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Controle da Constitucionalidade no Sistema peruano

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 70-76)

IV. CONFIGURAÇÃO DOS PRECEDENTES VINCULANTES NO SISTEMA PERUANO

4.2. Controle da Constitucionalidade no Sistema peruano

A curta permanência das constituições no Peru caracteriza-o como um país instável e inseguro, já que na sua vida republicana o Peru teve onze constituições, estando vigente a Constituição de 1993. Isso deve levar-nos a refletir sobre a cultura constitucional, pois a maioria das Constituições anteriores serviu de quadro político em vez de constituir um quadro jurídico.

Assim, a Constituição é hierarquicamente superior às demais normas jurídicas. Essa supremacia constitucional significa que nenhuma lei ou ato normativo pode ser considerado válido se for incompatível com a Constituição. O controle de constitucionalidade serve para relativizar o mito positivista da supremacia do legislador.177

Para assegurar essa supremacia da Constituição, o ordenamento jurídico prevê um conjunto de mecanismos conhecidos por controle da constitucionalidade, a fim de considerar nulas as normas infraconstitucionais

175LANDA ARROYO, Cesar.Tribunal Constitución y Estado Democrático, p. 82-84.

176 CAPPELLETTI, ¿Renegar de Montesquieu? La expansión de la justicia constitucional. REDC, Nº 17. Madrid:cec, 1986, p. 13

177CAMBI, Eduardo.Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo: direitos fundamentais, políticas publicas e protagonismo judiciário, p. 204.

contrárias aos princípios e regras constitucionais.178 A existência de um sistema de controle de constitucionalidade deriva da necessidade de conservação dos valores e princípios estabelecidos na Carta Maior, afinal constituem o alicerce do Estado e esse não teria sentido de existir, se a qualquer momento pudesse ser modificado.

Nessa perspectiva, mostra-se oportuna e indispensável a adoção, por parte do Estado, de um sistema de controle de constitucionalidade de suas leis, com a finalidade de resguardar a autoridade da Constituição. Nesse sentido, Luís Roberto Barroso assinala que:

Duas premissas são normalmente identificadas como necessárias à existência do controle de constitucionalidade: a supremacia e a rigidez constitucionais. A supremacia da Constituição revela sua posição hierárquica mais elevada dentro do sistema, que se estrutura de forma escalonada, em diferentes níveis. É ela o fundamento de validade de todas as demais normas.

(...). A rigidez constitucional é igualmente pressuposto do controle. Para que possa figurar como parâmetro, como paradigma de validade de outros atos normativos, a norma constitucional precisa ter um processo de elaboração diverso mais complexo do que aquele apto a gerar normas infraconstitucionais. (...). Se as leis infraconstitucionais fossem criadas da mesma maneira que as normas constitucionais, em caso de contrariedade ocorreria a revogação do ato anterior e não a inconstitucionalidade.179

Dentro desse contexto, o sistema de controle da constitucionalidade das leis tem como função primordial a manutenção do ordenamento jurídico, a fim de garantir-lhe autonomia e segurança. Por essa razão, as normas constitucionais precisam ser respeitadas pelas normas inferiores para garantir segurança e estabilidade ao Estado.

178CAMBI, Eduardo.Neoconstitucionalismo e Neoprocessualismo: direitos fundamentais, políticas publicas e protagonismo judiciário, p. 209.

179 BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência, p. 1,2.

No seguinte item, abordaremos, ainda que de forma sucinta, o controle difuso e o controle concretado de constitucionalidade e sua regulação e aplicação no sistema peruano.

4.2.1. Modelo de controle difuso ou modelo Americano.

No ano de 1803, a Suprema Corte Norte Americana, ao julgar o caso Marbury versus Madison, proferiu decisão histórica, ao reconhecer que aquele Tribunal tinha competência para exercer o controle da compatibilidade entre os atos dos demais poderes e a Constituição, podendo reputá-los nulos e sem efeito.180Nascia o modelo de controle jurisdicional de constitucionalidade de leis, o judicial review, subordinando a partir daquele momento todos os outros poderes do Estado norte-americano ao texto constitucional e estabelecendo o Judiciário como o seu intérprete legítimo.181

Segundo Cappelletti, no modelo de controle difuso da constitucionalidade, todos os órgãos judiciais, sejam inferiores ou superiores, federais ou estaduais, têm o poder e o dever de não aplicar as leis inconstitucionais aos casos concretos submetidos a seus julgamentos.182

O controle de constitucionalidade difuso foi regulamentado no Peru, mediante o artigo 8º da Lei Orgânica do Poder Judiciário de 1963, e no artigo 236 da Constituição de 1979. Atualmente, o vigente texto constitucional peruano, em seu artigo 138, reconhece o controle difuso de constitucionalidade e assinala que:

“Em qualquer processo, se existe incompatibilidade entre uma norma constitucional e uma norma legal, os juízes preferem a primeira. Da mesma forma, preferem a norma legal sobre toda outra norma de inferior hierarquia inferior”. No

180 QUIROGA, Aníbal. El Derecho procesal Constitucional en el Perú y el Código Procesal Constitucional. In:Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, 2006, p. 389.

