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2. DEMOCRACIA REPRESENTATIVA, LIBERALISMO E

2.4. Crítica marxista

Para tratar a crítica marxista como contraponto à democracia representativa, é necessário considerar o contexto histórico em que foi formulada, o que o fazermos em virtude da adoção da teoria sistêmica funcionalista (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2017, 95) aliada ao método histórico (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2017, 88). Há de se investigar a função que Marx e Engels imaginaram para o Parlamento, comparando-a historicamente àquelas contra as quais se insurgiram.

Publicado na metade do século XIX, o Manifesto Comunista se opôs às instituições políticas e sociais estabelecidas por considerá-las reflexo da burguesia, classe social que, de acordo com Marx e Engels, tudo influenciava e determinava a fim de criar condições de opressão do proletariado, o que serviria de base para sua prosperidade e domínio.

Sendo a burguesia moderna resultado de um longo processo de desenvolvimento que passou do feudalismo à expansão territorial das grandes navegações, cada etapa histórica guardaria sua correspondente forma política. O capitalismo burguês teria na democracia representativa – república parlamentarista – sua forma política de estruturação do Estado. A esse respeito, PACHUKANIS analisando a expressão jurídica dessa relação, firmou que

o Estado como organização do poder de classe e como organização destinada à realização de guerras externas não exige uma interpretação jurídica e, de fato, nem sequer a admite. Esse é um domínio em que reina a assim chamada raison d’état, ou seja, o princípio da conveniência nua e crua. O poder como fiador da troca mercantil, pelo contrário, não apenas pode ser expresso em termos jurídicos, mas, ainda, apresenta-se como direito, e apenas como direito, ou seja, mistura-se completamente à norma objetiva abstrata (PACHUKANIS, 2017:142).

Assim diziam por considerarem que a condução das eleições, cooptação das massas e o exercício do mandato, voltava-se exclusivamente à manutenção deste status, no que estavam incluídas a defesa da propriedade privada e conceito de família. Direitos civis, liberdade de imprensa, sufrágio universal, tudo seria controlado pela burguesia mediante a proteção de um

governo forte e irrestrito, a fim de liquidar a verdadeira liberdade do povo, dedicando-se exclusivamente a seus negócios privados.

Cada vez que uma crise interrompia o desenvolvimento econômico, começava um novo período de crescente atividade econômica. As instituições políticas do país estavam totalmente em conformidade com o desenvolvimento social e, quando se dava algum desequilíbrio, era logo corrigido. A reforma eleitoral de 1832 foi uma dessas correções: destinou aos industriais uma influência política de acordo com sua importância econômica. Essa reforma eleitoral não significou, entretanto, qualquer progresso no caminho para a democracia. Depois de 1832, a grande massa da população trabalhadora estava excluída dos direitos políticos, assim como o estava o objetivo mais importante de sua agitação (ROSENBERG, 1986:81-82).

Uma vez ocupantes do poder, estabeleciam controles por meio da lei para que o proletariado não fosse alçado a condições mais favoráveis de vida; no campo social, disseminavam os ideais burgueses como alvo para toda sociedade. Contudo, tais alvos seriam inalcançáveis e manteriam eternamente o trabalhador em condição servil, desfavorecido, almejando ter o que jamais teria.

Um dos métodos pelos quais a exploração se renovava seria por meio de crises, elemento inerente ao capitalismo. Não bastaria controlar a mão-de- obra e estipular um trabalho excessivo e massificado. O capitalismo utilizaria suas próprias contradições para, mediante o sacrifício de alguns dos seus integrantes, pontuar momentos críticos nos quais a riqueza se concentraria ainda mais e lhes permitiria, reduzidas as opções de emprego, fixar condições que retirassem dos proletários qualquer possibilidade de escolha.

Todos os progressos que o capitalismo moderno traz consigo são postos continuamente em dúvida pelas crises, que, com uma regularidade periódica, sacodem a sociedade moderna. Cada crise significa para milhões de trabalhadores e para os estratos médios uma miséria sem fim. Só quando for eliminada a propriedade privada capitalista dos meios de produção socialmente importantes, e a comunidade administrar por si mesma os meios de produção necessários, a humanidade poderá, segundo Marx, livrar-se desses males (ROSENBERG, 1986:93).

