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Convenção de Palermo de 2000 (Crime Organizado Transnacional)

3.1 A Expansão da Proibição O Surgimento de Um Regime Global

3.1.1 Hard Law: Tratados e Convenções Internacionais

3.1.1.5 Convenção de Palermo de 2000 (Crime Organizado Transnacional)

A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (ANEXO J) foi elaborada em Palermo, na Itália, em 1999, e assinada em Nova Iorque, em 2000, na Assembléia Geral do Milênio. A chamada Convenção de Palermo tem por objetivo promover a cooperação para prevenir e combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.

grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material275.

A Convenção impõe aos Estados-parte a obrigação jurídica de criminalizar a participação em um grupo criminoso organizado, além da conduta de pessoas não-integrantes do grupo que participem de suas atividades ilícitas; que participem de outras atividades que contribuam para a finalidade criminosa ou que organizem, dirijam, ajudem, incitem, facilitem ou aconselhem a prática de uma infração grave que envolva a participação de um grupo criminoso organizado.

Infração grave é considerada aquela conduta que constitua crime punível com pena privativa de liberdade, cuja pena máxima não seja inferior a quatro anos, ou que tenha pena máxima superior.

A Convenção se aplica expressamente aos crimes de participação em um grupo criminoso organizado, à lavagem de dinheiro, à corrupção e à obstrução da justiça, além de todos os delitos com pena máxima de quatro anos ou mais, sempre que tais infrações sejam de caráter transnacional e envolvam um grupo criminoso organizado.

O texto também impõe aos Estados-parte a obrigação jurídica de, em conformidade com os princípios fundamentais de seu direito interno, criminalizar a lavagem de produto de crime. O artigo 6. trata da conversão ou da transferência de bens de origem criminosa sem alterar a estrutura do tipo já descrito na Convenção de Viena. A diferença entre elas, certamente, é que a primeira Convenção limita os delitos antecedentes àqueles relacionados ao tráfico de drogas, enquanto a Convenção de Palermo amplia o âmbito dos antecedentes à participação em grupo organizado, à corrupção, à obstrução da justiça e a todos os crimes graves (pena máxima de quatro anos ou mais). A segunda modalidade de lavagem - ocultação ou encobrimento - é descrita de forma idêntica à anteriormente prevista pela Convenção de Viena. No que toca à receptação de bens lavados, as disposições são idênticas nas duas Convenções.

275 Alínea "a", art. 2, Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo

A inovação vem com a recomendação aos Estados-parte de aplicar as disposições relativas à lavagem de dinheiro a mais ampla gama de delitos antecedentes. Se assim não for, que, ao menos, considerem como antecedentes da lavagem de dinheiro todos os crimes punidos com pena máxima de quatro anos ou mais, além da participação, em grupo criminoso organizado, da corrupção e da obstrução da justiça. Para os Estados que utilizam o sistema de lista de antecedentes, a recomendação é a de que, entre estes conste, ao menos, uma gama completa de infrações penais relacionadas a grupos criminosos organizados.

Outra novidade é a previsão de serem antecedentes da lavagem de dinheiro os crimes praticados em outro país, desde que atendido o princípio da dupla incriminação.

A Convenção ressalva a possibilidade de não se aplicarem as disposições relativas à lavagem de dinheiro às pessoas que tenham cometido o crime antecedente (a chamada autolavagem), quando assim o exigirem os princípios fundamentais do direito interno de um Estado-parte276.

Quanto ao dolo, a Convenção prevê que o conhecimento, a intenção ou a motivação, como elementos constitutivos do delito de lavagem de dinheiro, poderão inferir-se de circunstâncias factuais objetivas.

O artigo 7° enumera as medidas que deverão ser adotadas pelos Estados para combater a lavagem de dinheiro: um regime interno completo de regulamentação e de controle dos bancos e de instituições financeiras não-bancárias e, quando se justifique, de outros organismos vulneráveis à lavagem de dinheiro, sendo enfatizadas as exigências de identificação dos clientes, o registro das operações e a denúncia das operações suspeitas; a capacidade de cooperação e a troca de informações em âmbito nacional e internacional entre autoridades responsáveis pela administração, regulamentação, detecção e repressão da lavagem de dinheiro (incluindo, quando previsto no direito interno, as autoridades judiciais), considerando-se a possibilidade de criar um serviço de informação financeira que funcione como centro nacional de coleta, de análise e de difusão de informação relativa a eventuais atividades de lavagem de dinheiro.

276 Oportuno esclarecer que esse não é o caso do Brasil, onde o autor do crime antecedente pode ser (e

freqüentemente o é) autor da lavagem de dinheiro, quando responsável pela conversão , transferência, ocultação ou dissimulação de bens por ele ilicitamente obtidos.

Sugere a adoção de medidas para detectar e vigiar o movimento tranfronteiriço de numerário e de títulos negociáveis, sem, por qualquer forma, restringir a circulação de capitais lícitos.

Na medida da possibilidade, e, de acordo com seu direito interno, os Estados deverão prever o confisco do produto dos crimes ou dos bens correspondentes em valor a esse produto; e dos bens, equipamentos e instrumentos utilizados na prática das infrações previstas na Convenção. Deverão, ainda, tornar possíveis a identificação, a localização, o embargo ou a apreensão daqueles bens. Se o produto do crime tiver sido convertido, total ou parcialmente, em outros bens, estes últimos podem ser objeto de medidas cautelares patrimoniais e de posterior confisco. Se o produto do crime tiver sido misturado com bens adquiridos legalmente, esses bens poderão ser confiscados até o valor calculado do produto com que foram misturados.

O sigilo bancário não poderá ser utilizado como fundamento para recusa do fornecimento de documentos bancários, financeiros ou comerciais, quando ordenado pelos tribunais ou autoridades competentes.

De acordo com as disposições do direito interno, os Estados-parte poderão considerar a possibilidade da inversão do ônus da prova, quanto à licitude da origem de um bem, presumivelmente, produto de crime.

As disposições, relativas ao confisco dos bens - que pode ser pedido inclusive por outro Estado, dentro de cooperação internacional - deverão ser interpretadas pelos Estados de forma a respeitar os direitos dos terceiros de boa-fé.

A Convenção de Palermo recomenda que os Estados, ao instituírem um regime interno de regulação e de controle, utilizem como orientação as iniciativas tomadas pelas organizações regionais, inter-regionais e multilaterais para combater a lavagem de dinheiro.

Finalmente, exorta os Estados-parte a cooperarem em escala mundial, sub-regional e bilateral entre autoridades judiciais, organismos de detecção e de repressão e autoridades de regulamentação financeira, a fim de combaterem a lavagem de dinheiro.

A Convenção de Palermo foi incorporada ao direito interno brasileiro em 12 de março de 2004, por meio do Decreto n. 5015/04. A partir da publicação do decreto (15.3.2004), não há mais falar, portanto, que o Brasil não possui definição legal de organização criminosa.