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2. O PROCESSO

3.3 Acesso à justiça

3.3.2 Devido processo legal

A doutrina possui uma enorme dificuldade em definir um conceito do que seja o “devido processo legal”, quando se busca defini-lo verifica-se que possui aspectos absolutamente incontestável e outros extremamente amplo, por isso, conclui-se que o melhor é não traçar uma definição delimitadora.

Alexandre Câmara afirma que o devido processo legal ou o modelo constitucional de processo (que deveria ser chamado de devido processo constitucional) é composto também pelos princípios da isonomia, do juiz natural, da inafastabilidade da jurisdição, do contraditório, da motivação das decisões judiciais e da duração razoável do processo. 134

O princípio due process of law é um princípio fundamental que condiciona a validade de todos os direitos substanciais, dele decorrem todos os demais princípios processuais. Segundo Nelson Nery Jr. é “o princípio fundamental do

processo civil que entendemos como a base sobre a qual todos os outros se sustentam”.135 Já para Humberto Theodoro Jr, o devido processo legal é considerado como um “superprincípio”, na exata medida em que serve de inspiração a todos os demais princípios do direito processual. 136 Por fim, para Dinamarco, o devido processo legal é, ao mesmo tempo, preceito originário e norma de encerramento do processo, portador, inclusive, de garantias não

133 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. A efetividade do processo de conhecimento. In.: Revista de

Processo, ano 19, n.74, abr-jun, 1994. p.128

134 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 1.

135 NERY JR., Nelson. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 8. ed. São Paulo: Editora

RT, 2004. p. 60.

previstas em texto legal, “mas igualmente associada à ideia democrática que deve prevalecer na ordem processual”.137

Há um núcleo conceitual que delineia os contornos do Princípio do Devido Processo Legal, ou seja, existe apenas a certeza dos elementos que o compõem.138 É dotado de conceitos vagos e se tentar traçar uma definição, certamente excluirá elementos que poderiam vir a revelar como parte integrante do conceito deste princípio.

É dentro desse conceito que Sampaio Dória explica a importância desse princípio:

A busca de preceito constitucional explícito, para servir de veículo de atuação a todo um indefinido e indefinível corpo de ‘leis naturais’, não tardou em deparar com o único dispositivo da Constituição que se prestava idoneamente a essa finalidade, a cláusula due process

of law. 139

Esse princípio serve como uma fiscalização dos poderes, ou seja, dos atos legislativos, judiciais e administrativos, visto que todos os poderes devem respeitar a cláusula due process of law.

Elucida-se ainda que esse princípio não possui apenas um caráter processual, mas também um caráter material (chamado substantive due of

process), pois os atos normativos, proferidos no legislativo e no administrativo se

submetem ao princípio do devido processo legal.

Em uma concepção formal, o devido processo legal se refere ao direito de processar e ser processado de acordo com as normas preestabelecidas no ordenamento jurídico. Já sobre a concepção substancial, se refere à obrigatoriedade e garantia de que as normas sejam admissíveis, apropriadas, proporcionais e equilibradas, ou seja, é uma forma de controle do conteúdo das decisões ao caso concreto e da norma aplicada. O processo devido é “regido por

137 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros,

2004. p. 245.

138 ALVIM, Eduardo Arruda; GRANADO, Daniel Willian; THAMAY, Rennan Faria Kruger. Processo

constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 24.

139 DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio. Direito constitucional tributário e due process of law. 2. ed.

garantias mínimas de meios e de resultado, com emprego de instrumental técnico- processual adequado e conducente a uma tutela adequada e afetiva”.140

Afirma Cassio Scarpinella Bueno que “o princípio do devido processo legal

indica as condições mínimas em que o desenvolvimento do processo, isto é, o método de atuação do Estado-juiz para lidar com a afirmação de uma situação de ameaça ou lesão a direito, deve se dar”.141

Assenta-se, o princípio do due process of law, sobre o trinômio vida- liberdade-propriedade, o que significa que tudo que se refere à tutela desse trinômio estará ao abrigo do devido processo legal. 142

Nossa Constituição Federal refere que: “Ninguém será privado da liberdade

ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. 5, LIV).

Neste artigo consta, expressamente, o direito ao devido processo legal, porém, essa expressão é muito criticada por Humberto Theodoro Junior em sua Obra a “Constituição e Processo: desafios constitucionais da reforma do processo civil no Brasil”.

No mesmo sentido, expõe Marinoni que:

A expressão devido processo legal (due process of law) é criticável no mínimo em duas frentes. Em primeiro lugar, porque remete ao contexto cultural do Estado de Direito (Rechtsstaat, État Légal), em que o processo era concebido unicamente como um anteparo ao arbítrio estatal, ao passo que hoje o Estado Constitucional (Verfassungsstaat, État de Droit) tem por missão colaborar na realização da tutela efetiva dos direitos mediante a organização de um processo justo. Em segundo lugar, porque dá azo a que se procure, por conta da tradição estadunidense em que colhida, uma dimensão substancial à previsão (substantive due process of law), quando inexiste necessidade de pensá-la para além de sua dimensão processual no direito brasileiro. 143

140 DINAMARCO, Cândido Rangel. Op. cit., p. 247. 141 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p 45.

142 ALVIM, Eduardo Arruda; GRANADO, Daniel Willian; THAMAY, Rennan Faria Kruger. Processo

constitucional. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. p. 24.

143 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de

Processo Civil: Teoria do processo civil. 1. ed. v.1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 489- 490.

Boa parte da doutrina considera um princípio-síntese de todos os valores ou concepções do que se entende como um processo justo e adequado. Ou seja, o direito ao processo justo institui um princípio fundamental para a organização do processo no Estado Constitucional, sendo essencial e primordial, para que o Estado-juiz possa proferir decisões justas e seguras, formando precedentes, jurisprudências e súmulas, bem como, para que o Estado exerça sua função executiva, legislativa e judiciária, observando as normas jurídicas (princípios e regras) e procedimentos previstos no ordenamento jurídico, constitucionais e infraconstitucionais, que devem assegurar à sociedade, através dos meios necessários, todos os bens da vida tutelados.

Em resumo, o devido processo legal é uma garantia ao processo justo, em que as partes obtêm um provimento jurisdicional ao aplicar a lei ao caso concreto, trazendo, num tempo razoável, a solução à lide, através das formas instrumentais adequadas, respeitando os direitos de ação e defesa, racionalizando os julgamentos de ações repetitivas, empregando maior efetividade aos direitos fundamentais, principalmente, ao princípio da duração razoável do processo, previsto no artigo 5º, LXXVIII, da Carta Magna, através da Emenda Constitucional nº. 45/2005.