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4. AS PECULIARIDADES DO ART 285-A DO CPC/73

4.6 Da participação do réu

4.6.1 Intimação para contrarrazoar recurso e do direito ao contraditório

Antes da reforma de 2001, quando ocorria a extinção do processo sem o julgamento do mérito e o tribunal, ao julgar a apelação, não podia adentrar no mérito do processo. Assim, apenas invalidava a decisão e remetia ao juízo a quo, sob pena de incorrer na denominada “supressão de instância”.

Com o advento da Lei 10.352/01, o tribunal foi autorizado a julgar o mérito da causa, desde que a causa estivesse madura para o julgamento. O CPC/15 em seu artigo 1013, §3º prevê que “Se o processo estiver em condições de imediato

julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito.” E seu §4º permite que

“quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal,

se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau”.

216 MENEZES, Iure Pedroza. O novo CPC e a improcedência liminar do pedido: digressões sobre a

sua técnica do âmbito dos tribunais. IN.: DIDIER JR, Fredie; MOUZALAS, Rinaldo; SILVA, Beclaute Oliveira e SARAIVA, Rodrigo. Coleção Grandes Temas do NOVO CPC - V.4. Improcedência. Salvador: Juspodivm, 2015. p. 157-173.

Ocorre que se discute na doutrina se os requisitos do artigo 1.013 se aplicaria aos casos previstos no artigo 332 do CPC/15.

Com a interposição da apelação em face de sentença liminar de improcedência do pedido, o tribunal se constado o error in iudicando pode julgar a causa, ou seja, se entender que o juiz a quo aplicou de forma errônea o precedente, bem como que o processo possui os documentos comprobatórios necessários para o julgamento de mérito, deverá o tribunal julgar a causa. Diferente do que ocorre quando invalida a sentença diante de error in procedendo, por exemplo, o juiz a quo deixa de fundamentar a sentença de improcedência liminar do pedido, deixa de fundamentar o motivo pelo qual o precedente paradigma se aplica ao caso concreto, assim, nesses casos, o tribunal devolverá o processo ao juízo de primeira instância para que seja proferida nova sentença.

No entanto, no caso do artigo 332 do CPC/15, se o tribunal verificar que a sentença incorreu em erro in procedendo, não poderá agir de outra maneira senão invalidar a decisão e devolver os autos para o juiz de primeira instancia. O tribunal não poderá julgar o mérito.

Aos que defendem essa tese argumentam que não ocorre a citação convencional do réu no julgamento prima facie para que se apresente defesa, mas a citação ocorre para que o réu responda as alegações trazidas nas razões do recurso de apelação, sendo possível que a apelação não impugne o mérito da ação, mas apenas a errônea aplicação do art. 332 do CPC. E ainda que as razões tratem do mérito, o réu estaria restrito apenas a contrarrazoar o recurso de apelação, deixando de utilizar todos os mecanismos de defesa convencional.

Assim, se o tribunal reformar a sentença de improcedência liminar, não devolver ao juiz de primeiro grau, e julgar o mérito, colocará o réu em situação dificultosa, já que lhe retira o direito de apresentar as defesas convencionais como apresentar reconvenção e intervenção de terceiro.

Nota-se que a reconvenção é apresentada no corpo da contestação. Sabe- se que a reconvenção “é um modo de exercício do direito de ação, sob a forma de contra-ataque do réu contra o autor, dentro de processo já iniciado, ensejando

processamento simultâneo com a ação principal (simultaneus processus), a fim de que o juiz resolva as duas ações na mesma sentença”.217

Nesse sentido, conclui-se que o julgamento da contestação e da reconvenção ocorre de forma simultânea, já que a reconvenção possui a função de fazer com que o magistrado decida sobre ampliação subjetiva da ação, não fazendo sentido que o réu apresente reconvenção em resposta à apelação interposta em face de sentença liminar de improcedência, até porque a reconvenção deve ser feita no corpo da contestação, sendo incabível ao réu em sede de contrarrazões de apelação.

