforme visto, não envolvem prestação efetiva de serviços. Os contratos foram simulados para conferir aos repasses a aparência de licitude.

(…)

886. Portanto, resta também provada a materialidade e a autoria do crime do art. 2º da Lei nº 12.850/2013, devendo ser responsabilizado, neste processo, Milton Pascowitch, José Adolfo Pascowitch, José Dirceu de Oliveira e Silva, Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, Roberto Marques

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e Júlio Cesar dos Santos.

Não obstante, o d. Magistrado não reconheceu a autoria de CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES:

686. Cristiano Kok e José Antunes Sobrinho eram sócios e dirigentes da Engevix Engenharia juntamente com Gerson de Mello Almada.

687. Segundo declararam em Juízo (evento 691), o que tem suporte nas outras provas, Gerson de Mello Almada era o responsável pela área de Petróleo da Engevix, Cristiano Kok, pela parte administrativa e José Antunes Sobrinho pela área de construção no setor elétrico.

688. Parece a este Juízo improvável que ambos desconhecessem os pagamentos efetuados pela Engevix Engenharia a Milton Pascowitch, bem como o propósito desses pagamentos. O volume de pagamentos é muito expressivo e é pouco plausível que Gerson de Mello Almada tivesse autonomia para realizá-los sem gerar questionamentos dos demais sócios-dirigentes.

689. Além disso, ambos tinha conhecimento do ambiente de negócios no qual a Engevix se inseria na relação com empresas estatais e com o Governo Federal, o que é ilustrado pela afirmação de Milston Pascowitch de que José Antunes Sobrinho foi o responsável na empresa por decidir pelo pagamento de propinas em contratos da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (item 438).

690. Apesar do juízo de probabilidade, não foi produzida uma prova mais segura, acima de qualquer dúvida razoável, de que tinham eles conhecimento de que esses contratos celebrados no âmbito da área dirigida por Gerson de Mello Almada tivessem de fato o propósito de viabilizar o repasse de propinas.

691. Assim, devem ser absolvidos por falta de prova suficiente de autoria. (…)

889. Absolvo Cristiano Kok, José Antunes Sobrinho, Júlio Gerin de Almeida Camargo e Olavo Hourneaux de Moura Filho das imputações por falta de prova suficiente para condenação (art. 386, VII, do CPP).

Neste ponto, porém, merece reforma a sentença.

Note-se que CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES, na condição de altos executivos da ENGEVIX, tinham pleno domínio das atividades desempenhadas pela empreiteira, possuindo, portanto, papel igualmente importante ao de GERSON ALMADA na concretização dos negócios escusos que visavam a resguardar e a zelar pelos interesses da empresa. Demonstrou-se que, além de os acusados disporem de grande poder de decisão, não obstante o papel de destaque desempenhado por GERSON ALMADA, as decisões eram tomadas entre os três de pleno e comum acordo.

GERSON ALMADA, CRISTIANO KOK e JOSÉ ANTUNES ativamente participavam das decisões estratégicas da empresa de que eram sócios e, uníssonos, com

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plena consciência do esquema criminoso, optaram conjuntamente por direcionar a ENGEVIX a um modelo de negócio criminoso nos certames e contratos públicos bilionários da Petrobras.

Nesse liame, observem-se os interrogatórios de GERSON ALMADA, JOSÉ ANTUNES e CRISTIANO KOK, oportunidades em que afirmaram inexistir relação de ascendência entre os três sócios controladores da empresa:

GERSON ALMADA: Juiz Federal:- Senhor Almada, antes de entrar no objeto da ação propriamente dita, algumas questões mais gerais da sua posição na Engevix. O senhor é um dos 3 sócios daquela empresa Jackson, é isso?

Interrogado:-Exato.

Juiz Federal:- Essa empresa é a proprietária da Engevix Engenharia? Interrogado:-Ela é a acionista da Engevix Engenharia.

Juiz Federal:- Então, basicamente existem 3 sócios controladores da empresa? Interrogado:-3 sócios controladores, em partes iguais.

Juiz Federal:- Existe alguma ascendência de um em relação ao outro dentro da empresa?

Interrogado:-Não, são partes iguais.

Juiz Federal:- E existe alguma espécie de divisão de trabalho dentro da empresa? Interrogado:-Existe uma divisão ligada principalmente à experiência de cada um de nós. Então eu sempre tive como responsabilidade dentro da empresa, toda a parte industrial e de infraestrutura. O engenheiro Antunes toda a parte de energia e o Cristiano Kok toda a parte administrativa, jurídica, contábil.

Juiz Federal:- Isso há quanto tempo, mais ou menos, que existe essa divisão? Interrogado:-Essa divisão foi feita no momento em que nós adquirimos a empresa, em 97, 1997, e antes também essa divisão já existia sendo cada um diretor em uma área3.

