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Fatores Internos e Externos

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2 Adaptação Ineficaz Leve

1.2.3 Fatores Internos e Externos

A teoria dos fatores é umconceito básico que fundamenta a aplicação da Psicoterapia Breve Operacionalizada. Os fatores, segundo Simon (2005), são a principal unidade de rastreamento ao planejar a Psicoterapia Breve Operacionalizada. Ao identificar os fatores pode ser que haja fatores favoráveis ao trabalho terapêutico, sendo necessário, reforçá-los; e o oposto, referente aos fatores desfavoráveis, sendo preciso combatê-los. Desta forma, espera-se melhorar a adequação das soluções às situações-problema definidas na entrevista.

Simon (2005, p.33) considera os fatores “como concepção genérica de fatos que interagem mediados pelo ego, influindo na adequação” da adaptação. A manutenção da adequação adequada ou inadequada depende da positividade ou negatividade dos fatores. A positividade é atribuída aos fatores quando eles influem para soluções adequadas no enfrentamento das situações-problema. Por outro lado são negativos quando determinam soluções inadequadas.

Os fatores internos (f/i) são aqueles que fazem parte do mundo mental do sujeito. Eles podem ser tensionais (f/t), defensivos (f/d), objetais (f/Oi) e orgânicos (f/Or). Os tensionais “incluem as pressões exercidas pelas necessidades, desejos e emoções no relacionamento interpessoal, e também as relações intrapsíquicas do self com seus objetos internos” (SIMON, 2005, p.33). Os defensivos são os mecanismos de defesa. Os objetais referem-se à constelação de objetos internalizados. E os orgânicos dizem respeito à estrutura biológica. Quanto aos fatores externos (f/e) são as situações objetivas significativas para o sujeito (SIMON, 2005).

Simon (2005) considera que a interação entre os fatores geram soluções, que são armazenadas na memória. Abrangem repertórios de aprendizagem capazes de funcionar como predisposições adaptativas, disponíveis para interação com fatores externos do presente.

A partir de tais considerações, Simon (2005) amplia a rede de conceitos constituintes de sua Teoria da Adaptação e fornece uma aproximação entre a clínica e as noções metapsicológicas dos instintos de vida e de morte propostos por Freud para a teoria psicanalítica, de modo que estas possam se enriquecer reciprocamente. Há então a possibilidade de desenvolver uma concepção mais fundamentada da noção de fatores internos da Teoria da Adaptação junto com uma compreensão mais operacionalizada dos conceitos de defesas e impulsos psíquicos da Psicanálise.

o ego está constantemente se protegendo contra o sofrimento e a tensão a que a ansiedade dá origem, e, portanto, faz uso de defesas desde o início da vida pós-natal. (...) a maior ou menor capacidade do ego em suportar a ansiedade estabelece fator constitucional que influencia fortemente o desenvolvimento das defesas.

Não é possível descrever os fatores internos sem descrever as concepções de Melanie Klein sobre a formação do ego primitivo no indivíduo, a partir da vivência deste frente à ameaça de aniquilamento pelo instinto de morte – a ansiedade primordial.

Klein (1957) coloca que a principal atividade do ego é mediar a luta entre os instintos de vida e de morte e a integração gradual se deriva do instinto de vida e se expressa pela capacidade de amar. Por outro lado, interagindo constantemente com o instinto de morte, Klein (1957) coloca que há uma tendência oposta que se constitui de uma defesa diante do aniquilamento, ansiedade primordial, para preservação do ego.

Klein (1957) coloca então que a separação do seio em objeto bom e objeto mal se origina do conflito inato entre o amor e o ódio e das ansiedades decorrentes. Klein (1957) atribui que a dispersão dos impulsos destrutivos e das ansiedades internas variando em intensidade e determinando menor e maior normalidade do indivíduo, são as defesas durante a posição esquizoparanóide.

A posição esquizoparanóide, segundo Klein (1957), se estende entre os primeiros três ou quatro meses de vida, no qual o bebê sente ansiedades de natureza paranóide diante de suas mamadas, forma de interação com o mundo externo. Neste período as defesas e seus mecanismos são predominantemente esquizóides.