Além disso, ao existir uma sentença de mérito oriunda de um julgamento liminar de improcedência de mérito, não há procedimento previsto no código capaz de autorizar o magistrado a incluir na sentença nova matéria trazida pelo réu, já que a sentença já foi proferida. 218

E ainda que fosse dado ao réu reconvir no bojo das contrarrazões, o autor deveria ser intimado para se manifestar diante de uma pretensão nova (art. 343, §1º do CPC). Contudo, se o réu ao ser citado não pode oferecer contestação, mas apenas contrarrazões, logo, o autor não teria esse direito, sendo instalado uma total ofensa à isonomia processual.

Somado a isso, há argumentos no sentido que se não cabe reconvenção, logo não caberá questão prejudicial incidental, em razão dos impedimentos igualmente alegados ao feito em matéria de estabelecimento do contraditório. Em contrapartida, outra linha de raciocínio alega que tanto o pedido de reconvenção e questão prejudicial incidental podem ser trazidos ao judiciário em ação autônoma. Ato contínuo, o art. 332 do CPC repele a possibilidade de intervenção de terceiros, já que acabam resultando em matéria fática. E ainda que não fosse, a intervenção seria inútil, pois o objetivo desse instituto é que a sentença alcance, direta ou indiretamente, o terceiro.

Além disso, o ingresso de um terceiro no processo exige que haja manifestação da parte que não pleiteou o ingresso de terceiro, bem como possibilita

217 NERY JR., Nelson. NERY, ROSA Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e

legislação extravagante. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 509.

a participação do terceiro no processo, o que causaria um enorme tumulto processual.

Nesta esteira, conclui-se que o réu ao ser citado para se manifestar contra as razões de apelação em face de uma sentença liminar sofrerá limitações do seu direito de defesa.

Fredie Didier Jr. discorda dos argumentos acima expostos ao defender que “as contrarrazões do réu terão conteúdo muito semelhante ao de uma contestação,

uma vez que se trata de sua primeira manifestação”.219 O autor prossegue sua análise afirmando que:

[...] como se trata de causa cujo julgamento dispensa produção de outras provas (...) não assustará se o tribunal, acaso pretenda reformar esse sentença, em vez de determinar a devolução dos autos à primeira instância, também examine o mérito e julgue procedente a demanda, sob o argumento de que o réu já apresentou defesa (em forma de contrarrazões) e a causa dispensa atividade probatória em audiência.220

Entretanto, caso o tribunal reforme a sentença proferida em primeira instância, julgando a demanda contrário ao réu, esse terá o seu direito à ampla defesa violado, já que não teve a oportunidade de contestar, reconvir, propor intervenção de terceiro, requerer produção de provas etc.

E mais, se o réu deixar de responder a apelação não se aplicará os efeitos da revelia ou qualquer ônus processual, visto que seria muito incoerente alegar revelia oriunda de fato gerador posterior ao julgamento de improcedência liminar do pedido sem a citação do réu. Assim, da mesma forma que o juiz de primeiro grau julgou sem a citação do réu, o tribunal poderá julgar, visto que se trata de matéria exclusivamente de direito, não havendo controvérsia fática.

Diante disso, podemos afirmar que o julgamento liminar de improcedência do pedido do autor em sede recursal ocasiona uma desvantagem defensiva ao réu, uma vez que em contrarrazões de apelação o réu não pode apresentar todas as defesas prevista sem lei como à reconvenção, arguição de questão prejudicial,

219 JORGE, Flávio Cheim, DIDIERJR., Fredie, RODRIGUES, Marcelo Abelha. A terceira etapa da

reforma processual civil. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 59.

arguição de incompetência relativa, arguição de parcialidade, intervenção de terceiros, já que apenas é possível trazer essas alegações em sede de contestação.

4.6.2 Da intimação do trânsito em julgado e possibilidade de