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Correlação Psicanalítico-Adaptativo utilizando Modelo de Geometria Analítica

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2 Adaptação Ineficaz Leve

1.2.4 Correlação Psicanalítico-Adaptativo utilizando Modelo de Geometria Analítica

Como pode ser visto na seção anterior considera-se os fatores internos e externos para compor a qualidade da adaptação do indivíduo. Nesta sessão será apresentado o Modelo de Geometria Analítica, no qual, um gráfico auxilia a compreensão abstrata da correlação dos fatores em sua influência na determinação da adaptação, e assim o diagnóstico do indivíduo em questão. Lorand (1950) considera que uma das realizações de Freud foi seu descobrimento das diferentes etapas do desenvolvimento inicial da criança, esta influência é fundamental na formação da personalidade do adulto, sendo que, o indivíduo pode fixar-se nestas etapas e com o tempo tais fixações afetarão muito os ajustamentos individuais na vida adulta.

Para tal feito, Simon (2005) trata dos conceitos de constituição representando os fatores internos, e de ambiente os fatores externos, como fatores etiológicos que se combinam quantitativamente na determinação dos distúrbios mentais e seus efeitos adaptativos. Lorand (1950) coloca que algumas peculiaridades se desenvolvem em maior ou menor grau e que influência a determinação dos tipos de caráter, elas são: os fatores constitucionais e ambientais.

O gráfico é composto de coordenadas que se cortam perpendicularmente a partir de um eixo horizontal “x‟x” de abscissas, que representará os fatores internos, constitucionais instintivos. Já o eixo vertical de ordenadas “y‟y” representará os fatores externos, ambientais (Figura 3). Simon (2005) apresenta uma conceituação complexa quando quantifica graficamente os fatores ambientais e constitucionais. Para ele não existe força instintiva nula;

bem como não existe ambiente favorável ou desfavorável absoluto. Assim sendo, Simon (2005), descreve que quando se considera a representação factual, aritmética, ou gráfica, da correlação dos fatores instintivos e ambientais, os dados quantitativos expressam um diferencial do somatório das quantidades positiva e negativa destes fatores. “Assim os valores admissíveis dos diferenciais dos somatórios das variáveis constitucionais e ambientais, isso é da soma dos dois vetores, são: -2, -1-, +1 e +2” (SIMON, 2005, p. 68).

Figura 3. Correlação dos diferenciais dos fatores internos x x‟ (constitucionais) e fatores externos y y‟ (ambientais).

Para melhor compreensão e ilustração, Simon (2005) descreve novamente os conceitos de fatores externos – ambientais e os subdivide em duas categorias: ambiente rejeitador e ambiente acolhedor. No ambiente rejeitador pontua que neste predominam-se os fatores externos negativos (-1, -2), considera que ambiente pode favorecer padrões de conduta provocando uma rígida relação de objetos externos, que são a seguir internalizados, e tendem a ser projetados nas relações atuais. Já no ambiente acolhedor predominam-se os fatores externos positivos (+1,+2) e assim contribui para uma integração profícua entre o mundo interno e externo, gratificando e frustrando adequadamente, amparando e induzindo à ação quando necessário, poucas fixações inibitórias ou perversas se operam na personalidade (SIMON, 2005).

Na investigação psicanalítica, Lorand (1950) coloca que é de essencial importância que se verifique influência que o ambiente exerce sobre o desenvolvimento, cada fase deixa uma marca no indivíduo e a cada nova experiência acrescenta algo ao modelo de conduta anterior. Lorand (1950) sugere que entendamos por ambiente as atitudes parentais, aprenderemos “a apreciar as influências dos pais na criança, os atos instintivos desta e a observar, no transcorrer do desenvolvimento, os padrões de reação que se formam na criança como resultado da influência dos pais” (LORAND, 1950, p.92). Os padrões destas reações se tornam permanentes e se manifestam na vida posterior diante da sociedade. Isso é o caráter que consiste de hábitos que normalmente não somos conscientes, porque impulsos nos levam a comportamentos automáticos e cumprem exigências sociais.

Simon (2005) descreve também os conceitos de fatores internos – constitucionais, os subdividindo em duas categorias: fator interno negativo (instinto de morte excessivo) e fator interno positivo (instinto de vida). Klein (1957) coloca que os fatores internos são inatos e dependem até certo ponto das circunstâncias externas. Lorand (1950) contribui dizendo que existem elementos constitucionais que podem afetar o caráter e a personalidade. As características adquiridas na infância exercem influência continua e inconsciente sobre o comportamento do indivíduo.

Segundo Simon (2005) os fatores internos negativos estabelecem-se, desde as primeiras experiências de vida uma predisposição para relações objetais e estados emocionais do self permeados por angústias persecutórias. Klein (1957) sobre isso diz que a ameaça de aniquilamento pelo instinto de morte é a ansiedade primordial, e é o ego a serviço do instinto de vida, atividade principal do ego.