JOSÉ ANTUNES: Juiz Federal:- Antes de formular algumas questões mais diretas ao senhor, sobre o caso concreto, eu queria algumas informações mais genéricas, o senhor é um dos acionistas controladores da Engevix?

Interrogado:- Do grupo sim, senhor, através da Jackson que é nossa holding, sim. Juiz Federal:- Perfeito. O senhor está nessa posição desde quando?

Interrogado:- Na verdade desde que nós adquirimos a companhia em 1997 do Grupo Rossi, entre três sócios houve um management buyout, quer dizer, três sócios compraram e aí dividimos a participação entre três, um terço, um terço, um terço.

Juiz Federal:- Entre as empresas desse grupo existe a Engevix Engenharia?

Interrogado:- Existe a Engevix Engenharia, existe hoje em dia a Engevix Construções, tivemos concessões em aeroportos que foram vendidas, uma empresa de energia elétrica e geração e um estaleiro, esses são os principais.

Juiz Federal:- Os outros acionistas controladores quem são?

Interrogado:- São os mesmos, são os mesmos, sendo que em alguns casos nós temos sócios, por exemplo, no caso do estaleiro é a Covix, nós tínhamos a Mitsubishi Heavy Industries era sócia.

Juiz Federal:- Mas da Jackson?

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Interrogado:- Da Jackson só os três sócios. Juiz Federal:- Quem são os três, por favor?

Interrogado:- O senhor Cristiano Kok e o senhor Gerson de Melo Almada. Juiz Federal:- Existe alguma ascendência de um em relação ao outro? Interrogado:- Não, nossas partes são absolutamente iguais.4

CRISTIANO KOK: Juiz Federal:- Senhor Cristiano, antes de tratar aqui mais diretamente do objeto dessa acusação, umas perguntas de cunho um pouco mais geral. O senhor é um dos acionistas controladores da Engevix?

Interrogado:- Através de uma holding que nós temos, chamada Jackson Empreendimentos S/A.

Juiz Federal:- Desde quando o senhor tem essa posição?

Interrogado:- Desde 1997, quando nós adquirimos a Engevix Engenharia do antigo proprietário.

Juiz Federal:- Quem são os outros acionistas controladores?

Interrogado:- Doutor José Antunes Sobrinho e doutor Gerson de Melo Almada. Juiz Federal:- Existe alguma ascendência entre os senhores?

Interrogado:- Não senhor, cada um tem um terço das ações.5

Neste contexto, CRISTIANO KOK desempenhava o papel de Presidente do Grupo ENGEVIX, cabendo-lhe, conforme declinado por GERSON ALMADA, JOSÉ ANTUNES e o próprio apelado em sede de interrogatório judicial, a responsabilidade pelas áreas administrativa, jurídica, contábil e de caixa da ENGEVIX:

GERSON ALMADA: Juiz Federal:- E existe alguma espécie de divisão de trabalho dentro da empresa?

Interrogado:-Existe uma divisão ligada principalmente à experiência de cada um de nós. Então eu sempre tive como responsabilidade dentro da empresa, toda a parte industrial e de infraestrutura. O engenheiro Antunes toda a parte de energia e o Cristiano Kok toda a parte administrativa, jurídica, contábil.6

JOSÉ ANTUNES: Juiz Federal:- E dentro do empreendimento, pelo menos dentro dessa empresa Engevix Engenharia, existe alguma divisão de tarefas?

Interrogado:- Sim, sim, ela é absolutamente clara. Se o senhor me permitir um pouquinho de explicação da formação do grupo, os três sócios eram antigos empregados, eu entrei em 1982 lá na Engevix, em 1986 fui diretor estatutário quando o acionista era outro, até em 1996 para 1997, os três compraram a companhia. Quando foi comprada a companhia, eu naturalmente trabalhei sempre no setor elétrico brasileiro todo esse tempo e eu tocava a vice-presidência de energia e recursos hídricos; o Gerson de Melo Almada se preocupava com a área industrial da empresa, ele era a parte industrial da companhia, nós dois nos denominamos vice-presidentes, e o Cristiano Kok fazia um trabalho dentro da companhia que cobria basicamente a área financeira, a área administrativa financeira, o setor de qualidade e a parte jurídica, então ele ficava lá. No desenvolvimento do grupo, que

4 Trecho do interrogatório de JOSÉ ANTUNES, reduzido a termo no evento 691. 5 Trecho do interrogatório de CRISTIANO KOK, reduzido a termo no evento 691. 6 Trecho do interrogatório de GERSON ALMADA, reduzido a termo no evento 722.

