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D ADOS DA P SICOTERAPIA B REVE O PERACIONALIZADA

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3 D ADOS DA P SICOTERAPIA B REVE O PERACIONALIZADA

3.3.1 Planejamento da Psicoterapia Breve Operacionalizada

Para Simon (2005) é fundamental que se determine o „núcleo‟ das situações-problema, para que assim, haja um ponto principal de investimento na Psicoterapia Breve Operacionalizada. Simon (2005) considera que tendo a situação-problema nuclear definida em determinado setor e sendo modificadas as dificuldades adaptativas nos setores restantes poderiam ser superadas.

Na Psicoterapia Breve Operacionalizada, no caso apresentado, optou-se por trabalhar com a situação-problema atual no setor produtivo já que a queixa inicial do paciente se tratava de um conflito com autoridade. Sendo assim, optou-se por trabalhar com a situação-problema atual que indiretamente poderia alcançar a relação conflituosa que Fabrício estabelecia com seu pai (= situação problema nuclear), já que para trabalhar com a situação-problema nuclear despenderia muito mais tempo para a elaboração. Além disso, considerou-se que a queixa do paciente estava relacionada ao setor Produtivo e suas respostas nesse setor foram consideradas pouquíssimo adequadas, pois não sentia satisfação e nem gratificação em função do conflito com seus superiores.

Além da situação-problema no setor Produtivo, não se pode ignorar a situação- problema no setor Orgânico em relação ao Diabetes Mellitus. Ao planejar a Psicoterapia Breve Operacionalizada, consideramos que o paciente procurou ajuda em uma instituição

especializada no atendimento de portadores de DM, onde teve atendimento multidisciplinar. Assim, além do atendimento direcionado à sua disfunção, do ponto de vista biológico foi inserido no atendimento psicológico podendo contribuir de forma eficaz em seu tratamento em relação à disfunção.

3.3.2 Evolução da Psicoterapia Breve Operacionalizada

As sessões de Psicoterapia Breve Operacionalizada iniciaram após uma falta com aviso do paciente, que alegou que estava com dor nas costas. Por conta disso, contou que não foi trabalhar por três dias. Contou que nesse período aproveitou para procurar emprego em outras empresas e foi visitar a avó paterna, com quem a muito não tinha contato.

Parecia muito desvitalizado no trabalho e queixava-se muito, pois alegava que fazia o seu trabalho e mais o que era de responsabilidade de seu chefe e esperava dele maior proximidade e compreensão. Parecia não discriminar relações de trabalho e relações familiares. Sentia-se incomodado com o fato de as pessoas sempre esperarem que ele resolvesse todos os problemas do trabalho, inclusive recorriam a ele, ao invés, de recorrerem ao chefe. Com isso sentia-se muito sobrecarregado no trabalho, mas nutria sentimentos de onipotência, pois parecia ser imprescindível e insubstituível na organização. Mas, a impotência em contrapartida emergia em função de não ascender profissionalmente.

Surge no atendimento o problema do diabetes, apesar de necessitar, não aceita a insulinoterapia, mantém tratamento com hipoglicemiante oral e dieta, mas não consegue manter um bom controle. A constatação dos altos níveis de glicemia o deixa bastante irritado e o leva a negligenciar mais ainda seu tratamento. Diz que: “fico paralisado e não consigo

fazer nada, paro de pensar”. (sic)

Além disso, vivia nesse momento uma crise financeira, que também era negada. Conta que a esposa tentava trazê-lo à realidade e que às vezes parecia estar em um mundo virtual. Dizia: “Minha esposa senta comigo e me traz para o mundo real” (sic).

A partir da 4ª sessão Fabrício falta duas sessões consecutivas, mas avisa. Justifica que está sem dinheiro para vir, que os problemas financeiros estão se agravando. Conta que escolhe as contas a serem pagas, ora deixando de pagar uma conta, ora outra, fato que o deixa muito frustrado, triste e preocupado. Morou por seis anos com sogros, fez um financiamento

de 20 anos para comprar sua casa própria. Na hora de pagar as contas sempre exclui a possibilidade de não pagar o financiamento da casa. Ele diz: “A casa é sagrada para mim. Eu

tenho muito medo de perdê-la” (sic). Nesses momentos quando se dá conta da privação

financeira fica com muita raiva de não ser promovido, de não ter aumento salarial, sofre por não ter condições de mobiliar sua casa. Nesses momentos na sessão observa-se o descontrole do paciente. Ele fica muito angustiado, chora e se lamenta pelo que está acontecendo. Também conta das dificuldades com o filho, parece não se sentir a vontade com ele, ou não poder ter sentimentos de alegria com a criança. A terapeuta então mostra seu nível de exigência e o quanto está difícil suportar as frustrações e suas responsabilidades, pois teme não dar conta de cuidar de si mesmo e de sua família como fez seu pai. Também, mostra ao paciente que ele tem conquistado coisas e que tem enfrentado suas dificuldades em vez de negá-las como fazia anteriormente.

Na sessão seguinte o paciente parece mais consciente de sua vida e de suas responsabilidades. Contou que está vendo o filho de uma forma boa, conversando com a esposa e novamente cuidando da alimentação. Diz: “Acho que as coisas têm que melhorar,

não é possível, e eu preciso cuidar melhor das coisas” (sic). Conta que conversou sobre seu

trabalho e uma colega reafirmou que ele é um bom funcionário e que poderia ocupar uma posição melhor na empresa. Nesse momento ele continuava procurando novas oportunidades no mercado de trabalho. Diz que pensou muito no que foi conversado na última sessão sobre suas responsabilidades e sua tendência para negar os acontecimentos.