Lorand (1950) acrescenta ainda que quando há inibições e transtornos estes se devem parcialmente aos fatores constitucionais e, em grande parte, aos ambientais. Klein (1957, p. 117) acrescenta:

O predomínio de objetos persecutórios internos reforça os impulsos destrutivos; enquanto que, se o objeto bom se encontra bem estabelecido, a identificação com ele fortalece a capacidade de amar, os impulsos construtivos e a gratidão. (...) se o objeto bom se acha profundamente enraizado, as perturbações temporárias podem ser suportadas e se lança o alicerce da saúde mental, da formação do caráter e do desenvolvimento bem sucedido do ego.

Simon (2005) pontua que a carga do instinto de morte é necessária para a sobrevivência, sem esse não disporia de força para defender-se, destruir para reconstruir, e realizar tantas outras ações que requerem agressividade. Espera-se então, que o instinto de morte interaja com o instinto de vida de uma forma equilibrada para que haja adaptação

eficaz. Os fatores internos positivos estão aliados ao instinto de vida e promove a integração da personalidade, a reconstrução ou reparação do que ficou prejudicado, para assim, buscar o crescimento e a maturação do indivíduo.

Segundo Klein (1957) a capacidade tanto para o amor quanto para os impulso destrutivos é constitucional até certo ponto, variando individualmente em intensidade e interatuando com condições externas. A carga suficiente do instinto de vida predispõe ao contato adequado com a realidade, preside a saúde mental e a busca de soluções adequadas para as situações-problema suscitadas pela existência (SIMON, 2005). Klein expõe que certa quantidade de frustração seguida pela gratificação, pode dar ao bebê a sensação de lidar com sua ansiedade. O conflito e a necessidade de vencê-lo é elemento fundamental na criatividade. Outro fator que influencia o desenvolvimento, segundo Klein (1957), é a variedade de experiências externas pelas quais o bebê passa, e que acaba por determinar o desenvolvimento de suas ansiedades primitivas. Klein (1957) descreve que o impacto das experiências externas é proporcional à força constitucional dos impulsos destrutivos inatos e das ansiedades paranóides decorrentes.

No ambiente rejeitador há o predomínio dos fatores externos negativos como agressões físicas ou afetivas e permissividade ou superproteção. Neste ambiente há o favorecimento de padrões de conduta, segundo Simon (2005), que provoca rigidez nas relações entre os objetos externos, que guardando este padrão são internalizados. Estes, em seguida, tendem a ser projetados nas relações atuais – e passam a fazer parte dos fatores internos, constitucionais. Estes podem ser de uma ordem relacional ou pulsional. No caso das relações que foram introjetadas, estas seriam de ordem relacional, mas seu funcionamento no mundo psíquico não difere dos pulsionais.

No ambiente acolhedor há fatores externos positivos. É o ambiente que gera na pessoa um sentimento bom como de sentir-se querida e respeitada. Mas, por outro lado, é o que frustra o suficiente para a pessoa aprender a respeitar os limites. Encoraja a criança a enfrentar as situações aterrorizantes da fantasia e os perigos reais compatíveis com seus recursos, diferenciando-os, e, desse modo, favorece a integração do ego. Da mesma maneira estas relações flexíveis seriam introjetadas e passariam a fazer parte dos fatores constitucionais relacionais (Simon, 2005). Também diríamos que as experiências externas sofrem a ação dos impulsos libidinais ou amorosos inatos.

Klein (1952) acrescenta que nos estados de integração, a síntese entre o amor e ódio, em relação aos objetos parciais, dá origem a ansiedade depressiva, à culpa e ao desejo de

fazer reparações ao objeto amado e danificado, assim o início da ansiedade depressiva provém da relação com os objetos parciais.

Klein (1952) coloca que o bebê, durante o segundo trimestre do primeiro ano, sofre algumas mudanças no desenvolvimento, em sua relação com o mundo externo, as coisas e as pessoas, ganham maior diferenciação. As gratificações e interesses aumentam o poder de expressar suas emoções e em se comunicar com as pessoas, o que é prova do desenvolvimento do ego. A relação com o mundo externo, e a necessidade de integração, consciência, capacidades intelectuais contribuem para o desenvolvimento firme das funções do ego. Em paralelo, a organização sexual da criança também progride, embora os impulsos e desejos orais e anais ainda predominem. Há uma confluência de diferentes fontes de libido e agressão, que dá novo colorido à vida emocional infantil e coloca em destaque novas situações de ansiedade, o âmbito da fantasia é ampliado, se tornando mais elaboradas e diferenciadas. Há uma mudança na natureza das defesas.

