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2. O PROCESSO

3.3 Acesso à justiça

3.3.3 Contraditório e ampla defesa

O princípio do contraditório está previsto no artigo 5º, inciso LV da Constituição Federal “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Além de constar na parte final do artigo 7º do CPC que determina o juiz deve “velar pelo efetivo contraditório”, bem como no artigo 9º144 e 10145 do Novo Código de Processo Civil.

144 Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. 145 Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito

do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.

O princípio do contraditório possui o aspecto formal e material. Em seu sentido formal, é o direito de participar do processo, de ser ouvido, trata-se de uma participação efetiva em que a parte é capaz de influenciar a formação da decisão do magistrado. No seu sentido material, o juiz tem o dever de responder ao que fora formulado pelas partes, ou seja, o juiz deve julgar o que foi literalmente pedido de forma fundamentada.

O contraditório está estritamente ligado ao princípio da congruência, já que é obrigatório que haja correlação entre a causa de pedir e o pedido exposto na inicial ou na reconvenção, com a fundamentação jurídica e o dispositivo da sentença, conforme artigo 141 do CPC146. Exemplo disso, é que o juiz não pode condenar o réu a pagar danos materiais, se o autor apenas pediu danos morais, sob pena de violar o princípio do contraditório, já que o réu apenas se defendeu quanto ao pedido de danos materiais.

O direito ao contraditório é um dos elementos essenciais para que se tenha um processo justo. O direito ao contraditório já foi definido como a simples

bilateralidade da instância, dirigindo tão somente as partes.147Isto é, o contraditório era o ato de conhecimento-reação, já que as partes conheciam as alegações feitas uma contra a outra e tinha a faculdade de impugná-las, o mesmo era aplicado na produção de provas. Nessa perspectiva, o Poder Judiciário não se relacionava com o direito ao contraditório das partes. Partindo dessa ideia, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que “a garantia constitucional do contraditório e da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes, tem como destinatários os litigantes em processo judicial ou administrativo e não o magistrado que no exercício de sua função jurisdicional, à vista das alegações das partes e das provas colhidas e impugnadas, decide fundamentadamente a lide”.148

Atualmente, essa visão de que o contraditório é a simples bilateralidade da audiência149 e o contraditório ser conhecimento-reação foram superados, já que o contraditório, atualmente, exige que as partes participem do processo e influenciem

146 Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer

de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

147 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Op. cit., p. 501. 148 STF, 2ªT., AgRg no RE 222.206/SP, rel. Min. Maurício Corrêa, j. 30.03.1998

as decisões, ou seja, o direito de influência. O magistrado passa a ser também destinatário do contraditório, logo, tendo o dever de velar pelo contraditório entre as partes.

Com essa concepção do princípio do contraditório, a regra é que todas as decisões do juízo se baseiem em questões previamente discutidas pelas partes (art.10 do CPC), o que significa que o juiz está proibido de proferir decisões- surpresas.

O contraditório pode ser realizado de diferentes maneiras. A regra é que o contraditório seja realizado previamente, porém, nada impede que o contraditório seja diferido/mitigado, nos casos em que o juiz concede, com base nos pressupostos exigidos na urgência e na evidência (arts. 300 e 311, respectivamente), uma tutela provisória antes de ouvir uma das partes.

Aplica-se também o contraditório diferido nas hipóteses previstas no art. 332, que dispõe as hipóteses em que o juiz julgará liminarmente improcedente o pedido formulado na exordial, quando o pedido contrariar os precedentes oriundos dos Tribunais indicados nos seus incisos ou tenha ocorrido decadência ou prescrição. O fundamento deste dispositivo é a evidência da improcedência do pedido e, principalmente, porque a decisão liminar não atingirá a esfera jurídica do réu, atingindo apenas o direito de ação do autor.

Assim, enfatiza-se que o contraditório diferido não viola o princípio constitucional, desde que preenchidos os pressupostos para sua aplicação (Tutela de urgência e evidência) e a decisão liminar seja motivada. O mesmo raciocínio é defendido por Nelson Nery Júnior ao analisar que:

Não é, portanto, a cautelaridade ou satisfatividade do provimento jurisdicional que dá a tônica ao respeito ou desrespeito ao princípio da bilateralidade da audiência. Haveria ofensa ao mandamento constitucional se ao réu, na ação cautelar, não se desse a oportunidade de defesa ou de recurso contra a liminar concedida a seu desfavor.150

Para os doutrinadores que diferenciam o princípio do contraditório e da ampla defesa, pode-se conceituar que a ampla defesa, prevista no art. 5º, LV, da

150 NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na constituição federal. 7. ed. São Paulo: Revista

CF, corresponde ao aspecto material do contraditório, ou seja, se refere ao direito de participar e influenciar efetivamente na formação do convencimento do magistrado.

O princípio da ampla defesa/amplitude do direito de ação trata-se do direito da parte de impugnar o que não lhe é afeito (alegações, documentos, fundamentos) e reagir aos atos que lhe são desfavoráveis, reage-se à petição inicial, contestando; reage ao alegado na contestação, replicando; reage-se à sentença, recorrendo. 151

Em suma, o princípio do contraditório se concretiza com a oportunidade de participação e colaboração dada aos sujeitos processuais de se manifestarem em face de cada ato praticado no processo e influenciaram na formação do convencimento do juiz, de outro lado, o princípio da ampla defesa se concretiza quando as partes produzem provas através de técnicas processuais capazes de formarem o convencimento do juiz acerca do direito pleiteado.