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ocorreu fortemente no início da década passada, até 2006 o setor da minha área, a gente desenvolveu muita coisa até 2006, na verdade praticamente as receitas da companhia eram derivadas do setor elétrico, eu tinha trabalhado nas privatizações lá atrás, conhecia muito isso aí. A Petrobras, que é um pouco da questão, veio para nós em 2005 e permaneceu até 2011, onde fortemente foram obtidos contratos na área de refino, e essa era com o Gerson, 2009 para 2010 houve a aquisição do estaleiro Rio Grande e o ganho daqueles contratos de casco com a PETROBRAS, também ficou na mão do Gerson, eu também me ocupei da criação e fundação, depois venda de uma empresa de energia elétrica chamada Desenvix, essa empresa foi vendida para os noruegueses esse ano que passou por uma série de necessidades, e eu também me ocupei dos aeroportos, das concessões dos aeroportos, Brasília e Natal, que nós implementamos mais recentemente, também vendemos o ano passado em face das dificuldades que nós tivemos. E, finalmente, quando Gerson Almada acabou preso, eu tive que assumir toda a questão lá do estaleiro do sul, coisa que eu vinha fazendo até que eu também tive meus problemas aqui.

(…)

Ministério Público Federal:- Senhor Antunes, eu gostaria que o senhor nos explicasse, o senhor já citou a divisão mais ou menos das atribuições dos três sócios, Almada ficaria na parte industrial, o Kok na administração financeira e jurídica, o senhor no setor elétrico, aeroportos e internacional, seria isso?

Interrogado:- Foi, foi isso que eu fiz.

Ministério Público Federal:- Como funcionavam as decisões estratégicas nesses setores?

Interrogado:- As decisões, eu posso lhe colocar, o senhor está me perguntando o seguinte, cada área da companhia definia a sua estratégia e ela podia estar sendo discutida numa reunião de conselho de administração, então, por exemplo, vai para área internacional? Vai, quanto é que custa? Vale a pena? Quais são os países? Quais são nossos riscos? Então a gente tomava esse tipo de decisão; eu disse “Bem, eu não vou trabalhar na Ásia, não vou trabalhar no Oriente Médio, vou trabalhar na América Latina ou no cone sul da África, lusófona (inaudível), ali só”, por exemplo, esse tipo de decisão era tomada.

Ministério Público Federal:- As decisões da PETROBRAS, da área industrial, que tipo de decisões eram levadas a essa deliberação dos sócios?

Interrogado:- Decisão do tipo, por exemplo, vamos trabalhar na área de refino ou vamos trabalhar, entrar na área de estaleiros que é área de exploração, isso era levado não só aos sócios, também era levado para o conselho de administração, o grupo tinha um conselho de administração e procurava colocar algumas boas pessoas lá como, por exemplo, o professor Pastori, na área econômica que também dava os cenários econômicos para nós, até para ver pra que lado a companhia devia encaminhar seus investimentos; por exemplo, toda estratégia feita para Desenvix que, enfim, nós acabamos vendendo ela em duas (inaudível) para os noruegueses, até em decorrência dos problemas financeiros em que caímos, todas aquelas decisões de pequenas centrais, projetos eólicos, que ganhava os leilões para construir, eram levadas ao conselho de administração e discutidas.

Ministério Público Federal:- O senhor integrava o conselho de administração? Interrogado:- Sim, senhor.

Ministério Público Federal:- Os demais sócios também? Interrogado:- Todos os sócios.7

CRISTIANO KOK: Juiz Federal:- E há uma distribuição de tarefas entre os senhores

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na Engevix Engenharia?

Interrogado:- Há uma distribuição muito clara de tarefas desde que nós adquirimos a empresa, eu sempre cuidei da parte administrativa financeira e contábil da sociedade, doutor Gerson sempre cuidou da parte vinculada às indústrias e infraestrutura, abrangendo todos os contratos na área de PETROBRAS, na área de siderurgia e na área de transportes, e doutor José Antunes Sobrinho, um dos maiores especialistas brasileiros em usinas hidrelétricas, era responsável pela área de energia e recursos hídricos.

Juiz Federal:- Havia decisões comuns também tomadas entre os três sócios? Interrogado:- As decisões comuns eram decisões de caráter estratégico geral da empresa, para dar alguns exemplos ao senhor, a decisão de investir em usinas hidroelétricas nos conduziu à criação de uma sociedade chamada Desenvix que, ao longo de 15 a 20 anos, chegou a produzir 360 megawatts de potência instalada em pequenas centrais, usinas hidroelétricas e parques eólicos, essa decisão de investir foi compartilhada, a decisão de como fazer o investimento, quem contratar e conseguir, foi tomada por doutor Antunes. Outro exemplo, decidimos implantar um sistema ERP que era um sistema de controle de gestão, essa decisão foi tomada, foi escolhido o sistema Oracle e a implantação desse sistema ficou ao meu cargo porque envolvia o controle administrativo e financeiro de toda a sociedade. O terceiro exemplo...8

Dada a sua atribuição no âmbito da empresa, CRISTIANO KOK restou responsável por reunir-se com JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH e com ele acertar a celebração dos contratos entre a ENGEVIX e a JAMP, utilizados para justificar o repasse dos valores a serem destinados a título de propina aos agentes públicos corrompidos, assim como a efetivação de referidos pagamentos, possuindo pleno conhecimento de que visavam a concretizar negócios escusos:

MILTON PASCOWITCH: “Juiz Federal:-E isso era tratado com clareza com o Senhor Gerson Almada, ele sabia dessas doações?

