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Esta pesquisa teve como ação principal, a observação, e as informações coletadas22 receberam tratamento qualitativo de caráter exploratório. Foram utilizadas técnicas de observação, entrevistas abertas em forma de narrativa, estudo de documentos e desenhos realizados pelas crianças. Todos os momentos em que a escuta esteve presente como instrumento de pesquisa, utilizou-se a escuta

sensível, apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, do dito e do não dito.

A infância supera a visão tradicional de simples etapa da vida, pois as crianças são, sim, sujeitos plenos de direito e informantes competentes de suas histórias, que, com especificidades próprias, expressam variadas dimensões culturais, presentes em toda ação/atividade humana. Refletimos sobre elas e as percebemos como sujeitos de conhecimento e, portanto, em condições de atuar criticamente nos modos de pensar e de produzir lugares para elas próprias.

Estudos interdisciplinares da infância estão em pleno progresso e, a partir de muitos olhares, assumem o foco de infância como categoria social do tipo geracional. Tais estudos configuram uma nova abordagem com as crianças como membros ativos da sociedade e como sujeitos das instituições de que participam como escola, família, espaços de lazer, etc. (SARMENTO; GOUVEA, 2008).

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Os dados gerados com a pesquisa ficarão sob responsabilidade da pesquisadora, Caroline Schwerz de Oliveira Hochmüller, durante o prazo de 5 anos. Portanto, as fotos e entrevistas serão utilizadas apenas para fins científicos vinculados ao presente projeto de pesquisa, a criança ou responsável poderá ter acesso as informações e realizar qualquer modificação no seu conteúdo, se julgar necessário. Após esse período todos os dados (fichas técnicas e diário de bordo) serão deletados e/ou incinerados, de acordo com a Resolução 466/2012.

É fundamental, não somente o olhar do adulto - do enfermeiro, do médico, do fisioterapeuta, dos pais, dos pedagogos – e sim o olhar da criança, para pensarmos em como fazer com que o hospital seja cooperante no bem estar e no desenvolvimento infantil. È fundamental refletir sobre esse olhar, saber como ela enxerga esta situação e procurar auxiliar o profissional, que esteja em contato com a criança.

Para buscar mais respostas de como fica o brincar no hospital, local que, muitas vezes, incentiva o não fazer nada, o repouso, podendo gerar na criança o sentimento de “comportamento em cativeiro”, neste estudo a criança, é reconhecida como “sujeito”, desta maneira, procurando, nos seus dizeres as alterações ou sugestões dela própria para melhorar esse ambiente.

Não podemos “coisificar” o sujeito e suas relações, por isso a importância de estar-junto das crianças, nos ambientes em que circulam. É extremamente importante que o pesquisador esteja disposto a participar e a conversar com as crianças. Esses ambientes podem ser desde a escola, a pracinha, a rua, a igreja, o hospital, todo e qualquer lugar que a criança frequente e onde possa brincar (CATÃO, 2012).

E esse conversar é conversar mesmo, pois, em entrevistas estruturadas, corre-se o risco de não termos o contexto das falas das crianças. Mesmo que o Hospital, que a internação, não seja o real espaço da criança, mas é, naquele quarto, em que ela se encontra por esse período, por isso o pesquisador deve procurar se conduzir ao espaço da criança e não ao contrário (CATÃO, 2012).

O pesquisador deverá partir do ouvir, entender, escutar o que foi dito e o não dito, valorizar a narrativa da criança, entender a história. Ver e ouvir deverão ser ações cruciais para compreender gestos, discursos e ações. Este aprender de novo a ver e a ouvir. Interagir enquanto observa a interação, deverá ser sustentado na sensibilidade e na teoria e, desta forma, será produzida a investigação (CATÃO, 2012).

Esse escutar a criança não é simples, é permitir que ela utilize sua linguagem, seu modo de “ver as coisas” e estar sensível para entendê-la. Para Ceccim (1997 apud FONTES, 2007):

O termo “escuta” provém da psicanálise e diferencia-se da audição. Enquanto a audição se refere à apreensão/compreensão de vozes e sons audíveis, a escuta se refere à apreensão/compreensão de expectativas e sentidos, ouvindo através das palavras, as lacunas do que é dito e os silêncios ouvindo expressões e gestos, condutas e posturas. A escuta não se limita ao campo da fala ou do falado, [mais do que isso] busca perscrutar os mundos interpessoais que constituem nossa subjetividade para cartografar o movimento das forças de vida que engendram nossa singularidade.

