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CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DOS DADOS

5.4. Relação com o processo de transição

5.4.2 Crenças e expectativas

Neste subtema, foram agrupados elementos que, direta ou indiretamente, contribuem para a compreensão das ações da equipe diante da inovação. Tais elementos estão relacionados às ideias, crenças e expectativas que os professores possuíam anteriormente ao trabalho ou que desenvolveram no decorrer do processo.

De acordo com a forma em que a equipe se organizou, alguns membros assumiram colaborar com o processo assumindo apenas o trabalho de autoria do material, enquanto outros se dedicaram às funções de autoria e tutoria.

Neste sentido, os Professores 1 e 4, no início, não se consideravam seguros para interagir com os alunos a distância. Enquanto o Professor 1 mostrava abertura para o uso das tecnologias, mas preferia a interação presencial, o Professor 4, inicialmente, preferia não participar da tutoria, preocupado que estava com a quantidade de alunos e com o uso das ferramentas tecnológicas.

A crença no trabalho que a equipe era capaz de realizar é unanimidade entre os professores e representa um fator facilitador para a realização das atividades. A confiança no empenho e na competência para desenvolver o material é reforçada pelas observações feitas sobre as relações do trabalho em equipe e por suas próprias falas. “Acho que nós todos nunca duvidamos da possibilidade de elaborar este material [...]. Sabíamos que seria um desafio, que seria o nosso primeiro curso.” (Professor 3).

O Professor 2 fala sobre a sua expectativa em desenvolver algo novo com o trabalho, o que indica um fator facilitador diante da “inovação” no sentido de ver na realização das atividades a possibilidade de executar um “ensino diferenciado”.

O Professor 3 revela suas dúvidas quanto à eficácia do ensino a distância na área de matemática:“Eu tinha a concepção que muitos têm, uma coisa muito do senso comum, de que seria algo de qualidade duvidosa, algo que seria difícil de fazer em matemática, principalmente”. Menciona que sua experiência anterior na autoria de material para o ensino de Álgebra Linear foi restrita à elaboração do conteúdo, sem estabelecer vínculos com as atividades e com a forma de exposição. Embora tenha trabalhado na elaboração deste material de modo isolado e sem uma formação específica, esta experiência já o havia despertado para algumas preocupações quanto à elaboração de materiais para o ensino a distância.

crença na possibilidade de tal ensino foi sendo modificada, levando-o a pensar em formas diferentes de apresentar o conteúdo e a explorar os recursos tecnológicos de modo a tornar significativas para o aluno as ideias matemáticas. Ao final, este professor revela que acredita no ensino da matemática na modalidade a distância, ponderando que a qualidade do curso vai depender “da sua estrutura, da instituição da qual faz parte [...] dos instrumentos, das ferramentas e, [...]também, da organização”.

Um outro ponto importante foi a visão sobre o aluno e o seu comportamento diante do ensino a distância.

O Professor 3 mostra que a sua ideia com relação à postura do aluno era de que este tivesse liberdade para fazer o curso quando e como quisesse, porém, a experiência o levou à constatação de que o aluno a distância tem que se “disciplinar” para poder fazer o curso.

Se ficar assim, a hora que ele quiser, ele não faz, então, é muito diferente do que eu pensava. Neste sentido, é outra visão, se for um aluno mais organizado, mais disciplinado, ele consegue desenvolver autonomia, mas eu não pensava isso da educação a distância. Em relação ao conhecimento matemático, sempre tem [...] uma ou outra descoberta, mas eu diria que o grande diferencial foi a abordagem. Faz a gente repensar a forma de abordar determinado assunto, mesmo que esteja relacionado a uma matemática mais avançada (Professor 3).

Os conhecimentos prévios acumulados em experiências anteriores, seja em situações presenciais, seja a distância, geraram expectativas sobre a “qualidade” que o curso viria a ter.

O Professor 1 se refere à sua expectativa de ver refletida no curso a distância a mesma qualidade do curso presencial de Licenciatura em Matemática.

A expectativa do Professor 3 está voltada para a formação do aluno. “Será que, realmente, com a abordagem que nós estamos fazendo e com esta dinâmica de curso, o aluno vai aprender? [...] Que tipo de professor a gente vai formar no futuro?”

O Professor 2 demonstra ter vontade de fazer algo diferente do presencial. “A minha expectativa era de fazer alguma coisa nova, de poder ter tempo para refletir e oferecer um novo material, alguma coisa que tivesse um efeito diferente do que uma aula”.

Já o Professor 4, ao tomar conhecimento do trabalho, achava que “poderia dar

certo” e diz que ficou “bem entusiasmado” com composição da equipe, encarando o

desafio como mais atividade de trabalho. “Não tive nenhuma expectativa, eu fui trabalhar e pronto”.

Embora os professores, nesta altura do curso, não tenham parâmetros suficientes para constatar como os alunos estão, acreditam que a aprendizagem nas disciplinas introdutórias de Funções e Limites e Funções e Continuidade vai se refletir ao longo do curso.

Os relatos com relação às expectativas sobre o trabalho antes do seu início mostram que os professores se preocuparam explicitamente com a aprendizagem dos alunos, com a forma como seria avaliada a aprendizagem a distância e com a adequação do material ao perfil dos alunos.

As expectativas dos professores quanto ao uso dos recursos tecnológicos favoreceram o processo de transição, pelas experiências anteriores e pela consciência de que o ensino a distância pressupõe o emprego de tecnologias de informação e comunicação. Mesmo o Professor 4, que apresentava, inicialmente, um “pouco de receio”, após a experiência com tutoria e interação com os alunos, tem sua visão ampliada, considerando que este trabalho “é muito bom”.