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2. O PROCESSO

2.9 A petição inicial

2.9.1 Dos vícios e de sua sanabilidade

Devido ao caráter instrumentalista que guia o novo código de processo civil, ordena-se que sempre que possível a emenda da petição inicial o juiz deverá intimar o autor para que regularize o vício existente, sendo hipótese de indeferimento da inicial apenas quando constatado vício insanável.

Nota-se, portanto, que um ato viciado é um ato imperfeito, em desrespeito à forma legal. O ato processual tem um resultado pretendido pela parte que o pratica quando observado as formalidades legais, o que se assim feito, gerará o efeito legal pretendido, bem como proporcionará as partes uma segurança jurídica.

Nesse sentido, a lei também prevê uma sanção processual para quem descumpre as formalidades legais, que são as nulidades, ou seja, impede que os atos processuais defeituoso surta o efeito pretendido, tornando-o invalido ou atípico.

No entanto, a doutrina e a jurisprudência sob a égide do CPC de 1973, sustentavam que a forma não pode se sobrepor ao conteúdo do ato processual,

mesmo que seja feito de forma diversa do previsto, desde que sua finalidade fosse atingida.

Assim, o CPC/15 manteve a aplicabilidade do princípio da instrumentalidade da forma, fazendo constar de forma expressa que se a finalidade do ato fosse atingida, mesmo sem a observância da forma, e, desde que não gerasse prejuízo para as partes e seus direitos processuais, bem como para o andamento regular do processo, não há necessidade de ser declarado sua nulidade, ainda que esse vício esteja no plano da existência ou da validade.

A regra é de que só haverá defeito no ato processual quando a não observância da forma resultar em algum prejuízo.

O artigo 188 do CPC versa que “os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial”. O artigo se refere ao princípio da liberdade das formas. Ainda consta no artigo 277 do CPC que “quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade”, bem como está previsto no artigo 282, §1º que “o ato não será repetido nem sua falta será suprida quando não prejudicar a parte”.

Por fim, o artigo 283 determina que “o erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais”, todos esses artigos dão ensejo ao princípio da instrumentalidade das formas, já que não será declarado a nulidade dos atos processuais apenas pelo simples descumprimento da forma.

Nesse sentido, os defeitos processuais, seja no plano da existência ou no plano da validade, em regra, devem ser entendidos como sanáveis.

De forma excepcional, deverá ser declarado à nulidade do ato processual que não cumprir a forma previamente exigida ou imposta pela lei e que ocasionar prejuízo para o processo ou uma das partes.

A doutrina clássica classifica as nulidades processuais em: a) nulidades sanáveis (relativas/ não cominada) são as que admitem a repetição do ato viciado

ou a desconsideração se arguidas de plano (artigo 276 e 278) e; b) nulidades insanáveis (absolutas/cominadas) não admitem a renovação do ato viciado e não admitem que produzam efeitos dentro do processo ou fora dele, independentemente de qualquer alegação das partes, já que deve ser decretado de ofício ou prazo (art. 278, parágrafo único).

Em regra, todos os defeitos nos atos processuais devem ser considerados como nulidades sanáveis, pois ainda que em desconformidade à forma, se conseguir atingir sua finalidade e não prejudicar as partes e o processo, este será convalidado, ou seja, ainda que defeituoso aproveita-se seus efeitos ou parte deles. Prova disso é o caso do artigo 279 do CPC que determina que será nulo o processo que se exige a intervenção do Ministério Público, em seguida no seu parágrafo primeiro, determina que o juiz declare a nulidade de todos os atos do processo desde o instante em que a intervenção do Ministério Público se fazia necessário. Todavia, em seu §2º impende que “a nulidade só poderá ser decretada após a intimação do Ministério Público, que se manifestará sobre a existência ou a inexistência de prejuízo”.

Por fim, verificado uma nulidade sanável, o juiz determinará as medidas necessárias para aboli-la do processo, podendo determinar que o ato seja praticado novamente, pode definir quais os efeitos dos atos praticados, bem como decidirá sobre a possibilidade de convalidação dentro do processo.

Em contrapartida, haverá a nulificação do processo quando não forem preenchidos os pressupostos processuais e as condições da ação, os quais são denominados de vícios de fundo segunda Teresa Arruda Alvim. 97

Há ainda vícios insanáveis dentro do Código de Processo Civil de 2015, por exemplo, quando o autor não possui legitimidade ativa, não pode o juiz intimar a parte legitima ativa correta e convidá-la para ingressar na ação como autora, pois isso violaria o direito de ação e feriria o princípio da inercia da jurisdição. Outro exemplo, quando faltar o pressuposto processual subjetivo da investidura, uma

97 ALVIM, Teresa Arruda. Nulidades do processo e da sentença. 5. ed. rev., atual. e ampl. De acordo

com as Leis 10.352/2001, 10.358/2001 e 10.444/2002. Coleção estudos de direito de processo Enrico Tullio Liebman- Vol. 16. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. p.197.

sentença é proferida por um juiz aposentado. Esses são exemplos de vícios insanáveis e tratam de atos inexistentes.

A falta de pressupostos processuais positivos, a presença de pressupostos negativos e a ausência de condição da ação podem ser alegadas a qualquer momento, visto que não sofrem os efeitos da preclusão e de ofício. Contudo, ainda que se refiram às nulidades absolutas, não será reconhecida a nulidade absoluta se verificado à boa-fé objetiva (art. 5 e 276 do CPC/15) e se atingir sua finalidade (art. 277 do CPC/15).

Dessa forma, o sistema processual brasileiro prezou pelo aproveitamento dos atos processuais defeituosos, afastando-se a nulidade do ato quando não prejudicar as partes e o ato atingir seus objetivos.