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3.2 Soft Law (Recomendações do GAFI, Atuação do FMI, do Banco Mundial, etc.)

3.2.2 Outros Organismos e Organizações

3.2.2.1 De Caráter Internacional

A Organização das Nações Unidas (ONU) dedica especial atenção à problemática da criminalidade internacional. Segundo ARLACHI292, o envolvimento da ONU na área do crime e da justiça iniciou em 1948 de maneira contemporânea à adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos e tem sido desenvolvido de maneira cada vez mais consistente. A maior parte dos tratados, anteriormente estudados - e que consistem no marco internacional da luta contra a lavagem de dinheiro e contra o financiamento do terrorismo - foram produzidos no seio dessa organização. Em 1991, através da Resolução 46/152 da Assembléia Geral da ONU, foi estabelecido o Programa de Prevenção ao Crime e de Justiça Criminal. Em 1997, foi criado o Escritório contra as Drogas e o Crime (UNODC) com sede em Viena e 21 escritórios em outros países, além do escritório de Nova Iorque na sede da ONU. O objetivo do UNODC é dar assistência técnica aos Países Membros da ONU para reduzir os problemas causados pelas drogas ilícitas e pelo crime organizado, incluindo corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e terrorismo.

Especificamente para combater a lavagem de dinheiro, a ONU estabeleceu, também em 1997, o Programa Global contra Lavagem de Dinheiro (GPML) como uma unidade do UNODC. Esse programa deve reforçar a habilidade dos Países membros de implementarem medidas antilavagem de dinheiro e contra o financiamento do terrorismo, assistindo-os, por meio de cooperação e de assistência técnica, na detecção, na busca e no confisco de fundos de origem ilícita. A ONU criou também uma rede baseada na internet para auxiliar governos, organizações e indivíduos na luta contra a lavagem de dinheiro, o IMoLIN. Esse site inclui uma base de dados com legislação e regulação de todo o mundo (AMLID) e uma biblioteca virtual. O site oferece modelos de legislação (para os sistemas de common law e civil law) em lavagem de dinheiro para os países que queiram aperfeiçoar suas disposições legais.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional conduzem avaliações conjuntas a respeito do cumprimento dos padrões internacionais antilavagem de dinheiro desde 2002. Essa avaliação passou a ser adicionada, em um projeto piloto, aos demais critérios tomados em consideração nas avaliações regulares que esses bancos fazem em todas as regiões do mundo, tanto em países industrializados como nos em desenvolvimento, relativamente à estabilidade dos sistemas financeiros293.

Em abril de 2004294, as Diretorias das duas instituições resolveram aumentar seu envolvimento na luta contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, adotando um enfoque integrado e abrangente na condução de suas avaliações, fazendo com que o exame das medidas antilavagem e contra o financiamento do terrorismo passassem a fazer parte do trabalho regular do FMI. No momento em que o FMI e o Banco Mundial reconheceram as 40 + 9 recomendações como o padrão apropriado para a luta contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo (passando a exigir dos países e de suas instituições a adoção de medidas para cumpri-las efetivamente), as Recomendações do GAFI foram significativamente reforçadas, ao mesmo tempo em que seu alcance mundial foi aumentado.

A Organização para o Desenvolvimento e a Cooperação Econômica (OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development)295 tem alcance global e congrega 30 países-membros, os quais compartilham o comprometimento com um governo democrático e a economia de mercado. Dedica-se a fomentar boas práticas de governo e de administração, tanto nos serviços públicos como nas atividades corporativas. Funciona como um foro de discussão e de desenvolvimento de políticas econômicas e sociais. Usa como instrumentos de atuação o diálogo, o consenso e as estratégias de peer review296e peer pressure297.

No que toca à lavagem de dinheiro, a importância da OECD revela-se pelo fato de abrigar, em sua sede, em Paris, a Secretaria do GAFI. Além de fornecer-lhe a sede, essa organização é também a responsável pelo seu sustento financeiro. Os custos da Secretaria e de outros serviços são cobertos pelo orçamento do GAFI, o qual é retirado das contribuições dos países-membros a OECD

293 PROGRAMA DE AVALIAÇÕES do Setor Financeiro. Disponível em:

<http://www.imf.org/external/np/fsap/fsap.asp>. Acesso em: 20 jul. 2006.

294 Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/aml/eng/2004/031004.htm>. Acesso em: 20 jul. 2006. 295 Site Oficial: www.oecd.org.

296 "Revisão/avaliação" pelos pares (iguais). 297 Pressão pelos pares.

