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2.1 Cordel: gênero discursivo, literatura e cultura

2.1.4 Estado do conhecimento: o que dizem recentes pesquisas sobre cordel?

2.1.4.2 Cordel: o que revelam as dissertações e teses da UFPE, de 2010 a 2016

Examinamos, também, os trabalhos presentes no Banco de Teses e Dissertações da UFPE. Para tanto, utilizamos como palavra-chave o termo “cordel” e como recorte temporal os estudos publicados neste repositório entre os anos de 2010 e 2016. Neste primeiro levantamento, obtivemos uma listagem de 249 trabalhos de diferentes áreas do conhecimento. Realizamos a leitura dos resumos dessas pesquisas e, em vários casos, dos trabalhos por completo. Evidenciamos, que, em muitos deles, o cordel não era objeto de análise ou até mesmo de discussão. Excluímos, portanto, as pesquisas em que o cordel era pouco referenciado e que, por não se deterem a este tema, não correspondiam ao propósito dessa investigação.

Assim, alguns desses estudos eliminados apresentavam o cordel como um dos achados e não, propriamente, como um objeto de investigação. À guisa de exemplo, podemos citar o estudo conduzido por Costa (2012), que pretendeu caracterizar e analisar os murais didáticos elaborados por alunos do ensino fundamental II e do ensino médio, oriundos de escolas públicas e privadas. Um dos murais investigados pela autora foi elaborado em torno do gênero discursivo cordel. Costa (2012), então, constatou que o objetivo desse mural era o de, exclusivamente, socializar as produções dos alunos em torno do gênero e embora isto não tivesse alterado a estrutura do cordel, a sua funcionalidade

imediata havia sido afetada, pois apresentava características distintas sob o ponto de vista da textualização.

Santos (2015), também, teceu algumas considerações em torno do cordel, ao problematizar os usos e os significados das práticas de leitura e escrita ocorridas em uma escola do campo. Para trabalhar este gênero literário, a autora percebeu que uma professora do 5º ano do ensino fundamental se utilizava de outros gêneros discursivos, como a entrevista e o relato, porque eram aqueles com que as crianças tinham maior familiaridade.

Após a análise de todos os trabalhos e atendendo aos requisitos supracitados de seleção desses estudos, restaram apenas 7 pesquisas, sendo 4 teses e 3 dissertações, como podemos observar no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição de teses e dissertações, por ano de publicação, defendidas na UFPE

Fonte: A Autora (2017)

Notamos, no Gráfico 2, que durante os anos de 2010, 2012, 2013, 2015 e 2016 houve poucas publicações (uma ou duas em cada ano) e, no caso de 2011 e 2014, não foram encontrados trabalhos que atendessem aos requisitos deste estudo. Contudo, isso não significa dizer que o cordel não tenha sido pesquisado nesse período, pois reconhecemos que poderíamos ter elegido outras palavras-chaves (como folheto, livreto e outras) em substituição ao vocábulo cordel. No entanto, ainda parecem ser poucos os trabalhos que se detêm a esta temática na base de dados estudada.

No que se refere às áreas nas quais esses trabalhos foram produzidos, constatamos, no Gráfico 3, que a grande maioria de teses e dissertações sobre cordel foi produzida na área de História (3), o que representa 43% do total dos trabalhos encontrados. Nas demais áreas

0 0.5 1 1.5 2 2.5 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Teses Dissertações

do conhecimento (Letras e Linguística, Geografia, Educação e Ciências da Informação), a quantidade de produções foi a mesma (1), como fica evidente no Gráfico 3.

Gráfico 3 – Áreas de origem das teses e dissertações sobre cordel produzidas na UFPE, no período de 2010 a 2016

Fonte: A Autora (2017)

Apesar da escassez, no que se refere ao número de trabalhos, as temáticas contempladas nestas pesquisas foram bastante variadas, como exposto no Quadro 1.

