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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE RODRIGO ALBUQUERQUE MARANHÃO DE OLIVEIRA. TEORIA DA REPRESENTAÇÃO E SOBERANIA DEMOCRÁTICA DIANTE DA INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO. SÃO PAULO 2018.

(2) RODRIGO ALBUQUERQUE MARANHÃO DE OLIVEIRA. TEORIA DA REPRESENTAÇÃO E SOBERANIA DEMOCRÁTICA DIANTE DA INFLUÊNCIA DO CAPITALISMO GLOBALIZADO. Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito Político e Econômico.. Orientador: Professor Doutor José Carlos Francisco. SÃO PAULO 2018.

(3) O48t. Oliveira, Rodrigo Albuquerque Maranhão de. Teoria da representação e soberania democrática diante da influência do capitalismo globalizado / Rodrigo Albuquerque Maranhão de Oliveira. – 2018. 108 f. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2018. Orientador: José Carlos Francisco. Referências bibliográficas: f. 105-108. 1. Representação. 2. Soberania. 3. Democracia. 4. Capitalismo. 5. Globalização. I. Francisco, José Carlos, orientador. II. Título CDDir 341.234 Bibliotecário Responsável: Hernani Correa Medola – CRB 8/9942.

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(5) Aos meus pais..

(6) AGRADECIMENTOS. Agradeço a Deus por ter, ao longo da vida, me dado oportunidades que me trouxeram até o cumprimento desta etapa, e por me permitir entender a dimensão do privilégio com o qual fui presenteado, sobretudo quando comparado à realidade de um país que, infelizmente, tem negado as mais elementares ambições e esperanças ao seu povo. De igual forma, meu agradecimento indispensável a Cid Pereira Caldas, amigo que tem me acompanhado em diversos momentos da vida e manifestado uma irrevogável disposição em caminhar novas milhas. Ao exemplo que recebi em uma família composta por gerações de professores. Sei que não se caminha sozinho e que a jornada não começou comigo. Ao Professor José Carlos Francisco, por me orientar com a honestidade que apenas os que honram a posição que exercem são capazes de considerar. Pela paciência, distinção e persistência, muito obrigado. Do mesmo modo, à Professora Clarice Seixas Duarte e a Paulo Gustavo Guedes Fontes, externo minha mais cara gratidão por terem investido tempo e interesse no aperfeiçoamento desta proposta. Aos. Professores. da. Universidade. Presbiteriana. Mackenzie,. indistintamente. Jamais tive uma convivência tão especial no ambiente acadêmico. À Secretaria e à Coordenação da Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie, fundamentais com seu conhecimento e carinho no trato dos procedimentos necessários à realização do Curso..

(7) RESUMO. A análise histórica das formas de relação social, de regulação econômica e governo nos permite lançar um olhar sobre o desenvolvimento da sociedade e avaliar a realidade em que vivemos. Para tanto, é desejável fazêlo com a maior neutralidade possível caso se pretenda alcançar respostas efetivas às dúvidas investigadas. Contudo, a começar pela escolha do tema e sua verticalização e, ainda, mediante a eleição das referências teóricas, a imparcialidade absoluta jamais será alcançada ainda que almejada, como aqui perseguimos. A investigação proposta tem como marcos teóricos a Teoria da Representação, de Hanna Pitkin e Paradoxo da Representação segundo Antonio Carlos Alkmim, conforme os modelos de representação ali constantes, visando entender em que medida a instrumentalização dos governos democráticos tem sido capaz de cumprir as premissas sobre as quais se estrutura a teoria da democracia, tais como: a efetiva participação popular, a representatividade do eleitor, as decisões governamentais, e, ainda, a conexão entre as políticas públicas implantadas e as necessidades e vontades da população atingida. Para tanto, fixamos como objetivo de pesquisa discorrer sobre a evolução e a diferença entre os modelos paradigmáticos da representação política, sob a ótica dos fatores econômicos que influenciaram cada uma das teorias estudadas. Ao final, foi possível concluir que num contexto de sociedades de larga escala e plurais, a fim de permitir uma expressão mais eficiente do interesse atingido, a democracia não deve restringir-se a processos, bem como não deve entregar à representação – executiva ou parlamentar - toda a tarefa decisória. É preciso, mediante um aprofundamento da institucionalização da democracia, que sejam abertos mais espaços de participação nas instâncias locais de modo a melhor relacionar governo, administração e interesses da sociedade.. Palavras-chave: globalização.. representação;. soberania;. democracia;. capitalismo;.

(8) ABSTRACT. The historical analysis of the forms of social relation, of economic regulation, and of government allows us to shed light on the development of society as well as to evaluate the reality in which we live. To this end, it is desirable to do so with the greatest neutrality if one intends to achieve effective responses to the investigated doubts. Certainly, starting from the choice of the theme and its verticalization, and also through the election of theoretical references, does not guarantee absolute impartiality. The proposed research grounds its theoretical framework on the Theory of Representation, by Hanna Pitkin, and on the Representation Paradox, according to Antonio Carlos Alkmim. It is then considered the models of representation thereby present in order to understand to what extent the instrumentalisation of democratic governments has been able to fulfill the premises on which the theory of democracy is structured. Therefore, the objective of this research is to discuss the evolution of the paradigmatic models of political representation, as well as to point out their differences. In the end, it was possible to conclude that in a context of largescale and plural societies, and in order to allow a more efficient expression of the target interest, democracy should not be restricted to processes, nor should it give the whole decision-making task to the parliamentary representation. It is necessary, through a deepening of the institutionalization of democracy, that more spaces of participation in the local instances be opened so as to better relate government, administration, and interests of society.. Keywords: representation; sovereignty; democracy; capitalism; globalization..

(9) LISTA DE QUADROS. Quadro 1-. Possíveis modelos do conceito de representação.................. Quadro 2-. Proposta de modelos de teorias sobre representação. 22. política...................................................................................... 22. Quadro 3-. O crescimento da “lacuna de apatia política”.......................... 99. Quadro 4-. Evolução do índice de abstenção nas eleições brasileiras..... 99.

(10) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO................................................................................ 11. 1.. A TEORIA DE REPRESENTAÇÃO DE HANNA F. PITKIN.......... 14. 1.1.. Teoria democrática......................................................................... 26. 1.1.1 A democracia grega e sua herança para a democracia moderna.. 27. 1.2.. Soberania democrática no contratualismo..................................... 32. 1.3.. Modelos de representação democrática......................................... 37. 1.3.1 Representação autorizativa............................................................ 37. 1.3.2 Representação liberal..................................................................... 38. 1.3.3 Representação crítica..................................................................... 41. 1.3.4 Representação por identidade........................................................ 46. 1.3.5 Representação como processo...................................................... 47. 2.. DEMOCRACIA. REPRESENTATIVA,. LIBERALISMO. E. SOCIALISMO................................................................................ 2.1.. A. influência. das. estruturas. econômicas. na. 53. concepção. democrática.................................................................................... 55. 2.2.. Pressupostos para a democracia representativa........................... 57. 2.3.. Democracia burguesa: o sistema representativo segundo John Stuart Mill........................................................................................ 60. 2.4.. Crítica marxista............................................................................... 70. 3.. REPRESENTAÇÃO. E. ECONOMIA. GLOBALIZADA:. UM. DESAFIO PARA A DEMOCRACIA............................................... 79. 3.1.. Considerações sobre o processo evolutivo democrático............... 79. 3.2.. A influência econômica no exercício do poder............................... 82. 3.3.. Renovação da soberania para reconstrução da democracia......... 92. CONCLUSÃO................................................................................. 102. REFERÊNCIAS.............................................................................. 105.