Interrogado:-Lógico, sabia, esse valor era sabido, eu informava ao Gerson que tinha entregue, ou seja, X mil reais para o João Vaccari, ele passava então uma autorização para o Cristiano Kok elaborar um contrato de prestação de serviço, o José Adolfo, meu irmão, sentava com o Cristiano Kok e assinavam esses contratos e nós éramos ressarcidos desses valores pagos. Esses contratos não estão vinculados a nenhuma obra, eles tem uma característica que é da rubrica quatro mil da Engevix, que é uma rubrica vinculada a vice-presidência da empresa e ela tem escopos completamente diferentes da nossa atuação e tem uma característica principal que eram de pagamentos a vista, porque toda a nossa remuneração, por exemplo, Cacimbas começou em 2007 e terminou em 2011, são 70 e poucas medições mensais. Nesse caso de reposição de valores pagos de propina, eles têm vencimento a vista, eles sempre foram pagos em uma parcela só.

(…)

Juiz Federal:-Com quem o senhor discutiu dentro da Engevix a respeito desses assuntos de comissão?

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Interrogado:-Sempre o Gerson Almada. Juiz Federal:-Cristiano Kok?

Interrogado:-Não. Eu nunca conversei com o Cristiano Kok a respeito de propina ou a respeito de qualquer andamento de empreendimento na PETROBRAS. Quem tinha...

Juiz Federal:-José Antunes Sobrinho? Interrogado:-Também não.

Juiz Federal:- Quem tinha?

Interrogado:- Quem tinha contato com o Cristiano, porque era das atribuições dele era o José Adolfo, meu irmão, que fazia parte então de administração, administrativa e financeira da nossa empresa e que conversava com o Cristiano sobre faturamento, sobre recebimentos.

(...)

Ministério Público Federal:- O senhor mencionou também que Cristiano Kok era responsável pela parte financeira...

Interrogado:- Administrativa financeira.

Ministério Público Federal:- Como que era a participação dele nessa parte financeira, o senhor falou até que conversava com o Almada e depois...

Interrogado:- É todo o relacionamento que eu sempre tive, que a JAMP sempre teve com a Engevix, sempre teve início em acertos e decisões tomadas por mim e pelo Gerson Almada, em qualquer assunto, com exceção desse de Belo Monte, único, o resto todos tinham o início entre uma conversa minha com o Gerson, depois dessa conversa acertada, os percentuais de remuneração, os valores que iriam ser repassados, as participações, essas coisas todas, na época da liquidação, esse acompanhamento era feito pelo meu irmão José Adolfo que sentava com o Cristiano e acompanhava os contratos, ou seja:- “Nós temos direito a receber tanto.”, eles faziam lá o faturamento e as parcelas eram pagas. No caso do contrato da rubrica 4 mil da mesma forma, os assuntos eram tratados com o Gerson, eu sentava com o Gerson e comunicava que eu havia acertado com o João Vaccari X mil reais ou milhão de reais, ele passava para o Cristiano, o Cristiano elaborava o contrato e era feito o procedimento de assinatura e o pagamento.

Ministério Público Federal:- Certo. O Cristiano, ele tinha ciência de que esses contratos não tinham sido, ao menos não integralmente, prestados pela JAMP?

Interrogado:- Não, ele tinha ciência, mesmo porque o escopo desses contratos eram dados por alguém da área dele, não sei se por ele, mas alguém da área dele, o jurídico respondia a ele. E ele teria que nos pagar o valor de R$ 1 milhão, o jurídico ou ele, embaixo da gestão dele, definia que o escopo seria estudo de viabilidade para participar de leilão das linhas de transmissão.

Ministério Público Federal:- Objetos inexistentes? Interrogado:- Objetos inexistentes, isso.

(…)

Defesa de Luciano Kok:- Então, a partir disso eu vou fazer pergunta seguinte, o seu irmão se envolvia com as tratativas para justificar os pagamentos?

Interrogado:- Não, eu mencionei já isso, que toda e qualquer tratativa de valores e negociação na Engevix sempre começou com uma conversa minha com o Gerson, o resto todo é consequência desses acertos que eu fazia com ele.

Defesa de Luciano Kok:- Mas seu irmão participava e conhecia?

