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Crescimento e desenvolvimento

No documento 2008JefersonSaccol parte1 (páginas 73-76)

CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO PROMOTORA DO

2.2 Crescimento e desenvolvimento

Ao iniciar uma discussão sobre desenvolvimento é importante, inicialmente, questionar se há diferenças entre desenvolvimento e crescimento. É importante questionar, também, acerca de qual a relação existente entre ambos. Esses questionamentos tornam-se importantes na medida em que se percebe que há autores que entendem que crescimento e desenvolvimento são sinônimos.

Conforme explica Souza (1999), há uma corrente que aborda o crescimento como sinônimo de desenvolvimento. Paralelamente, há uma outra corrente que afirma ser o crescimento uma questão indispensável para o desenvolvimento, mas insuficiente. Ainda, existe uma outra corrente que afirma ser o crescimento econômico uma simples variação quantitativa do produto, enquanto desenvolvimento aborda mudanças no modo de vida das pessoas, nas instituições e nas estruturas produtivas.

Diante dessas correntes,

[...] desenvolvimento econômico define-se, portanto, pela existência de crescimento econômico contínuo (g), em ritmo superior ao crescimento demográfico (g*), envolvendo mudanças de estruturas e melhoria de indicadores econômicos e sociais. Compreende um fenômeno de longo prazo, implicando o fortalecimento da economia nacional, a ampliação da economia de mercado e a elevação geral da produtividade. Com o desenvolvimento, a economia adquire maior estabilidade e diversificação; o progresso tecnológico e a formação do capital tornam-se gradativamente fatores endógenos, isto é, gerados predominantemente no interior do país. (SOUZA, 1999, p. 22).

Observa-se que o desenvolvimento perpassa o estágio das modificações econômicas e sociais tanto é que, conforme Stiglitz (apud Arend; Orlowski, 2006, p.151) “[...] desenvolvimento representa uma transformação da sociedade, uma mudança das relações tradicionais, das maneiras de pensar, de lidar com a saúde e a educação, dos métodos tradicionais de produção, em favor de meios mais modernos.”

Assim, ao alcançar o estágio de desenvolvido, determinado país demonstra ter passado por modificações econômicas e sociais e, nesse processo de mudança, ter superado suas principais dificuldades, tanto na área social, quanto na econômica. Significa, em outros termos, que esse país está num patamar superior em relação aos países pobres, comumente designados de subdesenvolvidos, em desenvolvimento ou de terceiro mundo. Nesses países, o desenvolvimento econômico é baixo em função da alta dependência econômica dos órgãos financeiros internacionais. Há, também, uma alta dependência tecnológica externa, altos índices inflacionários, concentração de renda, dívida externa exacerbada, entre outros agentes nocivos que impedem o investimento público na educação, saúde, habitação, infra- estrutura pública, em suma, em questões sociais.

Mas, enfim, qual a diferença entre desenvolvimento e crescimento? Em relação a esta pergunta, pode-se dizer que, para esta pesquisa, o desenvolvimento é concebido como um processo qualitativo, que leva em conta a qualidade de vida da população. Por qualidade de vida entende-se o acesso à educação, à alimentação, à saúde, habitação, ao trabalho, aos bens e serviços mínimos que as pessoas necessitam para uma vida digna. Por uma vida digna entende-se àquela em os indivíduos e suas famílias, por meio de seu trabalho e pela operância do Estado, conseguem satisfazer as suas necessidades humanas mínimas.

Sendo assim, por essas afirmações, o conceito de desenvolvimento deve ultrapassar a condição puramente econômica e ser acompanhado por outros indicadores, tais como: alimentação, expectativa de vida, educação, segurança, habitação, saúde, entre outros. Assim, se uma região apresenta alto índice de renda per capita, não se pode afirmar, simplesmente, a partir desses indicadores, que essa região é desenvolvida. A partir deles, essa afirmação não se sustenta porque não garante que as riquezas estão distribuídas de forma equilibrada a toda a população. Em suma, ao se processar de forma qualitativa, o conceito de desenvolvimento que se defende é aquele que leva em consideração a justiça social. Justiça social, por sua vez, compreende a eliminação da pobreza, da desigualdade, do desemprego, entre outros elementos nocivos à sociedade.