Seria por meio da lei e da divulgação de promessas inatingíveis que a burguesia dominaria o proletariado. Ao promover tais medidas, a burguesia, mobilizando as massas, as utilizaria, integradas à normalidade econômica e

política, fazendo-as crer participarem livre e plenamente de um sistema justo e igualitário que não passava de uma ditadura plebiscitária.

PACHUKANIS, analisando a proposição marxista sob o enfoque jurídico, discorre que toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos, ao passo que “sujeito de direito é o ente cuja vontade é decisiva” (2017:117-118). A sociedade capitalista regeria todas as relações sob o enfoque da utilidade econômica, dando-lhe respectivas formas jurídicas: apropriação da terra como mercadoria passível de transmissão, não apenas de produção, utilização da mão-de-obra como mercadoria. “A sociedade capitalista é antes de tudo uma sociedade de proprietários de mercadorias. Isso significa que as relações sociais entre as pessoas adquirem aqui a forma reificada dos produtos do trabalho, que se relacionam uns com os outros pelo valor (2017:119).

Na sociedade burguesa liberdade estaria irremediavelmente inserida nas relações econômicas, seria apenas, e não mais que isso, decidir o que e de quem comprar. Os direitos do cidadão residiriam em participar livremente de relações mercantis de todas as espécies. Marx defendia que somente com a superação da dominação o homem poderia ser efetivamente livre e igual. Para tanto, os trabalhadores deveriam tomar o poder mediante uma revolução proletária, aproveitar as condições econômicas fornecidas pelo capitalismo e utilizar a força revolucionária representada no Estado contra a burguesia industrial. Para ele, as formas históricas de governo representam modelos de dominação cuja finalidade seria subjugar os trabalhadores.

O grande capital monopolista moderno destruiu a sociedade burguesa e condenou o liberalismo à morte. Por liberalismo, deve-se entender a forma de Estado e de sociedade na qual governa a burguesia possuidora e culta dentro dos limites das liberdades constitucionais. A antiga forma do liberalismo, tal como se constituiu no surgimento da sociedade burguesa, conciliava as liberdades políticas internas com a política de um forte poder estatal. O regime parlamentar, sob a forma de uma república ou de uma monarquia constitucional, faz parte desse liberalismo. Suas características são a segurança do indivíduo e da propriedade diante da usurpação por parte das autoridades, liberdade de palavra e de imprensa, de associação e reunião. O poder estatal, de fato, pertence somente ao estrato superior possuidor. A burguesia governante explora o aparelho estatal em favor de uma política externa forte e das conquistas coloniais (ROSENBERG, 1986:247).

considerar a revolução e a queda do capitalismo como sua única salvação. O objetivo era superar a forma burguesa de sociedade e tudo que nela estava estratificado; afinal, nas sociedades capitalistas não seria possível democratizar a relação fundamental em que se assentava a produção material, a relação entre capital e trabalho.17

Tal conclusão foi exposta na esteira das revoluções ocorridas na França entre 1848 e 1851 que, em sua leitura, demonstravam como os eventos cotidianos podem ser conduzidos pelos detentores do poder, inclusive com a manipulação da classe trabalhadora, a fim de utilizá-los não em favor dos interesses classistas, mas dos burgueses.

Aos fatos. Mesmo após a Revolução Francesa de 1789, manteve-se a monarquia – constitucional, não mais absoluta. A limitação dos poderes do monarca atendia à crescente influência da burguesia a da nobreza a ela associada. A massa da população francesa, então majoritariamente camponesa, aderiu à conclamação das classes economicamente dominantes e impôs a alteração da forma de governo. Sob o manto do reconhecimento de direitos fundamentais, por exemplo, o art. 16 da Declaração Francesa de 1789 a qual dispunha expressamente que o texto que não incorporasse um rol de direitos de uma pessoa não seria uma Constituição (LEMBO, 2007:7), embora fossem “limitadas pelos mesmos direitos dos outros e pela segurança pública” (MARX, 2017:42).