O processo de divisão, durante os primeiros meses de vida do bebê mantém, predominantemente, o objeto bom à parte mau – o que significa que a segurança do ego é intensificada. Assim se obterá êxito se houver uma capacidade adequada de amar e um ego relativamente forte (KLEIN, 1957).

Sobre a divisão primária bem sucedida, Klein coloca que:

a capacidade de amar dá ímpeto às tendências integradoras quanto às tendências integradoras quanto a uma divisão primária bem-sucedida entre o objeto amado e odiado. (...) A integração se baseia em um objeto bom fortemente enraizado que forma o núcleo do ego e uma certa quantidade de divisão é essencial para a integração; pois ela preserva o objeto bom e, mais tarde, capacita o ego a sintetizar os dois aspectos dele. (Klein, 1957, p.49)

Segal (1975) coloca que desde o início da vida a capacidade de experimentar ansiedade, usar mecanismos de defesa e formar relações de objeto contribui para a formação da personalidade. Contribui apontando que o ego primitivo é amplamente desorganizado, de acordo com toda a tendência fisiológica e psicológica e possui a tendência a integração. Esta tendência pode ser afastada sob o impacto do instinto de morte e de ansiedade intolerável, o

que origina uma desintegração defensiva. Segundo Klein (1957) a base para uma personalidade adulta plenamente desenvolvida e integrada é resultado da interferência da inveja excessiva – expressão dos impulsos destrutivos, que interfere na divisão primária entre o seio bom e mau e a concepção que um objeto bom não pode ser suficientemente alcançado. Assim é essencial que se diferencie um objeto bom e um objeto idealizado. Klein (1957, p. 50) considera que “a identificação plena com um objeto bom vai de par com uma sensação de o eu possuir uma bondade própria”.

Os fatores defensivos, segundo Simon (2005) constituiriam, modos de enfrentamento das situações-problema funcionando como fatores predisponentes. Se excessivos, ou insuficientes, tornam-se rígidos e predispõem a soluções pouco ou pouquíssimo adequadas: conduziriam as soluções pouco gratificantes e conflituosas (seja com o id, superego ou mundo externo, ou simultaneamente), sendo assim considerados fatores internos negativos. Klein (1957) descreve que se a capacidade do indivíduo em lidar com a ansiedade é inadequada, o ego pode retornar progressivamente as defesas anteriores.

Por outro lado, Simon (2005) acrescenta que o conjunto de mecanismos defensivos, funcionando com flexibilidade, constituído de sistemas denominados fatores internos positivos tornariam o indivíduo propenso a determinar soluções adequadas. Estas, então seriam possíveis quando segundo (Klein, 1957) o conflito intenso entre as tendências destrutivas e integrativas contribui para uma integração crescente e pela elaboração bem- sucedida da posição depressiva e inclui um maior esclarecimento da realidade interna, que a percepção do mundo externo se torna mais realista.

Simon (2005) então descreve que, quando houver instabilidade entre as pulsões destrutivas e construtivas, ora predominando os instintos de vida, ora os de morte, a tendência será a busca de soluções pouco adequadas. Tal rede de soluções tende a permanecer estável constituindo um repertório permanente de respostas. Parece evidente que, quanto mais rígido o sistema adaptativo, mais haverá uma tendência a produzir soluções pouco ou pouquíssimo adequadas, o que pode resultar em estados depressivos cada vez mais dolorosos e distanciamento progressivo da realidade, cumprindo os desígnios degenerativos do instinto de morte.

Diante do exposto faz-se necessário especificar outros fatores internos da personalidade.

Simon (2005) aponta que para compreender melhor as situações-problema, seriam úteis considerações abrangendo integrações mais amplas. Na teoria da adaptação as tensões – necessidades, desejos e emoções, impelem o ego a realizar ações.

