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Princípios básicos da bioética

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 85-89)

5. ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: ÉTICA E BIOÉTICA

5.3 Princípios básicos da bioética

Conforme aduz Luís Roberto Barroso82, destacando a importância desses estudos:

... princípios são normas e as normas compreendem os princípios e as regras; a norma constitui o gênero, do qual o princípio e a regra são espécies; que os princípios gerais, em sentido e substância, correspondem aos “princípios constitucionais” e que as regras, igualmente normas, possuem baixo grau de generalidade.

Diante de tais premissas, observa-se que a bioética possui os seguintes princípios basilares, capazes de fornecerem orientação às situações do caso concreto, princípios éticos gerais e específicos, onde o primeiro possui referencia a pesquisa biomédica em seres humanos, com estudo ao respeito pela pessoa, beneficência e justiça, sendo os princípio do respeito a pessoa, princípio da beneficência, princípio da justiça, princípio da autoconsciência e princípio do consentimento informado.

80 DINIZ, M. H. O estado atual do Biodireito. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 607-764. 81 DINIZ, M. H. opus cit., p. 21-606.

Outros autores78 que dividem a microbioética em três partes, sendo não-maleficência que consiste tratar de forma justa os outros, não causando danos, a beneficência, onde qualquer procedimento médico deve ser realizado somente para o bem do paciente, não sendo admitido causar dano intencional ao paciente, maximizando os benefícios, aliviando sofrimentos, com o objetivo o bem do ser humano e a autonomia soberana ou absoluta, não havendo restrições que limitam a ação para o paciente durante uma cirurgia, uma terapia ou realização científica, sendo derivado do próprio Estado e por outro lado a autonomia relativa que está atrelada a própria determinações e vontades de uma entidade.

O princípio específico possui o foco em uma disciplina descritiva, como ética normativa, ciência da vida e da saúde, com explicação pela bioética, sendo princípio da defesa da vida física, o princípio da liberdade e da responsabilidade, o princípio da totalidade ou princípio terapêutico e o princípio da socialidade e da subsidiariedade83.

83 FERREIRA, J. S. A. B. N. Bioética e o Biodireito. Revista Scientia Iuris, Londrina, v. 2, p. 41. 1998/1999.

6 ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: BIODIREITO

6.1 Introdução

Conforme o desenvolvimento biotecnológico e as implicações novas e alterações de alguns conceitos nasce o Biodireito, como um ramo do Direito que estuda e cria as bases legais (jurídicas) para analisa e comparação legais os assuntos relacionados à medicina e á Bioética, a qual fez a ponte de ligação de ambas84.

O Biodireito além de ser uma derivação do ramo do Direito Público, possui também traços do Direito Privado, mas tem como escopo a dignidade da pessoa humana, o próprio corpo e o meio ambiente, mas sim uma inter-relação entre uma ciência e outra, haja vista que está associado às matérias de Bioética, Direito Civil, Direito Penal, Direito Ambiental e Direito Constitucional85.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, criaram-se algumas clausulas pétreas, (princípios constitucionais do Biodireito), os valores fundamentais, como o principio da inviolabilidade da vida, princípio da igualdade, a dignidade humana (artigo 1º, inciso III), a liberdade, do princípio da informação (artigo 5º LXXIII), princípio da proteção à saúde (artigo 196 da CF) e da solidariedade, os quais são os princípios do biodireito e o sendo também da bioética.

No artigo 5º, inciso IX, da CF/88, destaca a liberdade da atividade científica, como um dos direitos fundamentais, mas penalizando qualquer ato perigoso na relação médico- paciente, a imperícia tanto médica como científica. A Carta Magna contempla questões de saúde, do meio ambiente, a família, á criança e o idoso, no Título da Ordem Social, mas não existe um capítulo específico sobre biodireito, mas contempla-nos § 3º e 4º do artigo 5º, matéria sobre tratados e convenções internacionais atinentes aos direitos humanos e submetendo o Brasil à jurisdição de Tribunal Penal Internacional (emenda constitucional nº 45 de 2004), havendo a elaboração, que está em vigor e leis para a normatização da matéria de Biossegurança através da Lei nº 11.105 de 24 de março de 2005.

