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Convenções para o desarmamento químico e biológico e legislação sobre

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 96-99)

5. ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: ÉTICA E BIOÉTICA

7.1 Convenções para o desarmamento químico e biológico e legislação sobre

Existem várias convenções e tratados que proíbem o uso de armas químicas e biológicas, sendo a primeira destas na Idade Média, como concreto, o primeiro tratado internacional franco-germânico, assinado em 1675 em Strasburgo, proibindo o uso de substâncias químicas nas balas de canhão. Outra foi a Convenção de Haia de 1868, após, a Convenção de Bruxelas em 1874, versando sobre leis e costumes na guerra, proibindo o uso de gases e armas venenosas, matérias e projéteis que causam sofrimento desnecessário (lanças gases deletérios ou asfixiantes)98.

No ano de 1899 foi ratificado em Haia, na Primeira Convenção Internacional para a Paz, restrições para o desenvolvimento deste tipo de arma, porém, os países signatários se comprometeram a não usar projéteis que lançavam gases, com tudo, não foi suficiente para os países signatários não utilizassem armas químicas, mas durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), fizeram usos deste tipo de arma.

Após a Primeira Guerra Mundial houve os esforços para não mais produzirem, adquirirem, usar e armazenar, sendo assinado o Tratado de Versalhes, em 1919, incluindo no tratado imposição a Alemanha, para fabricação e importação dessas armas.

No ano de 1925, em Genebra, acordaram sobre o Protocolo para Proibição de Uso de Gases Asfixiantes, Venenosos ou Outros e Métodos Bacteriológicos de Guerra (hoje biológicas), limitando o uso, porém não o desenvolvimento, produção ou armazenamento, e o Estado-parte poderia usar contra oponentes que não assinaram o tratado.

Contudo vários países continuaram a pesquisa e produção de armas químicas, levando após a Segunda Guerra Mundial a descoberta de novos agentes neurotóxicos. Houveram sucessão de atos desde o final da década de 60, com o aumento do interesse público internacional para o desarmamento químico, iniciando com o uso de herbicidas e gás lacrimogênio dos Estados Unidos na Guerra do Vietinã, vários conflitos regionais nas décadas de 70 e 80, o uso de armas químicas no conflito Irã-Iraque, levando a opinião internacional a pressionar para destruição desta armas.

98 KRUTZSCH, W.; TRAPP, R. A. Commentary on the Chemical Weapons Convention. Martinus Nijhoff,

Em 1971 foi criada a Convenção para a proibição das armas biológicas (CPAB) (Biological Weapons Convention – BWC), assinada pelos integrantes das Nações Unidas (ONU) em 1972 e após essa data outros acordos foram firmados, culminando com a Organização para Proibição de Armas Químicas (OPAQ) (Organisation for the

Prohibition of Chemical Weapons – OPCW), e os agentes podem investigar e também por

denúncias, atentando para não divulgar informações tecnológicas, comerciais ou científicas. Aberta simultaneamente para assinaturas em 10 de abril de 1972, em Londres, Moscou e Washington, entrou em vigor em 26 de março de 1975, sendo aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo nº 89 e promulgada através do Decreto 77.374, de 1º de abril de 1976. Conta atualmente com 151 Estados-Partes e dezesseis Estados signatários99.

Apesar de vários países assinarem o tratado, houve vários eventos que comprovam o desenvolvimento das pesquisas com agentes infecciosos de massa, como o ocorrido em Sverdlovsk, na antiga União Soviética, em 1979, onde houve a dispersão sob a forma de aerossol da bactéria Bacillus anthracis, em decorrência do acidente em uma instalação militar de microbiologia.

A CPAQ também faz proibição do uso de agentes de controle de distúrbios como um método de guerra, por exemplo, o gás lacrimogênio, onde a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ), fiscaliza o desarmamento e destruição, além de investigar através de seus inspetores denúncias de agentes químicos ou o comércio de substâncias químicas que possam ser utilizadas, além das instalações industriais, mas tomando o cuidado para não expor informações tecnológicas, comerciais e científicas que não tenham relações com os propósitos da CPAQ100.

