2 Adaptação Ineficaz Leve
1.3 P SICOTERAPIA B REVE O PERACIONALIZADA
1.3.1 Interpretação Teorizada
Simon (2005, p. 159) com sua experiência com Psicoterapia Breve, denominou a interpretação de sua intervenção primeiramente como „intelectualizada‟ para posteriormente „teorizada‟, para evitar ambigüidade com outro contexto no qual intelectualização é adotada como defesa:
sentia o ímpeto de formular uma interpretação baseada no conhecimento da história do paciente através das entrevistas e sessões, aplicando sobre estas a teoria psicanalítica dos dinamismos inconscientes originados nas relações pessoas significativas da infância – ou na fantasia – e que foram incorporadas como relações objetais internas reprimidas ou dissociadas, formando complexos inconscientes; (...) Esses complexos inconscientes pressionariam a pessoa a repetir as relações transferenciais que, por serem dissociações da realidade atual, propiciariam respostas inadequadas a situações-problema.
Porém percebendo que não teria tempo para percorrer esse longo caminho das associações livres, pela brevidade do número de sessões, Simon (2005), percebeu que se a interpretação era coerente com a história pregressa e parecia plausível para o paciente, este aceitava e ampliava suas associações e seu conhecimento do inconsciente.
Assim, a chamada interpretação de teorizada superava as resistências entre consciente e inconsciente. Simon (2005) destaca que a interpretação teorizada tem sua técnica própria e não produz efeitos de uma vez por todas, tendo que ser mostrada repetidamente no material do paciente. Assim Simon (2005, p. 164) coloca que „é preciso emparelhar passado e presente, confrontar analogias, as identificações, as relações simbólicas‟. Isso se dá depois de iniciada a PBO o material vai surgindo para efeito de elaboração, manejando todo o conjunto de informações com as associações que o paciente vai trazendo durante as sessões.
É importante discorrer sobre as relações existentes entre terapeuta e paciente (SIMON, 2005) como cotransferência – a transferência que se estabelece entre o paciente e alguma
pessoa ou pessoas de sua vida atual. Simon (2005) considera a cotransferência com três dimensões de: tempo, espaço e objeto.
O objeto tanto pode ser o terapeuta (...) quanto outra pessoa da vida atual (ou pregressa) do paciente (...). Quanto ao espaço, este poderia tanto ser o aqui com o
terapeuta, quanto lá com outra pessoa significativa para o paciente. O que torna lá com outra pessoa significativa para o paciente. O que torna o tempo e o espaço
sempre presentes è a emoção. Esta faz com que o tempo e o espaço se encontrem no
aqui-e-agora-comigo da relação com o terapeuta – a transferência; quanto no lá-e- então da relação com outra pessoa vital para o paciente em sua vida atual. A emoção
arrasta o tempo e o espaço para o agora-com-outro, trazendo o objeto externo para dentro da sessão, para dentro da sessão, para o momento em que a comunicação se realiza – a cotransferência. (SIMON, 2005, p.166).
Simon (2005) considera que a comunicação fica impregnada da mesma vivência quanto à que se daria na transferência, trazendo a emoção necessária para tornar convincente a interpretação, reforçando sua eficácia terapêutica.
Klein (1957) aponta que a situação transferencial surge do desejo original de agradar a mãe, seja pelo desejo de ser amado, seja pela necessidade urgente de ser protegido das conseqüências dos próprios impulsos destrutivos. Na Psicoterapia Breve Operacionalizada o ponto crucial a se lidar é a interpretação teorizada da cotransferência, o qual comumente está na base das soluções inadequadas para as situações-problema. A transferência negativa deve ser interpretada assim que for detectada, seja de forma direta ou indireta. A cotransferência poderá ser interpretada teorizadamente em níveis profundos, se o paciente tem acessibilidade à compreensão do inconsciente.
Klein (1957, p. 120) descreve:
a cooperação do paciente tem que basear-se numa forte determinação a descobri a verdade a respeito de si próprio, se é que quer aceitar a assimilar as interpretações do analista referentes a essas camadas primitivas da mente. Pois tais interpretações, se suficientemente profundas, mobilizam uma parte do eu que é sentida como inimiga do ego, assim como o objeto amado, e que, portanto, foi expelida e aniquilada.
Klein (1957) acrescenta ainda que quando a análise pode ser levada a certa profundidade, a inveja e o temor da inveja diminuem, conduzindo a uma maior confiança nas forças construtivas e reparadoras, resultando também uma maior tolerância com as próprias limitações, bem como relações objetais melhoradas e uma percepção mais nítida e melhorada da realidade interna e externa. E conclui que todas essas modificações correspondem a um enriquecimento da personalidade.
Simon (2005) coloca que para o psicoterapeuta tornar-se apto para formular interpretações teorizadas, conhecer e auxiliar seus pacientes a se conhecerem, é necessário, supervisões, psicoterapia psicanalítica, para distinguir os aspectos de sua mente, seu
relacionamento e outros, identificando seus traços, neuróticos e psicóticos, como elaboram as soluções adequadas ou não às próprias situações-problema.
Alguns estudos foram realizados com o intuito de conhecer a eficácia da Interpretação Teorizada durante o processo da Psicoterapia Breve Operacionalizada.
Gebara (2009) realizou um estudo para investigar a eficácia terapêutica da Interpretação Teorizada e mostrou a diferença entre um grupo de pacientes que participaram da intervenção em Psicoterapia Breve Operacionalizada, e outro, que não participou. Os resultados evidenciaram que dos pacientes que participaram da intervenção 86,66% melhoraram a eficácia adaptativa, 13,33% permaneceu no mesmo grupo adaptativo. Em quanto no grupo que não participou da intervenção 86,66% permaneceu no mesmo grupo adaptativo, 6,66% piorou e 6,66% melhorou.
A pesquisa realizada por Gebara, Rosa, Simon, Yamamoto (2004) teve por objetivo principal investigar a eficácia terapêutica da Interpretação Teorizada na Psicoterapia Breve Operacionalizada. Verificou-se que a Interpretação Teorizada mostrou-se eficaz, já que ao final do processo terapêutico houve evolução adaptativa dos pacientes.