A França do Rei Luís Filipe era uma monarquia constitucional governada no sistema parlamentarista, e no Parlamento havia membros que defendiam a restauração absolutista, republicanos-burgueses e socialistas-democratas. Somente a “Revolução de Fevereiro” (de 1848) depôs o Rei Luís Filipe e instalou um governo republicano provisório, cuja principal medida consistiu em ampliar “o círculo de privilegiados políticos dentro da própria classe possuidora” (MARX, 2017:32).

À monarquia de Luís Filipe sucedeu uma república burguesa que passou a governar em nome do povo. Representava o despotismo de uma classe sobre as demais porque “a república só pode representar a forma de revolução

17 A essa afirmação associou-se WEBER (1978, II:1394 apud SANTOS; AVRITZER,

2003, p. 46) para quem “a separação do trabalhador dos meios materiais de produção, destruição, administração, pesquisa acadêmica e finanças em geral é a base comum do Estado moderno, nas suas esferas política, cultural e militar”.

política da sociedade burguesa e não a sua forma de vida conservadora” (MARX, 2017:36). Marx relacionava, aqui, a representação de uma classe, não de indivíduos.

A primeira premissa de Marx ao criticar o sistema representativo vem exposta por considerar que não existe liberdade se o homem não pode definir as circunstâncias em que as escolhas são feitas. As condições acima indicadas retiram do indivíduo qualquer resquício de liberdade real, apesar de ser levado a crer que a interpretação por eles feita desse princípio era plena e universal. Como referido por PACHUKANIS, na medida em que fora retirada do homem sua vontade individual, moldada pela exclusividade das relações mercantis e relações econômicas, “sua vontade, entendida no sentido jurídico, tem um fundamento real no desejo de alienar ao adquirir e adquirir ao alienar”. A vontade individual teria sido reduzida a uma vontade mercantil. E mais: “fora do contrato, os próprios conceitos de sujeito e de vontade no sentido jurídico existem apenas como abstração sem vida” (PACHUKANIS, 2017:127).

Exemplificativamente, como o trabalhador vive totalmente absorvido trabalhando horas em excesso nas fábricas mediante pagamento de salários insuficientes para suprir suas necessidades básicas, e a ele faltariam dois valores fundamentais: igualdade material e liberdade para fazer escolhas. Sem liberdade e igualdade restaria ao trabalhador acatar pacificamente a estrutura na qual estava inserido, validando a forma política da sociedade ao participar de processos eleitorais nos quais não poderia ter efetiva influência. Diante de tal realidade, Karl Marx propunha que a representação, tal como formulada, deveria ser ignorada. O Partido Comunista deveria valer-se do sentimento classista “dos proletários de todo mundo” para liderar uma verdadeira revolução que pusesse abaixo as estruturas burguesas que expressavam, no poder, apenas os interesses do capital. A fim de alcançar seu objetivo, a constituição do proletariado enquanto classe, deveria eliminar a supremacia burguesa e promover a conquista do poder político (SHAPIRO, 2006:91).

Marx enxergava o sistema político – do qual fazia parte a representação – como instrumento burguês de cerceamento da verdadeira liberdade do proletariado, o que retiraria da própria ordem política sua legitimidade como decorrência “da injustiça básica do status quo que eles protegem”.

Para ele, igualmente é criticável a representação que dilui o poder soberano, pois “somente quando o povo tem nas mãos o poder político, pode utilizá-lo também para realizar tudo o que necessita no âmbito social” (ROSENBERG, 1986:82).

