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Desenvolvimento humano e o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano: do

No documento 2008JefersonSaccol parte1 (páginas 79-85)

CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO SUPERIOR COMO PROMOTORA DO

2.4 Desenvolvimento humano e o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano: do

Conforme se discutiu no item anterior, o desenvolvimento regional, numa concepção alternativa (e aqui defendida), deve ser visto como um projeto de emancipação e de libertação das pessoas que vivem em um determinado local. Trata-se de um projeto em que a condição econômica deve ser balizada pelos interesses locais de reprodução social da vida. A partir desse conceito, espera-se que haja a redução das desigualdades sociais e que a região (lugar) social e ambiental se dê de forma auto-articulada, espacializada e regionalizada. Trata-se, em síntese, de um conceito que prime pelo desenvolvimento humano.

Nesse viés, alguns questionamentos tornam-se inquientantes: o que é desenvolvimento humano? Há uma forma de medi-lo? Se há uma forma de medi-lo, quem ou o quê o utiliza? A quem ou o quê afeta?

As respostas a esses questionamentos podem ser, senão respondidas na sua integralidade, dada a complexidade do tema, ao menos respondidas por efeito comparativo, de acordo com o que se apreende a partir da proposta da Organização das Nações Unidas – ONU, responsável pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, em vigor desde 1990.

Assim, de acordo com o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 2007-2008 - Pnud (2007, p.24)

O desenvolvimento humano diz respeito às pessoas. Diz respeito ao alargamento do seu leque de escolhas e das suas liberdades essenciais – o seu potencial humano – de modo que lhes seja permitido viver uma vida que valorizem. Para o desenvolvimento humano, o poder de escolha e a liberdade signicam mais do que uma mera ausência de restrições. As pessoas cujas vidas são corroídas pela pobreza, doença ou analfabetismo não são, em nenhuma acepção do sentido da palavra, livres de levarem uma vida que valorizem. O mesmo se passa com as pessoas a quem lhes foi negado os direitos civis e políticos de que necessitam para influenciar decisões que afetam as suas vidas.14

Cabe salientar que, no que tange ao cenário mundial, a Organização das Nações Unidas – ONU utiliza, na elaboração do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.15

Em relação ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, este

[...] tem como mandato central o combate à pobreza. Em resposta ao compromisso dos líderes mundiais de atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), o Pnud adota uma estratégia integrada, sempre respeitando as especificidades de cada país, para a promoção da governabilidade democrática, o apoio à implantação de políticas públicas e ao desenvolvimento local integrado, a prevenção de crises e a recuperação de países devastados, a utilização sustentável da energia e do meio ambiente, a disseminação da tecnologia da informação e comunicação em prol da inclusão digital, e a luta contra o HIV/AIDS. O Pnud é uma instituição multilateral e uma rede global presente hoje em 166 países, pois está consciente de que nenhuma nação pode gerir sozinha a crescente agenda de temas do desenvolvimento. (ONU, 2007).

Com princípios que sustentam advogar pelas mudanças necessárias para a sustentabilidade do planeta e melhores condições de vida dos povos, o Pnud

14 Human development is about people. It is about expanding people’s real choices and the substantive freedoms—the capabilities—that enable them to lead lives that they value. Choice and freedom in human development mean something more than the absence of constraints. People whose lives are blighted by poverty, illhealth or illiteracy are not in any meaningful sense free to lead the lives that they value. Neither are people who are denied the civil and political rights they need to influence decisions that affect their lives. 15 Nesse aspecto, alguns elementos devem ser esclarecidos, a saber: ONU, Pnud e IHD tendo em vista a sua repercussão global e, em especial, sua inserção no Brasil. A ONU – Organização das Nações Unidas consiste numa instituição internacional, composta por 192 Estados Soberanos. Foi fundada após a 2ª Guerra Mundial com promessas de manter a paz e a segurança mundial, além de incentivar as relações de cordialidade entre as nações, promover o progresso social, melhorar os padrões de vida e de direitos humanos. Os membros são unidos em torno da Carta da ONU, um tratado internacional que enuncia os direitos e deveres dos membros da comunidade internacional. As Nações Unidas são formadas por seis órgãos principais: a Assembléia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Tribunal Internacional de Justiça e o Secretariado. Esses órgãos estão situados na sede da ONU, em Nova York, salvo o Tribunal, que fica em Haia, na Holanda. (ONU, 2007). Ligados à ONU há organismos especializados que trabalham em áreas tão diversas como saúde, agricultura, aviação civil, meteorologia e trabalho – por exemplo: OMS (Organização Mundial da Saúde), OIT (Organização Internacional do Trabalho), Banco Mundial e FMI (Fundo Monetário Internacional). Estes organismos especializados, juntamente com as Nações Unidas e outros programas e fundos (tais como o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef), compõem o Sistema das Nações Unidas. (ONU, 2007).