84 SILVA, R.P. Introdução ao Biodireito: investigações político-jurídicas sobre o estatuto da concepção

humana. São Paulo: LTr, 2002. p. 12.

85 MARCO, C. F. O Biodireito e a tendência da Constitucionalização do Direito Internacional: A dignidade da

pessoa humana como valor universal. Disponível em: <http://www.mundojuridico.adv.br>. Acesso em: jun. 2014.

Conforme aduz Elida Séguin86:

O Biodireito como ciência disciplina as relações médico-paciente, médico-família do paciente, médico-sociedade e médico-instituições, e os diversos aspectos jurídicos que surgem dentro, fora e por causa destes relacionamentos, introduzindo a noção de saúde moral à saúde física. (...) Kant ensinou que a violação do Direito ocorrida num ponto da terra é sentida por todos (...)

De acordo com o pensamento acima, Biodireito possui um caráter híbrido, o qual se chama direito misto, por mesclar os interesses públicos e de ordem particulares, quando alcança o ser humano, em sua individualidade enquanto sujeito de direito. Pelo interesse público as questões tutelas à vida, desde as contidas no texto constitucional até aquelas referidas em legislações específicas, v.g., da lei nº 9985, 18 de setembro de 2000, regulamenta os incisos II e V do § 1º do artigo 225 da CF/88, é regulamentado pela lei nº 8.974, de 05 de janeiro de 1995, que estabelece normas para o uso das técnicas de engenharia genética e liberação no meio ambiental de organismos geneticamente modificados e a Resolução 1.358/92 do Conselho Federal de Medicina, que dispõe sobre normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, bem como a Lei nº 9.434/97 que dispõe sobre transplante de órgãos tecidos e partes do corpo humano, com fins terapêuticos.

Portanto essas normas esparsas, que forma o Biodireito, têm como objetivo a regulação das atividades e relações desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias, a fim de manter sempre a integridade e a dignidade da pessoa humana frente ao progresso, gerando benefício ou não, das conquistas científicas em favor da vida, motivo de fundamental importância no agilizar do ordenamento jurídico, onde os aplicadores da lei devem estar sempre atentos para permitirem o “bem” e proibir o “mau”, com base nos preceitos da Bioética e do Biodireito, os quais não poderão sucumbir-se pelas práticas desumanas, impostas pela ganância, proveito, desejos, vaidades, ganhos financeiros, por parte de cientistas, laboratórios e empresas de genética, ou de quem quer que seja.

Para Gusmão, destaca que:

o direito é misto quando tutela interesses privado e público, ou então, quando é constituído por normas e princípios de direito público e de direito privado.

Generalizando, direito em que, sem predominância, há confusão de interesse público ou social com o interesse privado87.

Consequentemente, a função do Biodireito é transdisciplinar, necessária para solucionar as questões complexas surgidas pelo rápido desenvolvimento das ciências médicas (biociências e tecnociência), e com essa normatização, devem possuir definições nítidas, haja vista que geram grande inseguranças e inquietudes sociais, em decorrência do poder científico sobre a vida, a identidade e o destino das pessoas e o meio ambiente. Como pode ser destacado por Meirelles88 explica que:

Quando se faz menção a reprodução artificial, manipulação de gens, transplante de órgãos, clonagem, aborto, eutanásia, esterilização, experimentação em seres humanos, psicocirurgia, órgãos artificiais, pré-seleção e troca de sexo, e tantas outras novidades biotecnológicas, logo vem à lembrança o valor do ser humano e o respeito que lhe é devido. Essa reflexão de consciência, que delineia limites morais às investigações e práticas biocientíficas, sem dúvida é influente na informação e na formação do Direito. Existem, no entanto, questões essencialmente jurídicas, cuja solução não é possível limitar no âmbito da consciência moral de cada um.

Por fim, o Biodireito possui a finalidade de delimitar as normas coercitivas da atuação da biotecnologia no sentido de respeito à dignidade, a identidade e a vida do ser humano.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 85-89)