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Encadeamento Adaptativo-psicodinâmico e Situação-Problema

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2 D ADOS DA E SCALA D IAGNÓSTICA A DAPTATIVA O PERACIONALIZADA

3.2.6 Encadeamento Adaptativo-psicodinâmico e Situação-Problema

A partir das entrevistas preventivas ao identificar os fatores – internos e externos, pode ser que haja fatores favoráveis ao trabalho terapêutico, sendo necessário, reforçá-los; e o oposto, referente aos fatores desfavoráveis, sendo preciso combatê-los. Desta forma, espera-se melhorar a adequação das soluções às situações-problema neste primeiro momento (SIMON, 2005).

Simon (1996) denomina „situações-problema‟ como o conjunto de fatores ambientais, existentes no presente, interagindo com os fatores intrapsíquicos, provocando desequilíbrio da adequação, podendo causar crise adaptativa ou deterioração gradual da adaptação existente. Para definir as situações-problema, Simon (2005) considera que, terá que aplicar e esmiuçar as entrevistas iniciais e verificar se os indícios de fato poderiam ter alguma associação com os sintomas. Para isso, ter dados sobre quem, como, quando, onde e por que tudo aconteceu é o caminho por meio do qual se poderá obter esclarecimentos fundamentais.

No caso Fabrício algumas situações-problema foram identificadas, conforme Quadro 6, dentre elas observou-se que a situação-problema atual (grifos meus), mais urgente, era o conflito que o paciente experimentava no setor Produtivo. Ele se considerava um ótimo funcionário, que realizava as tarefas o mais bem feito possível, mas entendia que não tinha o reconhecimento da organização na qual trabalhava. Suas respostas nesse setor foram consideradas pouquíssimo adequadas, pois não sentia satisfação e nem gratificação em função do conflito apresentados neste setor.

Atrelado a situação-problema, é importante, refletir o acontecimento da separação dos pais momento que ele sente intensa solidão e percebe o pai como uma figura degradada, o que

resulta em sentimentos de medo de se identificar com o pai. Fabrício no momento desta separação perde os objetos idealizados e os sentimentos de onipotência se intensificam para assim, dar conta de sua vida, o que acaba por se tornar a situação-problema nuclear (grifos

meus). No caso Fabrício a situação-problema nuclear parece ser a relação estabelecida com o

pai já que o paciente parecia estar constantemente mobilizado por motivações infantis relativas à disputa com o pai. Cabe ressaltar que esta relação foi estabelecida desde as primeiras relações de objeto na posição esquizoparanóide.

Simon (2005) supõe que o sujeito diante de uma situação-problema com a adaptação prévia eficaz recorrerá a seu repertório adquirido pela experiência de vida, ao bom senso e criatividade, para assim encontrar uma solução adequada. Porém quanto menor for à adaptação prévia do sujeito, a possibilidade de encontrar uma solução adequada estará comprometida, pois um repertório mais estreito, ou pouco aproveitado, adquirido de experiências passadas enredará uma rigidez na percepção da situação-problema nuclear, já que será permeada de identificações projetivas, fazendo que o sujeito induza soluções repetitivas diante de novos problemas, acarretando respostas pouco ou pouquíssimas adequadas, em um círculo que mantêm ao longo da vida.

Quadro 6. Descrição das correlações adaptativo-psicodinâmicas

Setor Situação-problema Solução Conjectura Psicodinâmica

Setor Pr

Sente-se sobrecarregado no trabalho; não reconhece as

qualidades dos colegas; apresenta sentimentos persecutórios e está muito frustrado por não conseguir ser

promovido de função.

Trabalha intensivamente. Demonstrando ambição e

voracidade.

Acredita na onipotência e que tudo pode realizar. Necessidade de promoção no trabalho, para se diferenciar do

pai. (Chefe=pai)

Setor Or

Não aceitação do diagnóstico

de Diabetes Mellitus. Negação da Disfunção.

Nega a doença e a atribui a Jesus Cristo como uma provação. Sendo um bom

homem e seguindo Jesus receberá como prêmio a

“cura”.

Setor A-R Nascimento do filho

Deseja ter um filho, mas o nascimento ocorre em um momento indesejável. Aceita o

filho, apesar dos problemas financeiros.

Teme não recursos materiais e emocionais para cuidar do filho. Também, teme repetir o fracasso do próprio pai, pois se

identifica com ele. Imaturidade emocional com a

paternidade.

Setor Or

Não consegue manter controle adequado do Diabetes Mellitus

Atribui o fracasso no controle glicêmico a fatores emocionais, pois não discrimina que se trata de um problema biológico, negando a

disfunção.

Sintomas orgânicos e mau controle tem sentido de punição divina. Remete o

diagnóstico a uma forma inadequada de vida, anterior à

religião. Mas, o fato de não manter um bom controle glicêmico o leva a experimenta extrema frustração que o leva a

3.2.7 Matriz Gráfica

A Matriz Gráfica é uma forma de representação da localização espacial das situações- problema e as interações intersetoriais (SIMON, 2005).

O setor Afetivo-Relacional é o componente mais presente e importante no conjunto dos setores da adaptação. O segundo setor em importância é o Produtivo, representado pelo maior segundo maior espaço. Seguido graficamente pelos setores: Orgânico e Sócio-Cultural representados pelo mesmo tamanho (SIMON, 2005).

Figura 5. Matriz gráfica das situações-problema do paciente Fabrício

As interações intersetoriais são representadas de três formas: setas centrífugas, setas centrípetas e setas colaterais. A partir da Figura 5, descreveremos estas interações presentes no caso apresentado:

Seta centrífuga: A-R → Pr: a influência do setor A-R sobre o setor Pr (f/i-): percebia o chefe com o pai.

Seta centrífuga: Pr → A-R: a influência do setor Pr sobre o setor A-R (f/i-): sente-se desvalorizado, sobrecarregado, frustrado e perseguido em seu setor e cargo de trabalho;

Seta colateral: Or → A-R: a influência do setor Or sobre o setor A-R (f/e-): doença crônica degenerativa (Diabetes Mellitus tipo1) atribuição do fracasso do

controle da glicemia a problemas emocionais (principalmente referente a questões do trabalho);

Seta centrífuga: A-R → Or: a influência do setor A-R sobre o setor Or (f/i-): não aceita o diagnóstico de Diabetes Mellitus, negando a doença. Apesar de estar em uma instituição que assiste portadores desta disfunção, encontra justificativas para não se responsabilizar pelo diagnóstico atribuindo-o a causas divinas;

Seta colateral: S-C → Or: a influência do setor S-C sobre o setor Or (f/e+): O paciente é assistido por uma ONG especializada em sua doença crônica, criando a possibilidade de um tratamento eficaz.

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