[...] conecta países a conhecimentos, experiências e recursos, ajudando pessoas a construir uma vida mais digna e trabalhando conjuntamente nas soluções traçadas pelos países membros, para fortalecer as capacidades locais e proporcionar acesso tanto aos recursos humanos, técnicos e financeiros do Pnud e da cooperação externa quanto à sua ampla rede de parceiros: governos nacionais e locais, terceiro setor, universidades e centros de excelência, setor privado, outros organismos internacionais. (ONU, 2007).

No que diz respeito ao Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, Arend e Orlowski (2006, p.153) informam que seu objetivo “é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o PIB per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH pretende ser uma média geral e sintética do desenvolvimento humano.” O IDH incorpora indicadores de esperança de vida ao nascer, grau de alfabetização entre adultos e poder de compra per capita de cada país. “[...] o cálculo do IDH baseia-se em 4 indicadores agrupados em três dimensões, com peso de (1/3) cada dimensão: a). Renda: considera a renda familiar per capita média; b). Educação: é dividida entre taxa de analfabetismo (%) e número médio de anos de estudo; c). Longevidade: consiste na esperança de vida ao nascer.” (AREND; ORLOWSKI, 2006, p. 153).

O IDH é um índice muito difundido no mundo para comparar as condições de vida entre as populações dos mais variados países; é com base nos resultados gerados pela aplicação deste índice que a ONU elabora seus programas objetivando, como se propõe, ao combate à pobreza e à melhoria das condições humanas no globo.

Como dito, o Pnud, assim como a ONU e seus órgãos têm grande impacto no Brasil. Um desses impactos ocorreu em forma de dependência financeira do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – pois estas agências são órgãos da ONU. A dívida contraída com essas agências, por muitos anos, desacelerou o desenvolvimento humano no Brasil, posto que, por meio de suas políticas neoliberais, o mais importante reside no equilíbrio econômico e não no resgate social.

Conforme o relatório do Pnud (2007, p. 24) “o crescimento econômico, uma condição para um progresso sustentável na redução da pobreza, acelerou num vasto conjunto de países.”

O Pnud 2007-2008, (publicado pela ONU em 27 de novembro de 2007) faz uma leitura atualizada dentro do contexto das alterações climáticas evidenciando riscos que estão a emergir, acelerando e elevando o nível de pobreza e vulnerabilidade dos países pobres. Uma análise foi feita por esse relatório a partir de cinco áreas, a saber: baixos rendimentos (Income povert), nutrição (Nutrition), mortalidade infantil (Child mortality) e saúde (Health).

Área Descrição

Baixos rendimentos

(Income povert)

Há ainda cerca de um milhar de milhão de pessoas a viver no limiar da sobrevivência com menos de US$1 por dia, com 2,6 mil milhões – 40% da população mundial – a viver com menos de US$2 por dia. Fora da Ásia de Leste, a maioria das regiões em desenvolvimento estão a reduzir os índices de pobreza a um ritmo lento – demasiado lento para atingir os ODMs de reduzir para metade a extrema pobreza em 2015. A não ser que se verifique uma aceleração na redução de pobreza a partir de 2008, o objetivo não deverá ser cumprido para cerca de 380 milhões de pessoas.

