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O insucesso escolar dos alunos na sociedade portuguesa estabelece um problema social importante e que justifica uma resolução urgente, para que todos tenham o direito efectivo à igualdade de oportunidades em relação à escolaridade e à vida. A tomada de consciência de que é imperativo conhecer e compreender as características sócio-culturais, interesses e expectativas dos alunos e organizar a escola de forma a atender às especificidades desses alunos não é recente, o que em certa medida catalizou a preocupação do sistema político português no que diz respeito às pedagogias emancipatórias que surgem principalmente nos anos oitenta, no sentido de desenvolver abordagens mais participativas, progressistas e democráticas.

Em Portugal, são muito recentes as preocupações sentidas relativamente ao insucesso, e ao abandono escolares. Diversos têm sido os estudos, investigações e reflexões que nem sempre apresentam resultados coincidentes. O insucesso escolar dos alunos na sociedade portuguesa estabelece um problema social importante e que justifica uma resolução urgente, para que todos tenham o direito efectivo à igualdade de oportunidades em relação à escolaridade e à vida.

Um dos primeiros estudos realizados em Portugal sobre a dimensão sócio-institucional do insucesso escolar foi o de BENAVENTE e CORREIA (1981) que, com a colaboração de 12 equipas de saúde escolar observaram 1226 crianças, entrevistaram os respectivos encarregados de educação e os 54 professores distribuídos pelas 23 escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico da cidade de Lisboa.

Nesta investigação, o insucesso é visto como um fenómeno relacional, massivo e constante. As autoras afirmam que este é essencialmente institucional e que se insurge em contradição com o objectivo da “escola para todos” (p. 8). Segundo BENAVENTE E CORREIA (1981, 13), “as crianças chegariam pois à escola com diferentes «equipamentos», diferentes

«bagagens» sócio-culturais”. Para as investigadoras, estas diferenças resultariam das

da qualidade do ambiente cultural e do modo de comunicação. O estudo em questão ressalva o facto das crianças das famílias de classe média se adaptarem com mais facilidade ao modelo de organização escolar e que melhor se identificam com as representações dos professores. Os resultados desta investigação, deixam antever que os professores “não se sentem directamente

implicados nas dificuldades escolares dos seus alunos” (p. 73) e atribuem o insucesso escolar

a causas como “deficiências e características individuais (…) às carências e faltas da família

e do meio social (…) disfuncionamento da instituição escolar” (p. 73). Neste sentido, as

autoras identificaram quatro obstáculos ao sucesso, os de natureza política e administrativa, os de funcionamento e organização da escola, os inerentes às atitudes e práticas dos professores e finalmente os de âmbito social. As investigadoras salientam ainda o facto do sistema de ensino em Portugal ser centralizado e burocrático, ostentando o insucesso escolar como o

“resultado de uma relação negativa entre diversas realidades e experiências: o aluno integrado na Família e Meio Social, a Escola/Instituição com a sua organização, professores e programas, tributários de uma política educativa” (p. 75).

1. 6. 1 Insucesso escolar: um problema intolerável do ponto de vista social?

O drama do insucesso escolar é relativamente recente, enquanto objecto de estudos investigativos. Inicialmente o insucesso parecia revelar inadaptação do aluno à escola. O que era atribuído até então individualmente a cada aluno, tornou-se repentinamente um problema intolerável sob o ponto de vista social. A preguiça, a falta de capacidade ou interesse, deixaram de ser aceites como explicação para o abandono em todos os anos de um crescente número de crianças e de jovens do sistema educativo. A responsabilidade do seu insucesso escolar passou a ser arcada como um fracasso de toda a comunidade educativa.

Numa sociedade onde o sucesso pessoal e sócio-profissional depende cada vez mais das competências que se adquirem na escola, hoje, ter insucesso escolar significa estar em “risco” de se tornar num cidadão dependente, sem qualificações e vítima do contexto e por isso o fenómeno do insucesso escolar apresenta-se como um problema individual, mas também social. Para VILAS-BOAS (1999),

“ (…) o insucesso escolar verifica-se sempre que a criança ou o jovem, não consegue atingir os objectivos propostos pelo professor ao nível do ensino que

frequenta. Regra geral o fenómeno manifesta-se por repetências e por desistências (abandono escolar). (p. 24)

