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O crescimento espiritual não é tanto uma questão de tempo, mas é uma cooperação com Deus e um treinamento intencional.

No documento CAMINHO VERDADE VIDA (páginas 98-102)

Uma equação para o crescimento espiritual

3. O crescimento espiritual não é tanto uma questão de tempo, mas é uma cooperação com Deus e um treinamento intencional.

O escritor de Hebreus diz: “A esta altura, já deveriam ensinar outras pessoas, e no entanto precisam que alguém lhes ensine novamente os conceitos mais básicos da palavra de Deus. Ainda precisam de leite, e não podem ingerir alimento sólido. Quem se alimenta de leite ainda é criança e não sabe o que é justo. O alimento sólido é para os adultos que, pela prática constante, são capazes de distinguir entre certo e errado. Portanto, deixemos de lado os ensinamentos básicos a respeito de Cristo e sigamos em frente, alcançando a maturidade” (Hebreus 5.12–6.1, NVT, ênfase adicionada).27 Com base na expres-

26. White, Rethinking the Church, 59.

27. Wesley gostava de descrever a santificação como perfeição cristã, até mesmo intitulando o seu mais famoso catecismo doutrinário, A Plain Account of

Christian Perfection. Ao argumentar que a experiência do amor perfeito, ou “Deus

aperfeiçoando em amor”, pode ser realizada nesta vida, ele aponta: “(1) existe algo como perfeição; pois ela é repetidamente mencionada nas Escrituras. (2) Não acontece tão cedo quanto a justificação; pois as pessoas justificadas devem

são “a esta altura”, podemos presumir que essa parte das Escrituras foi escrita para crentes que já eram cristãos há algum tempo. Em vez de se tornarem professores da jornada da graça através de suas palavras e exemplo, eles ainda estavam comendo comida de bebê. O cami- nho para seguirem uma dieta adulta e tornarem-se cristãos maduros é através do treinamento em retidão — treinamento que os ajude a reconhecer a diferença entre o certo e o errado e a distinguir entre o bom e o melhor. Isso é estar caminhando em direção à perfeição cristã, ou uma maturidade em Cristo que permite que os crentes ar- rependidos se desviem dos aspectos da carne que ainda permanecem no coração.28

A frase “pela prática constante, são capazes” nas Escrituras de Hebreus é intrigante. Implica esforço intencional e implica que os cristãos participem do próprio crescimento espiritual em Cristo. Outros exemplos são abundantes: “Equipe-se! Edifique a sua fé! Corra! Guarde o seu coração!” Todos estes exemplos são mandamen- tos bíblicos para desenvolver, no mundo, o que Deus está fazendo em nós. Este treinamento é realizado por práticas específicas — ou meios da graça — que John Wesley chamou de obras de piedade e obras

‘prosseguir até à perfeição’. (Hebreus 6.1). (3) Não acontece tão tarde como a morte; pois Paulo fala de homens vivos que eram perfeitos (Filipenses 3.15)”. Wesley, A Plain Account of Christian Perfection, Annotated, eds. Randy L. Maddox and Paul W. Chilcote (Kansas City, MO: Beacon Hill Press of Kansas City, 2015). 28. John Wesley, num sermão intitulado “The Repentance of Believers”

[O Arrependimento dos Crentes], enfatizou a contínua necessidade de

arrependimento para os cristãos que buscam a vida santa. Num artigo apresentado em uma conferência de santidade, um dos meus professores de teologia do seminário, Rob L. Staples, disse: “A inteira santificação pode ser entendida como um compromisso total do nosso destino da theosis [renovação à imagem de Deus] com um contínuo arrependimento por, e resultante limpeza de qualquer coisa que impeça ou dilua esse compromisso, ou o que Wesley chamou de ‘arrependimento dos crentes’ que disse ser ‘necessário em todas as etapas subsequentes do nosso percurso cristão’”. Staples, “Things Shakable and Things Unshakable in Holiness Theology,” Revisioning Holiness Conference, Northwest Nazarene University, February 9, 2007.

de misericórdia.29 As obras de piedade incluem os meios instituídos

da graça, como oração, ler a Bíblia, jejuar, participar da Santa Ceia, batismo e passar tempo com outros cristãos. As obras de misericórdia também são um meio da graça enquanto se presta serviço a outras pessoas, como por exemplo “alimentar os famintos, vestir os nus, abri- gar o estrangeiro, visitar os que estão na prisão ou doentes e instruir os desinformados”.30 Praticamos os meios da graça, assim como os re-

cebemos como presentes; a nossa participação é necessária.31

No entanto, devemos ter cuidado para não confundir participa- ção com controle. Não controlamos o nosso crescimento espiritual, nem o causamos. Há algumas coisas que estão sob nosso controle. Podemos fazer um telefonema, dirigir um carro ou fazer uma tare- fa. Há também coisas sobre as quais não podemos fazer nada. Não podemos mudar as condições climáticas. Não podemos mudar nossa genética. Existem coisas que podemos controlar e outras que não po- demos — ambas existem.

