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Perspectivas da ética, bioética, direito e biodireito

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 92-96)

5. ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: ÉTICA E BIOÉTICA

6.4 Perspectivas da ética, bioética, direito e biodireito

A vida, o bem maior que possuímos, nisto todos acreditam, pois, não há uma definição única, havendo inúmeras variações e definições, tanto biológicas, religiosas ou filosóficas. Vida derivada do latim vita, com sendo o espaço de tempo que vai desde a concepção até a

morte de uma organismo, outro fundamentação diz respeito a existência da alma (crença exclusiva aos humanos), iniciando na concepção, mas metafisicamente, a vida, é um processo constante de relacionamentos. Viver e coexistir em profundo relacionamento com a natureza, com as outras pessoas e demais organismos. A teoria atualmente aceita é a organicista que é uma junção das teorias vitalistas (organismos vivos possuem propriedade não encontradas na matéria inerte) e a fisicalistas (as leis da física e da química prevalecem).

Como serem humanos vivendo em sociedade, há respeito às regras, normas de condutas que devem ser cumpridas, caso contrário existiria um caos, portanto, nasce o ordenamento jurídico, que na maioria está baseado nos bons costumes, com alicerce na vida, ética, filosofia e preceitos religiosos.

Com o progresso científico e tecnológico, geram descobertas e outros esclarecimentos biológicos, surgem então diversos questionamentos e por sua vez o ser humano lança mão de teorias filosóficas, éticas, morais e até econômicas para justificarem essas conquistas, que ao longo dos anos incorporam preceitos, gerando a parte jurídica.

Com as inovações técnico-científicas na biologia, saúde e agropecuária, onde o homem atualmente promove mudanças de grande significado com relação a esses domínios e

esses avanços biotecnológicos geram polêmicas e discussões que até então eram imagináveis. São então geradas duas óticas distintas, uma pela melhoria da qualidade de vida das pessoas e por outro lado o quanto afetam a natureza e o equilíbrio do planeta. Diante disso, surgem as teorias do direito (da justiça) e da moral que são as guias mestras, diferentemente da ética que possui sentido de vida correta como doutrina em seu modo mais clássico.

A vida é estudada de vários aspectos, tanto na parte biológica ou na parte correspondentes aos genes, com papel de destaque para biotecnologia pela Engenharia Genética, por tal razão, há necessidade do Estado em proteger os bens inerentes ao ser humano, e no nosso País materializou-se pela Carta Magna, outorgada em 05 de outubro de 1988, que prevê vários direitos e garantias individuais e coletivos, bem como, dispositivos que são imutáveis, inalteráveis e pétreos, in verbis:

...

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: (...)

§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: (...)

IV - os direitos e garantias individuais. ...

Por tal motivo estão expressos os direitos fundamentais - artigo 5º, ... a inviolabilidade do direito a vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à propriedade...., da Carta de Outubro.

O direito à vida é o bem juridicamente tutelado como direito fundamental básico, desde a concepção, momento específico, comprovado cientificamente, da formação da pessoa92.

Neste contexto, destaca-se o jurisconsulto Silva93:

Vida no texto constitucional (art. 5º, caput), não será considerada apenas no seu sentido biológico de incessante auto-atividade funcional, peculiar à matéria orgânica, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. (...) É um processo que se instaura com a concepção (...), transforma-se, progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida.

92 DINIZ, M. H. O estado atual do biodireito. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 21.

Prossegue Silva, da seguinte forma:

Todo ser dotado de vida é indivíduo, isto é: algo que não se pode dividir, sob pena de deixar de ser. O homem é um indivíduo, mas é mais que isto, é uma pessoa. Além dos caracteres de indivíduo biológico tem os de unidade, identidade e continuidade substanciais. (...) A vida humana, que é o objeto do direito assegurado no art. 5º, caput, integra-se de elementos materiais (físicos e psíquicos) e imateriais (espirituais). (...) Por isso é que ela constitui a fonte primária de todos os outros bens jurídicos.94

O direito à existência consiste no direito de estar vivo, de defender a própria vida e permanecer vivo: “é o direito de não ter interrompido o processo vital senão pela morte

espontânea e inevitável. Existir é o movimento espontâneo contrário ao estado morte”95. Com as inovações cada vez mais rápidas dos processos tecnológicos e científicos que vimos nos últimos anos, abrindo questionamentos sobre antigas questões e para tentara dirimi-los nasce à bioética, disciplina nova, que tenta ordenar essas questões, porém, pouca sistematizada.

