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Será mesmo que existe um local correto para brincar? Como já falado anteriormente, se a criança brinca de acordo com o meio em que está inserida, se ela recria suas significações do cotidiano através do brincar, se seu corpo se “acende” para esse ato e, se ela se reinventa a cada brincadeira, fica complicado dizer onde ela ou não brincar.

Nas diferentes culturas que existem em nosso próprio país, em cada lugar a que se vá veremos uma criança brincando, seja na rua, seja na escola, seja em comunidades rurais, em shoppings e até em hospitais. Ela pode brincar de diferentes maneiras, utilizar brinquedos distintos, mas irá brincar.

A criança brinca, não importa o impedimento da situação. Isso a faz viver e sobreviver no mundo.

E no Hospital? A criança brinca? Evidente que a resposta é sim. Ela sempre dará um jeito de brincar, seja com jogos, com papéis e lápis de cor, brinquedos, com amigos imaginários, com os colegas de quarto, com os pais. O que nos desperta a curiosidade em pesquisar é como são as representações que a criança possui sobre esse espaço, sobre o que está passando ali, quais os significados que ela recria, a cultura inserida nesse momento.

É notório o valor do brincar para o desenvolvimento infantil e de todos os benefícios já citados (cognitivo, motor, afetivo, moral e social). No hospital, a criança também brinca apesar de sua doença, e podemos utilizar essa ação como precioso instrumento para a criança DIZER. Assim, o adulto pode comunicar-se com a criança através do brincar para entender seus anseios frente a essa situação (BATISTA, 2009).

Diferentes são as variáveis que podem influenciar nessa descoberta, e o cotidiano da criança é algo importante nesses achados, como diz Kishimoto (1999, p. 7):

O lugar que a criança ocupa num contexto social específico, a educação a que está submetida e o conjunto de relações sociais que mantém com personagens do seu mundo, tudo isto permite compreender melhor o cotidiano infantil – é nesse cotidiano que se forma a imagem da criança e do seu brincar.

O Hospital pode ser uma das variáveis na vida da criança, pois, em algum momento da vida, ela poderá se deparar com esse local, e ele também fará parte de sua história, fazendo com que seu cotidiano, durante aquele período, fique alterado, produzindo marcas nas suas representações e significações.

Os seres humanos são caracterizados pela presença de diferentes valores, e eles dão sentido às imagens culturais de cada época. Esse contexto faz com que todos, não somente as crianças criem imagens a partir do cotidiano. Tais imagens não decorrem de concepções psicológicas de natureza cientifica, elas retiram informações, valores e preconceitos da vida, do dia a dia conforme nos ensina Kishimoto.

A criança pode se utilizar da linguagem do brincar para instruir-se de novas situações, ordenando psiquicamente vivências do seu dia a dia e talvez alguns conflitos internos. Brincar promove o ingresso à atividade simbólica, e, através dos jogos simbólicos, a realidade em que está inserida pode ser assimilada à realidade interna (BATISTA, 2009). Essa atividade simbólica que nos interessa uma atividade lúdica, portanto, poderá ser o desenho.

A situação lúdica pode motivar a criança, ainda mais se ela ocorrer em uma experiência possivelmente exigente, permitindo ao participante um intercâmbio significativo com o meio ambiente. O brincar também pode proporcionar uma fuga da realidade, pode aliviar e relaxar a criança que está passando por alguma pressão (MOYLES, 2007).

Neste estuda concluo que é importante para os profissionais que atuam na saúde notar que a criança está construindo o seu brincar da forma mais espontânea e livre possível. Nesse sentido, o hospital pode tornar-se um local no qual a criança confie, afinal, ali estão sendo buscados recursos para a sua melhora de saúde, para sua recuperação. Esse clima de confiança favorece a expressão dos sentimentos da criança oriundos dessa condição. Por esse motivo, precisamos trazer outras linguagens para dentro dos hospitais, evitando falar expressões que muitos profissionais falam para as crianças como: “Menina bonita não chora”, “Menino que é menino não tem medo”, “Se continuar a chorar vou chamar a enfermeira para lhe dar uma injeção”. Essas frases podem inibir a expressão das emoções da criança e aumentar a sua ansiedade. Segundo Batista (2009, p. 101).

A partir da expressão desses sentimentos, podemos conhecer os temores e as preocupações da criança e ajudá-la a reduzir seus medos, ressaltando os aspectos positivos da hospitalização, como por exemplo, enfatizar que o tratamento pode contribuir para que ela se sinta melhor. Evita-se dessa maneira, que a criança viva a experiência hospitalar e/ou cirúrgica como um castigo, dado que, frequentemente, a criança em idade escolar pensa que seus pais a internaram por algo que tenha feito de errado de mau e que eles vão abandoná-la no hospital.

A criança, mesmo quando impedida de brincar, como por exemplo, na hora de comer, ou em ocasiões dadas pelos adultos como sérias, acaba por cair na brincadeira, seja com um pouco de comida, seja com as mãos, qualquer coisa pode fazê-la brincar. Não é por estar internada no hospital que deixaria de lado o brincar, somente se sua condição de saúde não lhe permitir.

Mesmo assim, a brincadeira da criança enferma nos traz alívio, pois nos lembra de como a criança estava antes da doença, faz achar que está melhorando, que os medicamentos e as ações estão dando certo.

Todavia, o hospital é um ambiente estranho para a criança e nele, ela também requer cuidados, e esses cuidados podem interferir na brincadeira de que a criança gosta ou quer fazer. Ela não poderá correr nos corredores, jogar bola, pular como se estivesse em casa e não estivesse com alguns aparatos comuns desse local. O soro no braço pode impedir algumas brincadeiras, mas não impede o brincar, e, inclusive, o que esse soro representa para a criança naquele momento pode ser visto pelo brincar.

Enfim, brincar além de tranquilizar os adultos faz com que a criança crie um ambiente próspero e relaxante para sua melhora. Também a faz refletir sobre o que está passando, dentro ou fora da realidade.

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