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Cabe destacar que o trabalho de campo deste estudo seguiu de perto as etapas desenhadas pelo GT instituído no âmbito do GDF, conforme indicado na tabela 2 e no registro fotográfico. As fotos utilizadas se revelaram importante instrumento de observação e análise, além do registro factual do contexto pesquisado.

As observações realizadas ao longo desse processo objetivaram verificar a interação entres os atores sociais em relação ao cumprimento das demandas da proibição e regularização dos VTAs; perceber a logística das instituições governamentais para cumprimento das ações desencadeadas; verificar as condições de atuação dos carroceiros, agregados e as condições a que são submetidos os animais nesse trabalho, bem como perceber o olhar da população acerca dos VTAs no Distrito Federal.

Etapa Ações

1 Cadastramento dos carroceiros no Plano Piloto e nas demais RAs

2 Vistoria das carroças, exame dos animais (resenha, coleta de material e vacinação anti-rábica) e chipagem dos animais

3 Palestras para os carroceiros: Regras de trânsito e cuidados com os animais.

4 Fiscalização educativa e posteriormente a fiscalização punitiva. Novos cadastramentos (por tempo limitado)

Quadro 2 - Etapas de ações do GT Fonte: A Autora

4.2.2 Pesquisa documental

Nesta etapa da pesquisa foi feita uma análise documental para levantar dados secundários (relatórios das instituições pesquisadas, legislação ambiental, legislação sobre o trânsito de VTAs nas vias públicas, arquivos noticiosos) e dados primários, tais como as propostas apresentadas pelos atores sociais - apuradas nos encontros do GT – além de outras observações referentes às fontes pesquisadas.

Tais dados contribuíram para identificar – no capítulo referente a “Resultados e Discussão” - o estado da arte das políticas públicas atinentes aos trabalhadores que utilizam VTAs e daquelas cujo caput abrange a proteção dos animais de tração.

4.2.3 Questionários e entrevistas

As entrevistas realizadas foram semi-estruturadas, que são mais indicadas para estudos exploratórios, como neste estudo de caso.

Por sua vez, os questionários foram elaborados de acordo com os segmentos e pessoas envolvidos no universo pesquisado - catadores, associações e cooperativas de catadores, gestores públicos, organizações governamentais, não governamentais e população.

Os critérios para a escolha dos entrevistados nos órgãos governamentais e não governamentais levaram em conta a participação no processo desencadeado pelo GDF para proibição e regularização dos VTAs, especialmente aqueles participantes do GT instituído. A indicação de lideranças pelos próprios entrevistados e a representatividade para validação do estudo exploratório também foram levadas em conta nos critérios.

Assim, à exceção do DER e Sudesa, todas as instituições governamentais citadas estão representadas em uma entrevista e/ou questionário realizados. Os cargos e nomes dos entrevistados não estão destacados, conforme acordado durante a pesquisa.

Nas instituições não governamentais apontadas no estudo também foi realizada uma entrevista/questionário com um representante de cada uma delas.

As associações/cooperativas visitadas para entrevista com um representante, foram: a Associação dos Agentes Ecológicos da Vila Planalto (AGEPLAN); a Cooperativa de Produtores e Trabalhos de Reciclagem (CORTRAP) (da Vila Estrutural); Associação Pré-Cooperativista de Catadores de Resíduos Sólidos de Brasília – L4 Sul (APCORB); a Cooperativa Popular de Coleta Seletiva (COOPATIVA) (próxima à Vila Estrutural); a Associação de Catadores do DL Nortee a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis (Centcoop DF). Outros contatos com representantes de associações e cooperativas foram feitos em reuniões do GT. Importante salientar que grande parte, em algumas delas a totalidade de associados, já foi composta por carroceiros.

Os questionários foram aplicados seguindo os mesmos critérios das entrevistas nas instituições governamentais e não governamentais.

A elaboração dos questionários se deu após observações de reuniões do GT e algumas visitas para acompanhamento do trabalho dos carroceiros ou ações fiscalizatórias do Poder Público. As questões objetivaram:

 Segmento carroceiros/cooperativas/associações: Verificar as reações quanto à proibição do trânsito de VTAs no Plano Piloto e regularização nas demais RAs; condições dos animais; melhorias na qualidade do trabalho; interesse em participar de cooperativas.

 Segmento população: nível de informação e concordância/discordância acerca das decisões governamentais; percepção do tratamento dispensado aos animais pelos carroceiros, e pelo Estado aos trabalhadores.

 Segmento Poder Público e ONGs: cumprimento das ações do GT; participação e interação de segmentos diversos; dimensões observadas nas ações em curso; indicações para subsidiar políticas públicas voltadas à inclusão social e ao bem-estar animal; disseminação da informação e impactos acerca das ações desenvolvidas.