Quadro 1 – Temática das teses e dissertações sobre cordel produzidas na UFPE, no período de 2010 a 2016

TEMAS DAS DISSERTAÇÕES E TESES ÁREAS DO CONHECIMENTO

Informação e memória na literatura de cordel Mestrado em Ciências da Informação Memórias da educação pelo cordel em Recife na

década de 70

Mestrado em Educação J. Borges entre folhetos e xilogravuras na década de

1970

Doutorado em História A (re)criação do imaginário Lampiônico como

tradição da cultura serratalhadense

Mestrado em Geografia A Trajetória do Poeta José Costa Leite Doutorado em História As representações identitárias femininas no cordel do

século XX ao XXI

Doutorado em Letras História de botijas e os labirintos do universo

assombroso na Paraíba Doutorado em História Fonte: A Autora (2017) Letras e Linguística História Ciências da Informação Educação Geografia 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Letras e Linguística História Ciências da

Informação Educação Geografia

Concomitantemente às áreas de conhecimento investigadas e às temáticas abordadas nessas investigações, buscamos, também, observar os procedimentos metodológicos comumente utilizados nessas teses e dissertações (GRÁFICO 4).

Gráfico 4 – Metodologias empregadas nas teses e dissertações sobre cordel produzidas na UFPE, no período de 2010 a 2016

Fonte: A Autora (2017)

No Gráfico 4, percebemos que a técnica de história oral, utilizada nas teses em História, obteve uma maior incidência nesses estudos (3). Nessa direção, podemos citar a tese produzida por Cabral (2016), que, a fim de investigar a trajetória e produção artística do poeta José Costa Leite, recorreu à técnica da história oral e, como ponto de partida, mobilizou um vasto corpus documental, constituído pela autobiografia, folhetos de cordel, xilogravuras, almanaques sertanejos, cartas recebidas, textos manuscritos e relatos de memórias obtidos através de entrevistas.

Do total de 7 trabalhos encontrados, 2 dissertações foram desenvolvidas a partir da análise documental, valendo-se também de entrevistas semiestruturadas. Silva (2012) fez uso da análise documental e de entrevistas semiestruturadas para identificar os processos informacionais presentes na literatura de cordel. Para a autora, os assuntos abordados no cordel, que retratam lembranças e fatos de uma determinada época, fazem dele uma importante fonte de informação e, também, de compreensão da memória social e coletiva.

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5

História oral Análise Documental Análise Documental e Entrevistas

semiestruturadas

Estudo de Caso, Entrevistas semiestruturadas e Análise…

História oral Análise Documental Análise Documental e Entrevistas semiestruturadas Estudo de Caso, Entrevistas semiestruturadas e Análise Documental Dissertações 0 0 2 1 Teses 3 1 0 0

Barbosa (2010), por sua vez, investiu exclusivamente na análise documental para investigar as representações femininas presentes nos cordéis ao longo dos séculos XX e XXI. Através da análise de 46 folhetos, cujo tema era a mulher em situações ficcionais distintas, a autora demonstrou os estereótipos femininos recorrentes ao longo do século XX, nesses folhetos, segundo o prisma do olhar patriarcal, e a desconstrução dessa cultura, a partir do novo século (XXI). Barbosa (2010) evidenciou que, à medida que o olhar dos escritores sobre a mulher se transformava, o próprio gênero era renovado. A referida autora explica, ainda, que as capas dos cordéis eram um dos artifícios estéticos que expressavam, também, essas abordagens diferenciadas sobre as mulheres.

Na dissertação de Silva (2013), que realizou um estudo de caso, percebemos o papel educativo do cordel nas aulas de uma professora da 4.ª série da Escola Estadual Professora Eunice Beltrão, localizada na cidade do Recife, na década de 1970. Ela constatou que os folhetos eram usados como um recurso didático importante para a aprendizagem das disciplinas escolares, o que, mais tarde, também, influenciou a profissão de cordelista de um dos alunos daquela turma.

Face aos dados obtidos por meio deste levantamento, constatamos que, embora o cordel fosse o objeto de estudo de todas essas pesquisas, as produções possuíam variados temas. Não obstante, ainda existe uma escassez de trabalhos cujo foco seja o cordel. Essa literatura, embora pouco frequente no conjunto da produção acadêmica deste repositório, como demonstramos anteriormente, concentrou-se, em sua quase totalidade (43%), na área de História como quadro de referência teórica. Isso parece demonstrar, mais uma vez, a importância científica dessa nossa pesquisa.

2.2 Consciência metatextual: reflexão sobre diferentes dimensões do texto/gênero