Interrogado:- Não, da mesma forma que o Gerson falava para o Cristiano Kok eu falava para o José Adolfo:- “Nós temos que assinar um contrato com a Engevix, referente a obra tal ou referente ao evento tal ou situação tal e você acerta com o

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Cristiano Kok.9

JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH: “Ministério Público Federal:-Certo. O também denunciado aqui Cristiano Kok, ele tinha algum relacionamento com o senhor sobre esses pagamentos?

Interrogado:-Sobre os pagamentos não, a não ser, tem uma ocasião, que é justamente os contratos para dar a cobertura a esses pagamentos de 10 milhões no Partido dos trabalhadores, porque saía fora, então existia um centro de custos, existia um centro de custo que é chamado 4000, esses contratos os senhores sabem, nós até declaramos, eles são de valores altos e foram feitos poucos pagamentos, diferente dos outros contratos, onde houve 60 pagamentos, porque sempre foram ao longo da obra. Esses foram contratos praticamente à vista, no máximo 02 ou 03 vezes, que eram contratos para repor o nosso caixa, o Milton avisava:-“Já fornecemos 2 milhões.”, então a gente tinha que gerar um contrato que repusesse o nosso caixa nesse valor.

Ministério Público Federal:-E isso foi ajustado como?

Interrogado:-E isso eu então comparecia, acredito que falava ou com o Gerson ou com o Cristiano a verdade que, e eu pegava esse contrato na diretoria, esse contrato não circulava pela corporação. Esses contratos (inaudível) foram assinados por mim, que sempre assinei os contratos todos da JAMP e pelo Cristiano.

Ministério Público Federal:-O senhor sabe se o Cristiano tinha conhecimento que esses contratos se destinavam a pagar esses valores para o partido?

Interrogado:-Sim.

Ministério Público Federal:-Tinha conhecimento?

Interrogado:-Tinha conhecimento provavelmente dado pelo Gerson, tinha conhecimento.10

Da mesma forma, observa-se que CRISTIANO KOK restou responsável por acompanhar a contratação e subscrever contratos ideologicamente falsos para a concretização do repasse de valores espúrios, seja por meio da atuação de MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, seja a partir de negócios firmados com JOSÉ DIRCEU, conforme apontaram os sócios da empresa JOSÉ ANTUNES e GERSON ALMADA, na linha do quanto demonstrado pelos documentos juntados aos autos (evento 3, COMP107):

JOSÉ ANTUNES: “Ministério Público Federal:- Só antes da gente prosseguir nesse questionamento, quem foi o responsável, qual foi o sócio responsável por essa contratação?

Interrogado:- Isso aqui foi anterior ao meu trabalho, o presidente da companhia era o Gerson.

Ministério Público Federal:- Certo, mas eu pergunto quem foi o responsável, não o cargo ocupado, o que a auditoria apurou, qual foi o sócio que acompanhou essa

9 Trecho do interrogatório de MILTON PASCOWITCH, reduzido a termo no evento 670. 10 Trecho do interrogatório de JOSÉ ADOLFO PASCOWITCH, reduzido a termo no evento 670.

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contratação?

Interrogado:- O sócio que acompanhou a contratação foi o doutor Gerson.

Ministério Público Federal:- Houve participação também de Cristiano Kok nessa contratação?

Interrogado:- Ele se refere aqui também como sendo um pagamento, na visão dele, devido ao trabalho que o Milton fez para que se ganhasse os cascos, desde o início, ele achou o sócio chinês, ele foi a pessoa que procurou um projeto sueco mais barato e etc., que a empresa na verdade tem...

Ministério Público Federal:- Foi a justificativa que o Kok apresentou aos auditores?

Interrogado:- Sim, isso foi apresentado aos auditores aqui11.

GERSON ALMADA: “Juiz Federal:- O senhor Cristiano Kok participou dessas reuniões?

Interrogado:-Não.

Juiz Federal:- Consta aqui que ele assinava os contratos, o que o senhor discutia com ele a respeito desse contrato com o José Dirceu?

Interrogado:-Todo o contrato da empresa tem que ser assinado pelo menos por 2 diretores e muitas vezes eu assinava em confiança, o Cristiano assinava em confiança, o volume de contratos que a gente tinha era grande. Então ele assinava mais em confiança, sabia que era do senhor José Dirceu o contrato.”12

O próprio CRISTIANO KOK afirmou, em juízo, ter assinado parte dos instrumentos contratuais fraudulentos celebrados entre a ENGEVIX e a JD ASSESSORIA:

Juiz Federal:- O que o senhor pode me esclarecer sobre esses contratos da Engevix com a JD Assessoria? Do senhor José Dirceu.