181 BLUME, Ernesto. El tribunal Constitucional peruano como supremo interprete de la Constitución. In:Revista de la Facultad de Derecho de la Pontificia Universidad Católica del Perú, n° 50, p.130,131.

182CAPPELLETTI, Mauro.O controle judicial de constitucionalidade das leis no direito comparado, p. 76,77.

mesmo sentido, o artigo 14 da vigente Lei orgânica do Poder Judiciário e o artigo VI do Titulo Preliminar do Código Processual Constitucional, também fazem referência a esse controle.183

Assim, se um jurisdicionado inicia um processo judicial e considera que uma norma viola alguma disposição da Constituição, pode solicitar que não seja aplicada essa norma. Da mesma forma, o juiz pode não aplicar a norma, sem necessidade de pedido de qualquer das partes, o que significa que o controle difuso em sede jurisdicional pode ser praticado a pedido de uma das partes ou oficiosamente.

O controle difuso, em sede jurisdicional, tem o seu próprio procedimento, porque as decisões proferidas pelos tribunais podem ser levantadas em consulta para sua observação perante a Sala Constitucional e Social da Suprema Corte para que emita pronunciamento sobre a questão. Tudo se encontra contido na Lei Orgânica do Poder Judiciário.184

183“Como se puede apreciar el Código Procesal Constitucional peruano ha regulado este instituto de control de constitucionalidad tímidamente, de manera genérica, casi sin convicción, casi sin tener en consideración los antecedentes normativos, sobre el particular, y en forma asistemática, debido que este cuerpo normativo no ha mejorado, ni sustituido, ni derogado (al menos en una simple revisión el título XIII “Disposiciones transitorios y denegatorias”) el artículo 14 del TUO de la LOPJ, el cual se mantiene vigente, lo que produce un innecesario conflicto de interpretaciones. Es decir, en este aspecto, en vez de mejor se ha retrocedido.

En un análisis comparativo, como ya se ha visto, el artículo 14 del TUO de la LOPJ peruana es la norma que ha desarrollado la parte conceptual y procesal de manera adecuada a lajudicial review o sistema de control difuso en el Perú, mucho más simple, clara y completa que aquella que hoy, trece años después, viene a brindar el novísimo Código procesal Civil.” (QUIROGA, Aníbal. El Derecho procesal Constitucional en el Perú y el Código Procesal Constitucional. In: Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, 2006, p. 391-392).

184“Artículo 14. Supremacía de la norma constitucional y control difuso de la Constitución.

De conformidad con el Art. 236 de la Constitución, cuando los Magistrados al momento de fallar el fondo de la cuestión de su competencia, en cualquier clase de proceso o especialidad, encuentren que hay incompatibilidad en su interpretación, de una disposición constitucional y una con rango de ley, resuelven la causa con arreglo a la primera.

Las sentencias así expedidas son elevadas en consulta a la Sala Constitucional y Social de la Corte Suprema, si no fueran impugnadas. Lo son igualmente las sentencias en segunda instância en las que se aplique este mismo precepto, aun cuando contra éstas no quepa recurso de casación.

En todos estos casos los magistrados se limitan a declarar la inaplicación de la norma legal por incompatibilidad constitucional, para el caso concreto, sin afectar su vigencia, la que es controlada en la forma y modo que la Constitución establece.

4.2.2. Modelo de Controle concentrado ou Austríaco.

O sistema concentrado de constitucionalidade também é chamado de sistema austríaco. Esse sistema foi adotado na Constituição de 1920 e foi Hans Kelsen quem elaborou esse modelo a pedido do governo austríaco. Esse controle de constitucionalidade conferiu à Corte Suprema e à Corte Administrativa austríacas o poder de requerer à Corte Constitucional a análise da lei cuja validade fosse prejudicial à solução de caso que deveria resolver. Os Tribunais Superiores austríacos, em caso de duvida acerca da constitucionalidade da lei prejudicial ao julgamento de caso conflitivo, passaram a ser obrigados a requerer à Corte Constitucional a definição da sua constitucionalidade, vinculando-se ao seu pronunciamento, o mesmo sistema implantado em outros países da Europa, como Alemanha, Itália e Espanha. Esse controle se encontra reservado a um único órgão, a Corte Constitucional.185

