Capítulo 4 – Caracterização da Investigação
4.1 Covilhã, Cidade e Município
A Covilhã encontra-se no Interior de Portugal. Enquadrando geograficamente a cidade, esta encontra-se actualmente a aproximadamente 2:20h do porto mais próximo (Aveiro) e a 1:20h da cidade espanhola mais próxima (Cidade Rodrigo)71. Foi elevada a cidade em 1870, por D. Luís. Em 2010, a Covilhã possuía 34.772 habitantes (Quadro 12).
Quadro 12- População residente em cidades estatísticas
População residente em cidades estatísticas
Local de residência/Ano 2010
Covilhã 34.772
Fonte: INE, Censos 2011
4.1.1 Núcleos de Desenvolvimento no Concelho da Covilhã
Importa agora, de uma forma resumida, analisar e descrever as principais alterações socioeconómicas verificadas no município da Covilhã nas últimas décadas e reconhecer os seus protagonistas.
A Covilhã é geralmente associada à indústria têxtil, sendo até por diversas vezes denominada de “cidade-fábrica”72
. Durante largos anos, a força de trabalho e capital da região, encontrou-se monopolizado pela indústria dos lanifícios e pelas Minas da Panasqueira, tendo estas actividades visto o seu apogeu entre os anos 30 e os anos 70, sendo nesta última década que o sector têxtil sofre um enorme resvés (Vaz, 2004: 79-98). Os perigos da existência de uma mono-indústria manifestaram-se. Empresas fecharam, o desemprego
71De acordo com o consultado em http://www.viamichelin.pt. 72
aumentou e o sector sofreu uma restruturação inevitável (necessária à sua sobrevivência). O declínio da indústria levou à reformulação forçada das empresas que subsistiram, passando o sector a ser muito mais intensivo em capital do que em mão-de-obra, ficando ainda a força de trabalho a tender para «a melhoria da qualidade técnica e profissional do factor humano». Actualmente, o sector procura explorar novos mercados e diversificar a sua oferta. Os principais organismos identificados como potenciais fontes de reestruturação são o Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, Cilan - Centro de Formação Profissional p/a Indústria de Lanifícios, CIVEC - Centro de Formação Profissional da Industria de Vestuário e Confecção e ainda o departamento Têxtil da UBI (Vaz, 2004: 132- 138 e 187-191). Um bom exemplo, de uma empresa de lanifícios da região que representa uma forte ruptura com a antiga estrutura do sector, é a empresa Paulo de Oliveira, S.A., empresa de lanifícios com uma forte aposta na inovação e diferenciação do seu produto73. O Instituto Politécnico da Covilhã (IPC), instituição que viria a protagonizar outro importante polo de desenvolvimento, surge durante a crise anteriormente referida, sendo fruto de forças locais que procuram criar um foco de formação e ajuda ao sector têxtil da região, entrando em funcionamento em 1974 (mais tarde, apôs uma visita de um técnico têxtil da OCDE, o IPC é reconhecido como importante fonte de desenvolvimento local). Apenas alguns anos depois (1986), ascende a Universidade, sendo o resultado mais uma vez de esforços locais e neste caso, de experiência e trabalho acumulado pelo IPC. Num contexto de crise industrial, a
Universidade da Beira Interior viria a representar «a “salvação” da cidade» (Vaz, 2004:
213-227). Críticas apontadas a esta instituição, defendem que a UBI «deve apostar numa ligação mais estreita à região e distinguir-se pela diferenciação, pela diversificação, apostando na qualidade e incrementando a prestação de serviços, tal como melhorando os índices de investigação feita» (recomendação feita pelo antigo ministro da Economia, Augusto Mateus, coordenar do Documento Diagnóstico no qual se baseará o Plano Estratégico da UBI para 2020, Notícias da Covilhã, 2011a).
Outro protagonista local, usualmente identificado juntamente com a UBI, como responsável por desenvolvimento na região é a Câmara Municipal da Covilhã (CMC)74, o que de certa forma vai de encontro ao exposto anteriormente75. Nos últimos anos, o seu esforço por melhorar a qualidade de vida da população revê-se, de uma forma mais imediata, em infra-
73Exemplo encontrado no Jornal do Fundão (2009). 74(Vaz, 2004: 276-279).