(11) 11. INTRODUÇÃO. O debate da representação em seu estágio contemporâneo, cuja crise se tem feito presente em considerável parte dos países que adotam a democracia como forma de governo, pressupõe a análise tanto da teoria democrática quanto, na medida do possível, buscar apontar possíveis causas que conduzam ao esvaziamento de um modelo que prevaleceu sobre outras propostas ao longo da história da associação humana. Por esse motivo, foi desenvolvida esta dissertação, resultado de pesquisa desenvolvida no curso de Mestrado em Direito Político e Econômico do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie, inserido na linha de pesquisa “A Cidadania Modelando o Estado” com aderência de conteúdo pela análise da representação democrática. Ao adotar como marco teórico a teoria da representação, esta análise terá como objetivo avaliar de que forma a hipótese sustentada por Hanna Pitkin seria suficiente para produzir, nas instituições governamentais, em especial, mediante a análise casuística da realidade brasileira, um sistema capaz de concretizar os ideais preconizados pela teoria democrática contemporânea. Hanna Pitkin, teórica que dissecou a representação em modelos, apresenta-a como formas de expressão que correspondem a determinados momentos históricos e filosóficos, aí incluídas as vertentes econômicas que defendem tanto o capitalismo quando o socialismo, a fim de apresentar um modelo que seja adequado à realidade do século XX, marco que tomaremos para análise comparativa do momento atual. Para isso, traçou uma correspondência cronológica entre os modelos por ela dissecados e os principais teóricos de cada formato, a fim de permitir ao leitor compreender as justificativas históricas e sociais subjacentes a cada teoria. Ao seu lado, como marco teórico auxiliar, utilizaremos Antonio Carlos Alkmim que, com uma leitura sobre Pitkin e o resgate do paradoxo da representação inicialmente sugerido por Rousseau, debate a permanência e a validade da representação em seu tempo e, caso mantida, qual é o grau de independência ou vinculação dos representantes à vontade dos representados..

(12) 12. Para desenvolvimento do tema, serão utilizados o método sistêmico1 em conjunto com os métodos auxiliares histórico e comparativo, e, por fim, tendo o funcionalismo como teoria sistêmica2. No item 1, a Teoria de Representação, de Hanna F. Pitkin será apresentada e, numa exposição dos mesmos teóricos que fundamentaram os estudos de PITKIN e ALKIMIM, faremos uma leitura suficiente apenas para o desenvolvimento desta dissertação, buscando contextualizar historicamente os modelos de representação. A seguir, no item 2 se buscará elaborar uma leitura das duas principais teorias econômicas: capitalismo e socialismo. A visão que cada uma delas possui da sociedade, suas estruturas, esquemas de trocas, apropriação, detenção, uso e destinação do poder influencia diretamente na compreensão. que. demonstram. acerca. da. utilidade. e. finalidade. da. representação. Este recorte econômico buscará demonstrar como a teoria econômica influenciou de modos diversos, em épocas distintas, a teoria política e, por consequência, o exercício dos governos e da representação. Muito embora capitalismo e socialismo não se polarizem mais em importância como ocorreu até o início da década de 1990, o debate da influência econômica hoje se faz presente em novas formas na organização estatal no século XXI, na medida em que a propagação das crises financeiras na realidade de um mundo – e economia – globalizados3, produz exigências sociais que se refletem localmente e se propagam sem limitação. Considerando, diante disso, que a fragilização das fronteiras nacionais nos aspectos econômicos, financeiros e de informação tem induzido uma homogeneidade das premissas sociais e governamentais, inclusive com a estandardização da democracia como modelo de governo – independente do conteúdo e extensão que assume em diversos países -, o item 3 intentará analisar como a expansão do domínio do capitalismo financeiro internacional, 1. Aquele no qual são analisados os elementos reunidos em um conjunto que obedece a mesma lógica de organização (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2017:81). 2 A sociedade é entendida como um todo que se comporta como um só mecanismo em operação. Dessa forma, cada engrenagem, cada elemento da Sociedade possui uma função nesse todo. Quando você se preocupa com funções, sua atenção se volta para as utilidades desempenhadas pelas instituições (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2017:97) 3 Por globalização leia-se: o processo de rompimento de fronteiras econômicas, culturais e sociais no âmbito internacional com objetivo de integração entre países e/ou blocos politicos e econômicos..

(13) 13. com a criação de organismos de controle internacional, lado a lado, e que têm influenciado o modo de governar, a definição de prioridades e, como fator mais relevante, a precarização da autonomia dos governos dos países periféricos e, sobretudo, do papel institucional das casas parlamentares. Ao final, esta dissertação concluirá, mediante pesquisa essencialmente bibliográfica, que para evitar - ou minimizar – que exclusivamente os fatores macroeconômicos e as orientações surgidas de organismos supranacionais desenhem as políticas públicas nacionais e relegue a representação a uma mera formalidade, se faz necessária uma conjugada aplicação de valores democráticos em todas as instâncias de governo - sobretudo com a permeabilidade da administração em nível local e prestígio ao princípio do interesse afetado -, com uma representação que permita a maior identidade possível entre representantes e representados, refletida em decisões e políticas públicas cujo conteúdo estimule um vínculo mais forte de cumprimento e apoio às leis por parte dos governados..

(14) 14. 1. A TEORIA DE REPRESENTAÇÃO DE HANNA F. PITKIN Hanna Pitkin, em 2006, escreveu um estudo4 que se tornou referência. para os debatedores da democracia representativa. Sua análise partiu da modificação, no sentido semântico, que a palavra “representação” atravessou até que alcançasse a finalidade que atualmente possui. Será mediante a comparação contemporânea e histórica da concepção da representação, inserida na investigação do seu encaixe estrutural, que se investigará o tema proposto. Como um dos primeiros destaques necessários, Hanna aponta a representação como um fenômeno cultural e político, “um fenômeno humano”. Isso é importante porque ajudará a nortear toda a leitura que se fará das interpretações conjunturais da democracia e do arcabouço que a estrutura. Sabendo que o vocábulo detém conteúdos distintos em variados idiomas, a interpretação do que se chamava “representantes”, em distintas épocas e países, também necessariamente foi considerado pela autora. Para este estudo, consideraremos aqueles que entendemos melhor aderir e dar suporte ao fim proposto: as democracias grega e inglesa como pontos de partida. A escolha não é aleatória, como se demonstrará. Sobre os gregos, a quem consideramos tradicionalmente os construtores do berço da democracia, importa dizer que, embora fosse possível aplicar a palavra “representação” a diversas instituições, o conceito correspondente não lhes era inerente. A definição latina de palavra representare significava “tornar manifesto”, “trazer à presença de alguém”, literalmente, “tornar-se presente”. Ou seja, tinha relação com a abstração, com objetos, com a arte, não com a representação de outras pessoas (PITKIN, 2006:17). Foi a partir da Idade Média que seu conteúdo foi estendido, passando a identificar um tipo de representação mística. A quase onipresença e influência do cristianismo naquele período emprestou à palavra o significado da encarnação (primeiro com Jesus Cristo – o próprio Deus -, depois, com seus apóstolos, por sucessão, e ao Papa e cardeais). O termo ganhou sentido de “Representation” in Political innovation and conceptual change; Terence BALL; James FARR; Russel HANSON (orgs.). Originalmente publicado em 1989 pela Cambridge University Press. 4.