Na posição depressiva, há necessidade de integração e introjeção de pessoas totais. Os vários aspectos divergentes – bons e maus, se aproximam de uma união completa e constituem a totalidade, assim os processos de síntese operam nas relações objetais internas e externas, e o ego é impelido a diminuir a discrepância entre as figuras internas e externas. Deste movimento de integração é experimentada a ansiedade depressiva e os sentimentos de culpa se alteram em quantidade e qualidade, já que a ambivalência é experimentada em relação a um objeto completo e amado, sendo que os impulsos destrutivos são sentidos como um enorme perigo aos objetos amados, internos e externos (KLEIN, 1952).

O ego por sua vez, inibe cada vez mais os desejos instintivos, e assim reconhece a realidade psíquica cada vez mais pungente, e para aplacar esta realidade recorre constantemente a defesas maníacas, como a negação, a idealização, a divisão e ao controle dos objetos internos e externos, são mecanismos utilizados pelo ego a fim de neutralizar a ansiedade persecutória, são métodos onipotentes, que são mantidos quando a posição depressiva emerge, para neutralizar a ansiedade depressiva. Assim na integração e síntese tornam-se menos extremas e correspondem à crescente capacidade do ego para enfrentar a realidade psíquica (KLEIN, 1952).

Diante das tentativas do ego para controlar os objetos externos e internos, Klein (1952) coloca que quando a ansiedade depressiva tem ascendente, o controle de objetos e impulsos é usado pelo ego a fim de impedir a frustração. E assim ocorrem importantes avanços no desenvolvimento do ego, que o habilitam a criar defesas mais adequadas contra a ansiedade que resultam numa diminuição real de ansiedade, assim a criança pode compreender melhor o

mundo externo. Quando existe uma introjeção de uma realidade externa mais tranqüilizadora, o mundo externo melhora.

Gradualmente, à medida que o bebê vai reintrojetando um mundo externo mais realista e tranqüilizador, vai estabelecendo dentro de si objetos completos e ilesos, assim ocorrem desenvolvimentos essenciais na organização do superego, sendo este progressivamente assimilado pelo ego. Neste estágio, o impulso de fazer a reparação do objeto danificado entra em plena atividade, e esta inextricavelmente vinculados a sentimentos de culpa. Pois quando o bebê sente que os seus impulsos e fantasias de destruição estão dirigidos contra a pessoa completa de seu objeto amado, a culpa emerge, bem como a urgência de fazer a reparação, de preservar ou reanimar o objeto amado e danificado.

A tendência reparadora provém do instinto de vida, fundamentalmente, e trás consigo fantasias e desejos libidinais, e é por esta, que a depressão é mantida sob controle e diminuída.

Klein (1952, p.233) coloca que o bebê a partir de um desenvolvimento normal:

Sente que todos os passos do desenvolvimento, todas as novas realizações, estão dando prazer às pessoas que o rodeiam e que, desta maneira, ele exprime seu amor, neutraliza ou desfaz danos causados por seus impulsos agressivos, levando a reparação aos seus objetos amados e danificados.

Klein (1952) conclui então assim, as relações com as pessoas desenvolvem-se, a ansiedade persecutória relacionada com objetos internos e externos diminui, os bons objetos internos tornam-se mais firmemente estabelecidos, é gerado um sentimento de maior segurança, e este conjunto fortalece o ego. Klein (1952) afirma que o ego mais forte a mais coeso, embora faça grande uso da defesa maníaca, conjuga e sintetiza repetidamente os aspectos destacados do objeto e do eu.

Klein (1952, p.234) conclui que assim que “a percepção da realidade aumenta e os objetos aparecem a uma luz mais realista. Toda essa evolução acarreta uma adaptação crescente à realidade externa e interna”.

A explanação sobre os fatores é importante para retomar o modelo da geometria analítica plana e para indicar a interação entre estes. Os fatores internos – constitucionais, e fatores externos – ambientais, se influenciam na determinação da adaptação.

Simon (2005) considera que há quatro grupos adaptativos em cada quadrante, nos quatro quadrantes, tem-se então 16 grupos, como pode ser vista na Figura 2 (SIMON, 2005, p. 74). Tais grupos serão: adaptado eficaz (1a,1b,1c); ineficaz leve (2a, 2b, 2c); ineficaz moderado (3a, 3b, 3c, 3d); ineficaz severo (4a,4b,4c); ineficaz grave (5a,5b,5c). O algarismo e a letra que designam a área compreendida pelo encontro das coordenadas correspondem ao ponto de encontro formado pela junção da abscissa e da ordenada.

Após a apresentação dos conceitos de adaptação e crise, situações-problema, fatores internos e externos e o Modelo de Geometria Analítica, faz-se necessário discorrer sobre a intervenção a ser utilizada neste estudo a Psicoterapia Breve Operacionalizada (PBO).

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