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estruturas como a ponte pedonal sobre a ribeira da Carpinteira76, o funicular de Santo André, jardins decorrentes do Programa Polis, implementação de antigos projectos que se encontravam arquivados, como o eixo rodoviário Tortosendo-Covilhã-Teixoso (Vaz, 2004: 196-197), entre outros. No fomento do sector do turismo, destaca-se a criação de uma zona franca na Serra da Estrela77, constituída como uma Aldeia de Montanha (Vaz, 2004: 142) ou ainda o apoio de iniciativas de organismos representados na cidade, como a Rampa da Serra da Estrela (Vaz, 2004: 205). No incentivo da actividade agrícola, realça-se a recente isenção de taxas de ocupação a agricultores (Notícias da Covilhã, 2011b). No apoio a empresas instaladas no concelho destaca-se a criação e gestão dos parques industriais do Canhoso e do Tortosendo (Vaz, 2004: 138-141) e ainda a iniciativa na criação do Parkurbis.
O Parkurbis, inaugurado a 17 de Setembro de 2005, com um capital social de 2.500.000 euros, assume igualmente o papel de actor de desenvolvimento local (Farromba, 2011), ao confluir em si núcleos de desenvolvimento da CMC e da UBI (Parkurbis, 2012), servindo como promotor do empreendedorismo e incubador de empresas que apostem na inovação e internacionalização. Exemplo da sua aposta em fomentar emprego e empresas em sectores inovadores encontra-se na Waydip, empresa fundada por dois alunos da UBI que com o seu produto Wayenergy, arrecadaram em 2010 os prémios EDP/Inovação Richard Branson e MIT Inovação, sendo a sua empresa em 2011 seleccionada na lista das 50 novas empresas mais inovadoras do Mundo pela Kauffman Foundation (Expresso, 2011). Em 2011, o Parkurbis registou 32 empresas e 304 pessoas empregadas, assinalando ao longo dos anos uma “baixa taxa de mortalidade”. A Setembro de 2012, realizar-se-á nesta infra-estrutura o Encontro Ibérico de Parques de Ciência e Tecnologia (Notícias da Covilhã, 2011c).
O cluster da saúde, é igualmente considerado como importante catalisador de desenvolvimento na região, sendo o Centro Hospitalar da Cova da Beira (CHCB), o Centro de Diálise da Covilhã e a Faculdade de Medicina os seus principais protagonistas. Da sinergia já cultivada entre o CHCB e a UBI, resultou o projecto UBI Medical, cujo principal objectivo será «reforçar a ligação entre a investigação que se faz na universidade e a comunidade» (Jornal do Fundão, 2011a). Alguns conflitos entre organismos parecem estar estado na origem da saída da autarquia do projecto (Jornal do Fundão, 2010a).
De acordo com o presidente da Faculdade de Medicina da UBI, Miguel Castelo Branco, esta mudou a região ao contribuir para a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde e para a
76Tendo com esta obra, o seu arquitecto arrecadado o prémio na categoria Transportation no AIT-Award 2012
(AIT, 2012)
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fixação de pessoas (Notícias da Covilhã, 2011d). Segundo entrevista a João Casteleiro, antigo membro da administração do CHCB, o hospital duplicou o número de médicos, apesar de destacar não se terem aberto vagas de especialidade. Na mesma entrevista, afirma ainda que a UBI “precisa mais do hospital que o contrário” (Notícias da Covilhã, 2011e).
Observando o cluster do turismo e recorrendo a uma análise de indústria hoteleira da região da Serra da Estrela em 2008, verifica-se como a maioria relativa dos estabelecimentos hoteleiros se situam no concelho da Covilhã (23% dos analisados, Estevão, 2008: 749), possuindo dois destes uma orientação estratégica proactiva (procurando inovar, crescer e diferenciar-se da concorrência) e outros dois uma orientação mais especializada (focando os seus esforços competitivos apenas em determinados segmentos de mercado), ficando os restantes com uma estratégia indiferenciada (Estevão, 2008: 754-755).
No sector agrícola, destaca-se o Regadio da Cova da Beira, projecto fruto dos esforços locais do Grupo de Trabalho da Cova de Beira (Vaz, 2004: 145), que depois de mais de 30 anos da concepção do seu plano, surge agora como provável fonte de desenvolvimento no sector (Vida Rural, 2011). Outra notícia recente, informa que um dos maiores cerejais de Portugal está neste momento a ser plantado no concelho (Notícias da Covilhã, 2012a).