No mundo e em especial no Brasil, os temas, bioética, biodireito, biossegurança são muitos novos e uníssonos, onde sucintamente descreveremos as suas fundamentações, partindo à ética e moral, contextualização e normatização jurídica, não

podendo deixar de ser destacado os temas de biotecnologia e biodefesa, sendo a proposta de trabalho.

Destacam-se também os ensinamentos de Minahim96, ao prelecionar sobre o estudo da Bioética:

... antes de ingressarem no campo do direito, porém, essas questões, introduzidas pelos avanços técnico-científicos e os conflitos que suscitam, passam por discussões em um campo mais amplo que é o da Bioética. A ética, aliás, sempre foi ponto de encontro de saberes como o Direito, a moral, a religião. Esse terreno comum abriga discussões sobre situações que podem ensejar diferentes escolhas morais, embora nem sempre as perspectivas

94 SILVA, J. A. opus cit., p. 167.

95 SILVA, J. A. Curso de direito constitucional positivo. São Paulo: Malheiros Editores, 2003. p. 167

sejam coincidentes. Assim foi com os temas da pena de morte, do aborto e, atualmente, com a clonagem, a fecundação assistida, a terapia gênica e outros da mesma natureza.

Nessa linha de pensamento, à ética é uma linha de junção entre a ciência e o valor inato à vida humana, onde a bioética une os preceitos religiosos e de moral, enquanto o direito completa o espaço deixado pelos princípios jurídicos, por este motivo a bioética, em oposição ao direito, não ordena as regras gerais de conduta e ações, não tem poder de coerção de comportamentos, apenas discute a função da tecnociência desde que esteja servido ao ser humano e para o seu benefício, gerando valores, inclusive mediando conflitos morais advindos das novas tecnologias, dando base para a ações médicas e científicas.

Salientam-se, em consequência dos avanços da genética, inúmeras questões de suma importância são expostas no seio da sociedade. Juridicamente deveria haver esse avanço, com acompanhamento do ímpeto e tendo como base os valores éticos fundamentais concernentes à proteção da dignidade humana.

Nessa linha de pensamento estende-se a outras áreas, como na ambiental, onde a biologia molecular e a engenharia genética estão cada vez aprimorando-se para a melhoria das plantas, como a práticas biomédicas, mapeamento do genoma humano, o DNA recombinante que desponta os problemas ético-jurídicos com relação à vida, à morte, à filiação, a maternidade, ao paciente terminal, à reprodução humana, à sexualidade, às técnicas conceptivas, à maternidade, ao patrimônio genético, à correção de defeitos físicos, ao uso de material embrionário em pesquisas, à eugenia, às experiências farmacológicas e clínicas com seres humanos, ao equilíbrio do meio ambiente, à criação de produtos transgênicos, à clonagem, à transfusão de sangue, ao transporte de órgãos e tecidos humanos, ao patenteamento da vida, à mudança de sexo, e outros.

Por causa disto há a interferência na ordem natural, necessitando estar em mente o respeito e a dignidade da pessoa humana, como bem diz Diniz97:

... essa nova faceta criada pela biotecnociência, que interfere na ordem natural das coisas para ‘brincar de Deus’, surgiu uma vigorosa reação da ética e do direito, fazendo com que o respeito à dignidade da pessoa humana seja o valor-fonte em todas as situações, apontando até onde a manipulação genética da vida pode chegar sem agredir.

7 ATUALIDADE E PERSPECTIVAS: DEFESA QBRNE

7.1 Convenções para o Desarmamento Químico e Biológico e Legislação

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (páginas 92-96)