(15) 15. personificação na (e da) vida coletiva; daí proveio a compreensão de que uma comunidade, embora não se tratasse de uma pessoa real, deveria ser entendida como uma pessoa (abstrata) representável.5 Com o passar do tempo e o desenvolvimento de novas leituras, também o magistrado passou a ser visto como “a imagem que representa todo o Estado”. Semelhante transformação ocorreu na realidade inglesa, sobretudo após o aparecimento da palavra represent. Ali a realidade já relacionava com “trazer alguém à presença de outrem”, ou seja, não era abstrato, mas corpóreo, individual. PITKIN aponta que “representante” significava “figurar, retratar”. A partir de então “representação” passa também a indicar uma atividade humana até que assuma o significado de “ocupar o lugar de outra pessoa, substituir” (2006:20). O conceito de representação, enfim, entra no campo da atividade política com o desenvolvimento das instituições, alterando definitivamente o sentido etimológico da palavra; inicialmente, na figura de cavaleiros e burgueses que compareciam à presença do Rei para “dar consentimento à cobrança de impostos e dar informações” das comunidades locais, bem como para informar acerca de disputas judiciais (PITKIN, 2006:21). Tais condutas demonstram o papel a eles estabelecido para atuar junto ao poder régio no controle social e manutenção política e financeira da estrutura medieval centralizada. O que começou como “emissários do Rei” a fim de fazer cumprir seus decretos, assumiu, em evolução, papel de também levar ao governante as queixas das comunidades. Passam, pois, a atuar para o povo, ainda que timidamente, o que colabora para o reconhecimento gradual de que o membro poderia colaborar nos dois polos. Ao serem vistos como agentes comunitários, passaram a ser pagos para essa tarefa. Com o pagamento, surgiu a necessária prestação de contas. É o embrião do accountibility (PITKIN, 2016:22). Os emissários compareciam ao Parlamento para assumir compromissos em nome de sua comunidade. Havia limites e instruções de atuação, contudo. Some-se ao apresentado pela Autora a indicação bíblica de que a “igreja é o corpo de Cristo”. Epistola de Paulo aos Romanos, 12:5: “Assim também nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo, e cada membro está ligado a todos os outros; Epístola de Paulo aos Efésios, 4:4: “Há um só corpo, e um só Espírito, e uma só esperança, para a qual Deus chamou vocês”; 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, 12:27: “Ora, vós sois o Corpo de Cristo, e cada pessoa entre vós, individualmente, é membro desse Corpo” 5.

(16) 16. Não se concedia autoridade para falar “em lugar de” mas “em nome de”. A diferença é crucial, eis que limitativa. Esse emissário já atua em nome do povo e a ele, localmente, presta contas das posições e compromissos assumidos e, por isso, pode ser considerado “representante”. A consolidação dessa dinâmica e seus resultados positivos fizeram com que resultasse, gradualmente, na atuação unificada dos cavaleiros e burgueses. Conforme perceberam queixas comuns de seus delegantes, passaram a apresenta-las em conjunto e se verem como um corpo. A efetividade conduzia a reeleições e maior identificação tanto entre os delegados, até amealharem força suficiente para se oporem ao Rei (PITKIN, 2016:22). A sedimentação do Parlamento como conjunto regular e confiável – embora não-detentor de poder – pode ser apontado como o embrião da separação de poderes. Somente no século XVII foi reconhecido o princípio de que os delegados não atuavam individualmente apenas em nome de seus condados, mas, como grupo, falavam em nome da Nação. O Parlamento não é um congresso de embaixadores de interesses diferentes e hostis, cujos interesses cada um deve assegurar, como um agente e um defensor, contra outros agentes e defensores; mas o Parlamento é uma assembleia deliberativa de uma nação, com um interesse, o da totalidade – em que nenhum propósito local, nenhum preconceito local, deveria guiar, exceto o bem comum, resultante da razão geral da totalidade. Você escolhe um membro, de fato; mas quando você escolhe-o, ele não é membro de Bristol, mas é um membro do Parlamento (BURKE, 2012:101).. Há uma mudança parcial de função. Parcial porque o Parlamento ainda não era visto como uma agência legislativa, embora já sinalizasse o ideal de que toda a Nação estava ali encarnada. Representare, que naquela época ainda considerava o ideal da simbolização, passou a assumir uma autoridade para “agir em nome de” e declarar a lei em conjunto com o Rei (PITKIN, 2016:23). O envolvimento do Rei e do Parlamento (chamado Rei-no-Parlamento) na elaboração de leis aponta para a forte influência religiosa – que persistirá no capitalismo, como se verá em tópico posterior -, cuja concepção de “serem todos um corpo, do qual Cristo é a cabeça” está figurada na reunião de.

(17) 17. parlamentes, lordes, bispos e o próprio Rei no Parlamento (PITKIN, 2006:25). O Parlamento representa todo o reino. Isso dá início a um esvaziamento do poder real e aristocrático. Citando Isaac Pennington, PITKIN (2006:28) transcreve aquela que indica ser “a mais antiga aplicação” do substantivo “representante” para um membro do Parlamento, feita em 1651: “o direito fundamental, segurança e liberdade do Povo; que radica no próprio Povo, e de forma derivada do Parlamento, nos substitutos ou nos representantes do Povo”. Feita a análise histórica, PITKIN passa a estruturar uma teoria de representação que tem em Hobbes e Rousseau, principalmente, seus dois pilares. A ideia de representação em Hobbes, expressa no Leviatã, funda-se em debater a soberania e a obrigação derivadas de um contrato social. Para associá-las, o filósofo define representação em termos de autorização: Um representante é alguém que recebe autoridade para agir por outro, quem fica então vinculado pela ação do representante como se tivesse sido a sua própria. A representação pode ser “limitada” sendo autorizadas apenas algumas ações específicas, ou pode ser “ilimitada”. O último tipo dá lugar à soberania. Por questão cronológica, uma das principais referências para a análise de PITKIN, apresentou no Leviatã seu exame da ideia de representação (PITKIN, 2006: 28-29). Uma multidão de homens é transformada em uma pessoa quando é representada por um só homem ou uma só pessoa, de maneira que tal seja feito com o consentimento de cada um dos que constituem essa multidão. Porque é a unidade do representante, e não a unidade do representado, que faz com que a pessoa seja uma. E é o representante o portador da pessoa, e só de uma pessoa. Esta é a única maneira pela qual é possível entender a unidade de uma multidão (HOBBES, 2004:137).. Para Hobbes o soberano recebe o direito de apresentar todos os representados, que consentem e autorizam todas as ações como se fossem suas. Define-se o conceito pela perspectiva contratualista. Por essa definição há uma alteração do papel dos representantes: deixam, definitivamente, de apenas agir “em lugar de” para laborar “em nome de”. O Leviatã, de Hobbes, é a representação da massa unificada de todas as potências da sociedade que, unida num só corpo, é soberana e incapaz de decidir em sentido contrário ao que dele se espera..

