• Nenhum resultado encontrado

Da necessidade de intimação do autor antes da decisão liminar de improcedência:

4. AS PECULIARIDADES DO ART 285-A DO CPC/73

4.4 Da necessidade de intimação do autor antes da decisão liminar de improcedência:

influência e de não surpresa

208 CAHALI, Yussef Said. Prescrição e decadência. 2. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2012. p. 47.

O Novo CPC traz um modelo cooperativo na medida em que as partes influenciam efetivamente da decisão judicial (garantia de influência) e garantem que às partes não sejam surpreendidas por decisão inesperada (garantia de não surpresa).

Nos termos do art. 9º, caput, do CPC/15, tem-se:

Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.

Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica: I - à tutela provisória de urgência;

II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;

III - à decisão prevista no art. 701.

Ocorre que em seu parágrafo único traz a exceção à aplicação do caput, ou seja, salvo se se tratar de medida de urgência ou concedida a fim de evitar o perecimento de direito, o que se discute é se aplica-se o parágrafo único nas hipóteses previstas no artigo 332.

O artigo 332 do CPC/15 prevê que o juiz poderá julgar liminarmente improcedente o pedido do autor quando contrair precedente ou súmula, sem a necessidade de oitiva do réu, e sem a prévia oitiva do autor.

Há quem defenda que o fato de não ouvir o autor o juiz estaria violando o direito ao efetivo contraditório, já que o juiz só dialoga com as partes quando previamente elas esclarecem as questões de fato e de direito.

O contraditório também passa a ser uma forma de garantir que não haja decisão surpresa, ou seja, em caso de impossibilidade da tutela deve dar a oportunidade das partes se manifestarem, a fim de evitar que estes sejam surpreendidos por decisão judicial com teor repentino.

Nesse sentido, Nery Júnior afirma:

[...] a proibição de haver decisão surpresa no processo, decorrência da garantia instituída pelo princípio constitucional do contraditório, enseja ao juiz o poder-dever de ouvir as partes sobre todos os pontos do processo, incluídos os que possivelmente poderão ser

decididos por ele, seja a requerimento da parte ou interessado, seja

ex officio. Trata-se da proibição da sentença de terceira via.210

Dierle Nunes defende que o art. 9º e 10º do CPC traz uma nova função do juiz como o “dever de consulta” das partes sobre qualquer questão que venha a ser decidido, até mesmo as matérias de ordem pública.211

De fato, o dever de consulta objetiva que as partes não sofram com decisões surpresas e, por isso, se faz necessário que se garanta o direito efetivo de influenciar a decisão judicial.

Elpídio Donizeti entende que o dever de consulta das partes pelo magistrado não é taxativo, cabendo exceções quando prevalecer o interesse público e a ausência de prejuízos substanciais para as partes sem a prévia oitiva das partes212 Diante disso, no artigo 332 do CPC ocorre a mitigação do contraditório, quando o juiz evidencia que o pedido contraria os precedentes dos Tribunais ou tenha ocorrido decadência ou prescrição, o que lhe permite julgar liminarmente improcedente o pedido do autor.

É importante esclarecer que o juiz não tem que pedir permissão para as partes, a fim de evitar decisão surpresa, para julgar liminarmente um pedido evidentemente improcedente, já que o art. 332 do CPC permite ao magistrado o julgamento sem a oitiva prévia das partes.

O CPC ao permitir o julgamento “liminar” de improcedência do pedido permite a intepretação de que o magistrado não precisa intimar o autor previamente para sentenciar. Somado a isso, o artigo 487 do CPC trata das hipóteses de resolução do mérito e em seu parágrafo único prevê que “ressalvada a hipótese do §1º do art. 332, a prescrição e a decadência não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes a oportunidade de manifestar.”

210 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na constituição Federal: processo civil, penal e

administrativo. 11. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 237-238.

211 NUNES, Dierle Jose Coelho. Processo jurisdicional democrático: uma análise crítica das

reformas processuais. Curitiba: Juruá, 2010. p. 226.

Portanto, o legislador autorizou o magistrado julgar improcedente o pedido, liminarmente, sem a consulta das partes, no caso de prescrição e decadência:

[...] que são questões que admitem alegação de fatos tendentes a impedir sua consolidação (ex: reconhecimento da dívida como fato interruptivo da prescrição), com mais razão está autorizado a prolatar sentença quando verificar a aplicabilidade de súmula ou precedente nas causas que dispensem dilação probatória (art. 332, incisos I ao IV).213

Colaborando para esse raciocínio, diante de uma sentença liminar de improcedência do pedido cabe à interposição de recurso de apelação, o que permite que a parte, insatisfeita, tente novamente influenciar na decisão do magistrado. Dessa forma, caso entenda que a súmula ou precedente não se aplica ao caso concreto deverá demonstrar a diferença entre o caso e o precedente (distinguishing) ou provar a ocorrência de fato que interrompeu a prescrição, podendo o juiz analisar suas razões e até mesmo se retratar.

Fredie Didier Jr. defende que o efeito regressivo (constitui hipótese de contraditório diferido) consagra o princípio da cooperação, sendo dispensável a oitiva prévia do autor:

Essa possibilidade de juízo de retratação é o que garante o respeito ao direito do demandante ao contraditório, que, com as razões da apelação, poderá convencer o juiz do equívoco de sua decisão, inclusive com a possibilidade de demonstrar a distinção do seu caso (art. 489, §1º, VI, CPC). O juízo de retratação homenageia, também, o princípio da cooperação (art.6º, CPC), pois permite que o magistrado “ouça” o que tem a dizer o autor sobre a questão ... Se não houvesse a possibilidade de juízo de retratação, a improcedência liminar seria inconstitucional, por violar o princípio do contraditório, além de redundar em antinomia com o art. 10 do CPC.214

Entendemos que não é necessário a oitiva prévia do autor antes da decisão liminar de improcedência e que isso não ofende o contraditório como garantia de influência e de não surpresa.

213 BRANCO, Janaina Soares Noleto Castelo. Da (des)necessidade de oitiva prévia do autor nas

hipóteses de sentença liminar de improcedência no NPC. Grandes temas do Novo CPC, v. 4: improcedência. Coord. Geral, Fredie Didier Jr.; coordenadores, Beclaute Silva, Rinaldo Mouzalas, Rodrigo Saraiva Marinho. Salvador: Juspodvm, 2015. p. 139.

Outra linha de juristas defende que caso o magistrado note que o autor não possua conhecimento do precedente ou da súmula, deve dar-lhe oportunidade de conhecer o seu conteúdo e buscar demonstrar a distinção do precedente ao seu caso concreto. Isso pode acontecer principalmente nos casos de súmulas dos tribunais locais e dos enunciados em incidente de demandas repetitivas ou assunção de competência (art.332, III, do CPC), já que a divulgação dessas é mais embrionária. Diferente das súmulas proferidas pelo STJ e STF que possui boa divulgação e que se espera que qualquer advogado médio tenha conhecimento de seus conteúdos.

Entretanto, se após a distribuição da demanda seja publicado uma nova súmula sobre a mesma questão de direito, o magistrado deve oportunizar que o autor demonstre à inaplicabilidade do precedente.

Por fim, conhecendo o autor, as súmulas ou precedentes, deverá na própria inicial demonstrar à inaplicabilidade ao seu caso concreto, caso contrário, o Magistrado julgará improcedente liminarmente o pedido do autor, sem a necessidade de ouvi-lo.