Interrogado:- A Engevix contratou a JD Assessoria após uma viagem ao Peru, que foi feita pelos meus sócios, José Antunes Sobrinho, o Gerson de Melo Almada, acompanhados do Milton Pascowitch, e no Peru eles tiveram, foram apresentados pelo doutor José Dirceu a diversas autoridades que poderiam interessar a projetos que a Engevix viesse a desenvolver naquele país; a Engevix tinha uma visão clara que o Peru podia ser um parceiro de negócios importante para o Brasil, fazendo uma integração energética entre os dois países e permitindo que o sistema se complementasse, havia projetos na área de transposição dos Andes, projetos na área de infraestrutura que a empresa tinha interesse em vir a participar. Quando fizeram a viagem com o doutor José Dirceu, me reportaram, eu não tive conhecimento direto, que os contatos foram muito bons. E a partir daí foram firmados alguns contratos com o doutor José Dirceu para dar prosseguimento a esse trabalho de comercialização de serviços no Peru, foi basicamente o que…

Juiz Federal:- O senhor assinou alguns desses contratos?

Interrogado:- Assinei alguns desses contratos sim, com o conhecimento desse escopo.13

11 Trecho do interrogatório de JOSÉ ANTUNES, reduzido a termo no evento 691. 12 Trecho do interrogatório de GERSON ALMADA, reduzido a termo no evento 722. 13 Trecho do interrogatório de CRISTIANO KOK, reduzido a termo evento 691.

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Ademais, uma vez que responsável pela área financeira da empresa, CRISTIANO KOK foi o responsável por autorizar o pagamento, pela ENGEVIX, das notas fiscais emitidas pela JAMP Engenheiros Associados e pela JD ASSESSORIA, ainda que não tenham os serviços sido prestados.

Destarte, resta evidente, ante os elementos de prova colhidos, que estava na esfera de conhecimento de CRISTIANO KOK a existência dos pagamentos de propina efetuados pela empreiteira.

Mencione-se, nessa senda, que o próprio réu, em entrevista à Folha de S. Paulo (evento 3, COMP10), afirmou ter conhecimento de que a ENGEVIX efetuou o pagamento de vantagens indevidas a PAULO ROBERTO COSTA mediante a simulação de serviços com empresas de ALBERTO YOUSSEF. A despeito de aduzir, na oportunidade, que não sabia à época que as empresas eram do operador financeiro, ele assumiu que os serviços supostamente contratados não eram reais. Considerando que o artifício em relação à JAMP e à JD ASSESSORIA foi basicamente o mesmo, reforça-se que CRISTIANO KOK também tinha conhecimento acerca da falsidade desses contratos.

Por sua vez, JOSÉ ANTUNES era sócio-diretor da ENGEVIX. Consoante demonstram os trechos anteriormente coligidos, diferentemente de CRISTIANO KOK, a função por ele exercida não era interna da companhia, meramente administrativa, mas sim de mercado.

Nessa toada, resta claro que, em sua prática profissional cotidiana, JOSÉ ANTUNES relacionava-se com diversos diretores ligados a empreiteiras participantes do “Clube”, além de conviver constantemente com as práticas ilícitas verificadas no mercado. Assim, é evidente que não desconhecia as relações espúrias que a própria empresa mantinha com os mesmos agentes.

Ainda, conforme alegado por GERSON ALMADA, JOSÉ ANTUNES participou de viagem com seu sócio e JOSÉ DIRCEU ao Peru. Nesta oportunidade, o ex-Ministro-Chefe da Casa Civil, em decorrência de contrato celebrado entre a ENGEVIX e a JD ASSESSORIA, teria efetivamente prestado consultoria à empreiteira:

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Juiz Federal:- E o que aconteceu, daí?

Interrogado:-Daí fizemos uma reunião, o ministro explicou todo o conhecimento dele, onde ele tinha ajudado, os partidos políticos como ele tinha ajudado, colocou claramente onde que ele podia ter mais força que era México, que era Venezuela, que era África, que era Peru e que era Cuba. Levei para os nossos sócios, debatemos e vamos tentar fazer um trabalho com o Ministro José Dirceu focado em Peru, inicialmente. Porque México a gente está bem estruturado, Venezuela nem de graça, África estamos bem estruturados e Cuba não se sabe. Então, começou-se essa reunião, fizemos duas reuniões prévias com ele e marcamos a ida ao Peru, ele fez uma agenda, tinha uma pessoa dele que acompanhou essa reunião lá, a dona Zaida, foi eu, o Antunes, o Milton, o Ministro e o Carraro que era o nosso diretor internacional. Dessa viagem ficou claro que ele era o termo que eu disse aqui “open door”, era tratado com muito respeito, muita habilidade por todos, e nós tentamos navegar por 2 anos e meio dentro desse conhecimento dele. E nesses 2 anos e meio não tivemos nenhum sucesso, o que é normal também dentro de um serviço de consultoria.