(18) 18 Na analogia hobbesiana, o autor é o “ser representado”, mas que se metamorfoseia inteiramente no “ser representante”, que passa a fazer tudo no “lugar de”, ou “em nome de” outro. [...] o autor, o ser representado, que deve permanecer oculto, é menos um criador do que a fonte da autoridade soberana (daí a ideia da “autorização” para agir). Há que se notar, porém, a intenção hobbesiana de mostrar o que está em jogo quando se institui a soberania, que corresponde não só a uma substituição [...], mas também a um deslocamento ou distanciamento: o movimento que vai do mundo privado para o mundo público, que corresponde à passagem da natureza ao artifício (ARAÚJO, 2013:208).. Embora secularista, a perspectiva de Hobbes ainda guarda alguma influência do pensamento religioso que transferia ao Estado absoluto legitimidade para representar a vontade política dos contratantes. Soberania e comunidade são concomitantes na representação por autorização. Para avançar na formulação que importa à representação atual e balizará o problema que nos propusemos enfrentar, duas questões suscitadas por Hanna Pitkin devem tomar lugar central: a independência do mandato e a influência da vontade do povo nos processos decisórios. Para a primeira o referencial teórico busca esteio em Edmund Burke; enquanto a segunda é validada em Rousseau. Superando a prática sobre a qual até aqui se discorreu, Burke defende a independência do representante para fazer escolhas “em nome ” dos eleitores de toda a nação, sem vinculação de escolhas ou prestação de contas (BURKE, 2012:101), embora expressasse haver um compromisso para “fazer justiça aos homens livres” em suas decisões (BURKE, 2012:100), cuja manifestação sempre deve ser livre: Expor uma opinião é o direito de todos os homens; a dos representados é uma opinião significativa e respeitável, que um representante deveria sempre se regozijar de ouvir e a qual ele deveria sempre considerar muito seriamente. Mas instruções impositivas [authoritatives], assuntos mandados, aos quais o membro [do Parlamento] está destinado cega e implicitamente a obedecer, a votar e a discutir em seu favor – essas são coisas completamente desconhecidas pelas leis desta terra e que surgem de um erro fundamental sobre a ordem e o espírito completos de nossa Constituição. (BURKE, 2012:101). Diz assim por sustentar que uma mera reprodução pelo representante das manifestações dos representados, retiraria dos eleitos sua própria.

(19) 19. expressão, lhes negaria direto à manifestação. Poderia haver uma orientação, não uma imposição. Por isso, a constituição francesa de 1791, artigo 7º, seção III, capítulo I proibiu. o. mandato. imperativo:. “os. representantes. nomeados. nos. departamentos não serão representantes de um departamento particular, mas da nação inteira, e não poderá ser dado a eles nenhum mandato”. Ninguém deveria ser impedido de manifestar aquilo que em acredita ou ser obrigado a defender aquilo no qual não acreditasse. O representante local, uma vez no Parlamento, passaria a representar o bem geral, “o juízo geral do todo”. O membro do Parlamento, para Burke, é independente para agir contra as manifestações prejudiciais em nome do bem comum. É certo que a concepção de “bem comum” ali defendida tem íntima limitação pela realidade para a qual foi proposta: a realidade inglesa aristocrática. O então “bem comum” considerada naturais, por exemplo, privilégios e superioridade de determinada classe – contra o que, veremos posteriormente, discorrerá a crítica (de fundo econômico) de Karl Marx. O governo deve ser exercido para o bem comum e contar com a confiança do Povo. A fundamentação é moral. Burke, segundo Pitkin, não considera a existência de diversos interesses, mas os tem como limitados, pouco numerosos. Os interesses seriam basicamente econômicos e atinentes aos meios de subsistência, seriam “classistas”. Nenhum indivíduo teria um interesse privado, apenas compartilharia interesses locais. Burke baseia-se na compatibilidade de interesses entre pessoas da mesma localidade, descartando a vontade individual como elemento da representação. A vontade não deveria ser considerada porque trataria de fatores egoístas, diversos, em sua maioria, do interesse comum. Sendo o interesse coletivo superior à vontade individual, deixaria de fazer sentido a prestação de contas. Desse modo, a tarefa do representante consistiria em buscar os verdadeiros interesses da nação e trabalhar fundado na razão, não aritmética dos votos e da maioria. Como mencionado, a tese da independência do mandato sustentada por Edmund Burke não foi a que prevaleceu, sendo suplantada pelo que preconizou Rousseau que, exatamente ao oposto, defendia a representação da vontade, da representação pessoal..

(20) 20. A teoria da representação das pessoas que tem interesse prevaleceu e foi adotada tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, considerando-se o recorte temporal do século XVIII. Na medida em que dois países relevantes – o primeiro pelo que representava e o segundo pelo que prometia ser – adotaram a defesa da “representação pessoal” feita por teóricos locais, consolidava-se a democracia representativa. Não se tratava mais, portanto, de o representante negociar no lugar ou em nome da comunidade, de interesses coletivos, mas de dar voz a eleitores e vontades particulares. Nos Estados Unidos da América, “Os Federalistas” apontavam a representação como uma “substituição para o encontro pessoal dos cidadãos”, como a melhor solução para a inviabilidade da democracia direta. Seria, inclusive, superior a esta por ser capaz de assegurar o bem público no conflito de opiniões não individualizadas (PITKIN, 2006:35), na medida em que filtraria e refinaria as personalidades do público. Recordando que na Inglaterra a composição plural de poder no Parlamento já entregara à Câmara a legislação, a partir do instante em que prevaleceu a tese da representação da vontade, foi necessário indagar em qual direção o legislador deveria agir. Sendo ele próprio detentor de uma vontade pessoal, como legislar em nome do bem comum sem que o interesse público fosse prejudicado? Para PITKIN (2006:38), o legislador deve “recompensar ações individuais desejáveis, mas não atrativas do ponto de vista individual, e punir as ações socialmente indesejáveis e atrativas do ponto de vista individual, de forma que o interesse próprio se alinhe com o bem público”. Importa dizer, em tese, que não se trata de defender a vontade própria do legislador ou do eleitor, mas que o representante se valha de sua vontade alinhada ao interesse social, ao bem público. Para que a expressão dos representantes estivesse identificada com o conjunto das vontades individuais dos eleitores – e consequentemente das comunidades -, na Inglaterra, John Stuart Mill6, ao sistematizar o modelo de democracia representativa, argumentou que a frequente rotação nos cargos produziria este resultado na medida em que os produtores das leis saberiam 6. O modelo de democracia representativa, de Stuart Mill, será objeto de análise no tópico 2.3..