Para concluir a contextualização histórica, após uma série de intrigas, alterações das bases de apoio parlamentar, Luís Bonaparte restabeleceu o sufrágio universal e assumiu o governo em definitivo. Em todos esses arranjos, dizem, os burgueses valeram-se do apoio popular e da manipulação das massas para alcançarem e se manterem no poder, sem, contudo, priorizaram representar os verdadeiros interesses do povo. A acusação adiante esclarece a visão de Marx acerca dos democratas

por representarem a pequena burguesia, ou seja, uma classe de transição, na qual os interesses de duas classes se embotam de uma só vez, o democrata tem a presunção de se encontrar acima de toda e qualquer contradição de classe. Os democratas admitem que o seu confronto é com uma classe privilegiada, mas pensam que eles é que constituem o povo junto com todo o entorno restante da nação, que eles representam o direito do povo, que o seu interesse é o interesse do povo. Por conseguinte, não teriam necessidade de verificar, na iminência de uma luta, os interesses e posicionamentos das diferentes classes. Não teriam necessidade de sopesar com todo cuidado os seus próprios meios (MARX, 2017: 67).

O regime parlamentarista e a representação seriam uma farsa. Apesar de ser apresentado como um regime de debate e discussão, a democracia sempre suplantaria as manifestações que ameaçassem seu modo de vida, que retirassem do “todo da sociedade” os seus privilegiados ocupantes. De acordo com Marx, o lugar que os representantes possuem no sistema representativo para oposição de interesses é uma falácia, pois “os clubes de debates no Parlamento são necessariamente complementados pelos clubes de debates nos salões e bares” (MARX, 2017:81).

Em virtude do desenvolvimento do modo capitalista de produção, o produtor perdeu o domínio jurídico sobre o capital, transferido a um grupo pequeno de grandes capitalistas

que agem por meio de seus representantes contratados ou investidos de plenos poderes. Juridicamente, a forma da propriedade privada já não reflete a situação real das coisas, pois, com a ajuda de métodos de participação e de controle, o

domínio efetivo ultrapassa os limites puramente jurídicos (PACHUKANIS, 2017:135).

A máquina do Estado seria, de fato, a “vontade geral” impessoal na medida em que a sociedade apenas representa um mercado. Trata-se, pois, a representação como uma ficção. Com isso, lança luz sobre o que considera ser o ponto nodal da associação: a estruturação da sociedade em classes sociais e relegação dos interesses do povo. O interesse do povo, leia-se, proletário, indivíduo massificado pelas relações sociais, era comum em qualquer parte do mundo, a saber, ser livre da exploração.

Para oprimir uma classe é necessário estabelecer condições que lhe permitam uma condição servil: propriedade privada, leis, moral e religião, todos meios de dominação burguesa. O meio para superação deste domínio seria a extinção da propriedade privada burguesa, da família burguesa, da sociedade burguesa. Na verdade, o direito à propriedade já teria sido abolido quando concentrado nas mãos de poucos; a cultura e a família a serem extintas seriam as burguesas, afinal, aos trabalhadores isso já era negado. Reformular as relações sociais e o próprio Estado seriam medidas indispensáveis para que o indivíduo recuperasse sua liberdade por meio da igualdade.

A massificação do trabalho, a ausência de gozos e liberdades, indisponibilidade de propriedade, cultura e ambiente familiar produziram nos proletários a ausência de vontades individuais. Marx os considerava, por isso, detentores tão-somente de interesses classistas. “Ao mudarem as relações de vida dos homens, as suas relações sociais, a sua existência social, mudam também as suas representações, as suas concepções e conceitos, numa palavra, muda a sua consciência” (MARX; ENGELS, 2017:38).

Pessoas nas mesmas condições possuiriam os mesmos interesses. Os dos camponeses do século XIX opunham-se aos dos agiotas do campo, assim como os dos proletários citadinos opunham-se aos dos industriais. Em sua visão, embora o Estado moderno garantisse a representação do interesse comum, deveria representar “a vontade geral abstrata” e permitir que se estabelecesse o meio de expressão no Estado dos diversos e contraditórios interesses (OLIVEIRA, 2005:86).

A conformação de interesses produziria o decaimento da representação parlamentar. Por inexistir vontade a ser representada, permitiria a consolidação

de um Partido unitário e da alteração do sistema de representantes para o de delegados.