As necessidades abarcam tensões para gratificar os apelos instintivos básicos de vida ou morte. Os desejos expressariam tensões derivadas do instinto em busca do puro prazer. Os sentimentos e emoções expressam vivências complexas (SIMON, 2005).

Simon (2005) descreve que os fatores internos tensionais (f/t) e defensivos (f/d) apresentam sinais que indicam intensidade e tendências. O símbolo (+-) indica equilíbrio entre pulsões de vida e de morte, e também equilíbrio nas defesas. Desta forma há maior possibilidade de obter soluções adequadas às situações-problema, assim serão: cordatas, colaboradoras, criativas e respeitosas. Por outro lado, quando os fatores internos forem negativos, serão simbolizados como: (<) ou (>) que indicariam excesso ou insuficiência da pulsão, respectivamente. Ambos interagindo sempre com fatores externos. Para ficar mais claro, cada um desses fatores internos tensionais serão ilustrados no Quadro 5, considerando que quando se predomina o equilíbrio entre pulsões vitais ou destrutivas, pode se esperar respostas adequadas, assim se estabelece tendências de respostas. E quando houver excessos, seja positivo (instinto de vida) ou negativo (instinto de morte), esse fator contribuirá para soluções inadequadas (SIMON, 2005).

Quadro 5 - Fatores tensionais*

Tensões Insuficientes (<) Equilibrados (+-) Excessivas (>) Desejos Favorecem soluções

Inadequadas Adequadas Inadequadas Destrutivos

Voracidade (<) sem ambição (+-) (>) não discrimina o que obtém

Sadismo (<) impotência (+-) (>) afugenta o parceiro

Masoquismo (<) frigidez (+-) (>) atormenta o parceiro

para que o maltrate

Libido

Reparação (<) acossado pela culpa

ou perseguição (+-)

(>) perda dos interesses próprios Aproximação (<) isolamento inafetivo (+-) (>) contato viscoso

Curiosidade (<) inércia mental (+-) (>) bisbilhotice

improdutiva

Sentimentos

Amor (<) esquece do outro (+-) (>) esquece de si próprio

Ódio (<) não se defende (+-) (>) ressentimento

implacável Ciúme (<) não cuida do amado (+-) (>) atormenta o amado

Quadro 5 - Fatores tensionais (cont.)*

Inveja (<) sem estímulo para

progredir (+-)

(>) não aproveita o que recebe

Angústia

Paranóide (<) indefeso ao inimigo (+-)

(>) desconfiança, isolamento Angústia

Depressiva (<) não cuida dos seus (+-)

(>) atormentado pelo receio da perda Culpa (<) não aprende com os

erros (+-)

(>) despoja-se para reparar

Estético (<) vida sombria (+-) (>) perde o senso prático Solidariedade (<) desligado da

humanidade (+-)

(>) não retém para si o necessário * SIMON, 2005, p. 43

As defesas psíquicas são consideradas como fatores internos defensivos (f/d), segundo Simon (2005, p.48) são “favorecedoras de soluções adequadas ou inadequadas às situações- problema geradas pelas pressões internas”. Como já foi dito, Simon (2005) considera as pressões internas combinadas com a externas, já que não existe sujeito no vácuo. As defesas procuram proteger o sujeito do desprazer, da angústia, ou da dor. (SIMON, 2005).

Simon (2005) considera que a partir desta conceituação os componentes de processo intrapsíquicos podem ser operacionalizados quanto à intensidade, e assim, pode ser trabalhada de forma mais eficaz pelo psicoterapeuta. Ou seja, há a possibilidade de preservar, reforçar ou combater, conforme o tipo de resposta que o indivíduo apresenta em relação as suas defesas. Tal movimento dependerá da posição que o indivíduo se encontra: depressiva ou esquizoparanóide. Klein (1957) coloca que a posição depressiva provém de um ego integrado e fortalecido, sendo que há maior capacidade de suportar sofrimento e culpa e desenvolver defesas. Na posição esquizoparanóide o indivíduo sente intensa culpa persecutória, sentindo- se desintegrado e perseguido.