Como bem lembra Dona Rambauske Cardoso e Abdalla de Oliveira Cardoso101, dada a inevitabilidade de um incidente desse tipo, não há a necessidade de se pensar: "e se ocorrer?", mas sim "quando?" e "o que fazer?". Pelo motivo de que vários agentes poderão ser utilizados como armas biológicas e após serem dispersos necessitam de um período de incubação, não apresentando seus efeitos imediatamente, com isto o evento de bioterrorismo pode ocorrer

99 BRASIL. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas

– CPAB. Brasília. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/42037.html>. Acesso em: jul. 2014

100 FRANÇA, T. C. C.; SILVA, G. R.; CASTRO, A. T.; Defesa Química: Uma Nova disciplina no Ensino de

Química. Rev. Virtual Química, 2010, v. 2, n. 2, 84-104. abr/jun. 2010. Disponível em: <http://www.uff.br/rvq>. Acesso em jun. 2014.

101 CARDOSO, R. D.; CARDOSO, T. A. O. Bioterrorismo: dados de uma história recente de riscos e

incertezas. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 16, supl. 1, Rio de Janeiro. 2011. Disponível em: < http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232011000700013&script=sci_arttext>. Acesso em: jul 2014.

silenciosamente, sem nenhum aviso prévio, somente sendo percebido quando surgem plantas, animais ou seres humanos doentes ou mortos.

Quando as autoridades se derem conta ou forem alertadas para a ocorrência de um evento deste tipo, o número de vítimas já poderá ser expressivo, sobrecarregando os sistemas de saúde e acarretando uma grande demanda de profissionais qualificados para atuar neste tipo de ameaça, além de quantidades expressivas de medicamentos e vacinas, materiais e equipamentos, informações e treinamento adequados102.

Desta forma, é de um modo aparentemente inesperado que a saúde pública passa a estar envolvido com um assunto antes de interesse apenas militar103.

O quadro 9 traz informação sobre a classificação das substâncias químicas as quais são controladas pela CPAQ.

Quadro 9 - Classificação das substâncias químicas controladas pela CPAQ..

CLASSIFICAÇÃO DESCRIÇÃO

1 Substâncias desenvolvidas, produzidas, estocadas ou já utilizadas como armas químicas, apresentando utilidade nula ou escassa para fins pacíficos.

2

Substâncias que apresentam grau de toxidez letal ou incapacitante podendo dessa forma ser utilizadas como armas químicas. Inclui os precursores de substâncias da Tabela 1 (inseticidas, herbicidas, lubrificantes, e ditioglicol); De acordo com a CPAQ2 estas substâncias não podem ser produzidas em grandes quantidades.

3 Substâncias já utilizadas como armas químicas mas que precisem ser produzidas em grandes quantidades para a indústria (inseticidas, herbicidas, tintas, lubrificantes, HCN, fosgênio, etanolamina).

Fonte: Sítio da Organização para a Proibição de Armas Químicas. Disponível em: <http://www.opcw.org/>.104

102 ROFFEY R.; LANTORP K; TEGNELL A; ELGH F.; Biological weapons and bioterrorism preparedness:

importance of public-health awareness and international cooperation. Clin Microbiol Infect. Ago. 2002, 8 ed. v. 8, p. 522-528.

103 SILVA L. J. Guerra biológica, bioterrorismo e saúde pública. Cad Saúde Pública. Rio de Janeiro, nov/dez. 2001.

17(6):1519-1523. Disponível em <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v17n6/6978.pdf>. Acesso em: ago. 2014.

104 FRANÇA, T. C. C.; SILVA, G. R.; CASTRO, A. T. Defesa Química: Uma Nova disciplina no Ensino de

Química. Rev. Virtual Química. Rio de Janeiro, v. 2, nº 2, 84-104. abr/jun 2010. Disponível em: <http://www.uff.br/rvq>. Acesso em: jun. 2014.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 96-99)