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3.3 A teoria extensiva de autor

3.3.1 Críticas à teoria extensiva da autoria

Dentre as inúmeras críticas que são dirigidas ao conceito extensivo de autor cumpre destacar as que seguem abaixo.

Inicialmente, quanto à premissa de que no conceito extensivo de autor as espécies de participação funcionam como espécies de restrição de pena, Roxin pondera que não resta claro por qual motivo isso ocorre, haja vista que à luz de uma análise teológica todo ato de realização do resultado (toda contribuição) resulta absolutamente equivalente182.

Por outro lado, ao reconhecer as espécies de participação como causas de restrição de pena, o conceito extensivo de autor trouxe a necessidade de se distinguir autoria e participação exclusivamente para esse fim. Considerando que essa concepção não permite distinguir autoria e participação a partir de critérios objetivos – em virtude de essa teoria se posicionar, conforme destacado, no sentido da equivalência valorativa de todas as formas de contribuição –, a referida distinção só seria possível a partir de critério subjetivos.

Como se ha visto anteriormente, existe una tendencia a relacionar, a veces exclusivamente, el concepto extensivo de autor con las teorías subjetivas de la participación, y, es más, se ha afirmado incluso que los defensores de las teorías subjetivas de la participación por fuerza han de mantener un criterio extensivo y no restrictivo de la autoría. La razón de esta identificación no puede ser otra que la consideración de que las teorías subjetivas parten de la siguiente idea: en el plano objetivo, que se identifica con el causal, no cabe establecer diferencias entre los distintos intervinientes (equivalencia de las condiciones), por lo que todos serían en principio autores. Ahora bien, en el plano subjetivo sí que se puede distinguir entre los

180 PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro, parte geral: arts. 1º. a 120º. 7ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 487.

181 GOMES, Luiz Flávio; GARCÍA-PABLO DE MOLINA, Antônio. Direito penal: parte geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 495.

que actúan con animus auctoris y los que lo hacen con animus

socci183.

Por esse motivo, a melhor doutrina afirma que a teoria subjetiva da autoria – que será abordada em seguida – surgiu a partir da conceito extensivo de autor184.

No âmbito do conceito extensivo de autor, a obrigatoriedade e a necessidade de se distinguir autoria e participação a partir de critérios subjetivos, delimitou essa distinção exclusivamente pelos critérios de determinação de pena, afastando-a integralmente do tipo penal185. No conceito extensivo de autoria, a análise das

espécies e dos níveis de importância da participação só interessam no espaço delimitado à aplicação da pena.

Não se pode olvidar, entretanto, que a descrição das espécies de concurso de pessoas pertence à teoria do injusto penal e que a particularidade de alguns tipos penais deve orientar a distinção entre autoria e participação.

Nesse sentido, adverte Wessels que:

Sistematicamente, a descrição das formas de concurso pertence à teoria do tipo de injusto. Isto resulta do nexo previsto no Código Penal entre a realização do tipo e da autoria. Do relacionamento típico da autoria do autor segue-se ainda que os critérios do conceito de autor se orientam segundo a particularidade do respectivo tipo penal.

Assim, nos delitos especiais próprios (...) o respectivo círculo de autor está limitado de antemão através da qualidade do sujeito, prevista no tipo legal (...). Se, e até onde, de outro modo, a questão da autoria depende de critérios especiais, como da lesão a um dever especial tipicamente especificado, do caráter de mão-própria da execução do fato, do domínio do fato ou da posição interna dos

183 DÍAZ Y GARCÍA CONLLEDO. Miguel. La autoría en derecho penal. p. 290.

184 Nesse sentido, Maurach e Zipf. Para os referidos autores, “A causa de la imposibilidad de realiza toda distinción dentro del aporte objetivo y causal al resultado, la teoría del concepto extensivo de autor no tiene otra alternativa que buscar el criterio decisivo en el ámbito de lo subjetivo: si acaso alguien es autor o partícipe depende exclusivamente de su posición frente al hecho”. (MAURACH, Reinhart; ZIPF, Heinz. Derecho penal; parte general. p. 298). No mesmo sentido, Jakobs afirma que “el concepto extensivo de autor sigue siendo aún hoy punto de partida de la teoría subjetiva: En el ámbito objetivo, debido a su carácter causal, todos los que toman parte son autores potenciales; según esta teoría – que no tiene en cuenta lo que ocurre objetivamente, salvo la causalidad – sólo cabe diferenciar con arreglo a lo subjetivo. (JAKOBS, Günther. Derecho Penal Parte General, p. 721). 185 JESCHECK, Hans-Henrich; WEIGEND, Thomas. Tratado de derecho penal, p. 699.

colaboradores para com o fato, deve ser averiguado primeiramente a partir da constituição e das estrutura do tipo penal em espécie186. Ao afastar da teoria do injusto penal a distinção entre autoria e participação, o conceito extensivo de autor reduziu, ao âmbito da censura (culpabilidade), a referida distinção “contradicen el principio estructural del Derecho penal vigente que se compone principalmente por tipos descritos y delimitados objetivamente”187.

Não há como deixar de reconhecer que o conceito extensivo de autoria ao exigir, a partir de regras do direito positivo, a obrigatoriedade do reconhecimento dos tipos legais de participação como causas de restrição de pena, contribuiu no sentido de apresentar elementos mais coerentes para o estudo do concurso de agentes. Todavia, o conceito extensivo não apresentou critérios minimamente racionais para se proporcionar a aludida distinção no âmbito da delimitação da censura penal. Essa delimitação, portanto, ficou exclusivamente a cargo da discricionariedade do julgador188.

Ainda, e o mais importante: a despeito de ter contribuído no sentido de entender ser obrigatório o reconhecimento dos tipos legais de participação como causas de restrição de pena, a teoria extensiva da autora é para nós inservível. A distinção entre autoria e participação deve ser feita no âmbito do tipo e não no âmbito da culpabilidade como propõe essa teoria.

Registre-se, por fim, que, em virtude de a teoria extensiva de autor partir de premissas muitos similares às da teoria unitária, ela apresenta os mesmos defeitos dessa teoria189.