(21) 21. que, ao sair da investidura, deveriam viver sob o comando dos ordenamentos que formulavam. Como mencionado, foi Rousseau quem primeiro argumentou no sentido de que o que se representa é a vontade pessoal, não o interesse classista. O governo do indivíduo, do povo, o autogoverno, é a democracia. O governo anterior era o das classes “mais esclarecidas”, “melhor preparadas”, “privilegiadas”, a aristocracia. Somente no autogoverno as pessoas seriam verdadeiramente livres, pela legislatura do povo representado. Feita a exposição da base teórica na qual Hanna Pitkin se estabeleceu, é possível, agora, expor a formulação por ela produzida e que foram resumidas por ALKMIM (2013) em cinco modelos: (1) Autorizativo: a ênfase está no representante. Como visto em HOBBES, uma vez instituído pelo Contrato, cria-se associação entre a vontade dos representados, figurada no governo absoluto e incapaz de contrariar sua própria condição natural. BURKE, com outro enfoque, defendeu que o representante, uma vez eleito, se sobrepõe aos interesses daqueles que o elegeram e passa a defender o interesse da nação como um todo. (2) Liberal: ênfase no representado. O consentimento outorgado faz o representante fiel aos eleitores. O critério decisório se dá pela vontade da maioria. O poder Legislativo é o poder supremo. (3) Crítico: negativa da representação. É impossível representar vontade. O representante não tem como agir em nome do representado sem comprometer a sua própria. O sistema de representação através do voto atomiza e serializa, isto é, embora a eleição reduza até o nível individual a participação, considera para decisão, já na composição da Assembleia, expressão da vontade coletiva. (4) Identidade: há identidade e sintonia entre os elos da relação. A representação é um retrato, uma miniatura dos diversos segmentos de opinião. (5) Processual: o aprofundamento do papel dos representantes e sua relação com os representados se dá na institucionalização, sendo importante estabelecer mecanismos de responsabilização dos políticos, mediante o que se exerce controle. A democracia se consolida como cultura institucionalizada..

(22) 22. Quadro 1. Possíveis modelos derivados do conceito de representação. (ALKMIM, 2013:69). A figura seguinte traz quais autores se relacionaram com cada uma delas.. Quadro 2. Proposta de modelos de teorias sobre representação política, por autores significativos, segundo a ordem cronológica dos textos de referência (ALKMIM, 2013:70)..

(23) 23. Relacionando estes modelos com os teóricos referidos, teremos em Hobbes a expressão da representação por autorização. O filósofo diferencia a pessoa natural – que age por si – da artificial – que age por outrem. Do ponto de vista político, a representação aparece como uma transferência de poder do representado ao representante, que desempenha um papel irrevogável e de livre ação. Cada homem confere a seu representante comum sua própria autoridade em particular, e a cada um pertencem todas as ações praticadas pelo representante, caso lhe seja conferida autoridade sem limites. (HOBBES, 2004:137) A liberdade do autor é a condição para a efetividade do contrato, necessário para a passagem do cruel estado de natureza para a artificialidade que conduz à vida social e à formação do Estado. (ALKMIM, 2013:60). Ao entregar autoridade, transfere-se responsabilidade, dever de agir para que o pacto (contrato) não se desfaça. Com esse desenvolvimento, Hobbes fornece a justificativa da obrigação política, dada por meio da autorização. Quando o representante exerce o poder político em nome do representado, ocorre o que Pitkin denominou acting for. Já a representação liberal contém outras estruturas de relação. Baseiase na semelhança de opiniões entre as partes da representação. Seu proeminente defensor foi John Locke, para quem, contrário a Hobbes, o contrato social não desfigurava o indivíduo na artificialidade do Estado, mas preservava sua liberdade. Trata, assim, de uma perspectiva de representação standing for, na qual o representado mantém uma ligação intrínseca com o representante. [...] cada homem, consentindo com os outros em instituir um corpo político submetido a um único governo, obriga-se, diante de todos os membros daquela sociedade, a se submeter à decisão da maioria e concordar com ela; do contrário, se ele permanecesse como antes do estado de natureza, esse pacto inicial, em que ele e os outros se incorporaram em uma sociedade, não significaria nada e não seria um pacto. (LOCKE, 2009:60). Além de apontar que a decisão vincula a todos a fim de viabilizar o estado político, de relacionar a decisão colegiada como expressão da.

(24) 24. comunidade, Locke volta-se para a decisão por maioria, técnica que viria a ser utilizada como regra nas democracias denominadas liberais. No modelo crítico, nega-se a possibilidade de relação entre as vontades individuais dos elos da representação. Por considerar que o representado tem uma vontade individual, e não apenas interesses distantes, é difícil – embora não impossível – que o representante adote a vontade do representado sem prejuízo da sua própria. A vontade, por ser inalienável, não poderia ser reproduzida, embora capaz de ser coincidente. Daqui surge o paradoxo da representação exposto por ALKMIM (2013:64): sendo a vontade inalienável, irrepresentável, não seria possível representante e representado serem igualados senão no instante exato da votação. Ademais, a obscuridade intrínseca ao voto secreto colocaria as escolhas, as decisões, num plano de inviabilizar um pacto entre as partes porque não se expressam à luz. Se o voto é secreto e não se sabe em que o eleitor votou, como vincular o representante a determinado representado? Por isso, fala da prevalência de um interesse público subjetivo. O representante não tinha liberdade para agir conforme suas preferências individuais ou as de seus eleitores, estando vinculado à vontade geral. Somente a vontade geral poderia dirigir as forças do Estado de acordo com o objetivo de sua instituição, sobrepondo-se aos interesses individuais isolados. Outra forma de tratar a representação é a simbólica (por identidade), que encontrará em John Stuart Mill sua principal citação. Esta também se dá sob o aspecto standing for. É assim chamada por assumir um componente afetivo, por poder estar ligada e significar a exata expressão de identificação entre representante e representado, reforçando imagens, ideias, opiniões. É o resgate do mandato imperativo, no qual a manifestação das partes deve ser a mesma. Quando falamos convencionalmente de representação política, os representantes se associam de forma pessoal com seu eleitorado do mesmo modo como um representante privado se subordina ao seu diretor. Talvez, quando chamamos de “representante” um corpo ou sistema governamental, estamos dizendo algo mais amplo e mais geral sobre o modo como ele funciona como um arranjo institucionalizado. E talvez até mesmo a representação feita por um legislador individual deva ser vista,.

(25) 25 em tal contexto, como incorporada em todo um sistema político. (PITKIN, 1972:221)7. Por fim, a teoria de Hanna Pitkin trata da representação como um sistema, sem o que os modelos dissecados perderiam sua substância. A representação processual é o que também podemos chamar de democracia instrumental. Governos representativos devem assegurar eleições regulares, livres, assegurar direito ao voto, sufrágio universal e direito de oposição. Não trata, então, do conteúdo e forma de relacionamento e aderência ou vinculação entre representante e representado, mas de estabelecer instituições que permitam a essa relação estabelecer-se efetivamente. Trata-se de garantir o êxito e estabilidade do sistema político. A institucionalização cria condições de reunir os demais fatores do poder, estabilizando-os e dando-lhes permanência no grupo social. A institucionalização. determinará. que. tipos. de. organização. de. poder,. solidariedade, liderança e autoridade permanecerão produzindo efeitos desejados no seio da sociedade. O fator institucional baliza as diversas modalidades de poder. Nas palavras de ALKMIM (2013:63), trata-se de um processo institucionalizado de forma sistêmica que possibilita a representação através das eleições e estabelece mecanismos de controle para seu funcionamento, envolvendo diferentes concepções sobre o mandato dos representantes no que se refere à sua independência. Nisso reside o paradoxo da representação: tornar presente o que não está presente. Alkmim defende que uma vez que os processos eleitorais são desenhados na manifestação individual e secreta do eleitor-cidadão, o que se expressa na urna é apenas a escolha por um candidato, não uma adesão de conteúdo entre representante e representado. Afirma isso pelo suficiente motivo de não ser possível a concordância entre todos os tópicos defendidos pelo representante e as cada vez mais plurais “zonas de toque”(ou áreas de interesse) do representado inserido na sociedade “Perhaps when we conventionally speak of political representation, representative stand in the kind of one-to-one person relationship to his constituency or to each constituent in which a private representative stands to his principal. Perhaps, when we call a governamental body or system “representative”, we are saying something broader and more general about the way it operates as an institutionalized arrangement. And perhaps even the representing done by an individual legislator must be seen, in such a context, as embodied in a whole political system”. 7.