Desse modo, esse modelo de controle da constitucionalidade das leis caracteriza-se por confiar o controle a um único órgão especial, e sua determinação sobre a inconstitucionalidade de uma lei faz com que ela seja inaplicável.186

A incorporação do controle concentrado na Constituição de 1993 nasce não só com grande desconfiança pelos poderes públicos, ao deparar que as regras que o Parlamento e o Poder Executivo emitem estarão sujeitas a controle, mas com receio, pois, a Corte Suprema deixa de ser a ultima instância judicial em questões constitucionais. No entanto, entendemos que muitos dos tribunais têm nascido no meio de situações análogas e em sociedades fechadas.

Cuando se trata de normas de inferior jerarquía, rige el mismo principio, no requiriéndose la elevación en consulta, sin perjuicio del proceso por acción popular”.

185SARLET, Ingo Wolfgang.Curso de Direito Constitucional, p. 770,771.

186 BLUME, Ernesto. El Tribunal Constitucional Peruano como supremo interprete de la constitución. In:Revista de la Facultad de Derecho de la Pontificia Universidad Católica del Perú.

n° 50, p. 132.

A Constituição peruana estabelece, em seu artigo 201, que o Tribunal Constitucional é o órgão de controle da constituição, 187 sendo considerado, na prática, como o intérprete máximo da mesma. Desse modo, o Tribunal Constitucional é responsável por resolver, em instância única, os processos de inconstitucionalidade. A faculdade de iniciar um processo de inconstitucionalidade encontra-se limitada pela própria Constituição, e é ela quem nomeia, expressamente, os autorizados a iniciar esse tipo de processo.188

Depois do exposto, pode-se ressaltar que existem alguns sistemas que têm adotado os dois modelos de controle de constitucionalidade, como é o caso do Peru, que atualmente mantém um modelo dual. Note-se que, até 1979, foi adotado um modelo americano de controle de constitucionalidade, que foi estabelecido com o Código Civil de 1936, com base no seu artigo XXII. Com a Constituição de 1979, foi estabelecido um antes e um depois, em termos de constitucionalidade.

Assim, com a Constituição acima mencionada, estabeleceu-se aquilo que Garcia Belaunde chama de “modelo dual ou paralelo”, juntando-se ao lado do controle difuso existente, o controle concentrado. Nesse sentido Cambi afirma que:

O controle judicial da constitucionalidade das leis exerce função dupla, porque de um lado, permite que todo e qualquer cidadão, no controle difuso da constitucionalidade, defenda o seus direitos

187“Artículo 201: El Tribunal Constitucional es el órgano de control de la Constitución. Es autónomo e independiente. Se compone de siete miembros elegidos por cinco años.

Para ser miembro del Tribunal Constitucional, se exigen los mismos requisitos para ser Vocal de la Corte Suprema. Los miembros del Tribunal constitucional gozan de la misma inmunidad y de las mismas prerrogativas que los congresistas. Les alcanzan las mismas incompatibilidades. No hay reelección inmediata.

Los miembros del Tribunal Constitucional son elegidos por el congreso de la República con el voto favorable de los dos tercios del número legal de sus miembros. No pueden ser elegidos magistrados del Tribunal Constitucional los jueces o fiscales que no han dejado el cargo con un año de anticipación”.

188“Artículo 203: Están facultados para interponer acción de inconstitucionalidad: (1) el presidente de la República; (2) el Fiscal de la Nación; (3) el Defensor del Pueblo; (4) el veinticinco por ciento del número legal de congresistas; (5) cinco mil ciudadanos con firmas legalizadas por el Jurado Nacional de Elecciones. Si la norma es una ordenanza municipal, está facultado para impugnarla el uno por ciento de los ciudadanos del respectivo ámbito territorial, siempre que éste porcentaje no exceda del número de firmas anteriormente señalado; (6) Los presidentes de Región con acuerdo del consejo de Coordinación Regional, o los alcaldes provinciales con acuerdo de su Consejo, en materias de su competencia; y (7) Los Colegios Profesionales, en materias de su especialidad”.

fundamentais subjetivos e, outro lado, possibilita, pelos meios de controle concentrado da constitucionalidade, a proteção, a interpretação e o desenvolvimento dos direitos fundamentais objetivos.189

Em virtude disso, o Tribunal Constitucional tem a função de ser o guardião ultimo da Constituição, outorgando=lhe meios adequados para exercer a função.

4.3. Surgimento, aplicação e funcionamento dos precedentes

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (páginas 70-76)