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1.2 DIREITO DAS CRIANÇAS

1.2.2 O Brincar nos Hospitais Perante a Legislação Brasileira

A exigência de Brinquedoteca nos hospitais que possuem atendimento pediátrico pela lei federal nº 11.104/2005, como demonstrado acima, é um objetivo nacional de saúde e está ligado com o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar, de 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso e com a

Política Nacional de Humanização, de 2005, no governo de Luís Inácio Lula da Silva (VILLELA; MARCOS, 2007).

Esta lei está movida tanto por estudos psicológicos e da área médica realizados em outros países, como também em iniciativas de trabalho voluntário, como o Doutores da Alegria15, que se tornou um marco para o brincar e para a ludicidade no hospital em nosso país (VILLELA; MARCOS, 2007).

A brinquedoteca exemplifica bem a valorização do brincar para a legislação e sua importância para a criança, porém pode deixar brechas sobre o que realmente acontece no cotidiano dos hospitais. Buscar tornar o ambiente hospitalar mais agradável para as crianças, sem a quebra do seu dia a dia, e mais, sem o rompimento com seu lúdico, com seu brincar, pode fazer parte da prática de humanização para a qual a saúde está caminhando.

Uma grande reforma na rotina hospitalar é sugerida por alguns autores nos Estados Unidos e na Inglaterra, na primeira metade do século passado. Arnold Gesell16 e outros teóricos propõem uma adaptação da rotina asséptica hospitalar, de regras e horários definidos para a adequação da natureza humana à rotina hospitalar. O que passou a ser entendido como um atendimento mais acolhedor, mais humanizado, um dos norteadores da humanização da saúde (IDEHARA; VILLELA, 2007).

No nosso país, as adaptações demoraram mais para ocorrer, podendo-se dizer que, apenas nas últimas duas décadas, e, mais acentuadamente, nos últimos dez anos, elas ganharam mais força. Além disso, os hospitais da rede pública acabaram demorando mais que os hospitais da rede privada para se adequar, uns ainda nem se adequaram (IDEHARA; VILLELA, 2007).

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Doutores da Alegria é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que há 25 anos promove as relações humanas e qualifica a experiência de internação em hospitais por meio da visita contínua de palhaços profissionais especialmente treinados em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. Fundada por Wellington Nogueira em 1991, a ONG foi inspirada no trabalho do Clown Care Unit, criada por Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus de Nova York. Wellington integrou a trupe de palhaços em 1988, satirizando as rotinas médicas e hospitalares mais conhecidas. Ao retornar ao Brasil, decidiu implantar um programa semelhante. Vinte e três anos depois, a ONG já realizou mais de um milhão de visitas a crianças hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de saúde. A base do trabalho é o resgate do lado saudável da vida e todos os seus projetos se utilizam da arte para potencializar as relações. (Fonte: http://www.doutoresdaalegria.org.br/conheca/sobre-os- doutores/. Acesso em: 30/06/2015 atualizado em 26 de agosto de 2016). Existem outras ONGs que realizam trabalho similar, em Porto Alegre podemos citar O Projeto Viver de Rir (http://projetoviverderir.com.br/. Acesso em: 26/08/2016).

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Arnold Lucius Gesell, americano, nasceu em 21/06/1880 e faleceu 29/5/1961. Foi o psicólogo desenvolvimentista que demonstrou maior interesse pelos aspectos maturacionais em desenvolvimento humano.

Infelizmente, no Brasil, a burocracia vence a boa intenção de um projeto de lei. Vemos muitos casos de brinquedotecas fictícias ou apenas inexistentes, pois, como visto na lei, não fica claro como deveria ser uma brinquedoteca, como se apenas um lugar com brinquedos resolvesse a questão. Locais com brinquedos, muitas vezes sucateados, que não despertam na criança o desejo de brincar, apenas servirão para ser um lugar de não utilização pelas próprias crianças, tornando-se muitas vezes, um ambiente insalubre, dando a impressão de não necessário e pouco importante para o Hospital. Também um local que fica de difícil acesso para as crianças, fechado constantemente, não resolverá o problema e permanecerá o hospital sendo um local que não favorece o brincar.

Claro que devemos estabelecer parâmetros distintos para a nossa discussão, afinal, desejamos um local para a criança brincar, porém temos, em contraponto, a fragilidade de muitos dos nossos hospitais. Então, se cria uma norma e não se cria a discussão para como deve ser o cumprimento dela, ou qual a melhor maneira de cumpri-la, buscando adequar cada realidade à lei.

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2 E O BRINCAR?

Para conseguir vislumbrar a criança brincando no ambiente hospitalar, partiremos neste momento do brincar, seus conceitos e demonstrações, para cada vez mais penetrarmos nesse universo que a dissertação quer trazer. Porém, já cabe salientar que esta pesquisa busca uma maneira de aprofundar na experiência da criança, do seu dizer e do brincar, ou seja, não desejamos apenas transcrever conceitos sem que eles nos tragam o que a realidade demonstrou. Se fizéssemos isso, deixaríamos de lado o nosso principal objetivo, que é perpassar pela experiência das crianças pesquisadas, de escutá-las e trazer à tona o que realmente elas pensam sobre o brincar, e não somente o que os conceitos revelam.

Neste capítulo vai ser referido o entendimento que se tem do brincar. Não há, acredita-se, criança que não brinque. Mesmo em alguma adversidade, toda criança dá um jeito de tornar qualquer coisa uma brincadeira. E lugar? Existe um lugar que pode e outro que não pode? Como explicar para uma criança onde se deve ou não brincar. A resposta é difícil, criança que é criança irá buscar na circunstância em que está inserida uma maneira de inventar um jogo, uma brincadeira.

Mesmo tendo um lugar, brincar, suas cirandas, jogos, brinquedos e cantigas sempre tiveram um lugar importante na vida de crianças, adolescentes e adultos, enfim, ele está inserido na construção histórica de um povo (MORAES, 2012).

Diversos autores nos inspiraram no decorrer da pesquisa, um encontro constante com Walter Benjamin e Jorge Larrosa aconteceu durante a escrita. Após contato com estes autores, ocorreu uma mudança de paradigmas, uma alteração na percepção, mudaram-se os óculos mais uma vez, como traz Larossa, no seu texto, uma transformação (LARROSA, 2011). Mesmo que estes autores não apareçam citados explicitamente, eles estão nas entrelinhas destas páginas.

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