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Segundo EVERTSON e GREEN (1986), as observações, a despeito de constituírem sistemas descritivos, podem incidir sobre unidades definidas à priori e tendem a basear-se numa análise retrospectiva de acontecimentos já registados. Neste caso, os acontecimentos já registados provêm da pesquisa nas fontes documentais internas da unidade educativa numa primeira recolha de dados.

As observações objectivam uma descrição aprofundada e pormenorizada dos fenómenos que constituem o objecto de estudo da investigação. Os dados que desta forma se obtêm, quando relacionados com as informações recolhidas nas fontes documentais internas consultadas, poderão orientar o estudo para novas unidades de observação pertinentes para a investigação. A observação tem sido considerada por muitos autores como fundamento de uma pedagogia científica. Poucos dos princípios subjacentes à formação de professores têm suscitado uma

posição tão consensual como o da necessidade de incluir a investigação nos panos de formação de professores. Segundo ESTRELA (1990) citado por ALMEIDA (2000),

“Só através de uma prática pedagógica de carácter científico é possível ultrapassar o empirismo e fazer inflectir definitivamente a atitude tradicional, que reduz a pedagogia a uma arte. Para poder intervir no real de novo fundamentado, o professor tem que saber observar e problematizar, ou seja, interrogar a realidade e construir hipóteses explicativas.” (p. 81)

A formação e a aprendizagem do professor vão sendo edificadas através da observação das situações reais e das suas práticas lectivas, pois só apenas desta forma consegue aprender com a informação recolhida, fonte fundamental para a sinalização dos problemas reais suscitados pelo comportamento de um aluno ou de uma turma.

De acordo com diversos autores, o professor deve ser formado através da investigação, não só para desenvolver a atitude experimental exigida pela sua prática lectiva, mas também para poder inteirar na mesma os resultados da investigação, tal como é agora pressuposto no acordo de Bolonha para a formação no ensino superior.

5. 1. 1 Observação naturalista

Segundo ALMEIDA (2000, 79), citando De Landesheere, “a observação naturalista é o

estudo de um fenómeno no seu meio natural, de outro modo, é a observação do comportamento dos indivíduos nas circunstâncias da vida quotidiana”. A investigadora

acrescenta ainda que é através do registo e da análise do continuum dos dados desta forma recolhidos que se obtém a significação intrínseca dos comportamentos, sublinhando a necessidade de todas as ocorrências serem registadas, independentemente da importância que lhes sejam atribuídas no momento da observação.

No decorrer desta investigação, foram realizadas observações naturalistas dos actores educativos em todos os espaços escolares, nomeadamente observações dos alunos-caso. Estas observações objectivaram fundamentalmente a caracterização física dos alunos e as relações que diariamente estabeleciam com os seus pares em todo o contexto educativo. Através de um “Diário de Bordo” procedeu-se ao registo de todas as caracterizações e de todos os comportamentos relacionados com o propósito da investigação e que pudessem ser

posteriormente triangulados com os dados das fontes documentais internas. Os registos no “Diário de Bordo” não foram elaborados durante as observações, pelo facto da observadora não considerar viável esta transcrição momentânea, justificando-o pela possibilidade de tal poder resultar num afastamento dos alunos observados quando confrontados com a elaboração dos seus registos durante os intervalos dos tempos lectivos. Assim sendo, todas as observações realizadas desta forma, eram transcritas, na medida do possível, para o “Diário de Bordo” da observadora sempre que a mesma para tal tinha disponibilidade, o que normalmente acontecia nos momentos que se seguiam aos términos das aulas. Neste instrumento de investigação, eram também registadas todas as ocorrências observadas pela investigadora relativamente ao meio circundante à escola, quando das suas observações nos recreios e sempre que sempre que as mesmas se justificavam para a contextualização social do bairro onde se levou a cabo o estudo que apresentamos.

Neste sentido, e muito embora não seja selectiva, a observação naturalista é susceptível de uma rigorosa análise e posterior à mesma surge então, a selecção de dados sempre de acordo com os objectivos da investigação. Assim sendo e a despeito da importância deste método de recolha de dados, convém clarificar o seu objectivo, confrontando-o com os objectivos da própria investigação e com o método de estudo adoptado.

Como qualquer método de investigação, a observação naturalista também é passível de limitações para o desenvolvimento do processo de investigação. A grande limitação desta observação diz respeito à subjectividade com que as descrições são feitas, pois estas dependem das interpretações que o observador faz quando relaciona o fenómeno observado com as variáveis do meio que o envolve.

Importa referir, que neste estudo, nas observações realizadas, apenas se deu enfoque às caracterizações e os comportamentos relacionados com os alunos-caso desta investigação, muito embora por algumas ocasiões tivessem sido registados alguns comentários dos professores nos corredores, na sala de professores e no recreio da escola.

5. 1. 2 Observação sistemática

PAQUAY (1974) in ESTRELA (1999) considera que o observador deve ter ao seu dispor um método de notação de observações, orientado para a recolha de dados. Para REUCHLIN (1969) in ESTRELA (1999), a observação torna-se sistemática quando:

“a) É posta em relevo a coerência dos processos obtidos;

b) São utilizadas técnicas rigorosas em condições suficientemente bem definidas para serem «repetíveis». (p. 40)

A par das observações naturalistas, as observações sistemáticas devem ser realizadas de forma a que o investigador seja «observador não participante», para que a sua presença seja o mais discreta e neutra possível, minimizando assim, eventuais influências sobre os fenómenos observados e foi nesta óptica que tentamos sempre perspectivar o plano de acção da observadora numa posição de distanciamento e não de interferência, o que nesta investigação nem sempre foi possível, pelo facto da observadora ser docente na escola. Para ultrapassar esta situação, que obviamente se constitui uma limitação ao estudo desenvolvido, a investigadora tentou, nas reuniões, manter-se distanciada dos casos dos alunos seleccionados, dedicando-se em exclusivo ao registo dos dados (verbais e não verbais) observados nas grelhas de observação.

As observações sistemáticas realizadas nesta investigação objectivaram a observação sistemática da rede de comunicações entre os docentes, ao longo de seis reuniões mensais no primeiro semestre de 2006. Nesta fase, a observação objectivou a recolha de dados que, devidamente triangulados, permitissem ir de encontro ao objectivo da investigação: identificar os factores que podem colocar as crianças em situação de risco escolar e social.

Ambicionando o maior sucesso possível para as observações, foi utilizada uma grelha de observação (anexo II) com itens bem definidos que visaram tornar inteligível a realidade, permitindo-nos um conhecimento mais aprofundado da realidade verbal e não verbal durante as reuniões. Assim sendo, a observação sistemática não objectivou apenas o registo verbal das comunicações, desenvolvendo-se desta forma em dois planos: o da descrição objectiva da situação e do comportamento e o da realização de inferências sobre as possíveis articulações entre todos os elementos.