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1. O DIREITO DE AÇÃO

1.1 O direito de ação e a tutela jurisdicional

1.1.2 As condições da ação e o Novo CPC

1.1.2.1 Interesse de agir ou processual

O interesse de agir deve ser analisado sob dois enfoques: necessidade e utilidade da tutela jurisdicional. Há quem defenda adicione mais um enfoque: a adequação do procedimento que pleiteia a tutela jurisdicional como elementos que formam o interesse de agir.

A ideia de interesse de agir está relacionada à utilidade e necessidade do provimento jurisdicional pleiteado e, para alguns juristas, à adequação do meio usado para obter essa tutela. Já que o processo judicial não é um instrumento consultivo das partes, visto que o Estado-juízo só atua para cessar lesão ou ameaça de lesão de um direito, o qual as partes não conseguem solucionar amigavelmente ou sem a intervenção estatal, visto que nosso ordenamento veda o uso da autotutela, ou porque a própria lei impõe que determinados direitos sejam exercidos mediante decisão judicial (por exemplo, ação de interdição). 28

É necessário o autor demonstrar que seu interesse de agir tem o viés de obter ou proteger o bem da vida lesionado ou ameaçado diante da intervenção Estatal, o que justificaria o tempo, a energia e o custo gasto pelo Poder Judiciário na resolução do Conflito.

Portanto, haverá necessidade sempre que o autor não puder obter o bem jurídico almejado sem a devida ingerência do Poder Judiciário. Por exemplo, o filho que ingressa com ação de investigação de paternidade em face de quem já consta como pai no assento de nascimento – não possui qualquer interesse de agir. O interesse-necessidade ou necessidade da jurisdição deve ser aplicada como último recurso de solução de conflito, ou seja, para quando não houver meios para a satisfação voluntária, será necessário utilizar do Estado-juiz.

Além do interesse- necessidade, se faz necessário que a ação proposta seja útil, ou seja, o autor terá interesse de agir quando demonstrar que o processo pode resultar em alguma melhora a sua conjuntura fática, deve demonstrar a utilidade na vida do jurisdicionado da intervenção do Estado-juízo.

28 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pelegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel.

A providência jurisdicional será útil quando, “por sua natureza,

verdadeiramente se revele- sempre em tese- apta a tutelar, de maneira tão completa quanto possível, a situação jurídica do requerente”. 29

Diante disso, defende-se que não há interesse processual quando não se é possível obter o resultado pretendido, ou seja, ocorre a “perda do objeto” da causa. Por exemplo, o autor ingressa com ação de execução, mas antes da citação do réu, efetuasse o adimplemento da obrigação, portanto, nesse caso perde-se o objeto da ação, pois não há mais interesse que o processo continue.

Nesse diapasão, dentro do interesse processual deve haver a adequação do meio utilizado para obtenção da tutela pleiteada em juízo, por exemplo, impetra-se um mandado de segurança, o qual só será admitido se o ato lesivo for cometido por autoridade e diante da juntada de prova pré-constituída. Se não preenchidos esses requisitos, o mandado de segurança não será admitido por falta de interesse de agir.

No entanto, parte da doutrina não faz correlação entre o interesse de agir e a adequação, visto que a falta de adequação do procedimento não gera perda do interesse de agir, visto que mesmo de forma inadequada o autor busca uma melhora em sua situação fática através do processo.30Segundo Barbosa Moreira:

[...] aberra o bom senso afirmar que uma pessoa não tem interesse em determinada providencia só porque se utilize da via inadequada. Pode inclusive acontecer que a própria escolha da via inadequada seja uma consequência do interesse particularmente intenso; se alguém requer a execução sem título, não será possível enxergar- se aí uma tentativa ilegítima, embora, de satisfazer interesse tão premente, aos olhos do titular, que lhe pareça incompatível com os incômodos e delongas da prévia cognição? Seria antes o caso de falar em excesso do que em falta de interesse31

Dessa forma, não faz sentido afirmar que não existe interesse de agir caso adotado procedimento inadequado, ou seja, aquela que impetra um mandado de segurança, deixando de exibir as provas pré-constituídas do direito afirmado, não

29 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Ação declaratória e interesse. Direito processual civil (ensaios

e pareceres). Rio de Janeiro: Borsoi, 1971.

30 Crítica de Barbosa Moreira diante da tese de livre-docência de Cândido Dinamarco.

deixa de ter interesse em impedir a manutenção do ato lesivo praticado pela autoridade pública, apenas escolheu o procedimento errado, o que não o impede de ingressar com o procedimento correta, já que o seu interesse em cessar à lesão permanece.

Fredie Didier Jr. defende que não deve relacionar adequação ao interesse de agir, pois “procedimento é dado estranho à análise da demanda e, ademais, eventual equívoco na escolha do procedimento é sempre sanável, o que não é possível nos casos de falta de utilidade ou de necessidade”32

Teresa Arruda Alvim entende que a adequação está dentro de utilidade, não podendo ser considerado um requisito autônomo, visto que “só a vida adequada há de ser útil para que, teoricamente (= se fundado o pedido), possam ser atingidos objetivos colimados”. 33

Daniel Amorim Assumpção Neves assevera que há situações em que é mais viável permitir uma correção da inicial mediante emenda à inicial, considerando a saneabilidade do vício. Afirma ainda que “na inadequação procedimental associada aos pressupostos processuais o pedido é apto a resolver a lide, mas o meio procedimental adotado pelo autor é inadequado, enquanto na ausência do interesse-adequação a questão não é meramente procedimental, mas derivada da inaptidão do pedido em resolver a lide apresentada na petição inicial”34

Contudo, a posição majoritária para a doutrina e os Tribunais, é que o interesse de agir deve ser associado tanto a necessidade da tutela jurisdicional quanto a adequabilidade do meio utilizado para se obter uma decisão judicial.

32 COSTA, Suzana Henriques. Comentários ao Novo Código de Processo Civil. In.: CABRAL,

Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (Coord.) Comentários ao Novo Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense/Gen, 2016. p. 58.

33 ALVIM, Teresa Arruda. Nulidades do processo e da sentença. 8 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:

Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 58.