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Terrorismo biológico – bioterrorismo

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 152-155)

5. ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: ÉTICA E BIOÉTICA

8.3 Terrorismo biológico – bioterrorismo

Este tipo de ação, que como vimos na seção anterior está intrinsecamente vinculado ao

terrorismo moderno, utiliza como ameaças principais àquelas ligadas a agentes químicos,

biológicos, radiológicos e nucleares (agentes QBRN). Existem outras formas de terrorismo moderno que podem vir a causar mais danos inclusive do que aqueles relacionados aos agentes QBRN. Esse é o caso de terrorismo cibernético181, eletromagnético182, agropecuário183, dentre outros, os quais visam fundamentalmente provocar danos econômicos, mas que não estão associados ao terror típico dos agentes QBRN.

No capítulo anterior vimos os conceitos de terrorismo radiológico e nuclear, e com mais detalhes, o terrorismo químico.

A seguir, trataremos com detalhes o terrorismo biológico, ou bioterrorismo.

O termo bioterrorismo é recente, tomando corpo em decorrência dos ataques terroristas de 2001, em Nova Iorque, e pela disseminação de esporos de antraz (esporos de Bacillus

anthracis da cepa Ames), nos Estados Unidos os quais foram encaminhados por carta a diversas pessoas, onde foram registrados onze caso de contaminação de antraz pulmonar, mas cinco evoluíram para óbito184.

O bioterrorismo difere da guerra biológica ou bioguerra, mas se confundem historicamente e até são utilizadas como sinônimo, onde a última pode ser definida como a prática do uso de microorganismos ou toxinas derivadas de organismos vivos, a fim de causar a

181 Por exemplo, através da invasão de sistemas de informação financeiros e, principalmente, de defesa.

182 Por exemplo, a través da liberação de um pulso eletromagnético (EMP) que desabilita tudo o que existir de

dispositivo elétrico/eletrônico dentro de certo raio.

183 Por exemplo, através da disseminação proposital de agentes infecciosos que atinjam gado (p.ex. aftosa) e

culturas de interesse econômico como laranjais (p.ex. atingidos pela praga MSC), e canaviais (p. ex. atingidos pelo vírus do mosaico da cana-de-açúcar).

morte ou doenças em humanos, em outros animais ou plantas e alimentos, onde foi usado desde os primórdios da humanidade, quando uma nação encontra-se em conflito com outra e utiliza- se deste material de contaminação para ter vantagem. Enquanto que bioterrorismo faz o uso do material da guerra biológica, para atingir os propósitos terroristas (grupos extremistas), já descritos.

Existem várias definições sobre bioterrorismo, a mais aceita é do Center for Disease

Control and Prevention (CDC/Estados Unidos), sendo185: "disseminação deliberada de bactérias, vírus ou outros microorganismos utilizados para causar doença ou morte em populações, animais ou plantas".

As autoras Cardoso, Reambauske e Cardoso, Oliveira186 descrevem a interpretação de Magalhães, sobre o conceito de bioterrorismo, como sendo “o uso intencional de

microrganismos ou toxinas derivadas de organismos vivos, vírus ou príons causando morte ou doença em pessoas, animais ou plantas”. Acrescentam ainda que o bioterrorismo pode ocorrer

por meio de fômites, vetores, animais infectados, produtos de origem animal, vegetal ou doenças emergentes.

Essas autoras destacam ainda o trabalho e de Morse187, o qual inclui a palavra “terror”, na definição do CDC, salientando que o elemento surpresa e o ataque de bioterrorismo podem demorar horas ou dias para ser descoberto, gerando com isso a dimensão psicológica como uma ferramenta importante para terroristas. Bem lembra Almeida188, da importância deste componente, concordando, salienta em seu artigo “... a ameaça biológica do bioterrorismo é uma história mais de pânico do que de fatos”.

Também é ressaltado por Radosavljevic189, que a disseminação do medo é o objetivo principal destes atos, onde o pânico, ansiedade e insegurança causada na população, refletindo perda de confiança nas autoridades governamentais e vultoso prejuízo econômico. Tanto o

185 USA. Centers for Disease Control and Prevention. Bioterrorism; Disponível em:

<http://www.bt.cdc.gov/bioterrorism/overview.asp>. Acesso em jul 2014.

186 CARDOSO, R. D.; CARDOSO, T. A. O. Bioterrorismo: dados de uma história recente de riscos e incertezas.

Ciênc. Saúde Coletiva, v. 16, supl. 1, Rio de Janeiro. 2011. Disponível em: < http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S1413-81232011000700013&script=sci_arttext>. Acesso em: jul. 2014.

187 MORSE S.S. Biological and chemical terrorism. Technology in Society, v. 25, issue 4, nov. 2003, p. 557–563.

Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0160791X03000794>. Acesso em: jun. 2014.

188 ALMEIDA M.E. Guerra e desenvolvimento biológico: o caso da biotecnologia e da genômica na segunda

metade do século XX. Rev. bras. epidemiol. 2006, v. 9, n. 3, p.264-282.

189 RADOSAVLJEVIC V.; JAKOVLJEVIC B. Bioterrorism – Types of epidemics, new epidemiological

paradigm and levels of prevention. Public Health. Jul. 2007, v. 121, issue 7, p. 549-557. Disponível em: <http://www.publichealthjrnl.com/article/S0033-3506(07)00013-3/abstract>. Acesso em: jun.2014.

Governo como a população em geral ficam abalados psicologicamente e emocionalmente, fazendo que todos fiquem reféns do medo, reinando a insegurança, instabilidade e desconfiança nos órgãos governamentais para lidarem com situação.

Conforme o Manual de Aspectos Médicos das Operações de Defesa Química, Biológicas e Nuclear da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), faz uma descrição de guerra biológica como sendo a utilização de agentes biológicos para causar enfermidades e mortes em pessoas ou animais e danificar plantas ou materiais190.

Outro aspecto com relação às armas biológicas com as químicas, é que fundamentalmente diferem pelas suas características, como habilidade do micro-organismo se desenvolver e reproduzir-se no hospedeiro, retardo quanto aos sintomas da contaminação, pois, os micro-organismos necessitam de certo período para desenvolvimento (período de incubação), muitos dos sintomas confundem-se com outras patologias, prejudicando em muito a identificação de um ataque biológico antes da disseminação, tendo como consequência, impacto psicológico maior com relação a armas químicas, o valor do custo de produção é baixo e com uma simplicidade relativa, a propagação pode ser através de vetores, como animais e insetos.

Como já explanado, a produção de agentes biológicos e os químicos, não oferecem grandes dificuldades técnicas, por serem simples e barata, pois, a cultura destes agentes em laboratório é por técnicas básicas de microbiologia e os materiais utilizados são amplamente encontrados e de fácil compra191.

190

North Atlantic Treaty Organization. Field Manual (FM) 8-9 - NATO Handbook on the Medical Aspects of NBC Defensive Operations. Washington, D.C.: NATO; 1996.

191 FRANÇA, T. C. C.; ILHA, C. E. G. A Biotecnologia e a Guerra Biológica. Revista Militar de Ciência e

Tecnologia (RMCT), v. XXXI, 1º trimestre 2014. Disponível em: <http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_1_tri_2014/RMCT_206_E5A_13.pdf>. Acesso em: jul2014.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 152-155)