(26) 26. contemporânea. Dizer que o representante se vincula ao representado (ou o inverso), para Alkmim, pressuporia ser possível conhecer e aderir todas as manifestações, o que, a começar pelo voto secreto, jamais será permitido. Por isso, representar (tornar presente) a vontade não seria possível. Em resumo, o conceito moderno de representação está fundado na autorização e na responsabilidade. A primeira como um ato que confere autoridade (poder) ao representante para atuar em nome do representado; a segunda é uma espécie de acordo pelo qual o representante deve prestar contas de seus atos por seus atos perante o eleitorado. Por certo, essa foi forma de governo validada em grande parte dos principais países – sobretudo ocidentais – desde o século XVIII. Quase ninguém que apoiava a democracia duvidava que a representação era a sua forma moderna, seu equivalente indireto. Se o governo representativo tinha defeitos, esses defeitos eram atribuídos ao sistema eleitoral particular, ao sistema partidário ou à exclusão de algum grupo do sufrágio. Mesmo a maioria dos críticos socialistas da democracia liberal não questionou a representação em si, mas a sua autenticidade sob o capitalismo. (PITKIN, 2006:41-42). Com essas palavras, caminhamos para debater os necessários pormenores que decorrem da busca pelo entendimento da crise que atravessa a democracia representativa, principalmente no que atine à efetividade da soberania popular diante da influência econômica e política globalizada. Se há crise, quais suas causas? Qual a alternativa mais eficiente e viável? Por ora, valem dois registros, um do próprio Rousseau8, sobre a liberdade – valor fundamental da democracia – do povo na eleição de representantes. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante a eleição dos membros do Parlamento; uma vez estes eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos da sua liberdade, o uso que dela faz, mostra que merece perdêla. (ROUSSEAU, 2015:87) O ato individual do voto secreto combina o efeito da atomização e serialização, alienante para cada eleitor, mas justificado pelo sistema eleitoral como um todo. No ato do voto abre-se mão do poder, da soberania política, pois submete-se essa vontade ao princípio da representação (ALKMIM, 2013:58). 8. Não como uma crítica, mas uma característica da forma de governo representativa..

(27) 27. O sistema e seus valores, no plano interno, tem sido pressionado pelas novas formas de associação e centros de decisão que interferem na formulação de políticas públicas. No externo (transnacional), depara-se com organismos que excedem as fronteiras e cujas atuações igualmente passaram a determinar compromissos de governos, cuja independência se faz mais restrita e que, via de consequência, transforma o Poder Legislativo em mera instância de referendo a acordos internacionais. Nesse quadro, a falta de liberdade prenunciada por Rousseau e a serialização que atinge a soberania política, ao retirar a vontade como elemento decisório, aparecem concretos, mostram-se como fatores que conduzem à elaboração de distintos modos de representação capazes de superar a percepção da crise democrática.. 1.1.. Teoria democrática. Debater democracia e representação sem analisar as teorias que precederam o momento que estamos vivendo, facilita a inclinação do intérprete à parcialidade, na medida em que este conteúdo procede da concepção que se tem de organização social adequada. Por isso, falar da formatação (social e constitucional) comunitária requer resgatar a variação dos limites de liberdade, de origem do poder soberano e das concessões, autorizações outorgadas pelo indivíduo para ser governado. Diversas doutrinas buscaram explicar o modelo associativo. Cada uma delas concebeu o Estado como uma instância de poder que detinha diferentes alcances. Com maior ou menor amplitude, ao longo do tempo, a reprodução de processos de acumulação de riqueza existentes entre as classes foi replicada no Estado, institucionalizando-se as relações de força e de dominação política. 1.1.1. A democracia grega e sua herança para a democracia moderna. Por considerarmos uma referência histórica indispensável ao caminho que será percorrido, mas também porque será referenciada nas teorias que virão a ser analisadas no decorrer desta proposta, iniciaremos relacionando a teoria da representação acima exposta com as definições de governo,.

(28) 28. soberania e cidadania na Grécia antiga. Se nos tempos atuais o cidadão é detentor de direitos políticos cuja base decorre de uma concepção de Estado democrático, nosso ponto de partida será buscar entender quem era o cidadão grego, quais direitos e poder detinha à época chamada clássica (séc. V a.C). No período investigado, cidadão era unicamente aquele que residia na pólis e que, efetivamente, participava da administração do governo. Tratava-se de um governo exercido diretamente nos tribunais pelos cidadãos, cujo corpo era definido por eleição e em mandatos rotativos: “só o povo, em suas assembleias públicas, tem o poder de conferir honrarias públicas e infligir punições, além de aprovar e rejeitar leis e deliberar sobre a guerra e a paz” (ARAÚJO, 2013:18). Apesar da prática da democracia direta, o foco das medidas estava no interesse geral, não na vontade individual. Por isso a afirmação de Aristóteles, inspirada em Sócrates, de que não deveria existir diferença entre governantes e governados, mediante uma relação indissociável (ARISTÓTELES, 2016:90). O cidadão era parte do governo; o governo, anterior à família e à própria individualidade. Isso era defendido com base na ideia de que a cidade era uma criação da natureza e o homem, destinado a viver em sociedade. Considerando os altos ideais filosóficos que regiam a sociedade grega, almejava-se o estabelecimento de máxima liberdade e paz social. Contudo, sua conotação era sensivelmente mais limitada que a atualmente compreendida. Para os antigos, o homem livre era aquele liberto da barbárie. Por ter na pólis a expressão perfeita da vida comunitária na qual todos buscavam o bem comum, o homem livre deveria servir ao governo dessa sociedade perfeita. A liberdade era constituída pela participação ativa e constante no poder coletivo. Liberdade não significava autonomia relativa ao todo, mas sua integração. O cidadão não era aquele definido pela detenção de direitos privados, mas o que possuía direito político, o que governava a cidade e obedecia às ordens coletivas (ARISTÓTELES, 2016:39). Portanto, ser livre não dizia respeito à condição servil ou à gama de direitos individuais que se.