Juiz Federal:- Quem cuidou desse trabalho lá no Peru, da Engevix? O, o senhor, o senhor Antunes ou o senhor Kok?

Interrogado:-O trabalho, a filial do Peru estava ligada ao Antunes, ele que era o responsável. Depois teve uma reestruturação da empresa, mais ou menos 2010, 2011, por aí, e eu fiquei com a área comercial e o doutor Antunes pegou todas as obras. Então todas as obras passaram pela responsabilidade do senhor Antunes e eu passei a ter toda a parte comercial.

Juiz Federal:- Além da viagem inicial, o que mais que o senhor José Dirceu fez? Interrogado:-Fizemos uma reunião a cada 6 meses, mais ou menos, para fazer um follow-up, ele era rico em ideias, tentou várias vezes convencer-me a ir para o México, onde ele tinha um grande parceiro lá. Mas o México, área de petróleo, área de infraestrutura não tinha nada. Tentou mais de uma vez ir pra Venezuela onde ele tinha grandes contratos. Teve Cuba que nós interessamos, tentamos marcar umas três vezes viagem pra Cuba, ou por problema meu ou por problema dele, essa viagem acabou não sucedendo e quem organizou isso sempre era através do Milton.

Juiz Federal:- E a Engevix conseguiu algum contrato, ampliou algum negócio em decorrência dos serviços aí do senhor José Dirceu?

Interrogado:-Não, não ganhamos nada.

Juiz Federal:- Como é que foi definido esse preço aqui, eu tenho aqui o primeiro contrato, 01/07/2008, 120 mil reais. Como é que foi definido esse preço dos serviços dele?

Interrogado:-Esse preço foi colocado por ele: “Olha, é um custo que eu tenho, depois, quando eu ganhar alguma coisa, a gente faz o acerto." Normalmente isso existe dentro de um contrato vinculado a um sucess fee que você venha a ter, porém o consultor ele precisa de um dinheiro pra manutenção. Então foi fixado isso, depois teve um período, depois da viagem ao Peru, que nós aumentamos esse valor de 20 mil por mês para uma faixa aí de 50 mil por mês e, apesar de serem 5 contratos, na realidade é um contrato só que, por questões internas, a gente fazia. E esses contratos de consultoria voltados a negócios de obtenção de clientes, procura-se fazer por períodos pequenos, 6 meses, 1 ano, nunca contratos muito longos.

Juiz Federal:- Por que houve o distrato do contrato, do último lá em 30 de março de 2011?

Interrogado:-Não ganhamos nada, o mercado interno estava demandando uma loucura nossa, não tínhamos o mínimo de pessoas a verem lá, pra ir lá fora, pra fazer

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propostas. Quer dizer, em 2010, 2011, eu não achava engenheiro pra nada, não tinha engenheiro, não tinha pessoal nenhum. Então não adiantava a gente investir nada lá fora. Então, se eu não vou ter gente pra ir, vamos cuidar do mercado interno, vamos tentar fazer e, paralelamente a isso, nós investimos muito na área de infraestrutura. Então tínhamos muito projetos, então não tinha capacidade, mesmo que ele viesse a conseguir, como ele colocou: “Olha, quero continuar.” Não adianta.

Juiz Federal:- Ele fez alguma outra viagem, fora essa primeira viagem? Interrogado:-Tentamos ir pra Cuba e não conseguimos.

Juiz Federal:- Ele fez alguma outra viagem ao Peru, fora aquela primeira? Interrogado:-Pela Engevix, não.

Juiz Federal:- Ele apresentava algum relatório de serviços que ele prestava, o que ele estava fazendo, à Engevix?

Interrogado:-Não, fazíamos essas reuniões, almoços, ele esteve jantando na minha casa, jantamos, almoçamos no clube português, então teve uma série, mas reuniões assim de troca de ideias…

Juiz Federal:- O senhor mencionou que tinha uma reunião a cada 6 meses, é isso, desde 2008?

Interrogado:-Aproximadamente.

Juiz Federal:- O senhor José Antunes não participava dessas reuniões?

Interrogado:-Participou. De algumas delas participou, pelo menos de 4 eu sei que participou.

Juiz Federal:- A área internacional estava sob a responsabilidade dele, é isso? Interrogado:-Sim, senhor. Excelência.

Juiz Federal:- Ele depôs aqui, salvo engano, ele disse que não... fora aquela primeira viagem, desconhecia qualquer coisa que o senhor José Dirceu teria feito.

Interrogado:- Teve em jantar na minha casa, estivemos juntos no escritório do José Dirceu, talvez pelo nervosismo dessa cadeira ele tenha esquecido, mas pelo menos nessas duas condições eu sei que ele esteve.

Juiz Federal:- E essas reuniões posteriores, o senhor Milton estava presente?