Parece mais satisfeito por ter reunido a família no aniversário de um ano do seu filho. Demonstra então querer integrar seu passado, suas origens com a sua família atual. Contou que tentou convidar o pai, mas não conseguiu encontrá-lo. Tal evento suscita no Fabrício o momento da separação dos pais. Contou que as brigas entre o casal já eram constantes por conta do pai ser adicto aos jogos de azar e pela crise financeira que passaram. Nesse momento ele relata sentir muita culpa, como se ele tivesse promovido a separação dos pais, por não ter impedido o fracasso financeiro da família. Toma consciência de sua onipotência e parece mais livre do peso da separação dos pais, detectando que os conflitos entre seus pais aconteciam anterior aos atos dele, o que antes era visto como sua responsabilidade.

A sessão subseqüente foi seguida do aniversário de Fabrício e contou que ficou chateado que muitas pessoas que ele esperava não haviam ligado para ele e isso o deixou chateado. Mas a ligação que ele mais esperara era a do pai. Fabrício não tinha contato havia quatro meses, contou que após este último contato o pai tinha mudado de endereço, sendo que nem a avó paterna tinha contato com ele. Contou da importância do sogro em sua vida que é

quem o orienta. Parece reconhecer internamente uma relação positiva com uma figura de autoridade (=sogro) e não como seu pai com o qual estabelecia uma relação idealizada e persecutória.

Nas sessões seguintes conta toda a trajetória de sua vida a partir do momento que conhece a esposa. Ao lembrar e falar sobre os acontecimentos parece ir gradativamente tendo uma atitude mais positiva e realista dos fatos de sua vida, diminui a idealização e consequentemente a perseguição.

Na 10ª sessão Fabrício falta e justifica dizendo que esqueceu a sessão, porém a tarde se lembrou. Contou que não poderia vir no que seria o último atendimento, porque teria uma festa de confraternização (então teríamos apenas mais uma sessão). Conta que apesar da falta as duas últimas semanas foram muito boas, mas profissionalmente estes dias não foram tão bons. Contou que o funcionário do seu setor da função abaixo a sua, foi promovido. Isso levou Fabrício a ter sentimentos ambíguos, pois ficou feliz pela conquista do colega. Mas por outro lado, não entende porque ele não consegue ter essa promoção por merecimento.

Conta que no dia anterior a consulta na empresa, esteve cansado e triste, e chorou, pois não agüentava tanta pressão dos outros setores da empresa e o seu telefone não parava de tocar. Sentia muito cansado de não ser reconhecido e não entendia o porquê não era merecedor deste reconhecimento. Atribuía o fracasso ao seu chefe. Mas, aguardava uma oportunidade nessa ou em outra empresa. Por outro lado, além disso, diz que estava muito satisfeito com os atendimentos psicológicos e que sempre teve uma visão distorcida deste tipo de atendimento. “Eu sempre pensei que fosse coisa para louco” (sic). Considerou que a terapeuta muito o ajudou e percebeu como uma forma de crescimento profissional. Disse que antes de agradecer à terapeuta agradeceria a Deus, já que, ele não teria como me recompensar, mas Deus teria de alguma forma.

Na última sessão, entra na sala de atendimento e diz “Hoje é o dia da nossa última

sessão, e hoje eu vou fechar com chave de ouro” (sic). Contou que várias pessoas de outros

setores de sua empresa o cobravam para fazer determinados serviços, que não era de sua responsabilidade, mas sim de seu chefe. Ele diz: “finalmente pude dizer não”. Mas, ele foi chamado para conversar com o vice-diretor que o questionou sobre o atraso de prazos, ele então pode dizer que não respondia pelo setor e que isso deveria ser tratado com seu superior. A conversa, segundo o paciente, transcorreu num clima muito ruim de exaltação dele e do vice-diretor. Sem poder chegar a um consenso com seu superior e numa tentativa de superar a situação diz que Deus dá as coisas e pode tirá-las. Demonstra que persiste, ainda, certa impossibilidade de assumir seus atos e os acontecimentos, delegando a Deus o papel de

condutor de sua vida. Mas, demonstra neste ato, de enfrentar o chefe e o vice-diretor e não se submeter a eles, a superação do medo das figuras de autoridade e os sentimentos de persecutoriedade. Apesar da reunião não ter resultado de imediato em algo positivo Fabrício se sentia muito bem e vitorioso por ter sido capaz de mudar suas atitudes. Nisso consistia sua alegria e o fato de dizer que estava fechando os atendimentos com “chave de ouro”.

No setor orgânico observaram-se mudanças muito importantes. Os atendimentos realizados por Fabrício nos setores de nutrição e enfermagem apresentavam bons resultados. Ele iniciara um novo tratamento que o levou a compreender os mecanismos envolvidos nos episódios de hiper e hipoglicemia, bem como a se automonitorar de forma mais precisa. A compreensão destes processos o ajudou a controlar mais bem sua disfunção como também enfrentar com menos angústia os momentos de descontrole da glicemia. Entretanto, observa- se uma resistência a tomar insulina e permanece certa dúvida sobre sua capacidade de adesão ao tratamento.

Ao final diz que tem passado momentos muito bons em casa com o filho e a esposa. Assume seu papel de marido e de pai e diz: “Eu amadureci muito aqui, disso eu tenho

certeza” (sic).

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