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A VIDA E OBRA LITERÁRIA DE LEONARDO BOFF

2.2 Teologia de Leonardo Boff

2.2.1 Método teológico de Leonardo Boff

Leonardo Boff define Teologia como o discurso sobre Deus e de todas as coisas vistas à luz de Deus. Para ele a consciência de Deus surge num momento da evolução de milhões de anos. A palavra Deus expressa um valor supremo, um sentido último do universo e da vida e uma fonte originária de onde provêm todos os seres. Boff entende que os textos sagrados das religiões testemunham a permanente atuação de Deus no mundo, favorecendo a vida, defendendo o fraco, oferecendo perdão ao caído e prometendo a eternidade da vida em comunhão com Ele. É na fé cristã que a promessa de união feliz é antecipada e ao mesmo tempo aponta para o destino de toda a criação no ato de Deus se acercar da existência

humana se fazendo Ele mesmo Deus em Jesus de Nazaré. Boff ressalta a função da teologia nos dias atuais:

1. Colaborar na libertação dos oprimidos;

2. Ajudar a preservar a memória de Deus para que não se perca o sentido e a sacralidade da vida humana, ameaçada por uma cultura da superficialidade, do consumo e do entretenimento.

Boff compreender que devemos unir sempre fé com justiça, pois é daí que nasce a perspectiva de libertação e importa manter a chama da lamparina sagrada sempre acesa, donde se alimenta a esperança humana de um futuro bom para a Terra e a humanidade.

2.2.2 Ecoteologia

Boff se baseia na moderna cosmologia que ensina que tudo tem a ver com tudo em todos os momentos e em todas as circunstâncias. Assim, o ser humano não pode considerar-se independente sem precisar dos demais, afastando-se e se colocando sobre as coisas. Este deve sentir-se junto e com elas, numa imensa comunidade planetária e cósmica. O alvo é a recuperação da atitude de respeito e veneração para com a Terra. Para Boff somente se consegue isso no resgate da dimensão do feminino no homem e na mulher:

Pelo feminino o ser humano se abre ao cuidado, se sensibiliza pela profundidade misteriosa da vida e recupera sua capacidade de maravilhamento. O feminino ajuda a resgatar a dimensão do sagrado. O sagrado impõe sempre limites à manipulação do mundo, pois ele dá origem à veneração e ao respeito,

fundamentais para a salvaguarda da Terra. Cria a capacidade de re-ligar todas as coisas à sua fonte criadora que é o Criador e o Ordenador do universo. Desta capacidade religadora nascem todas as religiões. Ele propõe a revitalização das religiões para que cumpram sua função religadora.

Boff argumenta que parte as causas do déficit da Terra se encontram no tipo de mentalidade que vigora, cujas raízes alcançam épocas anteriores à nossa história moderna. Isto porque há em nós instintos de violência, vontade de dominação, arquétipos sombrios que nos afastam da benevolência em relação à vida e à natureza. Dentro da mente humana se iniciam os mecanismos que nos levam a uma guerra contra a Terra. Ele denuncia que nossa cultura é antropocêntrica, pois considera o ser humano rei/rainha do universo. Nas palavras de Boff, esta estrutura quebra com a lei mais universal do universo: a solidariedade cósmica. Todos os seres são interdependentes e vivem dentro de uma teia de relações. Todos são importantes.

Da perspectiva da ecologia integral, Boff propõe Terra e seres humanos emergindo como uma única entidade. A saber, o ser humano é a própria Terra enquanto sente, pensa, ama, chora e venera.

Caminhando junto com os cosmólogos, ele compreende que todo o universo, e conseqüentemente a Terra, está em cosmogênese. Boff entende que: após o Big- Bang, a evolução está criando mais e mais seres diferentes e complexos. Quanto mais complexos mais se auto-organizam, mais mostram interioridade e possuem mais e mais níveis de consciência até chegaram à consciência reflexa no ser humano. O universo, pois, como um todo possui uma profundidade espiritual. Para estar no ser humano, o espírito estava antes no universo. Agora ele emerge em nós

na forma da consciência reflexa e consciência do amor. E, quanto mais complexo e consciente, mais se relaciona e se religa com todas as coisas, fazendo com que o universo seja realmente uni-verso, uma totalidade orgânica, dinâmica, diversa, tensa e harmônica, um cosmos e não um caos.

Tudo se mantém religado num equilíbrio dinâmico, aberto, passando pelo caos que é sempre generativo, pois propicia um novo equilíbrio mais alto e complexo, desembocando numa ordem, rica de novas potencialidades.

2.2.3 Proposta

Boff propõe a busca de um novo começo, uma renovação. Há uma promessa a se cumprir, e para isto a humanidade de comprometer-se a adotar e promover os valores e objetivos da Carta da Terra. Ou seja, há uma base escrita que deve ser compreendida e cumprida.

Boff ressalta que para tal, deve haver uma mudança na mente e no coração. Novamente o destaque do novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Para ele, devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender da continuada busca de verdade e de sabedoria. Necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra junto com um instrumento legal vinculante com referência ao ambiente e ao desenvolvimento.

CAPÍTULO 3