Nutrição

(Nutrition) Estima-se que cerca de 28% de todas as crianças em países em vias de desenvolvimento estejam abaixo do peso indicado ou a sofrer de raquitismo. As duas regiões que dão conta do grosso do déficit são o Sul da Ásia e África Subsariana – nenhuma irá, portanto, atingir os ODMs de reduzir a subnutrição para metade em 2015. Se o crescimento econômico da Índia é inequivocamente uma boa notícia, a má notícia é que isso não se traduziu numa aceleração do progresso, no sentido de reduzir a subnutrição. Metade de todas as crianças do meio rural está abaixo do peso para a sua idade – de um modo geral, na mesma proporção de 1992.

Mortalidade infantil

(Child mortality)

O progresso ao nível da mortalidade infantil está atrás do progresso noutras áreas. Cerca de 10 milhões de crianças morrem por ano antes de atingirem os cinco anos de idade devido, na sua grande maioria, à pobreza e à subnutrição. Apenas cerca de 32 países dos 147 monitorizados pelo Banco Mundial estão no bom caminho para atingir a [...] [redução] em dois terços a mortalidade infantil até 2015. A Ásia do Sul e a África Subsariana estão completamente defasadas desse objetivo, já que se continuarem a seguir o seu atual rumo, os [índices necessários] não serão cumpridos por uma margem que representará um acréscimo de 4,4 milhões de baixas em 2015.

Saúde

(Health)

As doenças infecciosas continuam a minar as vidas das populações mais pobres de todo o mundo. Estima-se que 40 milhões de pessoas sofram do VIH/SIDA, tendo-se alcançado 3 milhões de mortes em 2004. Todos os anos, conta-se 350 – 500 milhões casos de malária e 1 milhão de óbitos: 90 por cento das mortes devido à malária são em África, e o número de crianças africanas atingidas constitui 80 por cento das vítimas da malária em todo o mundo.

Quadro 3 – Riscos relacionados ao Desenvolvimento Humano – Pnud, 2007-2008 (traduzido).

Fonte: Elaborado por Jeferson Saccol Ferreira com base no Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, publicado em 27 de novembro de 2007 pela ONU – Organização das Nações Unidas.

Pode-se dizer que essas deficiências denotam que há desigualdades em nível global. Nesse sentido, destaca o Relatório do Pnud (2007-2008) que

[...] os 40% da população mundial a viverem com menos de US$ por dia, correspondem a 5% do rendimento global. Os 20% mais ricos correspondem a 20% do rendimento mundial. No caso da África Subsariana, toda uma região ficou para trás: corresponderá a quase um terço da pobreza mundial em 2005, muito acima do valor de um quinto atingido em 1990. 16 (PNUD, 2007-2008, p. 25).

No caso específico do Brasil, o Pnud 2007-2008 indica que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aumentou em relação a 2004, permitindo que o país entrasse pela primeira vez na história, no grupo de países com Alto Desenvolvimento Humano, conforme explicita o gráfico a seguir:

16 […] the 40 percent of the world ’s population living on less than US$2 a day accounts for 5 percent of global income.The richest 20 percent accounts for three-quarters of world income. In the case of sub-Saharan Africa,a whole region has been left behind:it will account for almost one-third of world poverty in 2015,up from one- fifth in 1990. (PNUD, 2007-2008, p. 25).

Gráfico 4 – Países com maior IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.

Fonte: Elaborado por Jeferson Saccol Ferreira com base em dados do Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, publicado em 27 de novembro de 2007 pela ONU – Organização das Nações Unidas.

O exposto no gráfico 4 denota que o Brasil chegou à barreira de 0,800 (linha de corte) no índice - que varia de 0 a 1 - considerada o marco de alto desenvolvimento humano. No que concerne à educação, salienta-se que os dados para o Brasil não foram disponibilizados pelo Instituto de Estatística da Unesco para 2005, razão pela qual foram usados os dados de 2004 atualizados. Mesmo assim, os dados refletem, de qualquer forma, uma melhoria da educação no país desde 1990.

A tabela a seguir contribui para ilustrar essa melhoria:

Tabela 1 – Tendências de longo prazo no IDH do Brasil

Ano Expectativa de vida

no nascimento (anos) Taxa de Alfabetização dos Adultos (% com mais de 15 anos)

Taxa de matrícula

combinada (%) (2005 PPC US$) PIB per capita IDH

1990* 66,1 82,0 67,3 7,219 0,723

1995* 68,2 84,7 74,4 7,798 0,753

2000* 70,3 86,9 90,2 8,085 0,789

2004* 71,5 88,6 87,5 8,325 0,798

2005* 71,7 88,6 87,5 8,402 0,800

*Estas séries foram ajustadas levando-se em conta as revisões e atualizações das estatísticas esse ano e não necessariamente são iguais aquelas publicadas em Relatórios do Desenvolvimento Humano anteriores. Fonte: Pnud, Nota de imprensa, 2007.

