• Nenhum resultado encontrado

2.2 O Que é Um Crime? Algumas Questões

2.2.3 O Crime como Problema Social e Comunitário Enfoque Criminológico

2.2.3.3 Tipologias

2.2.3.3.5 Tipologias Regionais

Por sua vez, o GAFISUD - Grupo de Ação Financeira Internacional da América do Sul, organização regional estabelecida nos moldes do GAFI, elaborou, igualmente, um relatório das tipologias mais freqüentes na América do Sul que está disponível em seu site232.

232 O RELATÓRIO DE 2005. Disponível em: <http://www.gafisud.org/pdf/portuguese.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2006.

Referimos, a seguir, a três tipologias.

a) exportação ou importação fictícia de bens:

Essa tipologia refere-se à exportação ou a importação fictícia de bens, em que são incluídas várias situações possíveis:

- a exportação é registrada por um valor superior ao representado pelas mercadorias, ou seja, bens sobrevalorizados;

- as quantidades exportadas são inferiores às quantidades declaradas;

- a declaração de exportação de um bem específico, realizando o envio de uma mercadoria com características físicas semelhantes, mas que, na realidade, tem um valor inferior;

- ocultação, dentro da embalagem de mercadorias de baixo valor, de outras cujo valor é superior ao da mercadoria a ser exportada;

- declaração de exportação de bens que, na realidade, nunca saem do país; - exportação de bens, fruto de contrabando.

Uma “empresa local”, no âmbito do seu objeto social, oferece a venda direta ou a comercialização a outro país de um ou de mais bens. A empresa celebra um contrato com uma pessoa física ou jurídica, localizada no exterior, para a suposta venda do referido bem. A empresa simula a exportação do bem cumprindo, aparentemente, com os requisitos documentais estabelecidos na lei para tal efeito. O comprador, no estrangeiro, ordena, através dos intermediários financeiros que tenha contratado, a antecipação do pagamento a favor da empresa local. A “empresa local” recebe as divisas por meio de intermediários financeiros. Logo que o dinheiro se encontre disponível, a empresa local utiliza os recursos para pagamentos (geralmente em cheque) que usualmente não têm correspondência com a atividade econômica ou com a natureza do bem exportado. Os cheques são emitidos em nome de várias pessoas, apresentam endossos (freqüentemente com irregularidades) e são cobrados em espécie, apresentando-se uma concentração de beneficiários finais. Essa tipologia pode ser

utilizada com a exportação de todo o tipo de bens, especialmente daqueles nos quais, devido às suas características, seja muito difícil de verificar o seu valor real.

b) envio fracionado de dinheiro ilícito através de transferências internacionais: O sistema de transferências internacionais e a conectividade dos sistemas, utilizados pelas empresas que se dedicam a essa atividade, graças ao desenvolvimento tecnológico, facilitam o envio rápido e eficiente de grandes montantes de dinheiro. Esse sistema possibilita, entre outros, o envio de remessas (transferências de dinheiro lícito) por pessoas que se encontram no estrangeiro para os seus familiares. No entanto, permite também a mobilização de recursos ilícitos provenientes de organizações criminosas ou para o financiamento de atividades terroristas.

As organizações criminosas utilizam essa modalidade para enviar o dinheiro, produto das suas atividades ilícitas, para outro país, através de transferências, cujos montantes têm características de fracionamento, com a utilização de muitos beneficiários, geralmente designados como “pitufos”, em espanhol, ou “laranjas”, em português, os quais, em alguns casos, recorrem a identificações falsas.

A operação de lavagem consiste em fracionar grandes somas de dinheiro em vários envios. Isto é feito por um ou vários remetentes a favor de um ou de vários beneficiários, com a finalidade de evitar os controles existentes quer no país de origem dos fundos quer no país de destino. O dinheiro é enviado por meio de intermediários formais ou de intermediários não-autorizados e cobrado, localmente, por cada beneficiário. O pagamento da transferência pode ser feito em numerário, quer em divisas, em moeda com curso legal, ou mesmo em cheque. Logo que o falso beneficiário da transferência tenha recebido o pagamento, entrega-o a um terceiro ou ao beneficiário final, recebendo em troca uma comissão.

c) peso broker (mercado negro de câmbio de peso):

Esta tipologia refere-se à utilização de um “broker” (corretor de valores), que pode ser definido como “um intermediário financeiro informal do mercado de capitais e de divisas de origem ilícita que se encarrega de recolocar parte das utilidades obtidas no mercado externo". Exemplificativamente, uma organização criminosa possui recursos no exterior

(depósitos, títulos ou divisas em numerário), provenientes de suas atividades ilícitas. Esta organização necessita de dinheiro em seu país, para pagamento a fornecedores locais. Por outro lado, uma pessoa residente no mesmo país sede da organização local nele possui recursos (lícitos ou ilícitos), ao mesmo tempo em que deseja colocá-los em outro país. O intermediário informal ou “broker” põe em contato ou serve de fonte (com pleno conhecimento ou não) à organização que detém os recursos ilícitos no estrangeiro com a pessoa no país que necessita das divisas. Dessa forma, a organização criminosa encarrega-se de colocar as divisas para a pessoa do país estrangeiro, e, por sua vez, essa pessoa encarrega- se de colocar os recursos à disposição da organização no país local. Como resultado dessa intermediação, o “broker” obtém uma comissão que é paga com dinheiro ilícito, sendo que a essa comissão também deve ser dada aparência de legalidade através de outras técnicas conhecidas pelo “broker”.

Assim, a organização criminosa não realiza operações formais de transferência de divisas a partir do país estrangeiro, não registra transações cambiais no país local para cumprir os seus compromissos, diminuindo, em conseqüência, o risco de ser detectada pelas autoridades.

A nosso juízo, essa exposição é suficiente para dar uma idéia das variadas formas das quais se revestem as operações de lavagem de dinheiro. A consulta aos relatórios de tipologias mencionados que declinam os sinais de alerta e fornecem representações gráficas das transações pode ser extremamente útil na análise de casos concretos.