No que tange ao conceito de crescimento, entende-se que o mesmo é mais concebido como um processo quantitativo, que preza pela quantidade. “Em sentido mais amplo,

crescimento (econômico) é um aumento contínuo, no tempo, do Produto Nacional Bruto em termos reais. Em sentido mais restrito, crescimento (econômico) seria o aumento do produto

per capita no período considerado para análise”. (BASSAN; SIEDEMBERG, 2003, p. 143- 144). No crescimento, não se levam em consideração fatores sociais, mas o acúmulo (quantidade) de riquezas.

Em relação aos conceitos de crescimento e desenvolvimento, Bassan e Siedenberg (2003, p. 143) informam que

[...] o crescimento é visto como um processo de expansão quantitativa, geralmente observado em sistemas relativamente estáveis dos países industrializados, ao passo que o desenvolvimento é encarado como um processo de transformações qualitativas dos sistemas econômicos que prevalecem nos países desenvolvidos. Paralelamente, Hanefeld (2002, p.127-128) informa que

[...] modernamente, o desenvolvimento econômico, em conjunto com o crescimento econômico e o desenvolvimento social, passaram a ser compreendidos como compartimentos do desenvolvimento total, incluindo, lato sensu, atributos vinculados à melhoria de vida dos indivíduos e à preocupação com o meio ambiente. Representam, de igual maneira, uma inexistência de claros limites entre todos os compartimentos, onde, de fato, suas áreas limítrofes são virtuais, caracterizando verdadeiras “áreas cinzentas” entre todos os elementos considerados. Em adição, tal concepção indissocia o âmbito social do econômico, assim como as áreas indiretamente a eles relacionadas, porém correlatas, e mescla elementos quantitativos e qualitativos, onde os últimos constituem a parcela contemporânea do conceito de desenvolvimento, incluindo, dentre outros, igualdade de oportunidades aos indivíduos, combate à pobreza e à miséria, acesso à educação e à saúde e proteção ao meio ambiente.

Observa-se, diante desses conceitos, que desenvolvimento e crescimento apresentam variações na literatura que trata dessa temática. O que fica mais evidente é que o tratamento como termos sinônimos é pouco utilizado, ou está em desuso. O emprego do termo crescimento como parte indispensável do desenvolvimento é aceito, mas observa-se que tem recebido destaque por parte de muitos pesquisadores, o emprego do conceito de desenvolvimento que compreende a idéia de crescimento, superando-a, isto é,

[...] o desenvolvimento passa a ser tratado a partir de critérios, com a eficiência produtiva, a satisfação das necessidades humanas e o atendimento dos objetivos da sociedade, o que implica uma boa administração dos escassos recursos. O desenvolvimento passa a ser qualitativo, buscando, paralelamente ao aumento da produção, uma melhor distribuição de renda e maior qualidade de vida. Ele se refere ao crescimento de um conjunto de estrutura complexa. Esta complexidade traduz as diversidades das formas sociais e econômicas. (HANEFELD, 2002, p.127-128)

Este conceito de desenvolvimento leva em conta a justiça social e, se assim o faz, considera as possibilidades de redução das desigualdades sociais. Esse processo de desenvolvimento – que aqui se defende e se assume enquanto conceito – converge um movimento de inclusão social, a qual leva a uma distribuição mais igual da renda, bem como uma maior participação da população nas decisões de competência da região. Aliado a esse movimento de inclusão há, também, um amplo movimento de conscientização social, que desencadeia um outro processo: o de identidade do povo que habita dada região. Trata-se de um verdadeiro processo de transformação, que passa pela inclusão e, portanto, pela consciência. Sendo assim, se há transformação e consciência, há vontade e iniciativa, há possibilidades de se desencadear o desenvolvimento regional, que consiste num movimento, num esforço que é impresso de dentro (do local) para fora, por uma coletividade consciente e que deseja a transformação.

No documento 2008JefersonSaccol parte1 (páginas 73-76)