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Crescimento económico e desenvolvimento tecnológico

Capítulo II – O processo de desenvolvimento

4. Crescimento económico e desenvolvimento tecnológico

O facto de os níveis de industrialização se encontrarem em geral directamente associados aos níveis de desenvolvimento levou ao aparecimento de diversas abordagens tentando explicar as razões de tal associação. Uma vez que as diferenças no crescimento do rendimento são largamente explicadas por diferenças no nível de crescimento da produtividade do trabalho, surge também a associação entre crescimento industrial e crescimento da produtividade do trabalho.

As relações entre crescimento industrial, crescimento da produtividade e crescimento do produto interno bruto foram primeiramente enunciadas nos anos 1960 nas

leis do crescimento de Kaldor13 (Kaldor, 1966, 1967), de carácter bastante empírico. De

acordo com Kaldor (1957), há uma relação funcional entre o crescimento de stock de capital e o crescimento da produtividade do trabalho: a taxa de crescimento da produtividade do trabalho é função crescente da taxa de investimento bruto, expressa como proporção do stock de capital. Posteriormente, reconhece que quanto mais dinâmicas são as pessoas no controlo da produção, mais ágeis se revelam na procura de aperfeiçoamentos e mais rápidas se mostram na adopção de novas ideias e na introdução de novos modos de fazer as coisas e também mais rapidamente cresce a produtividade do trabalho e mais elevada é a taxa de acumulação de capital (Kaldor, 1961).

O acréscimo de produtividade industrial pode atribuir-se não só a economias de escala como ao desenvolvimento tecnológico. Thirlwall (1999) distingue entre economias

de escala estáticas e economias de escala dinâmicas. Considera as estáticas como

economias de produção em larga escala, dado que a produção em massa permite produzir bens a um custo médio mais baixo. Vê as dinâmicas como resultantes do efeito induzido pela acumulação de capital e incorporação de progresso técnico no capital. Mas alguns autores, como Abramovitz e David (2001), apesar de reconhecerem que o crescimento da escala de mercado cria um potencial para aumento da produtividade, entendem que a medida das economias de escala não deve aparecer como uma fonte distinta na contabilidade do crescimento, separada do próprio progresso técnico. Efectivamente, os ganhos da expansão do mercado resultam, em parte, da própria expansão do conhecimento e são consequência de um processo de aprendizagem. Por sua vez, os progressos tecnológicos dos dois últimos séculos têm sido em boa medida escala-dependentes (Abramovitz e David, 2001).

Os novos modelos de crescimento económico reconhecem o papel central de actividades de pesquisa e desenvolvimento no processo de crescimento económico. A produtividade marginal de actividades de pesquisa é decrescente para cada empresa14, mas não para o sistema económico como um todo, pois é assumido que a criação de novo conhecimento por parte de uma empresa exerce um efeito positivo noutras empresas. Além disso, a produção de novos bens pode apresentar retornos crescentes. Os modelos de Romer (1986) mostram que as empresas investem em actividades de pesquisa de modo a tirar partido dos retornos crescentes na produção de novos bens e do spillover de conhecimento de outras empresas: os investimentos em bens de capital possibilitam que as externalidades positivas geradas pelas actividades de pesquisa e desenvolvimento se transmitam ao sistema económico. Mas esses modelos assumem que a actividade de pesquisa leva à introdução de novos bens intermédios e de capital, os quais, uma vez introduzidos, se mantêm em produção para sempre. Falta-lhes referência à obsolescência tecnológica. O modelo de Scott (1989), pelo contrário, entra em linha de conta com a modernização de equipamento: assume que a taxa efectiva de introdução de mudança tecnológica é função do investimento.

A função de produção de tecnologia de Griliches (1979) relaciona explicitamente os níveis gerais de eficiência da função de produção com o nível de gastos em pesquisa e desenvolvimento ou com os níveis de patentes geradas (Griliches, 1990).

