• Nenhum resultado encontrado

A CRISE DO MEIO AMBIENTE E A TEOLOGIA DE LEONARDO BOFF: UMA RESPOSTA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA EVANGELICAL

4.1. Uma perspectiva evangelical quanto ao problema do meio ambiente

4.1.2 A criação de Deus

O termo criação faz referência a um ato mediante o qual, algo que não existia antes, naquela forma, passa a ter existência. Pode ser entendido como o conjunto de todos os seres criados.

A base de compreensão para discorrer sobre este termo está na Bíblia. Na língua grega clássica, existem dois grupos de palavras que exprimem a palavra criação:

katabolh,

(katabolé) e

kti,sij

(ktísis). O significado de

katabolh,

, pode variar de acordo com o contexto, e primariamente, se refere à fundação. Este termo pode significar "início", algo que dá direção e determinação a alguma coisa, podendo também se referir a um ponto histórico inicial, conforme exemplifica Coenen (2000, p. 497), nas frases empregadas pelos escritores clássicos:

pro. katabolh/j ko,smou

(pró katabolês kósmou), “desde o início do mundo", já empregado de modo absoluto, no sentido de "criação", “a totalidade das coisas criadas”. Assim, no Novo Testamento, a palavra se refere à fundação do mundo. Ela significa "fundação"; empregada de modo absoluto veio a ser expressão fixa para o ponto a partir do qual se calculam datas históricas, conforme a cronologia judaica. Quando a atividade livre de Deus é datada antes do ponto no tempo,

pro. katabolh/j ko,smou

, propósito é declarar que a providência de Deus é independente do início absoluto que Ele mesmo fixou, e conseqüentemente, da história. O termo

kti,sij

, pode também ser entendido originalmente como “fundação”. É importante destacar que este termo descreve o processo de vir a existir e tornar-se, como resultado de uma decisão da vontade. Ambos os grupos de palavras se apresentam no Novo Testamento, mas o grupo

kti,sij

é muito mais empregado nas declarações bíblicas a respeito da

atividade criadora de Deus, fazendo referência à existência das coisas em geral e também no que diz respeito à fé em particular. Coenen (2000, p. 497) segue discorrendo que no grego clássico, a raiz

kti

, já pode ser encontrada no grego miceano e tem o significado de “edificar sobre” e “fundar”. Em Homero, o verbo

kti,sw

tinha este significado original, mas depois foi transferido para “trazer à existência”, colocar em “operação” e “colonizar”. O substantivo derivado,

h` kti,sij

, significa “o ato da criação”, “a coisa criada” – o resultado deste ato. No Antigo Testamento, temos o termo Hebraico “bãrã”, no geral grego,

poiei/n

, "fazer", um

termo teológico cujo sujeito sempre é Deus, que se emprega para transmitir a fé explícita na criação. No livro de Gênesis, capítulo primeiro, este termo exprime a atividade criadora incomparável de Deus, na qual a palavra e o ato são a mesma coisa. Ele aponta para a atividade de Deus em chamar à existência o mundo e as criaturas individuais, e também se refere às Suas ações na história que subjazem à eleição, ao destino temporal, ao comportamento humano e até à justificação. O termo “bãrã” também se emprega para exprimir a nova obra da criação, da parte de Deus, que se estende para a história, ou melhor, a continuação histórica da Sua atividade criadora. Um povo que ainda será criado louvará a Deus: “Ficará isto registrado para a geração futura, e um povo, que há de ser criado, louvará ao Senhor” (Salmo 102.18). Também no texto: "Cria em mim, Ó Deus, um coração novo" (Salmo 51.10), mais uma vez se emprega neste sentido. Estas duas últimas referências revelam como ocorreu uma separação da situação da criação original, que tornou necessária a intervenção divina em prol do povo escolhido e do pecador individual (COENEN, 200, P. 1360).

O verbo no português “criar”, vem do latim “creare”, que significa produzir, gerar. Esta palavra tem seu sentido filosófico em relação à origem do mundo, do homem e de outros seres, tanto físico como espiritual. É ato de dependência que acontece dentro da história.

O conceito de criação tem um vínculo direto, logicamente, com o próprio criador. Uma vez que ela tem começo em Deus, deverá encontrar seu cumprimento no mesmo. A implicação está na dependência da criação em relação ao criador, definida no Novo Testamento, quando diz que tudo foi criado da parte de Deus, por Deus e para Deus23.

O Antigo e o Novo Testamento apontam o verdadeiro Deus como criador de todas as coisas, alicerce indispensável da teologia sã. A fé, a razão e a revelação concordam entre si que Deus é a causa da criação. Assim, a nossa teologia tem início pela base do conceito de que Deus criou e trouxe à existência os universos e os seres materiais e imateriais. Por causa deste fato, tudo o que foi criado deve buscar e encontrar em Deus a razão de sua existência e o conseqüente destino.

Esta afirmação aponta para uma característica distinta escatológica de tudo o que foi criado. No conceito da criação, como ato eterno de Deus, temos as formas e tipos vindos à existência a partir de um ato de Deus, como já dissemos, recebendo desse criador sua manutenção. A implicação desta declaração é que nem sempre a criação existiu como uma realidade, mas, sempre fez parte do pensamento de Deus. Deus concretizou seu pensamento dentro do tempo e as coisas vieram à existência. Então, houve um tempo em que somente Deus existia e a partir daí, mediante o poder de sua palavra tudo foi criado.

23 Romanos 11.36: Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória

Do ponto de vista do Novo Testamento, Deus cria todas as coisas por meio de seu Filho, trazendo à existência o material e o imaterial. Deus criou tudo em Cristo e para Cristo. Deus fez o mundo de coisas que não aparecem24, que podem indicar coisas imateriais.

Assim, se há uma causa primeira, na reflexão cristã, Deus é o ser supremo, o todo-poderoso, que traz à existência todas as coisas.