A escuta sensível foi o principal instrumento de coleta dos dados desta pesquisa, e não só a escuta, mas o conjunto que abrange uma conversa, o lugar em que a criança estava, a forma como se comportava durante a conversa, os gestos, os brinquedos, as expressões faciais. Esta pesquisa teve como característica perpassar pela pesquisadora, tornar as conversas como vivências, como experiências, que foram trazidas para as páginas da dissertação. Um mergulho diferenciado, mergulho na bibliografia utilizada e também na experiência compartilhada com as crianças, que são tratadas como sujeitos. Não há como passar por uma experiência, sem que algo se transforme em nós.

3.3 “ESCREVIVENDO” UMA EXPERIÊNCIA DE ESCUTAR E ESCREVER

O termo “Escrevivendo” (WILLMS, 2013) foi tomado depois de realizar muitas leituras. Foi propício para destacar em nossa pesquisa, tal como a autora, Elni Willms, escreveu em sua tese “Aos poucos fui escrevivendo, embora nem sempre compreendesse ou enxergasse tudo (...)”. Então, a dissertação foi escrita e vivida, a cada pesquisa, a cada conversa, a cada encontro, a cada narração. A cada escrita, ela foi tomando sua forma, deixamo-nos envolver pelas linguagens das crianças para “escrevi – viver” nestas páginas.

Como assim? Uma pesquisadora que já afirma que não compreendeu tudo? A principal proposta da pesquisa é se despir de conceitos e mergulhar no mundo encantado, ou nem tão encantado assim, das crianças. Foi procurar absorver o que aconteceu durante tal vivência, fazendo que o momento se torne uma experiência tanto para a pesquisadora quanto para o leitor.

Uma experiência pode ser sentida diferente entre diferentes pessoas, cada um pode absorver diferentes partes da mesma vivência. Assim como escreve Larrosa (2011, p. 7): “a experiência supõe que o acontecimento afeta a mim, que

produz efeitos em mim, no que sou, no que eu penso, no que eu sinto, no que sei, no que eu quero...”.

São pesquisas que buscam aprofundar-se na narração do sujeito, buscando caminhos para melhor entendimento, é impossível que a conversa com a criança não se torne uma experiência para os pesquisadores. Assim sendo, são tomados estudos dos vários campos do conhecimento, como por exemplo, da antropologia, sociologia, saúde e educação. São estudos que fogem de formatos delimitados, tornando os pesquisadores condutores e conduzidos da/pela pesquisa.

Como, para cada criança, a passagem pelo hospital gerará novas experiências, para cada uma tocará em algum sentimento, por exemplo, medo, apreensão, diversão. A experiência poderá os tocar de diferentes formas: “(...) a experiência é, para cada um, a sua, que cada um faz ou padece sua própria experiência, e isso de um modo único, singular, particular, próprio” (LARROSA, 2011, p. 7).

Uma vez que, particularmente, essa experiência buscou ouvir as crianças, trazê-las para o centro da pesquisa – como sujeitos –, dando oportunidades de se expressarem como e quando desejarem, a experiência foi singular com cada criança, dando enfoque qualitativamente, buscando o que ela representa com o brincar, o que cada uma entende por estar no hospital.

Como já dito anteriormente, no decorre dos encontros procuramos dar voz às crianças, como afirma (OLIVEIRA, 2011, p. 20):

Nesta perspectiva, a criança é compreendida como sujeito individual e social, que constrói concepções acerca da realidade social na qual se insere. Pesquisar com crianças significa ouvir sua voz, percebendo que sua fala se constitui a partir das relações sociais que produzem. Importa ressaltar que não se trata de “dar” voz às crianças, no sentido de que é o adulto que permite a fala, mas criar possibilidades de diálogos em situações de encontros (...) (Grifo pela autora).

Neste ponto de vista, este tipo de pesquisa pouco se enquadraria nas definições normalmente utilizadas para descrever métodos e procedimentos. Ela é, sim, uma pesquisa que investiga, na conversa com a criança, elementos de inter- relação nas experiências de cada uma, e na experiência passada pelos pesquisadores. Nesta pesquisa, iremos explorar os espaços, as vozes, os sentimentos junto com as crianças, a partir delas, não somente através de números,

questionários limitadores, enquadramentos pré-estabelecidos (PÉREZ, 2010 apud OLIVEIRA, 2011).