14 O modelo de crescimento de longo prazo de Romer (1986) assenta em três elementos: externalidades,

Na tradição neoclássica, todos os agentes são perfeitos maximizadores da sua utilidade, estando necessariamente em equilíbrio em cada instante; em consequência, dificilmente é aceite a noção de atrasos devidos a racionalidade limitada e conhecimento imperfeito. Além disso, as mudanças tecnológicas são consideradas totalmente genéricas, como se todos os agentes tivessem os mesmos incentivos para adoptar novas tecnologias, sem olhar ao comportamento micro-económico dos potenciais adoptantes.

Na tradição pós-Keynesiana da análise económica, o relacionamento entre difusão e investimento esquece o papel das escolhas de adopção e equaciona a difusão como resultado do processo de acumulação de capital e investimento. Nos modelos de “catch up”, a que atrás nos referimos, o spillover é assumido como resultado da diferença de níveis de produtividade do trabalho. Não são feitos pressupostos acerca da capacidade diferenciada (conforme se trate de pioneiros ou seguidores) de adopção de tecnologias superiores, geradas nos países avançados. A capacidade de os empresários escolherem bens de capital que incorporam inovação é, na realidade, determinada por diversos factores (Antonelli, 1995), designadamente, pelos níveis de stock de novos bens de capital já adoptados, pelas externalidades cognitivas relacionadas com dinâmicas de viscosidade nas fases preliminares do ajustamento de escolhas de adopção e com os posteriores efeitos cumulativos introduzidos e pelo conhecimento limitado dos agentes económicos e consequentes níveis e ritmos de mudança de custos de transacção.

A explicação cabal da relação entre mudança tecnológica e crescimento da produtividade do trabalho carece da análise específica das características de difusão da própria tecnologia. No caso das tecnologias de informação e comunicação, o modelo de crescimento da produtividade especificado por Antonelli (1995)

PATENT a y a DTIC a PNB GI a gpL= 1 + 2 + 31/ + 4

determina esse crescimento em função do ratio do total de investimento por output (GI/PNB), do ritmo de difusão de novas tecnologias de informação e comunicação (DTIC) – a efectiva velocidade de penetração dessa tecnologias –, da oportunidade de “catching- up” aproximada pelos níveis de rendimento per capita e do desnível (gap) de tecnologia, aproximado pela capacidade de geração de inovação15 – PATENT.

Este modelo integra os efeitos de uma mudança tecnológica totalmente endógena, expressa pelos esforços de investimento que o crescimento qualitativo e quantitativo de

stock de capital supõe, bem como as consequências positivas das efectivas taxas de difusão de nova tecnologia, o spillover genérico de conhecimento tecnológico que flui dos países avançados para os menos avançados e o desnível de geração de tecnologia.

Segundo as hipóteses deste modelo, os níveis de produtividade do trabalho serão explicados pelo stock de capital e pelos efectivos níveis de penetração de inovações tecnológicas (pelos investimentos e ritmos de difusão). A intensidade de esforços na geração de novas tecnologias não é capaz por si só de reflectir totalmente a efectiva penetração de inovação no sistema económico, por causa dos atrasos nos ritmos de difusão devidos a racionalidade limitada e conhecimento imperfeito dos agentes. Utiliza ainda o investimento bruto como estimador da introdução efectiva de novas tecnologias, para reflectir as mudanças na composição qualitativa do stock de capital devidas a substituição de equipamento obsoleto ou menos sofisticado.

Nos diferentes modelos de crescimento económico é reconhecido o papel central do desenvolvimento tecnológico no processo de crescimento económico. Dado que nem todas as empresas possuem capacidade para levar a efeito actividades de pesquisa e desenvolvimento, a criação de novo conhecimento por parte de uma empresa pode ser conseguida não só através da aquisição de bens que incorporem inovação como pela interacção com instituições e com empresas tecnologicamente evoluídas, de modo a tirar partido do spillover de conhecimento desses agentes. Essa interactividade é facilitada pelo uso das tecnologias de informação e comunicação, que potenciam uma actuação sistémica, tanto mais necessária quanto menor for o nível de desenvolvimento tecnológico das empresas e das regiões onde se localizem.