(de acordo com a escala estabelecida pela organização que segue, proporcionalmente, o tamanho das economias nacionais). Entretanto, o GAFI e a OECD são organizações diferentes e separadas. Enquanto a OECD foi formada como uma organização, através da assinatura de uma Convenção Internacional, em 1960, o GAFI não é uma organização internacional formal. É um grupo de trabalho composto por governos de vários membros com objetivos determinados e um mandato fixo298. O Brasil é membro do GAFI e não integra a OECD.

O Grupo Egmont é outro dos atores internacionais na luta contra a lavagem de dinheiro. Ele foi criado em 1995 por um grupo de Unidades de Inteligência Financeira (UIFs ou FIUs, em inglês) para facilitar a cooperação internacional entre estes organismos. As UIFs são agências governamentais especializadas, responsáveis pelo recebimento e análise de informações provenientes das instituições financeiras e não-financeiras relativamente a transações suspeitas (de lavagem de dinheiro ou de financiamento do terrorismo). Atualmente, mais de cem países já possuem unidades de inteligência financeira, reconhecidas e operantes.

Doze bancos globais reúnem-se desde 2000 no grupo denominado Grupo Wolfsberg. Ele tem por objetivo desenvolver padrões para a indústria de serviços financeiros e de produtos a ela relativos, para a política de "conheça seu cliente" (know your customer ou CDD - Customer Due Diligence) e as políticas antilavagem de dinheiro e contra o financiamento do terrorismo. Os bancos offshore também possuem um comitê de supervisão que desenvolve políticas de cooperação para a implementação dos padrões relativos à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo: o Grupo de Supervisores dos Bancos

Offshore (OGBS - Offshore Group of Banking Supervisors). Doze bancos centrais formam o

Comitê da Basiléia (Basel Committee) que proporciona um fórum regular para a cooperação em supervisão bancária. Nos últimos anos, tem se tornado um órgão de estabelecimento de padrões em todos os aspectos relativos à supervisão bancária. Representando os reguladores e supervisores de mais de 180 jurisdições, a Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS - International Association of Insurance Supervisors) foi criada em 1994. Ela trabalha juntamente com outros órgãos que fixam padrões para o setor financeiro, além de organizações internacionais, para promover a estabilidade financeira, por isso também é um dos atores do regime antilavagem de dinheiro.

298 GAFI. Organização Internacional Formal Disponível em: <http://www.fatf-gafi.org/document/26/0,2340,

A Interpol - maior organização policial internacional - facilita a cooperação policial internacional mesmo entre países que não tenham relações diplomáticas. Ela possui um grupo de trabalho sobre lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo e tem incentivado a cooperação policial nas investigações sobre fundos de origem criminosa.

3.2.2.2 De Caráter Regional

Para os fins do nosso estudo, examinamos os grupos de caráter regional em dois tipos: aqueles que se inspiram no GAFI, e os outros, que dele diferem.

Os grupos regionais estilo-GAFI possuem forma e funções similares às do GAFI, e alguns membros do GAFI são também membros desses organismos. Os grupos regionais são afiliados ao GAFI, mas têm autonomia para determinar suas próprias políticas e práticas. Usam mecanismos similares de avaliação mútua (peer review e peer pressure) a fim de verificar o grau de implementação dos padrões internacionais relativos à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo entre seus membros (40+9 Recomendações). Desenvolvem igualmente exercícios de tipologias; elas variam de acordo com as circunstâncias peculiares das regiões do mundo onde se localizam. Todos os grupos regionais possuem outros países e organizações internacionais na condição de 'observadores'.

O Grupo da Ásia-Pacífico sobre Lavagem de Dinheiro (APG - Asia/Pacific Group on Money Laundering) foi criado em 1997 e conta com trinta e um membros. 299 O Grupo do Caribe (CFATF - Caribbean Financial Action Task Force) é uma organização de trinta Estados300 que foi criada em 1992. O Grupo da Europa (MONEYVAL) foi criado em 1997, para revisar as medidas antilavagem de dinheiro e contra o terrorismo nos Estados membros

299 Afganistão, Austrália, Bangladesh, Brunei Darussalam, Cambodja, Chinese Taipei, Ilhas Cook, Ilhas Fiji,

Honk Kong, Índia, Indonésia, Japão, Macau, Malásia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Nova Zelândia, Niue, Paquistão, Palau, Coréia do Sul, Samoa, Singapura, Sri Lanka, Tailândia, Ilhas Marshall, Filipinas, Tonga, Estados Unidos da América, Vanuatu.