Larrosa (2011, p. 7) fala:

(...) De fato, na experiência, o sujeito faz a experiência de algo, mas sobre tudo, faz a experiência de sua própria transformação. Daí que a experiência me forma e me transforma. Daí a relação constitutiva entre ideia de experiência e a ideia de formação. Daí que o resultado da experiência seja a formação ou a transformação do sujeito da experiência. Daí que o sujeito da experiência não seja o sujeito do saber, ou o sujeito do poder, ou o sujeito do querer, senão o sujeito da formação e da transformação.

Pesquisar também é transformar a si mesmo, e buscar transformar o leitor. Depois de cada leitura de livro, de cada leitura de artigo, de cada visita ao hospital, de cada encontro com uma criança, é impossível não se transformar. Por essas afirmações, as narrativas das crianças constituem um elemento ativo de percepção, aprendizado e de formação de um novo “eu”, um novo profissional, um novo sujeito. A criança pesquisada é sujeito de pesquisa, mas o interlocutor também é sujeito, que irá repassar sua experiência para os demais.

Como nenhum dos Hospitais de Cruz Alta possui uma área exclusiva para crianças, brinquedotecas ou lugares comuns, a pesquisa ocorreu em quartos e enfermarias onde a criança estava, o pesquisador sempre foi ao encontro do sujeito da pesquisa. Para melhor organização foi elaborada e produzida uma Ficha Cadastral (Figura 3), na qual constou:

Figura 3: Ficha cadastral FICHA CADASTRAL

Iniciais (nome):________ Idade: _________ Estuda: _____ Cidade onde mora: _________________Cidade onde morava:____________________ Série: _______ Se não estuda o motivo: _____________ Sexo: _______

Motivo Internação Hospitalar: _______________________________________ Especialidade Médica: __________________ Tempo de Internação: ______________ Acompanhante: ( ) Somente pai ( ) Somente mãe ( ) Avós ( ) Pais (Mãe e pai se revezam) ( ) Cuidador (babá) ( ) Outro Primeira internação?

( ) Sim

Todas as observações foram registradas, anotadas em um diário, como se fosse um diário de bordo. As crianças ficaram livres, para se expressar através de desenhos, e quando permitido, foram feitas fotos (colocado tarja preta nos olhos) demonstrando o comportamento da criança no ambiente hospitalar.

Os encontros com as crianças hospitalizadas foram conversas abertas, com perguntas norteadoras, porém deixando a criança livre para falar o que quisesse, responder ou não, perguntar ou não, ou apenas desenhar. Não foram perguntas objetivas com respostas pré-prontas. Através dessas entrevistas/conversas buscou- se ouvir o que a criança tinha a dizer sobre o brincar e sobre o ambiente hospitalar, sem maiores interferências, apenas para seguir a conversa.

As crianças foram os sujeitos e também consideradas atores importantes no processo da pesquisa, pois uma criança, de qualquer grupo social, após breves espaços de tempo, já construiu alguma identidade, possui uma memória construída, ou seja, elas podem contar as suas representações sobre esse processo (DEMARTINI, 2011).

Por meio da conversa, buscamos as relações que a criança faz com o brincar e com o hospital, quais as novas experiências, o que ela entende por estar ali. Necessitamos, através do encontro com a criança, desvendar sua história para valer-se a complexidade de suas vivências (DEMARTINI, 2011).

Na possibilidade do desenho que a criança tenha feito, cabe ressaltar que ela não foi obrigada a desenhar, somente o fez, quando sentiu-se à vontade de fazer isso. Respeitando as diversas maneiras que a criança pode expressar-se, através da fala, através de uma história, através de desenhos, também se amplia a nossa compreensão sobre o que desejamos desvendar.

Ouvir a voz das crianças não é apenas através da fala, essa voz pode estar no silêncio, em expressões não verbais, pois múltiplas são as linguagens com que as crianças se comunicam. O desenho está entre as mais importantes formas de expressão simbólica, afinal desenhar, antecede a comunicação escrita. Sociologicamente, o desenho infantil nos traz a produção simbólica de um grupo social geracional - a infância (SARMENTO, 2011).

As crianças estão numa particular relação de dependência ante os adultos, a maneira de elas interpretarem e significarem o mundo, está ligada á cultura em que estão inseridas (SARMENTO, 2011). Conforme afirma a autor: “Nas suas relações com os adultos e nas relações com outras crianças, partilham reproduzem,

interpretam e modificam códigos culturais que são actualizados nesse processo interativo” (SARMENTO, 2011, p. 43). Nesta pesquisa consideramos as expressões das crianças, como forma de constatar a cultura que estavam inseridas, suas representações verbais foram importantes, como também, os desenhos, gestos.

