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O conceito de crianças “em situação de risco” é inerente à probabilidade da ocorrência de um determinado acontecimento futuro imbuído de um grau de perigosidade relevante. A exposição da criança a situações consideradas como prejudiciais, arrasta consigo indefinições acerca do resultado desse confronto que por consequência podem se assumir como factores indutores do risco para a exclusão escolar e social, não sendo desta forma, nada mais do que responsáveis pelo ingresso dos menores em actividades ilícitas numa sociedade cada vez mais susceptível de criar condições para a incidência de actividades delinquentes e mesmo criminais.

Um olhar pela literatura encaminha-nos para uma análise, ainda que forçosamente breve sobre os vários entendimentos que actualmente se consideram para o conceito de “risco”. Assim sendo, consideramos fundamentais, alguns momentos de reflexão sobre a leitura que se faz do referido conceito nas áreas da justiça, da educação e da saúde.

3. 1. 1 O conceito de crianças em situação de risco na área da Justiça

As sociedades actuais regem-se por um conjunto de leis que visam garantir a defesa e a protecção de todos os que coabitam sob o mesmo sistema político e social. Na nossa sociedade, urge neste contexto salientar a Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, onde o conceito de “risco” está associado ao abandono, negligência e maus tratos a crianças e jovens, fazendo desta forma perigar o seu bem estar e desenvolvimento integral. No n.º 2 do seu artigo 3.º, esta Lei determina,

“(…) considera-se que a criança ou o jovem está em perigo quando, designadamente, se encontra numa das seguintes situações:

a) Está abandonada ou vive entregue a si própria;

b) Sofre maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos sexuais;

c) Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e situação pessoal;

d) É obrigada a actividades ou trabalhos excessivos ou inadequados à sua idade, dignidade e situação pessoal ou prejudiciais à sua formação e desenvolvimento; e) Está sujeita, de forma directa ou indirecta, a comportamentos que afectem gravemente a sua saúde, segurança, formação, educação ou desenvolvimento sem que os pais, o representante legal ou quem tenha a guarda de facto se lhes oponham de modo adequado a remover esta situação.”

3. 1. 2 O conceito de crianças em situação de risco na área da Educação

O conceito de “crianças em situação de risco” na área da educação, patenteia sobretudo, o perigo de exclusão escolar porquanto a existência de factores que claramente evidenciam um conjunto de indicadores educativos como os atrasos na aprendizagem, no desenvolvimento e dificuldades de socialização, o que não raramente resulta surge no insucesso no abandono escolar. Segundo a definição proposta pela OCDE (1995),

“(…) estima-se que as crianças e adolescentes em risco são aqueles que não têm sucesso na escola, que não são bem sucedidas na sua passagem para a vida activa e adulta e que desta forma não são capazes de contribuir plenamente para a sociedade activa”. (p. 21)

Na sua investigação sobre a escolarização das crianças em situação de risco, CALADO (2003; 14) cita COUTINHO (2001),

“ (…) o perfil do aluno em risco revela em geral um atraso escolar importante, ausência de ambições escolares, ausência de interesse pela escola, pelas matérias e pelas aulas e ambições quanto ao mundo do trabalho. O aluno em risco é, em geral, mais velho do que os colegas do mesmo grau de ensino, não parece ser apoiado pela família, vive num meio intelectualmente desfavorecido e tem, claro, um rendimento escolar insuficiente.” (pp. 141 – 142)

Também CORREIA (1999) define alunos em risco de exclusão escolar como,

“ (…) aqueles que, devido a um conjunto de factores tal como o álcool, drogas, gravidez na adolescência, negligência, abuso e ambientes socio-económicos desfavoráveis, entre outros, podem vir a experimentar insucesso escolar. Estes factores, que de uma maneira geral não resultaram de imediato numa incapacidade ou problema de aprendizagem, caso não mudem ou sejam atendidos através de uma intervenção adequada, podem constituir um sério risco para o aluno, em termos académicos e sociais.” (p. 62)

3. 1. 3 O conceito de crianças em situação de risco na área da Saúde

O conceito de “crianças em situação de risco” surge com maior campo de significação na área da saúde, porquanto ser nela entendido um maior conjunto de factores desfavoráveis que de ordem interna, onde se destaca a predisposição genética da criança para determinadas doenças ou de ordem externa, como seja a existência de factores familiares, ambientais e sociais que dada a susceptibilidade da criança, podem facilmente conduzi-la à doença, à incapacidade e não raramente à morte.

Para Canha (2000),

“(…) são consideradas crianças em risco: as que nascem de mães muito jovens, solteiras ou sós, de gravidez não desejada ou gemelar; as que tenham sofrido separação da mãe no período neo-natal; as que não correspondem às expectativas dos pais; as de idade inferior a 3 anos, as crianças deficientes ou portadoras de

doença crónica; as hiperactivas; teimosas ou com outras perturbações de comportamento (p. 35)

Na área da saúde, o conceito de crianças em “situação de risco” funde-se não raras vezes com os conceitos de “violência” e “stress” e que desencadeiam um conjunto de respostas psicológicas e biológicas na criança que podem ir do normal ao patológico. Algumas destas respostas são precoces outras tardias, contudo muitos destes fenómenos são susceptíveis de estudo epidemiológico, sendo que a informação disponível se refere sobretudo às suas consequências negativas. Assim sendo e para que nos contextualizemos nestes conceitos, torna-se necessário, ainda que sumariamente fazermos referência às formas e às consequências das dos actos de violência praticados sobre as crianças.

3. 2 O conceito de “Violência sobre as crianças: maus-tratos físicos,