Interrogado:-Sempre, em todas as reuniões que eu tive com o doutor José Dirceu, o Milton estava presente. E também ele declarou aqui que não seguiu, que mais uma vez é uma mentira, que todos esses relacionamentos, todas essas reuniões ele esteve presente.14

Referida viagem foi, inclusive, confirmada por JOSÉ ANTUNES, o qual, por sua vez, confirmou não ter participado de outras prestações de serviço por JOSÉ DIRCEU:

Juiz Federal:- Qual a relação da Engevix com o ex-ministro José Dirceu, o senhor pode esclarecer?

Interrogado:- Doutor, eu não tinha relação com o ministro José Dirceu, mas eu quero expor o fato, pra mim, o senhor José Dirceu eu conheci numa viagem pra Lima, Peru, da seguinte maneira, o Milton Pascowitch, que fazia captação de negócio, conversou com o meu sócio, Gerson Almada, e propuseram implementar nossa participação no Peru, que nós já tínhamos, nós tínhamos, eu trouxe aqui, tem uma série de contratos, todos contratos pequenos de consultoria de engenharia em Lima, mas o doutor Gerson, por sua relação lá com o presidente Alan Garcia, pelas suas relações no país, poderia nos ajudar. Eu, na verdade, concordei com essa viagem, essa viagem foi feita, foi feita no dia 28 de maio de 2008, voamos para Lima, tivemos

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um dia de reuniões lá visitando algumas autoridades, das quais uma delas eu me lembro muito bem, que era o ministro de minas e energia, com o qual a gente tinha já serviços em andamento por lá, e voltamos no dia seguinte, no dia 30. Eu não tive depois com o doutor José Dirceu outros contatos e outras relações, ele era uma relação mais direta do doutor Pascowitch e, eventualmente, do doutor Gerson.

Juiz Federal:- O senhor era responsável pela área internacional?

Interrogado:- Eu era responsável pela área internacional naquele momento, e tinha comigo, foi comigo também nessa viagem um diretor internacional que eu contratei para me ajudar, doutor Alessandro Carraro, nessa viagem ele me acompanhou.

Juiz Federal:- E por que o senhor foi nessa viagem na qualidade de responsável pela área internacional da Engevix?

Interrogado:- Na verdade, como eu criei a área, eu tinha diretor internacional já nessa época, o doutor Alessandro, mas como eu criei a área, fiz as relações lá e como era um ex-ministro indo para uma missão, tentando abrir possibilidades para nós lá, eu achei por bem acompanhá-lo.

Juiz Federal:- E qual foi a remuneração do senhor José Dirceu por essa viagem, esse contrato?

Interrogado:- Doutor, o primeiro contrato dele com a Engevix, nesse primeiro caso, foi em torno de cento e poucos mil reais, com o qual eu achei que era razoável, ele podia desenvolver os negócios por lá.

Juiz Federal:- Mas depois prosseguiram os serviços do senhor José Dirceu para a Engevix, depois dessa viagem?

Interrogado:- Teve um só contato, meritíssimo, que foi o seguinte, em algum momento do ano seguinte eu recebi a pedido do Gerson uma missão cubana que tinha interesse em instalar usinas eólicas em Cuba, e nós estávamos instalando aqui, até pela Desenvix, então nós aceitamos a missão, mas não deu mais nada, os cubanos não tinham condições, o assunto não prosperou.

Juiz Federal:- Mas qual a relação do senhor José Dirceu com esse...

Interrogado:- Não, porque esse contato da visita dos cubanos conosco veio pela, por ele.

Juiz Federal:- Mas por esse contato foi paga alguma comissão para ele?

Interrogado:- Não, não, não foi, dali para a frente, do primeiro contrato, eu pessoalmente não tomei mais conhecimento de nada, quer dizer, não tenho, não tive nenhuma relação mais com ele, ficou basicamente na visita ao Peru, depois um outro contato de interesse da visita dos cubanos aqui, não teve mais nada.

Juiz Federal:- Essa visita ao Peru que o senhor acompanhou, isso acabou resultando em algum contrato para a Engevix no Peru ou algum negócio novo, ou acréscimo de negócio?

Interrogado:- Não, não resultou em nada.15

Note-se que as declarações de GERSON ALMADA são coincidentes com as de MILTON PASCOWITCH e JOSÉ ANTUNES que, em seus respectivos interrogatórios (eventos 670 e 722), afirmaram não ter ocorrido prestação de serviços por JOSÉ DIRCEU após referida viagem para o Peru. Face aos esclarecimentos apresentados, verifica-se que, ainda que o ex-ministro tenha realizado lobby perante autoridades peruanas no âmbito do 15 Trecho do interrogatório de JOSÉ ANTUNES, reduzido a termo no evento 691.

Referências

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