Outro objeto de observação foi o brinquedo que a criança trouxe de casa, aqueles que traziam. Foi feita uma foto – quando necessária, e solicitado que a criança explicasse algo sobre o brinquedo, o motivo da escolha, do que brinca se tem alguma história com o brinquedo e quão importante ele é para ela.

Tendo como proposta de pesquisa compreender a visão da criança sobre o brincar no Hospital, após compreendermos as representações feitas por elas, foi sugerido um novo ambiente neste local ou alterações que auxiliem durante esse período de internação. Por esse motivo, acredito que criar uma brinquedoteca, simplesmente, por ser obrigatório, não se faz relevante e importante, uma vez que ter um espaço sem que a criança o desfrute torna-se como um vácuo, um espaço perdido.

Tendo como inspiração metodológica conforme já afirmei um estudo realizado por Maria Terezinha Espinosa de Oliveira, o qual traz a criança como narradora. Assevera que (2011, p. 104): “Ao compartilhar com estas crianças alguns dos acontecimentos de suas vidas, provocando que se coloquem como narradoras destes mesmos acontecimentos, pode ser que possamos, juntas, construir experiências”. Consequentemente, para dar voz às crianças, há a necessidade de compartilhar de suas experiências, de conversar e observar e não se preocupar com números, sim com a abertura que a criança dará para compreensão sobre o brincar, sem pré-conceitos e julgamentos, deixando a criança expressar-se da forma que se sentir mais à vontade.

A metodologia proposta já foi utilizada em diversos estudos, mas foi o estudo de Oliveira (2011), realizado com o cotidiano de crianças moradoras de um bairro rural, localizado em Teresópolis, que ela vai alegar que a narrativa como processo de investigação:

(...) a narrativa pode constituir-se como perspectiva metodológica na pesquisa com crianças. O processo de investigação narrativa na vida cotidiana envolve o compartilhamento das relações, dos espaços, das vozes, dos sentimentos, nas relações entre pesquisadora, as crianças e os adultos que contam suas histórias (OLIVEIRA, 2011, p. 106).

Enfim, como demonstrado nesse caminho metodológico o estudo fez questão de preocupar-se com todos os momentos de uma investigação que apensar de ser extremante burocratizado, pelas duas instituições Universidade e Hospital, foi realizada respeitando a individualidade e subjetividade da criança. Tenho a certeza que as crianças foram respeitadas, por esse motivo, todos os direitos dela foram respeitados, e a pesquisa não foi imposta, ou seja, não houve uma única maneira de fazê-la, tudo dependeu de como a criança reagiu ao estudo.

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4 ENCONTROS E EXPERIÊNCIAS

Neste capítulo, faremos a análise dos encontros com as crianças. Nele, iremos trazer a pesquisa empírica e toda a vivência que ela nos trouxe. Através de um olhar diferenciado – qualitativamente falando – mostraremos a imersão nesses encontros, o que as crianças nos trouxeram, o que essa experiência acrescentou, na nossa visão, para melhor compreensão do brincar no hospital.

Além de analisar o encontro com cada criança deste estudo, também haverá um encontro com escritos de Walter Benjamin e Jorge Larrosa, além de outros pesquisadores que acreditam em fazer da pesquisa uma experiência de vida, participando dela e não apenas fazendo com que as crianças sejam “experimentadas”, ou simples objetos de estudo. Após leituras instigantes de Walter Benjamin, busquei inspiração na narração das próprias crianças – experiências – para delas trazer os escritos da dissertação, sempre compartilhando os encontros. Como diz Oliveira (2011, p. 24): “Ao mesmo tempo compartilho com as crianças – sujeitos da pesquisa, narradoras – para que, a partir delas, possa compreender seu mundo (...)”.

Para auxílio da compreensão de como as crianças brincam, o que fazem durante a internação, autores como Florence de Mèredieu23, Maria Terezinha de Oliveira24, Cleide Mussini Batista25, entre outros foram essenciais para um olhar voltado a criança.

