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Graça sustentadora: espiritual e prática

No documento CAMINHO VERDADE VIDA (páginas 143-147)

A graça sustentadora é espiritual e prática. É espiritual porque precisa do Espírito. Assim como o fruto físico é o produto natural de uma coisa viva, o fruto espiritual é o produto do Espírito Santo. Não podemos fabricar a profunda obra de Deus em nós pelo poder do Espírito Santo — é o que vem de fora e, como tal, é totalmente um presente. No entanto, também é prático; de forma simples, requer práticas. Estas práticas assumem a forma da jardinagem, para que o que começou em nós seja “completado” (Filipenses 1.6) e produza “frutos de justiça” (Filipenses 1.11). Nenhum agricultor que planta milho na segunda-feira espera comer espigas de milho no próximo domingo. Da semente à colheita é preciso cultivo e tempo. A água e luz solar são necessárias, os fertilizantes devem ser aplicados e as ervas daninhas devem ser tratadas se quisermos aproveitar os benefícios da fruição.

Somos uma cultura instantânea: café instantâneo, pipocas de microondas e internet de alta velocidade. As pessoas em cafeterias gritam com seus dispositvos móveis se demorarem mais do que al- guns segundos para se conectar ao Wi-Fi. A expectativa de tudo ins- tantâneo deixa todos impacientes. De onde isso vem? Afirmo que

46. Wright, After You Believe, 196. 47. Wright, After You Believe, 196–197.

é alimentado por um desejo enraizado de gratificação instantânea, que não é um fenômeno moderno — está na raça humana há mui- to tempo. Embora existam muitos exemplos nas Escrituras do vírus mortal que é a gratificação instantânea, Esaú — famoso pelo direito de primogenitura — é o mais infame. Sua triste reputação foi estabe- lecida após um longo e malsucedido dia de caça. Quando voltou ao acampamento, estava faminto. Seu astuto irmão gêmeo, Jacó, estava preparando um ensopado de lentilhas em uma fogueira. Esaú exigiu comer. Sempre calculando os seus passos, Jacó negociou um acordo: “Primeiro me venda o seu direito de primogenitura” (Gênesis 25.31).

O direito de primogenitura, ou o direito de filho mais velho (tam- bém conhecido como lei da primogenitura), era uma regra de herança comum que garantia privilégios financeiros e a autoridade familiar ao filho mais velho do sexo masculino — uma bênção prestigiosa e lucrativa. Jacó ter pedido a Esaú para lhe vender um bem tão valioso por um prato de ensopado de lentilhas foi escandaloso. A resposta de Esaú foi igualmente ultrajante: “Estou morrendo de fome; de que me vale o direito de primogenitura?” (25.32). Ele estava disposto a trocar seu bem mais valioso e precioso por um momento de gratificação ins- tantânea — literalmente, uma prato de ensopado de lentilhas.

A ironia não pode ser ignorada. Que tipo de pessoa impulsiva trocaria algo de valor infinito e inestimável por um momento de gra- tificação instantânea que terminaria dentro de alguns momentos? No entanto, nossa cultura de gratificação instantânea faz isso constante- mente: troca algo de valor infinito e inestimável por algo que se sabe que vale muito menos — algo duradouro por algo de curta duração. “Eu quero o que eu quero e quero agora! Quero que meus apetites sejam satisfeitos, mesmo que me custe tudo”. Não é de admirar que o autor de Hebreus iguale a ação de Esaú à imoralidade pecamino- sa: “E cuidem para que não haja nenhum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um prato de comida, vendeu o seu direito de

primogenitura. Vocês sabem também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimen- to, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hebreus 12.16–17). É uma lição trágica e aprendida de forma dura que não deve ser igno- rada. É necessária disciplina para a vida santificada e não se pode prejudicar o processo de discipulado.

Tiger Woods é aclamado como um dos maiores jogadores de golfe da história. Quando eu era jovem e estava aprendendo a jogar golfe, tentei imitar seu estilo. Até comprei um chapéu para combinar com os que ele usava. Havia apenas um problema: Tiger praticava duran- te horas todos os dias e isso acontecia desde que tinha começado a andar.48 Mesmo quando se tornou o melhor jogador de golfe do mun-

do, os especialistas disseram que, ainda assim, continuava praticando mais do que qualquer outro. Posso dizer que quero jogar golfe como o Tiger Woods, mas isso não significa nada a menos que meu compro- misso com os treinos seja proporcional ao meu desejo. A gratificação instantânea não será suficiente. Não importa o quanto eu queira que seja diferente, o meu jogo de golfe será proporcional ao meu compro- misso com os treinos.

Às vezes, as pessoas dizem: “Quero ser como a irmã Fulana de Tal. Ela parece estar tão perto de Deus. Vejo Jesus nela. Ela é uma santa”. Não é ruim vê-la como um bom exemplo de semelhança a Cristo e procurar imitar seu estilo de vida, mas o que você talvez não saiba são as horas e horas que ela passa a sós com o Senhor em meditação e oração — as décadas que ela tem gasto no campo da prática espiri- tual, sendo moldada para o resultado que se vê agora. Ela não chegou onde está cedendo à gratificação instantânea. As práticas espirituais formaram nela temperamentos santos que agora se parecem a virtu- des. Ela cultivou o fruto do Espírito e é por isso que amor, alegria, paz,

48. Woods apareceu num bem conhecido programa de televisão aos dois anos de idade e mostrou a sua habilidade no golfe.

longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domí- nio próprio parecem tão obviamente presentes.

A santidade não é um momento de tempo e pronto! — a virtude é adquirida. Não! É no que somos formados. “A conversão é um presen- te e uma conquista. É o ato de um momento e o trabalho de toda uma vida”.49 A paciência a longo prazo é o que é necessário para a jornada

da graça. Devemos cultivar o fruto.

Parece justo concluir um capítulo sobre a graça capacitadora de Deus com uma oração pela pureza que foi feita aos santos durante mais de mil anos:

Deus Todo-Poderoso, para Ti todos os corações estão abertos, todos os desejos conhecidos, e de Ti nenhum segredo está escondido; purifique os pensamentos de nossos corações pela inspiração do Teu Espírito Santo, para que possamos amá-Lo perfeitamente e magnifi- car dignamente o Teu santo Nome; através de Cristo, nosso Senhor. Amém.50

49. Jones, Conversion, quoted in Foster and Smith, Devotional Classics, 281. 50. The Book of Common Prayer (Cambridge: Cambridge University Press, n.d.),

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