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A CRISE DO MEIO AMBIENTE E A TEOLOGIA DE LEONARDO BOFF: UMA RESPOSTA NA PERSPECTIVA DA TEOLOGIA EVANGELICAL

4.1. Uma perspectiva evangelical quanto ao problema do meio ambiente

4.1.3 As dores da criação

O apóstolo Paulo diz no texto de Romanos:

Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou (8.18 – 22).

Schaeffer (2003, p.218) levanta a questão: Por que a criação está gemendo? Em seu ponto de vista ele diz que a causa está na anormalidade a que esta criação foi entregue por causa do pecado.

Segundo o texto bíblico, a queda não foi apenas do gênero humano, mas de toda a criação, pois o pecado afetou toda a criação:

E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida (GÊNESIS 3.17).

24 Hebreus 11.3: Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira

A humanidade pecou, rebelou-se contra seu criador, e toda a natureza foi juntamente desviada de seu curso. Hendriksen (2001, p.354) defende que o versículo 22 de Romanos 8 se refere à criação irracional, animada e inanimada, chamando-a de criação subumana ou simplesmente de natureza. É preciso ter em mente que não foi por sua própria escolha que a natureza se tornou sujeita a futilidade, ou seja, não foi a criação irracional que pecou, mas foi o homem.

A doutrina da queda cósmica está implícita no registro bíblico de Gênesis 3, onde a terra recebe maldição por causa do homem, até Apocalipse 22, onde nunca mais haverá qualquer maldição. Bruce (1997, p.137) diz que o homem foi encarregado da criação inferior e a envolveu consigo quando caiu.

Cranfield (2005, p.186) também entende que a criação cai junto com o homem e diz que há pouca dúvida de que Paulo teve em mente o julgamento narrado em Gênesis 3.17 – 19. É interessante perceber o paralelismo entre “foi submetida à vaidade” e “escravidão da corrupção”, podendo supor que vaidade deve ser empregada simplesmente como sinônimo de corrupção, o que levou à mutabilidade e à mortalidade que caracterizaram esta criação como a conhecemos.

Já Rey (2005, p.218) compreende esta passagem como essencialmente antropológica. Ele diz que as palavras que descrevem a espera da criação são tomadas de empréstimo ao vocabulário do sofrimento humano. Segue afirmando que, para o apóstolo Paulo, cosmos e homem formam uma unidade e estão ligados por um mesmo destino. O que é difícil de concordar com Rey é a declaração de que, para Paulo, pouco importa o ponto de vista cósmico e o que interessa mesmo é o homem. Isto pode levar a um descaso com relação ao contexto em que se vive e, conseqüentemente, conduzir o cristão a focar sua prioridade apenas no ser humano.

O fato é que Adão cometeu o pecado e ele viria a sofrer as conseqüências, mas a criação também. O pecado causou anomalias a ele mesmo e a toda a criação.

Desde a queda do homem as potencialidades da natureza estão tolhidas, restringidas e confinadas. A criação está sujeita a um desenvolvimento reprimido e constante decadência. Ainda que aspire, não é capaz de plena realização (HENDRIKSEN, 2001, p.357).

Por isso, o gemido, como o de uma mulher que está no processo de dar a luz a uma criança. É gemer que indica sofrimento. Rey (2005, p.220) ressalta que esta expressão de Paulo é imagem tomada de empréstimo da apocalíptica judaica para designar os sofrimentos com a proximidade da era messiânica, em que o mundo será libertado de seus males.

É fato percebermos que estamos rodeados de sofrimento, que gera gemidos em toda a criação por causa da presença do pecado. Desde as suas mais remotas origens, toda a criação tem sofrido com a humanidade. Quando Deus castigou a humanidade doente, através do dilúvio, todos os animais morreram, exceto alguns escolhidos. No Êxodo, Deus matou todos os primogênitos, filhos dos egípcios e seus animais, por conta da opressão. Porém, livrou seus escolhidos, os filhos dos israelitas e seus animais. Deus se importa com toda a sua Criação e nós também temos bons motivos para nos importarmos com ela.

Mesmo agora o homem, que pela exploração egoística pode transformar a boa terra numa bola de poeira, pode, graças ao desempenho de uma administração responsável, fazer com que o deserto floresça como um rosal. Que há de ser, então, o efeito que uma humanidade completamente redimida produzirá na criação entregue aos seus cuidados? (BRUCE, 1997, p.137).

É necessária a conscientização de que, o ambiente que nos rodeia, está sofrendo continuamente com as ações egoístas dos pecadores. Não podemos

perder de vista que a criação oferece aspectos totalmente opostos: é o lugar da revelação da glória e da bondade de Deus, mas sua forma também está determinada pelo pecado, pela doença e pela morte (SCHELKLE, 1978, p.27). Schelkle diz que a história da humanidade em relação a Deus é salvação e ruína de toda a criação. O homem é o coração do mundo que pulsa. Por isso, temos a narração bíblica do pecado e castigo dos primeiros homens e a criação junto com eles.

Quando olhamos à nossa volta, vemos claramente como isto se materializa de modo cruel. A Bíblia ensina sobre o caráter da salvação, onde o indivíduo deve ter a consciência de que não é salvo do mundo, mas com ele. O sofrimento que Paulo quer explicar, também é para nós uma realidade que estamos vendo.

O homem tem afetado o meio ambiente de várias maneiras. O ser humano, ao se servir da natureza para existir e viver tem provocado, por ignorância ou irresponsabilidade, muitos problemas que devido à superpopulação do mundo atual, causam preocupações a todos nós. A realidade do fim do mundo parece mais viável hoje do que nunca.