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4. AS PECULIARIDADES DO ART 285-A DO CPC/73

4.2 Da existência no juízo de causas idênticas

Outro pressuposto exigido no artigo é a existência de semelhanças entre ações, o que não é sinônimo de ações idênticas, em que as partes, a causa de pedir e os pedidos são os mesmos (art. 301, §1º, do CPC), situação em que caberá ao juiz apenas o acolhimento da preliminar de litispendência ou de coisa julgada, extinguindo o processo sem resolução do mérito.

A expressão “casos idênticos” também se revelava inconveniente. Quando se fala em casos idênticos, se pressupõe identidade dos elementos da ação (partes, pedido e causa de pedir). A norma inserta no artigo 285-A, quando falava em sentença de “total improcedência em outros casos idênticos”, dava a entender que ou haveria coisa julgada (se a sentença proferida no “caso idêntico” já houvesse transitado em julgado), ou haveria litispendência (se a sentença proferida no “caso idêntico” ainda não houvesse transitado em julgado). Obviamente, a

178 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Questões de fato, conceito vago e sua controlabilidade através

de recurso especial. In: Aspectos polêmicos e atuais do recurso especial e do recurso extraordinário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 449-450

179 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. O princípio constitucional da tutela jurisdicional sem

dilações indevidas e o julgamento antecipadíssimo da lide. Revista Jurídica UNIJUS, n. 12, Minas Gerais, 2007. p. 177-196. Disponível em: <http://myrtus.uspnet.usp.br/pesqfdrp/portal/professores/fernando/pdf/tut_just.pdf >. Acesso em: 14 jan. 2019.

norma busca, em verdade, alcançar casos distintos (porque ao menos as partes serão diferentes), mas com causas de pedir e pedidos, esses sim, idênticos.

Fredie Didier entende que: “Causas idênticas são aquelas em que se discute

a mesma tese jurídica, distinguindo-se apenas os sujeitos da relação jurídica discutida”.180 Isto é, demandas, que poderiam ser discutida em ação coletiva, pois versam sobre questão jurídica objeto de processo semelhante, porém não “idêntico”, sendo a mesma situação que “ocorre nos litígios de massa, como as causas previdenciárias, as tributárias, as que envolvem servidores públicos, consumidores ou outros agrupamentos humanos”181

No mesmo sentido, Cássio Scarpinella Bueno define que: “Casos idênticos

devem ser entendidos como aquelas situações em que a tese jurídica questionada pelo autor já encontrou, naquele juízo, resposta”. 182

Isso significa dizer que é necessário que na nova ação proposta haja a mesma causa de pedir, ou seja, haja a mesma tese jurídica das outras anteriormente ajuizadas.183

Como consequência, exige-se a identidade absoluta de circunstâncias fáticas e jurídicas, não podendo ser acrescentado novos fundamentos, inexistentes nas sentenças paradigmas, devendo ainda existir mais de um caso idêntico àquele em exame no juízo.

Verificando-se as semelhanças nas ações, deverá constar na sentença a mesma fundamentação, visto que ambas possuem a mesma tese jurídica e devem ter a mesma solução, julgando totalmente improcedente o pedido, sem a citação do réu de forma liminar.

Constata-se, ainda, que o artigo não exige que a sentença paradigma tenha transitado em julgado. Questão essa que originou o Enunciado nº. 13, do III Curso

180 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo

de conhecimento. 11. ed. v.1. Salvador: Juspodivm, 2009. p. 459.

181 CHEIM, Jorge Flávio; DIDIER JR., Fredie; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Comentários às leis n.

11.187 e 22.232, de 2005; 11.277 e 11.288, de 2006. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 58.

182 BUENO, Cássio Scarpinella. A nova etapa da reforma do código de processo civil: comentários

sistemáticos às Leis n. 11.276, de 7-2-2006, 11.277, de 7-2-2006, e 11.280, de 16-2-2006. 2. ed. v.2. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 76.

183 BONICIO, Marcelo José Magalhães. Introdução processo civil moderno. São Paulo: Lex, 2010,

Regional de Atualização de Magistrados, promovido pela escola da Magistratura do Paraná, onde foi aprovado, por maioria, a obrigatoriedade do trânsito em julgado das sentenças paradigmas para os fins do artigo 285-A.

Entretanto, esse enunciado gerou inúmeras divergências, pois há quem entenda que, ao exigir o trânsito em julgado da sentença paradigma, dar-se-ia uma interpretação restritiva ao dispositivo, fugindo da finalidade de agilizar a prestação jurisdicional.

Isto posto, conclui-se que o juiz sempre agirá de forma coerente com a jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores; condição essa que não restringe a efetivação do princípio do livre convencimento motivado dos juízes, o qual compõe a coluna fundamental do Estado Democrático de Direito, sendo o magistrado apenas obrigado a atuar com responsabilidade ao assumir entendimento contrário ao dos tribunais, motivando sua decisão e apontando a razão da divergência com o entendimento dado em Segunda Instância.

Vale ressaltar que o julgamento antecipadíssimo do mérito evita a realização de atos inúteis no processo, possibilitando um andamento processual mais célere e eficaz, consoante já restou ventilado alhures.

Com a vigência do CPC/15, o artigo 285-A do CPC/73 foi substituído pelo artigo 332 do CPC/15, o qual permitiu que o magistrado proferisse a sentença de improcedência liminar nos casos em que fosse dispensável a instrução probatória, ou seja, nos casos em que a matéria da demanda for unicamente de direito e for idêntica as demandas anteriormente julgadas pela improcedência.

A substituição do termo “unicamente de direito”, para a expressão “nas causas que dispensem a fase instrutória” possibilitou que alguns juristas sustentassem que poderá ser aplicado a improcedência liminar tanto nas matérias exclusivamente de direito, quanto nas matérias de fato, desde que não tenha a necessidade de produção de provas, além das provas documentais já anexadas, bem como quando contrariar enunciado de súmula do Superior Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, acórdão proferido pelo Superior Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de

assunção de competência e enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.