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Contributos para um modelo de factores de risco que induzem a exclusão escolar e social em crianças do º ciclo do ensino básico

Quadro VI – Identificação dos sinais de risco de exclusão escolar e social

1. Contributos para um modelo de factores de risco que induzem a exclusão escolar e social em crianças do º ciclo do ensino básico

Retomando nesta fase final do trabalho as questões que foram o ponto de partida para esta investigação de carácter qualitativo e descritivo, emergem deste estudo algumas conclusões construídas com base nos dados empíricos apresentados, e que aqui são expostos. Esta investigação resultou da necessidade de reflectir e estabelecer uma compreensão mais esclarecedora, sobre forma como se processa a escolarização das crianças em risco de exclusão escolar e social, identificando os factores que induzem a mesma. Acreditamos poder desta forma contribuir para a edificação de uma escola mais sensível e mais preparada para responder a um fenómeno que infelizmente está cada vez mais presente nas nossas realidades educativas e que desta forma se transforma num desafio constante na educação das nossas crianças.

Se por um lado, os contextos familiares e sociais em que as crianças vivem são os grandes responsáveis pelas suas vivências em situação de risco, por outro lado a escola não pode demitir-se das suas responsabilidades, pois são claramente evidentes as dificuldades que esta sente na implementação de práticas educativas mais inclusivas que põem em causa o desenvolvimento pessoal e social destas crianças. Segundo STRECHT (2001, 26) “cada

criança contém em si mesma o potencial inato de vir a ter múltiplas evoluções possíveis; depende de nós”.

Este capítulo tem, assim, o objectivo de relacionar as conclusões resultantes do cruzamento e triangulação dos dados já interpretados anteriormente. Deste trabalho fará parte o levantamento de problemas que emergiram da própria investigação e que servirão de base a algumas questões porventura pertinentes para outros trabalhos de investigação.

Em linhas gerais, podemos dizer que a maioria dos alunos estudados nesta investigação provém de famílias de fracos recursos económicos e de baixo nível académico. O nível de insucesso destes alunos é notório, mercê por um lado, das suas carências ao nível das necessidades básicas: saúde, alimentação, higiene e recursos materiais/escolares, e por outro lado, de um certo divórcio entre a escola e a família. Contudo, a culpa deste divórcio não pode ser apenas atribuído à escola. O disfuncionamento familiar, as famílias monoparentais com

práticas desvitalizantes desfavoráveis e a impossibilidade da escola poder recorrer directamente a serviços de aconselhamento e a instituições de apoio social faz com que a mesma fique limitada a uma actuação menos eficaz.

Não pretendemos aqui encontrar soluções para todas as situações problemáticas levantadas neste estudo, todavia, não podemos deixar de tecer algumas considerações, que constituam um ponto de partida para uma reflexão sobre o assunto. É um facto que se por um lado, nenhuma mudança institucional pode, por si só, modificar o curso do insucesso, do abandono e da exclusão escolar, nem possa garantir a protecção das crianças que pelas vivências que apresentam nas suas histórias de vida se encontrem em situações consideradas de risco, por outro lado, o empenho de toda a comunidade educativa e social só poderá dar frutos se, e quando, tais esforços puderem inscrever-se num projecto conjunto, que fomente a participação de todos na vida económica, política e cultural da actualidade do nosso país. Os desentendimentos e os mal-entendidos provocados inúmeras vezes pelas relações, tantas vezes difíceis, entre os actores da comunidade educativa e do meio de onde provêm os alunos mais desfavorecidos podem ser ultrapassados através de uma maior atenção da comunidade educativa e política a uma população escolar com carências de todas as ordens: económica, social e afectiva. Somente uma relação humana baseada no respeito e na colaboração pode contribuir para melhorar esta situação. Uma maior ligação entre a escola, a família e a comunidade, só poderá ser viável com o apoio sistemático e constante do poder político e social. A responsabilização de todos os actores: escola, família, autarquias, forças vivas da região são a nosso ver fundamentais, uma vez que a formação e educação das nossas crianças e dos nossos jovens deve ser um compromisso assumido por todos e não só pela escola.

Assim, pensamos ser fundamental apostar no apoio social às famílias, mas desenvolvido numa rede funcional e criteriosa entre os parceiros sociais. Uma rede social capaz de desempenhar as suas funções com a celeridade e eficiência necessárias após a detecção de evidências de que as crianças estão em situação de risco. Esta rede de apoio social só pode funcionar através de técnicos especializados e disponíveis para o trabalho de campo.

Ainda que a escola constitua um parceiro na detecção de crianças em situação de risco e disponibilize apoios de cariz educativo evitando quer o insucesso escolar mas também o abandono escolar por esse motivo, não lhe devem ser solicitadas outras competências de apoio social. Não devemos esquecer que a escola, segue orientações decididas pelo Ministério

da Educação, tem por missão a formação de indivíduos para que estes consigam a integração na sociedade como cidadãos activos sendo que esta formação está veiculada a conhecimentos fundamentais na sociedade actual. Se a sociedade pede à escola o que ela não pode dar, por falta de uma rede de apoio social funcional, a escola torna-se objecto de insatisfação social mas também de desvalorização ao nível da formação.

Os dados apresentados neste estudo realçam o desafio que presentemente se coloca à comunidade educativa de contribuir, através de todos os meios que tem ao seu dispor, que todos os alunos, independentemente das suas histórias de vida, de dificuldades de aprendizagem e de integração no contexto escolar, tenham possibilidade de ultrapassar todos os obstáculos, nomeadamente o insucesso, o abandono e a exclusão escolar e social e pelo contrário, consigam obter sucesso na aprendizagem e na integração, sucesso esse facilitador do seu desenvolvimento enquanto cidadãos capazes de participar responsavelmente na sociedade.

Responder, por um lado, de forma eficaz às necessidades educativas específicas de um número crescente de alunos, muitos deles com vivências em risco e protagonistas de situações verdadeiramente complexas a nível familiar, escolar e social, e por outro garantir a equidade em relação aos resultados educativos de todos os alunos deve ser uma prioridade das políticas educativas e sociais, de forma a não se construir uma sociedade em risco.

O principal objectivo desta investigação consistia em responder à questão: que factores induzem a situação de risco de exclusão escolar e social em crianças do 1.º ciclo do ensino básico?

Com a primeira questão: pode a escola enquanto organização garantir o direito de todos à educação? Quais são os factores que podem pôr em causa esse direito?

A análise de toda a informação recolhida mostrou existir uma vincada interacção entre a função da escola enquanto instituição fundamental para garantir o direito à igualdade na educação e as práticas educativas que amiudadamente assume, no sentido de nem sempre exercer o seu papel de integradora e socializadora e muito pelo contrário fazer prevalecer um

défice no funcionamento escolar com consequências na aprendizagem e integração social por

parte das crianças e dos jovens. Neste estudo, tudo indica que apesar do elevado absentismo de quase todas as crianças estudadas, do fraco investimento escolar, do mau relacionamento

que estabelecem com alguns colegas e professores/auxiliares da acção educativa, elas gostam da escola, sendo então necessário tentar compreender os motivos pelos quais o insucesso escolar é tão marcante nos percursos escolares destas crianças e quais os factores que podem desencadear um conjunto de consequências que não raramente se traduz em abandono escolar e mesmo à exclusão escolar e social

1. Insensibilidade multicultural por parte da escola. Os professores deparam-se cada vez