300 Anguilla, Antigua e Barbuda, Aruba, Bahamas, Barbados, Belize,Bermudas, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas

Cayman, Costa Rica, República Dominicana, Dominica, El Salvador, Grenada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Montserrat, Antilhas Holandesas, Nicarágua, Panamá, St. Kitts e Nevis, St. Lucia, St. Vincent and the Grenadines, Suriname, Trinidad e Tobago, Ilhas Turks e Caicos, Venezuela.

do Conselho da Europa301 que não são membros do GAFI302. O Grupo da Eurásia (EAG -

Euroasian Group on Combating Money Laundering and Financing of Terrorism) foi criado por decisão do governo da Federação Russa em dezembro de 2005 e conta com sete membros. 303 O Grupo da África do Sul e da África Oriental (ESAAMLG - Eastern and Southern Africa

Anti-Money Laundering Group) é formado por quatorze países304(dois deles localizados no Oceano Índico). O Grupo da América do Sul (GAFISUD - Grupo de Acción Financiera de Sudamérica) foi criado em 2000 e possui nove membros305. O Grupo do Oriente Médio e da África do Norte (MENAFATF - Middle East and North Africa Financial Action Task Force) foi criado em 2004 e possui quatorze membros306.

Outros grupos ou organizações regionais funcionam como, por exemplo, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - fundado em 1959, é o mais antigo e o maior banco regional de desenvolvimento. É a principal fonte de financiamento multilateral para projetos de desenvolvimento econômico, social e institucional, bem como de programas de promoção do comércio e de integração regional na América Latina e no Caribe. O Banco Interamericano de Desenvolvimento ajuda a promover o desenvolvimento econômico e social sustentável na América Latina e no Caribe, mediante suas operações de crédito, liderança em iniciativas regionais, pesquisa e atividades, institutos e programas de disseminação de conhecimentos. O BID está atento às medidas de prevenção de lavagem de dinheiro e de financiamento do terrorismo levadas a efeito por seus países clientes.

Para tanto, atua em cooperação com a CICAD, uma agência da Organização dos Estados Americanos (OEA), que vem trabalhando na área de controle de lavagem de dinheiro desde o final dos anos oitenta do século XX. Em 1991, a CICAD elaborou o Regulamento Modelo sobre Delitos de Lavagem Relacionados com o Tráfico Ilícito de

301 O Conselho da Europa é a organização política mais antiga daquele continente, fundada em 1949. É composto por

46 países, e não se confunde com a União Européia, formada por 25 nações. Em todo o caso, nenhum país juntou- se à União Européia sem antes ter pertencido ao Conselho da Europa. Sua sede fica em Estrasburgo, França.

302 São 27 membros permanentes e dois temporários: Albânia, Andorra, Armênia, Azerbaidjão, Bósnia-

Herzegovina, Bulgária, Croácia, Chipre, República Tcheca, Estônia, Geórgia, Hungria, Latvia, Liechtenstein, Lituânia, Moldávia, Malta, Mônaco, Polônia, Romênia, Federação Russa, San Marino, Sérvia, Eslováquia, Eslovênia , a "Antiga República da Iugoslávia", Ucrânia. Os membros temporários designados pelo GAFI, para o período de 2005-2006 são a França e a Holanda.

303 Bielo-Rússia, China, Cazaquistão, Kyrgyzstan, Rússia, Tajikistan, Uzbequistão.

304 Bostwana, Quênia, Malawi, Moçambique, Ilhas Maurícios, Namíbia, África do Sul, Swazilândia, Ilhas

Seychelles, Uganda, Tanzânia, Lesotho, Zâmbia, Zimbabwe.

305 Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai.

306 Algéria, Bahrein, Egito, Jordânia, Kuwait, Líbano, Marrocos, Omã, Qatar, Arábia Saudita, Síria, Tunísia,

Drogas e Delitos Conexos, documento que foi aprovado pela Assembléia Geral da OEA em 1992. Esse instrumento não tem caráter vinculante; seu objetivo é harmonizar as legislações dos 35 países independentes das Américas que integram a organização nos temas de lavagem de dinheiro, de financiamento do terrorismo, de técnicas especiais de investigação, de apreensão e perdimento de produtos e de proveitos dos crimes, de medidas preventivas aplicáveis às instituições bancárias e financeiras e de cooperação internacional. O regulamento modelo tem sofrido alterações freqüentes, para acompanhar os desenvolvimentos legislativos em matéria internacional e os novos desdobramentos da luta contra o crime organizado, o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro.

A CICAD possui ainda a Unidade Antilavagem de Dinheiro, que proporciona assistência técnica e treinamento aos países membros e a um grupo de especialistas em controle de lavagem de dinheiro. O Grupo de Especialistas desenvolveu legislações-modelo em matéria de lavagem de dinheiro, e a maioria dos países do hemisfério adotou a maior parte dos elementos dessas legislações-modelo em suas leis nacionais.