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A COOPERAÇÃO NA DIVISÃO DO TRABALHO

1. DA AÇÃO À DESINTEGRAÇÃO DO INDIVÍDUO: Uma Exposição do Sentido do

1.8. A COOPERAÇÃO NA DIVISÃO DO TRABALHO

A deficiência do pensamento marxista decorre porque o princípio de divisão do trabalho

é anterior à idéia que temos dele do ponto de vista social e econômico. Ele está presente nas

ciências em que o princípio de cooperação existe. A divisão do trabalho para estimular a

cooperação constitui um fenômeno social básico e aumenta o resultado obtido no

empreendimento da produção humana. Nas palavras de Ludwig Von Mises:

“A experiência ensina ao homem que a ação em cooperação é mais eficiente e produtiva do que a ação isolada de indivíduos auto-suficientes. As condições naturais determinantes da vida e do esforço humano fazem com que a divisão do trabalho aumente o resultado material por unidade de trabalho despendido. Esses fatos naturais são:

Primeiro: a inata desigualdade dos homens em relação à sua capacidade de realizar diversos tipos de trabalho. Segundo: a distribuição desigual dos recursos naturais, não humanos, sobre a superfície da terra. Pode-se também considerar estes dois fatos como um mesmo fato, qual seja, a diversidade da natureza que faz do universo um complexo de infinita variedade. Se a superfície da terra fosse de tal ordem que as condições físicas de produção fossem as mesmas em qualquer parte, e se os homens fossem entre si tão iguais como o são dois círculos de mesmo diâmetro na geometria euclidiana, não teria surgido, entre os homens, a divisão do trabalho.

Há ainda um terceiro fato: o de existirem tarefas cuja realização excede as forças de um só homem e exige o esforço conjunto de muitos. Algumas tarefas requerem uma quantidade de trabalho que nenhum homem sozinho seria capaz de despender, pelo simples fato de sua capacidade de trabalho ser limitada. Outras poderiam ser realizadas por um indivíduo, mas o tempo que teria que despender seria tão longo, que o resultado só seria alcançado tarde demais, somente o esforço conjunto torna possível atingir o fim pretendido.”62

Recordamos que o principal meio de ação no mundo é o trabalho; e a ação é sempre

ação de indivíduos. Então, a divisão do trabalho, estimulando a cooperação se presta a um

fim, que é o homem viver em sociedade. Ambos os conceitos, divisão de trabalho e sociedade

estão intimamente ligados. Ludwig Von Mises descreve-nos esses conceitos:

“Sociedade é ação concertada, cooperação.

A sociedade é a conseqüência do comportamento propositado e consciente. Isso não significa que os indivíduos tenham firmado contratos por meio dos

62 MISES, Ludwig Von. Ação Humana: Um tratado de Economia. Tradução de Donald Stewart Jr. Rio de

quais teria sido formada a sociedade. As ações que deram origem à cooperação social, e que diariamente se renovam, visavam apenas à cooperação e à ajuda mútua, a fim de atingir objetivos específicos e individuais. Esse complexo de relações mútuas criado por tais ações concertadas é o que se denomina sociedade. Substitui, pela colaboração, uma existência isolada – ainda que apenas imaginável – de indivíduos. Sociedade é divisão de trabalho e combinação de esforços. Por ser um animal que age, o homem torna-se um animal social.”63

Na utilização de sua razão, o homem percebeu que a existência da cooperação, da

sociedade e da civilização somente seriam possíveis caso ele se unisse aos outros homens. O

ser agente percebeu que poderia obter muito mais da vida ao adotar a regra de viver em

sociedade como fator primordial para atingir o fim natural de toda uma existência.

Consciência de espécie, senso de comunidade ou de propriedade comum são termos

utilizados pelos sociólogos para explicar o fenômeno de se viver em sociedade. No entanto,

todos estes conceitos são aplicáveis somente se reconhecermos “o fato de que todos os outros

seres humanos são virtuais colaboradores na luta pela sobrevivência, porque são capazes de

reconhecer os benefícios mútuos da cooperação, enquanto que os animais não têm essa

capacidade.”

64

Não vamos explicar neste trabalho a origem da sociedade. Adotaremos a explicação

praxeológica de Von Mises sobre sociedade e divisão do trabalho:

“Se, e, na medida em que, pela divisão do trabalho obtém-se maior produtividade do que a obtida pelo trabalho isolado, e se, na medida em que, o homem seja capaz de perceber este fato, a ação humana tende, naturalmente, para a cooperação e para a associação; o homem torna-se um ser social não por sacrificar seus interesses em favor de um mítico Moloch, a sociedade, mas porque pretende melhorar seu próprio bem-estar. A experiência ensina que esta condição – maior produtividade alcançada pela divisão do trabalho – se torna efetiva porque sua causa – a desigualdade inata dos homens e a desigual distribuição geográfica dos fatores naturais de produção – é real. É este fato que nos permite compreender o curso da evolução natural.”65

Ao refletirmos sobre a divisão do trabalho, é evidente que temos que falar também de

seus efeitos negativos. E, como uma imagem vale mais do que mil palavras, recordamos o

63 MISES, Ludwig Von. Ação Humana: Um tratado de Economia. Tradução de Donald Stewart Jr. Rio de

Janeiro: Instituto Liberal, 1995. 2. ed. pp. 1-199. p. 143.

64 Ibidem. p. 144. 65 Ibidem. p. 160.

filme de Charles Chaplin – Tempos Modernos

66

, de 1936, em que o principal personagem se

vê envolvido com uma série de situações justificadas pelos “tempos modernos” em que vive.

Os momentos em que o personagem está em uma linha de montagem são um retrato fiel

do que entendemos por divisão do trabalho no chão de fábrica. Nas cenas ambientadas na

fábrica, temos como ação do personagem o “apertar de parafusos” de um produto qualquer. O

trabalho é compartilhado por outros dois personagens na linha de montagem, é repetitivo e

desgastante a ponto de encaminhar o principal personagem para o manicômio.

Os múltiplos efeitos negativos da divisão do trabalho estão ali registrados de forma

exacerbada e magistral.

Podemos citar entre os principais efeitos da divisão do trabalho, do ponto de vista do

trabalhador: 1) a intensificação da desigualdade inata dos homens, pois exige que o

trabalhador se torne especialista no processo que executa no trabalho e 2) o desenvolvimento

de certas habilidades necessárias ao trabalho faz com que o homem deixe suas outras

habilidades de lado.

Segundo Ludwig Von Mises, a mecanização também pode ser considerada um fator

intensificador dos efeitos da divisão do trabalho.

“A divisão do trabalho divide os vários processos de produção em tarefas mínimas, muitas das quais podendo ser realizadas por dispositivos mecânicos. Este fato tornou possível o uso das máquinas e provocou o assombroso progresso das técnicas de produção. A mecanização é fruto da divisão do trabalho, sua conseqüência mais benéfica, e não sua causa e sua fonte. A maquinaria especializada movida a motor só poderia ser empregada num ambiente social onde predominasse a divisão do trabalho. Cada avanço na direção do uso de máquinas mais especializada, mais refinadas e mais produtivas exige uma maior especialização das tarefas.”67

1.9. ESPECIALIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO INDIVÍDUO.

66 TEMPOS Modernos. Direção de Charles Chaplin. EUA: Charles Chaplin Productions, 1936.

67 MISES, Ludwig Von. Ação Humana: Um tratado de Economia. Tradução de Donald Stewart Jr. Rio de