No entanto, há também uma terceira categoria: as que não con- trolamos, mas com as quais podemos cooperar. Pense em dormir. Se você tem filhos, pode estar familiarizado com a necessidade de ter que dizer a eles para irem dormir. Às vezes, eles respondem: “Não consigo!” Eles estão parcialmente certos. Não conseguem ir dormir da mesma maneira como se faz um telefonema. Como pais, assegu- ramos aos nossos filhos que eles podem fazer algumas coisas para ser

29. “Por ‘meios da graça’ entendo sinais externos, palavras ou ações, ordenadas por Deus e designadas para esse fim, como os meios comuns pelos quais Ele pode transmitir aos homens a graça preveniente, justificadora ou santificadora.” Wesley, “Sermon 16: The Means of Grace,” II.1, http://wesley.nnu.edu/john-wesley/the- sermons-of-john-wesley-1872-edition/sermon-16-the-means-of-grace/. Os meios de graça são também às vezes chamados de disciplinas espirituais.

30. Joel B. Green and William H. Willimon, eds., Wesley Study Bible New Revised

Standard Version (Nashville: Abingdon Press, 2009), 1488, footnote “Going on to

Perfection”.

31. Para obter mais informações sobre os meios da graça, consulte o capítulo 5, “Graça Sustentadora”.

mais fácil dormir. Eles podem se preparar para tal. Podem deitar na cama, apagar as luzes, fechar os olhos, ouvir música suave e o sono acabará chegando! Eles não podem controlar o sono, mas não ficam desamparados. Eles podem estar disponíveis para dormir e deixar que o sono os invada. O mesmo se aplica ao crescimento espiritual. Não podemos nos santificar ou nos tornar como Jesus. O Santo é que nos torna santos. Deus é o nosso santificador. No entanto, tal como em nossa salvação, é necessário haver cooperação. Nós não nos salva- mos, mas devemos dizer sim à graça salvadora.

O eminente professor de discipulado Dallas Willard disse: “A gra- ça não se opõe ao esforço; é contrária a ganhar”.32 Graça é mais do

que regeneração, justificação e perdão. A graça é necessária para toda a jornada do discipulado. Mesmo assim, talvez o grande perigo de nosso tempo não seja pensar que estamos fazendo muito em nossa jornada de discipulado, mas supor que não devemos fazer nada. A passividade pode ser tão perigosa quanto o legalismo. Quando Paulo diz para tirar o velho eu e vestir o novo, certamente quer dizer que devemos fazê-lo com a ajuda de Deus. Paulo é enfático em relação a isso: “Exercite-se, pessoalmente, na piedade” (1 Timóteo 4.7) e no- vamente: “Vocês não sabem que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Corram de tal maneira que ganhem o prêmio” (1 Coríntios 9.24).

Graça significa que Deus fez tudo o que não poderíamos fazer por nós mesmos, mas isso não significa que agora nos tornamos con- sumidores que nada contribuem para o relacionamento. Esta ideia equivocada explica a abordagem do discipulado sem ações de muitos cristãos e, como resultado, a falta de crescimento e maturidade espiri- tual. Assim, Dallas Willard também disse, “sabemos, como Jesus diz: ‘porque sem mim vocês não podem fazer nada’ (João 15.5) (...) mas é

32. Dallas Willard, The Great Omission: Reclaiming Jesus’s Essential Teachings on

melhor acreditarmos que o contrário deste versículo diz: ‘Se não fize- rem nada, será sem mim’. E esta é a parte que temos mais dificuldade em ouvir”.33 Cooperamos com a graça ativa de Deus reordenando as

nossas vidas em torno das atividades, disciplinas e práticas que foram modeladas por Jesus Cristo. Além disso, participamos delas não para ganhar nossa santificação, mas para alcançar, por meio do treinamen- to o que não podemos fazer meramente “tentando com mais afinco”.

No documento CAMINHO VERDADE VIDA (páginas 98-102)