Segundo ele, o comunismo é superior ao capitalismo precisamente porque a superabundância de riqueza gerada pelo desenvolvimento das forças produtivas no capitalismo torna possível um sistema redistributivo baseado na necessidade e não no direito. Daí a convicção marxiana de que, no comunismo, o governo é substituído pela administração das coisas (SHAPIRO, 2006:129).

Tanto porque no capitalismo o proletário foi massificado, quanto porque todo homem possui inclinações naturais semelhantes que emergiriam tão logo os modos de organização da produção fossem superados, conduzindo a sociedade ao que chamou de “equilíbrio de longo prazo” (SHAPIRO, 2006:97- 98), o sistema representativo deveria ser extinto.

Como o movimento proletário seria embutido de uma consciência dirigida ao interesse da maioria, muito embora dela fosse independente, a democracia socialista prescindiria do sistema de representação no formato burguês e poderia ser exercida como uma democracia direta, sem representantes eleitos, mas com delegados cujos mandatos são precários e vinculados, sujeitos a revogação18. Apenas a democracia socialista permitiria a

participação popular também nas tomadas de decisões econômicas, permitindo uma expansão quantitativa com abertura de espaços para o exercício da verdadeira soberania popular.

Marx entende a democracia direta mediante sufrágio universal como o contraponto da representação. Opõe-se mais à prática que ao formato parlamentar. Não se trata de dizer, como Rousseau, que a representação é impossível porque a vontade é irrepresentável, mas de acusar a falta de correspondência com o povo do exercício da representação parlamentar sob influência econômico-burguesa, de denunciar a perda de disposições de vontade individual do cidadão serializado que foi capturado pelo Estado, reduzido a “pessoa que celebra contratos”.

18 “A comuna era composta de conselheiros municipais eleitos por sufrágio universal

nos diversos distritos da cidade. Eram responsáveis e substituíveis a qualquer momento. A comuna devia ser não um órgão parlamentar, mas uma corporação de trabalho, executiva e legislativa ao mesmo tempo” (MARX, 1977:197 apud ALKMIM, 2013:68).

Trata-se, como apontado anteriormente por PITKIN, de discutir a independência do mandato e sua efetiva destinação ao interesse público. Se para Hobbes os representantes jamais podem ser igualados aos representados, cuja vontade resume-se à autorização; se para Rousseau a vontade individual é irrepresentável, cabendo ao representante refletir a vontade geral; e se em Marx o indivíduo foi serializado pelo Estado, a representação seria um paradoxo lógico, uma prática impossível (ALKMIM, 2013:64).

Contudo, sua viabilidade consistiria em ser tomado como procedimento submetido ao poder popular e vontade coletivos. Para tanto, defendia que a representação somente teria lugar se a assembleia legislativa fosse diretamente ligada ao poder executivo, submetida a um controle social direto

Enquanto os votos da França se fragmentam pelos 750 membros da Assembleia Nacional, no caso do presidente, eles se concentram em um só indivíduo. Enquanto cada representante popular representa apenas este ou aquele partido, esta ou aquela cidade, esta ou aquela cabeça de ponte ou meramente a necessidade de eleger um 750º qualquer, do qual não se examina nem a causa nem a pessoa, ele é aceito como o eleito da nação, e o ato de elegê-lo é o grande trunfo que o povo soberano joga uma vez a cada quatro anos. [...] O presidente possui em relação à Assembleia uma espécie de direito divino, pois ele detém o seu cargo pela graça do povo (MARX, 2017:45).

Embora criticassem o modelo republicano, afirmavam a soberania popular exercida por meio do sufrágio universal que legitimaria o poder imperial (ALKMIM, 2013:67), apesar de admitirem que a participação eventual da população não significaria a detenção integral e permanente do poder pelo povo. Nesse ponto – a saber, a detenção fugaz da soberania -, Rousseau e Marx concordam.

No binômio socialismo mais democracia, democracia significaria um ideal igualitário que apenas a reforma da propriedade poderia realizar.

3. REPRESENTAÇÃO E ECONOMIA GLOBALIZADA: UM DESAFIO PARA