Ao trazer a história sobre o encontro com cada criança, a narrativa dela acaba por tornar a pesquisa também como uma narração da experiência. Além disso, cada encontro tem vida e cada vida, uma história, como diz Corso e Corso (2006, p. 21):

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Florence de Mèredieu é docente da Universidade de Paris, dedica seus estudos de arte moderna e contemporânea. No livro O desenho infantil faz uma exposição crítica dos métodos utilizados na análise do grafismo, esforçando-se por indicar as perspectivas às quais devem ser restituídos os desenhos das crianças, se quiser que sejam, não reduzidos às categorias adultas, mas abordados em seu caráter diferencial e irredutível.

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Maria Terezinha Espinosa de Oliveira, autora do livro Crianças narradoras e suas vidas cotidianas. O livro constitui-se no resultado da pesquisa desenvolvida com o cotidiano das crianças moradoras de um bairro rural localizado em Teresópolis, apresentada como tese de Doutoramento da Universidade Federal Fluminense.

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Cleide Vitor Mussuni Batista, autora do livro: A brincadeira simbólica e a criança enferma: Quando brincar é viver. Formada em Letras e Pedagogia, Doutora em Educação pela UNICAMP.

(...) afinal, trocando em miúdos, uma vida é uma história, e o que contamos dela é sempre algum tipo de ficção. A história de uma pessoa pode ser rica em aventuras, reflexões, frustrações ou mesmo pode ser insignificante, mas sempre será uma trama, da qual parcialmente escrevemos o roteiro.

Como já mencionado no capítulo anterior, os nomes das crianças foram alterados para garantir a elas o anonimato, e as histórias que elas contaram essas, sim, irão agregar-se à dissertação, irão trazer o olhar delas sobre a temática pesquisada.

Nos momentos em que traremos a conversa com a criança ela será tratada em primeira pessoa, pois é parte do relato a partir do olhar da pesquisadora, dos diálogos, das brincadeiras que ocorreram durante esse encontro.

Para que o leitor sinta melhor a narrativa, ela será feita em tempo presente, como se estivéssemos conversando agora, pois é como se tratasse de uma realidade aberta, envolvendo o leitor no contexto (OLIVEIRA, 2011). O que será trazido, pelas palavras das crianças, torna-se atemporal, não importa quando ocorreu, mas o que ocorreu, portanto é, nessa perspectiva, que este capítulo foi embasado.

Começaremos descrevendo o ambiente hospitalar. Foi escolhido um Hospital em Cruz Alta que fazia atendimentos públicos e privados. Nele há a ala pediátrica. Já na entrada dessa ala, há um cartaz colorido, escrito Pediatria. Cada letra é de uma cor, e o fundo, azul. O corredor dos quartos é colorido já demonstrando que ali existem crianças, os quartos também são coloridos, há alguns quadros infantis pendurados na parede. O Hospital passou por reformas, e essa ala, como está, foi inaugurada no ano de 2015.

Os quartos dessa ala são compartilhados, ou seja, não há somente um leito. No mesmo quarto, pode haver várias crianças internadas, salvo os quartos de isolamento, nos quais crianças com doenças altamente transmissíveis ou com a imunidade muito baixa ficam. Nas internações, geralmente são separados meninas de meninos para ficarem nos quartos, exceto no quarto que é, como se dizia antes, a enfermaria, no qual existem muitos leitos e onde ficam internadas muitas crianças.

Na Pediatria, ficam as crianças atendidas pelo Sistema Único de Saúde, muitas crianças de baixo poder aquisitivo, conforme foi escrito no capítulo 2, aquelas crianças que, para receberem corretamente o tratamento medicamentoso, precisam estar internadas.

As conversas foram transcritas como ocorreram, situações e diálogos serão trazidos por achar que com neles há muito que se aprender, não foram trazidas as conversas inteiras, mas aquilo que, acreditamos, irá acrescentar as respostas às nossas perguntas.

4.1 “ESCREVIVENDO” A HISTÓRIA DE JOÃO

Ao entrar na enfermaria, vi, no primeiro leito, um menino com olhos vermelhos, sentado olhando para o leito da sua frente, no qual se encontrava uma mulher olhando para ele, sua mãe.

Ao dizer olá, a primeira pessoa a me responder foi a mãe. Depois uma voz fraquinha, baixando a cabeça, me disse “olá”. Com olhar tímido, sempre procurando os olhos da mãe, antes de qualquer coisa.

João tem 10 anos, é da cidade de Cruz Alta, foi internado porque não se sentiu bem, estava emagrecendo a cada dia, de acordo com relato da mãe. Ele descobriu, durante a internação, que tem Diabetes, por isso, segundo a mãe, ele

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