A partir da apresentação dos fatores internos tensionais e defensivos há necessidade de introduzir conceitos de fatores objetais internos. Freud (1923) considera a introjeção do objeto externo no ego um fenômeno natural, tornando até então este objeto externo em objeto interno. Klein (1927) recorre à noção de uma assembléia interna por introjeção de objetos, que vão estabelecendo relações com o sujeito e de objeto para objeto, compondo um complexo mundo interior.

Heimann (1952) descreve que a capacidade de estabelecer relações objetais maduras está atrelada ao processo de desenvolvimento, e por este, é determinado. Heimann (1952,

p.156) coloca que “os processos e transformações em qualquer capacidade estão destinados a causar repercussões na personalidade toda. Esses princípios são particularmente significativos se considerarmos as fases iniciais do desenvolvimento”. Assim, a capacidade das relações objetais está sujeita ao processo de desenvolvimento e a relação da criança com outra pessoa varia consideravelmente em diferentes estágios do desenvolvimento.

Heimann (1952) acrescenta que, a atitude em relação aos objetos é determinada pelas necessidades físicas, impulsos e fantasias da pessoa. É a partir destas relações que o indivíduo constitui sua matriz consciente e inconsciente. E ainda para que uma pessoa chegue às relações objetais maduras, em que o objeto é reconhecido como um indivíduo é necessário, que os desejos e necessidades da pessoa sejam percebidos como independentes.

Por outro lado, Heimann (1952) destaca que Melanie Klein, em sua obra, ocupou-se extensamente das primeiras relações objetais. Durante os primeiros meses de vida são estabelecidas relações de objeto parcial até o estabelecimento de relações de objetos totais, quando possível. Assim:

Na fase mais primitiva, em virtude da ineficiência de suas capacidades intelectuais e do emprego de defesas primitivas, como a magia, a negação, a onipotência, a cisão, a criança pequena concebe os seus objetos (ou partes de objeto) de um modo simples e uniforme: quando se sente gratificada, seu objeto é bom e amado, quando se sente frustrada, o mesmo objeto é mau e odiado. (HEIMANN, 1952, p.176).

Mas com o progresso nas funções do ego, o indivíduo é conduzido às relações com o objeto total (HEIMANN, 1952). O longo percurso da progressão emocional e mental para que uma pessoa chegue às relações objetais maduras, desde as relações com objetos parciais, em que o objeto é reconhecido como um indivíduo deve-se estabelecer uma entidade cujo caráter é independente dos desejos e necessidades do sujeito. Segundo Heimann (1952), é tarefa que muitas pessoas nunca chegam a concretizar, ora por não realizar relações de elevada significação emocional, ora por perderem estados de tensão emocional. Assim para as relações objetais adultas, Heimann (1952) concebe o objeto como algo que existe independentemente dele próprio, isso se dá pela vivência de inúmeras experiências. Ou seja, um tipo de estrutura psíquica que poderia independer da satisfação dos desejos e necessidades ou mais bem dito de suportar privações quando necessário.

Como já foi dito, as experiências e objetos internos provêm da interação do indivíduo com os objetos externos. “Os fatores externos são aqueles que existem fora da personalidade do sujeito e possuem algum significado humano. Além dos objetos externos ao sujeito compreendem a totalidade dos bens materiais, sociais e culturais, aos quais, o indivíduo está

ligado emocionalmente (SIMON, 2005, p.51).Assim, o que tiver significado emocional para o sujeito existe psicologicamente e constitui alvo da qualidade da adaptação.

Simon (2005) afirma que das relações do indivíduo consigo próprio e com os objetos externos surgem às situações-problema. Os fatores internos interagindo com os fatores externos sob o escudo do ego convergem para tomada de decisão e consequentemente das soluções para os problemas ou conflitos apresentados. Assim, se os fatores externos interagindo com os fatores internos, forem utilizados pelo ego favorecendo a obtenção das soluções adequadas, serão considerados fatores externos positivos (f/e+) para dada situação- problema. Se concorrerem para soluções inadequadas, serão então considerados fatores externos negativos (f/e-).

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