(29) 29. anteporia à investida de outrem, mas à capacidade de integrar este “Estado”. 9 Embora com liberdade restrita e de uma estrita individualidade, quando comparada aos termos atuais, anunciava-se o exercício do poder pelo povo, a quem pertencia a supremacia do poder soberano-coletivo10. O governo deveria ser exercido para o bem geral em detrimento de governos de razões individuais, não para consecução dos interesses dos governantes, mas no de quem não o exercia: “toda cidade é um tipo de associação, e toda associação é estabelecida para algum bem [...], a sociedade política, a mais alta dentre as associações [...] tem em vista o mais alto entre todos” (ARISTÓTELES, 2016:53). E mais: O governo que tem em vista o interesse comum está constituído em conformidade com os princípios da justiça e, portanto, estruturado corretamente, mas aqueles que têm em vista apenas o interesse dos governantes são todos falhos e formas desviadas das constituições corretas (ARISTÓTELES, 2016:124).. Se ao homem não era dado viver fora de sociedade, como agiria contra seu próprio corpo, seu próprio bem? A democracia antiga lançava luz no povo como um todo, não no indivíduo. O Estado era onipotente e prenunciava o Leviatã soberano de Hobbes. Embora tivessem expressões distintas, considerando o viés filosófico que orientava aquela sociedade, os ideais estavam posicionados em patamar superior às práticas individualistas e desviadas da virtude. Esse apontamento merece registro, na medida em que a busca do bem comum permanecerá como alvo nas teorias democráticas renovadas após a Idade Média. É certo que a realidade histórica e o modo de operação daquela forma de governo em muito diferem das sociedades contemporâneas. Todavia, algumas das suas regras permaneceram ao longo do tempo e sustentaram a formação dos sistemas que regem boa parte dos países ocidentais, como a regra da maioria que, embora usualmente associada à prática democrática, era apontada. por. ARISTÓTELES. (2016:40). como. possível. também. nas. oligarquias. 9. A base dessa premissa de pertencimento excluía estrangeiros, escravos, mulheres e crianças, diferenciando-se a cidadania por direitos de nascimento, origem ou condição. 10 “O governo é em toda parte soberano, e a constituição é na verdade o governo” (ARISTÓTELES, 2016: 122).

(30) 30. Democracia ou oligarquia, disse, são meras formas de governo. Tanto numa quanto noutra governa-se pela maioria. O que as diferencia é o destino que se persegue no exercício do governo. Enquanto uns (democratas) preconizam a igualdade, outros (oligarcas) defendem diferença de direitos políticos proporcionais à riqueza. Democracia, então, é definida como uma forma de governo na qual “os homens livres constituem a maioria e exercem o poder soberano” (ARISTÓTELES, 2016:152). Embora o “governo do povo” da idade clássica, quanto à forma, fosse uma democracia direta que pudesse sugerir participação efetiva de todos os cidadãos nas decisões da pólis este governo era exercido de forma alternada, regido pelas decisões da maioria que, circunstancialmente, integrava o Tribunal da cidade. Para o exercício e eleição de cargos públicos, eram preferidos os mais capazes. A Constituição de Sólon, um dos sete sábios da Grécia (640-558 a.C.) estabelecia que os direitos políticos deviam existir em função da riqueza: Na cena retratada no Escudo de Aquiles, um indivíduo, acusado de não pagar a indenização devida pelo homicídio do parente de uma segunda pessoa, procura julgamento por parte das autoridades públicas sob a alegação de que, em verdade, já efetuara o pagamento, de modo que a execução “privada” pretendida fosse indevida. O fator de maior importância demonstrado nesse retrato é o modo de julgamento do processo, comandado pela nobreza. É essa situação que já mostra se uma evolução da sociedade grega, ao indicar que o poder já não mais se concentrava nas mãos do rei; o julgamento do processo e, portanto, a administração da justiça, passaram a ser de incumbência das famílias nobres, que o faziam sempre segundo a tradição, de forma desigual e, portanto, sem segurança para as partes envolvidas. A edição de leis escritas, representando a materialização da dike, de acordo com o novo ideal apresentado por Sólon, não foi capaz de superar o primitivo caráter aristocrático da sociedade grega, uma vez que, mesmo diante de todas essas mudanças políticas, não deixou de haver uma camada de dirigentes, sempre composta por membros da classe nobre; fato que pode ser verificado ainda hoje, conforme, obviamente, as características políticas contemporâneas. Nesse passo, não se pode ainda falar em democracia, porquanto esta é caracterizada não pelo governo das leis, mas pela participação do povo no governo, o que ainda estava longe de ser verificado naquele estágio (KIBRIT, 2012:143-147) (grifo meu).. Os cidadãos participantes do governo, constituíam parte ínfima daquela.

(31) 31. sociedade. A democracia grega concebia uma proposta de liberdade estritamente ligada ao exercício de direitos políticos. Portanto, apesar de denominado democrático, ao analisarmos as restrições ao exercício de direitos políticos que decorriam tanto de sexo e nacionalidade quanto de renda e condição servil, é possível notar no modelo de governo grego fortes semelhanças com a oligarquia. Na oligarquia os homens ricos são o poder supremo, mesmo que decidam em sentido contrário à vontade da maioria. O advento da democracia moderna, com seu caráter de governo moral, fez com que houvesse alteração lenta e gradual no discurso de defesa de privilégios ao ponto de, em nossos tempos, a influência financeira precisar ser disfarçada em forma de lei de modo a garantir a permanência de oligarquias no governo democrático, tal como antes. A forma de governo ateniense tinha influência da filosofia de Sócrates, para quem o governo constitucional é resultado do intermédio entre democracia, oligarquia e monarquia, a combinação do governo formado pelo rei, anciãos e os selecionados entre os cidadãos. É uma forma de governo misto que distribuiria as magistraturas (ARISTÓTELES, 2016:91). A explicação de tal dinâmica pode ser feita mediante resgate da crença na superioridade pelo nascimento, na condição servil de uns que contrastava com a melhor preparação intelectual de outros (ARISTÓTELES, 2016:60-62). O exercício do governo ateniense continha elementos que, embora descritos como democracia direta, faziam-no assemelhado ao sistema representativo parlamentar, forma de democracia indireta que viria a ser construída no Iluminismo (século XVIII): eleição, alternância (ARISTÓTELES, 2016:79-80) e poder na coletividade de “magistrados” a vincular toda a sociedade (ARISTÓTELES, 2016:74). O que os diferenciava, essencialmente, era o fato de que na primeira época a coletividade governava a cidade, enquanto na segunda, o Parlamento submeteu-se ao poder régio até adquirir influência para o exercício da legislatura (PITKIN, 2006:23). Embora justificasse “condições naturais” que acreditava tornar os mais ricos aptos ao governo em detrimento dos servis, Aristóteles não defendia a absoluta liberdade para a acumulação de riquezas. Em sua sistematização de sociedade, a grande desproporcionalidade econômica feriria o bem comum..

(32) 32. Tal influência o fez afirmar que deveria haver um limite para a aquisição de riquezas, sob pena de produzir no cidadão algo diverso de “querer viver bem”, um desejo que jamais seria satisfeito. A limitação da propriedade visava não à igualdade, mas produzir nos homens “superiores” o desejo de não enriquecer mais. Os “inferiores”, por seu turno, deveriam ser impedidos de fazê-lo, a fim de manterem sua condição natural (ARISTÓTELES, 2016:95). Dentre as formas de acumular riqueza, duas eram apontadas: pelo governo ou pelo comércio. A primeira é aprovada, a segunda, reprovável. A resposta que hoje nos soa injustificada volta a fazer sentido se recordarmos que a cidade era um a “criação natural”, enquanto o comércio, “criação artificial” que estimulava a usura. O que é possível concluir dessa primeira análise é que as definições para conceitos relativamente consolidados em nosso tempo, tais como liberdade, (des)igualdade natural, (repúdio à) aquisição de riquezas pelo exercício do governo são cambiantes. Formas de governo, extensão de direitos e constituição de regras fundamentais poderão, no mesmo talante, ser diferenciados conforme a compreensão que a sociedade, a seu tempo, local e condições de relação aceitem e definam como válidas. 1.2.. Soberania democrática no contratualismo. Como segundo ponto de referência histórico, já que adotados como métodos auxiliares o comparativo e o histórico, tomaremos o período que corresponde ao fim do feudalismo, o que se faz por dois motivos: primeiro, para o registro de um modelo de influência econômica privada a limitar a atuação do Estado – tema que voltará a ser abordado no tópico final em sua expressão contemporânea; segundo, pela alteração que daí veio carregada e possibilitou o surgimento dos Estados modernos, com seu formato de poder absoluto. Consideramos estes dois momentos históricos de suma importância, sobretudo no que se refere à soberania, para analisar a projeção que a representação alcançará quando superado o absolutismo e que define o modelo representativo atual. Muito embora as três formas de governo já mencionadas (democracia, oligarquia e monarquia) sejam tratadas como possíveis, é usual entre os.