0,968 0,961 0,953 0,952 0,951 0,941 0,891 0,869 0,867 0,852 0,838 0,829 0,802 0,8 0,336 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Islân dia ( 1°) Can adá ( 4°) Japã o (8 °) Fran ca (1 0°) Esta dos U nido s (12 °) Itália (20° ) Kw ait (3 3°) Arge ntin a (38 °) Chile (40° ) Urug uai ( 46°) Cub a (5 1°) Méx ico (5 2°) Rúss ia (6 7°) Bras il (7 0°) Serr a Leo a (17 0°) IDH Países

Observa-se que em 1990, quando o Pnud foi implantado, a taxa de alfabetização dos adultos com mais de 15 anos era de 82% e a taxa de matrícula 67,3%. Assim, de 1990 para 2005, isto é, em 15 anos, houve um aumento de 6,6% em relação à taxa de alfabetização e de 20,2% em relação à taxa de matrícula.

Salienta-se que ao ingressar no grupo de países de alto desenvolvimento humano, o Brasil dá início a uma nova trajetória. No entanto, observa-se que em relação ao desempenho do conjunto dos países Latino-Americamos – que apresenta um desenvolvimento humano superior ao Brasil – aí incluída a Argentina, Chile, Uruguai, Costa Rica, Cuba, México e Panamá, o Brasil apresenta indicadores de desenvolvimento humano inferiores em quase todas as dimensões.

Tabela 2 – IDH Brasileiro para 2005 relativo ao de outros países na América Latina, Caribe e outras regiões Países Valor do IDH Posição no Ranking Expectativa de vida (anos) Taxa de Alfabetização dos Adultos (% com mais de 15 anos) Taxa de matrícula combinada (%) PIB per capita (2005 PPC US$) Panamá 0,812 62 75,1 91,9 79,5 7,605 Brasil 0,800 70 71,7 88,6 87,5 8,402 Dominica 0,798 71 75,6 88,0 81,0 6,393

América Latina e Caribe 0,803 - 72,8 90,3 81,2 8,417

Todos os países em desenvolvimento 0,691 - 66,1 76,6 64,1 5,282

Alto desenvolvimento humano 0,897 - 76,2 - 88,4 23,986

Fonte: Pnud, Nota de imprensa, 2007.

Diante desses indicativos históricos elencados pelo Pnud (2007-2008) em que o Brasil passa a compor o rol dos países com alto desenvolvimento humano pela ótica da ONU – Organização das Nações Unidas, cabe um olhar mais atento à educação, principalmente porque ela é a base para o cálculo do IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. Cabe também, ao Brasil, enquanto novo membro desse restrito grupo de países com alto IDH, refletir sobre quais caminhos futuros estabelecerá, em especial no que diz respeito à educação e suas políticas educacionais. Observa-se que, mesmo estando em patamar mais alto de IDH, o Brasil comporta, ainda, grandes desigualdades sociais. No Brasil ainda há grande concentração de riquezas, problemas sérios na área de saúde e a educação ainda precisa melhorar muito. Assim, percebe-se que a fórmula matemática do IDH não assume a conotação desejável de desenvolvimento humano que se pretende, isto é, não é o IDH agente capaz de demonstrar que o Brasil segue um caminho seguro em prol de um desenvolvimento humano e mais eficaz. Esse desenvolvimento humano mais eficaz deverá encontrar respaldo no campo da educação, em especial, na educação superior. Ora, se

o desenvolvimento humano, de forma ampla, é um dos objetivos da educação, pode-se dizer que esse desenvolvimento pode (e deveria) ocorrer via responsabilidade social da educação superior. É sobre a responsabilidade social na perspectiva do compromisso social da educação superior que trata o próximo item

No documento 2008JefersonSaccol parte1 (páginas 79-85)