1. 6. 2 O diagnóstico do insucesso escolar: um processo urgente e necessário

As manifestações de insucesso escolar podem surgir de diversas maneiras, nomeadamente, através das reprovações sucessivas que dão lugar a grandes desníveis entre a idade do aluno e o nível escolar, através do fracasso total ou parcial nas áreas curriculares disciplinares e não disciplinares e através do abandono da escola antes do final da escolaridade obrigatória. Perante estas manifestações, torna-se urgente a detecção das causas que surgem nos alunos através dos atrasos do desenvolvimento cognitivo, apesar de que a grande maioria dos alunos que falham nos resultados escolares têm um desenvolvimento normal, sendo muitas vezes uma instabilidade emocional que provoca no aluno a rejeição à escola, o desinvestimento nos estudos e frequentemente os problemas de indisciplina. A existência de pais autoritários e/ou displicentes, de conflitos familiares, de divórcios litigiosos induzem amiudadamente nos filhos/alunos esta instabilidade emocional, já que a demissão dos pais na educação dois filhos, é actualmente uma das causas detectadas nos estudos actuais no que diz respeito ao insucesso escolar.

A origem social dos alunos tem sido a causa mais utilizada para justificar os piores resultados, sobretudo quando são obtidos por alunos originários de famílias de baixos recursos económicos, onde aliás se encontra a maior percentagem de insucessos escolares.

No que diz respeito aos professores, os seus métodos de ensino, os seus recursos didácticos, as suas técnicas de comunicação são muitas vezes inadequados às características da turma ou de cada aluno. A gestão da disciplina na sala de aula é outro factor que muito condiciona o aproveitamento académico dos alunos. Não só perceber em que medida as práticas tradicionais, cujas estratégias e métodos de ensino apenas satisfazem o processo de ensino e de aprendizagem de uma minoria de alunos contribuem para uma educação assente não raras vezes na discriminação e na segregação, mas principalmente valorizar o as diferentes culturas, tentar compreende-las e utilizá-las como ferramentas essenciais para este processo são pontos fundamentais para o caminho que objective a igualdade do acesso e do sucesso escolar.

1. 6. 3 A organização da escola face a problemática do insucesso escolar

Segundo diversos autores, a própria organização escolar pode contribuir de diferentes formas para o insucesso dos alunos. O estilo de liderança dos órgãos de gestão da escola, pode influenciar os resultados das instituições por onde passam e as baixas expectativas dos professores e dos alunos em relação à escola tenderão a comprovar os resultados que esperam. A falta de avaliação surge também como uma das causas mais evidentes para o surgimento do insucesso escolar, pois ninguém sabe o que anda a fazer numa organização que sistematicamente não avalia os seus resultados face aos objectivos que definiu, nem identifica as causas dos seus problemas.

O grande número de alunos por escola e por turma, tendem igualmente a provocar o aumento dos conflitos e sobretudo a diminuir o rendimento e o aproveitamento individual. Também os currículos escolares contribuem para o actual insucesso escolar, pelos desfasamentos que apresentam, na medida em que os currículos demasiado extensos e a desarticulação dos programas não permitem aos professores a utilização de metodologias activas, onde os alunos assumam o lugar central.

No próprio sistema educativo são apontadas inúmeras causas para o insucesso escolar, como a parca diversidade das ofertas formativas. A excessiva centralização do sistema educativo torna a capacidade de resposta bastante lenta e estimula a irresponsabilidade e a demora dos processos burocráticos, ao nível local das escolas. Por último, a sociedade assenta num conjunto de valores que desencorajam o estudo e promovem o insucesso escolar.

Quando se aborda a questão do insucesso escolar, o que tem de ser discutido é a política educativa, são as questões de aprendizagem, são os conteúdos, são os modos e a pedagogia. Com efeito, apenas no debate destas questões, será possível constituir respostas para o seu combate. Somente uma política curricular flexível pode estabelecer as condições de aprendizagem adequadas às necessidades de cada aluno, ou de cada grupo de alunos, sendo esta a única maneira conducente ao sucesso educativo para todos nos diferentes contextos escolares e sociais. É neste sentido que muitos sistemas educativos, onde se inclui o português, desenvolveram um novo currículo que em detrimento da importância atribuída até então aos conteúdos, passou a ser orientado para a formação de competências educativas nos alunos. Segundo CALADO (2003, 46), com esta abordagem do currículo às competências, deixou de ser valorizado somente a aquisição dos conhecimentos, mas acima de tudo,

passaram a ser valorizados as competências de saber: compreender; analisar; actuar; saber utilizar e dar sentido àquilo que se aprende, desenvolvendo o gosto por aprender e conquistar autonomia no processo de aprendizagem.

Em 1995, a Comissão Europeia realizou diversos estudos compilados num documento – EURYDICE. Segundo este documento,

“ (…) em Portugal, entende-se o insucesso escolar como a incapacidade que o

aluno revela de atingir os objectivos globais definidos para cada ciclo de estudos. Os indicadores utilizados dizem essencialmente respeito às taxas de retenção, de abandono e de insucesso nos exames.” (cit. por CALADO, 2003, 46)