(33) 33. teóricos que analisaremos a sugestão de que a democracia, embora adequada, tenha dificuldade em ser aplicada em países de grande população. E foi justamente o crescimento populacional aliado à expansão de fronteiras, próprios do fim do feudalismo e início da Idade Moderna que, com seus novos formatos de organização econômica, fizeram com que a influência do poder central crescesse. No período médio ou Idade Média, o poder real continha uma figuração que em muito pouco envolvia questões econômicas. Até então, os produtores eram obrigados a dispor de seus próprios meios de produção e pagar impostos aos seus senhores. A dominação econômica e política não estavam separadas uma da outra (HIRSCH, 2010:23). A vida privada nas vilas, pequenas cidades e feudos estava sob a orientação, influência e controle direto dos nobres e senhores feudais. Oposto ao que ocorria na Grécia antiga, a vinculação e participação do citadino no governo não existiam. Essa é uma diferença que alterou profundamente a forma de relação do indivíduo com a estrutura estatal: é um relacionamento pela dominação. A crise do sistema feudal se deu, contudo, mais por fatores econômicos do que pela insurgência da população ao domínio tirânico. A expansão do comércio promoveu as transformações econômicas e sociais que marcariam o início da idade moderna. A acumulação de riqueza pela burguesia florescente, permitia que parte do povo se libertasse da dependência que tinha dos senhores feudais. Se no feudo os poderes econômico e legal eram, em grande parte, exercidos pelo senhor feudal, o crescimento da burguesia esvaziou a esfera econômica e com isso alterou as demais facetas. O surgimento do capitalismo separou formalmente as classes economicamente dominantes; o “público” e o “privado” separam-se em instâncias particulares. “Somente então se pode falar de “Estado” como algo diferente de outras formas de dominação política” (HIRSCH, 2010:23). O apoio da classe burguesa à consolidação das monarquias nacionais deve ser interpretado como uma medida de interesse econômico e político: o comerciante ganhava mais liberdade de atuação no território já não mais limitado ao feudo; o monarca aumentava seu poder por fazer valer sua lei em.

(34) 34. todo o reino. Essa separação é um pré-requisito para a possibilidade de relações liberais-democráticas. Com o surgimento dos estados nacionais, o poder difuso foi substituído pelo concentrado do monarca. O chefe da nação passou a apresentar-se como razão de ser da ordem. A autoridade necessária para a legitimidade do governante foi buscada na esfera religiosa. Dentro dessas bases estabeleceram-se governos absolutos. O poder concentrado traduzia força para resistir às ameaças territoriais que representavam a extinção de um povo, seu modo de vida e até mesmo sua língua.11 É necessário contextualizar o absolutismo como um modelo que traduzia não apenas intenções geográficas, mas que acompanhava um ideal social que também estava presente na economia e religião. Aliando diferentes expressões sociais, o poder central consolidava a unidade nacional e o controle dessa unidade em uma ideologia. Daí porque soberania12 era entendida unicamente como a plenitude do poder público, do Estado acima de qualquer outro, como um poder de dominação, como a causa formal do Estado. Nessa concepção, a vontade do Estado não dependia da vontade de qualquer outra vontade. Muito embora nesse momento fosse reconhecida uma soberania privada limitada ao âmbito familiar, não se falava em decisões coletivas no aspecto público. Existia apenas o soberano, o governo absoluto. Nenhum outro poder seria capaz de limitar a instituição Estado. O desgaste social produzido pela tirania e – mais que isso, novamente – a pressão econômica exercida pelos comerciantes, conduziram à conclusão de que aqueles que criavam as condições de sobrevivência e expansão do novo modo de vida deveriam ser os titulares das decisões fundamentais: ressuscitava-se o ideal democrático. Contudo, a justificação teológica para investidura do poder Régio ainda era altamente presente e não poderia ser desprezada, sob pena de 11. A análise histórica da configuração geopolítica da Europa permite observar como os países atualmente definidos já integraram diversos impérios e como regiões atravessaram distintas ocupações. Não por acaso ainda resistem muitos grupos separatistas que, evocando características culturais, étnicas ou religiosas apresentam resistência pacífica ou violenta à coexistência sob uma bandeira que consideram não lhes pertencer. 12 Subdividida entre (1) supremacia interna e (2) independência na ordem externa. A primeira constitui a soberania, enquanto a segunda representa o meio de tornar a supremacia efetiva (PAUPÉRIO, 1997:4)..

(35) 35. ilegitimidade de qualquer sucessor (OLIVEIRA, 2005:40-43). Para isso foram formuladas diversas teorias no objetivo de buscar a legitimação de uma nova relação de poder, dentre as quais BOBBIO (2000:25-26) destacou: (i). Teoria dos direitos naturais: o poder do Estado tem um limite que decorre do fato de existir um direito que não é proposto por vontade alguma, mas pertence ao indivíduo pela sua própria natureza. São direitos naturais que precedem o Estado e constituem um limite ao poder deste;. (ii). Teoria da soberania popular ou democracia: mais que limitar o poder por meio de direitos naturais ou por sua distribuição a diferentes órgãos, alcançar a participação de todos os cidadãos é uma proposta que visa à verdadeira quebra do poder estatal. É a mudança institucional do titular do poder. A premissa básica dessa teoria funda-se em que sendo o povo o ponto de partida do poder, jamais teria como cometer abuso contra si mesmo;. (iii). Teoria da separação dos poderes: independente do fato de que o poder estatal dever ser limitado a direitos preexistentes ao Estado, a melhor maneira de contê-lo seria dividi-lo. O poder estatal não deveria estar concentrado numa só pessoa, as funções estatais deveriam ser atribuídas a órgãos distintos. A breve menção acima feita destina-se a resumir o traço comum entre. elas: o poder natural de todos os homens produz uma autoridade também natural, decorrente da natureza humana, que deve ser exercida para o bem da coletividade. O bem do Estado simboliza o de todos, o que justificava sua autoridade. Esse passa a ser o ideal de soberania: povo, titular do poder político por natureza. Todo governo que não fosse exercido em proveito da comunidade popular é tirânico. Para Santo Tomás a legitimidade de um poder é determinada pela justiça de sua aquisição e de seu exercício. Neste, o poder deve dirigir-se no sentido do bem comum, sem contradizer, nunca, o bem divino (PAUPÉRIO, 1997:39).. O direito natural e sua relação com a vontade de Deus eram questões básicas. Apesar da atribuída origem divina do poder do Rei, pregava-se que a finalidade do seu exercício jamais poderia estar afastada do bem divino. Uma.

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