O espectro amostral dos questionários aplicados aos carroceiros foi definido a partir do levantamento em curso, realizado pelo GDF. Assim, tomou-se como base o correspondente a 10% do quantitativo de carroceiros cadastrados até então, nas respectivas Regiões Administrativas do DF, de acordo com o quantitativo por RA, conforme tabela 1. Considerando-se que poderia haver erros na coleta, optou-se para uma amostra de 200 questionários.

Para a categoria população, o critério adotado foi a aplicação de questionários apenas na RA do Plano Piloto, uma vez ser a área na qual ficou estabelecida a proibição do trânsito de VTAs. Os questionários foram distribuídos entre moradores das Asas Sul, Norte e Sudoeste, tendo em vista serem locais por onde transitam VTAs e também por facilitar a logística de entrega e coleta dos formulários. Assim, foram escolhidos blocos residenciais aleatoriamente nessas localidades.

A amostra para uma população finita, o equivalente a 200.000 habitantes (população aproximada de Brasília) e para o coeficiente de confiança de 95%, corresponderia a 62 casos (MALHOTRA, 2001 apud ZANETI, 2006). Considerando a margem de erros, optou-se pela aplicação de 84 questionários.

A última etapa da coleta de dados ficou reservada para retornos e entrevistas complementares que se fizeram necessários, após a sistematização e análise dos dados inicialmente coletados.

4.3 ANÁLISE DOS DADOS

De acordo com Martins, a análise de um estudo de caso deve deixar claro que todas as evidências relevantes foram abordadas e deram sustentação às proposições que parametrizaram toda a investigação (MARTINS, 2006, p. 87).

O método escolhido para análise dos dados coletados foi a análise de conteúdo, que se refere a um conjunto de instrumentos metodológicos adaptáveis a um campo de aplicação muito vasto – a comunicação. Nesse sentido, tudo que é dito, visto ou escrito pode ser submetido à análise de conteúdo.

Considerando que este estudo busca descrever, compreender e interpretar o processo relativo à gestão dos VTAs no Distrito Federal, a análise de conteúdo evidencia-se como adequada. Acresce-se a esse cenário o envolvimento do conjunto de atores sociais que, a despeito de atuarem num mesmo evento, a partir da decisão governamental de proibir e regularizar o trânsito desses veículos, apresentam discursos e interpretações distintas, conforme interesses dos respectivos segmentos que representam.

Técnica sutil e em constante aperfeiçoamento, a análise de conteúdo traduz- se em uma hermenêutica controlada, baseada na dedução, na inferência. Neste tipo de análise interessa mais as condições de produção dos discursos do que os próprios discursos. Para que a informação seja acessível e manejável, é preciso tratá-la de modo a chegar a representações condensadas - análise descritiva do conteúdo - e explicativas - análise do conteúdo (MACHADO, 2008).

Enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre os dois pólos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. Absolve e cauciona o investigador por esta atração pelo escondido, o latente, o não aparente, o potencial de inédito (do não dito), retido por qualquer mensagem. Tarefa paciente de desocultação, responde a esta atitude de voyeur de que o analista não ousa confessar-se e justifica a sua preocupação, honesta, de rigor científico (BARDIN, 2004).

A análise de conteúdo seguiu as seguintes etapas: a pré-análise – especificada abaixo; a exploração do material com o tratamento dos dados e interpretação – descritos em “Resultados e Discussão”.

Na pré - análise, a intenção foi operacionalizar e sistematizar as ideias iniciais. A começar pela escolha dos documentos a serem analisados, chegando ao

corpus ou universo da pesquisa.

Esta primeira fase possui três missões: a escolha dos documentos a serem submetidos à análise, a formulação das hipóteses e dos objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final (BARDIN, 2004).

A utilização da chamada “leitura flutuante”, denominação dada por Bardin (2004) ao procedimento de estabelecer contato com os documentos, foi realizada de tal forma a buscar impressões e orientações, para se chegar à escolha dos documentos a serem analisados.

Assim, definiu-se o corpus a ser analisado, a partir da transcrição das entrevistas e consolidação dos questionários, com vistas à análise dos discursos proferidos pelos atores sociais pesquisados. Vale dizer, realizar a busca por um núcleo de sentido para esta comunicação, ou seja, temas que sejam traduzidos por palavras-chave ou vocábulos que são evidenciados nos textos analisados.

Para tanto, Bardin (2004) sugere a classificação dos elementos constitutivos da análise a partir da categorização semântica e lexical. Segundo ela, uma boa análise depende da capacidade do pesquisador em categorizar.

Há uma tarefa dupla a ser realizada quando se adota esse tipo de análise: compreender o sentido da comunicação e desviar o olhar para outra significação. A leitura efetuada não pode e nem deve ser uma leitura “ao pé da letra”, mas antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano (BARDIN, 2004 apud MACHADO, 2008).

Nesse sentido, foram definidas as categorias, de acordo com os grupos de atores sociais, à luz das quais seriam feitas as análises.

Carroceiros

Assoc./Cooperativas População Poder Público ONGs

Mudança Informação Atuação do governo Atuação do governo Bem-estar animal Bem-estar animal Bem-estar animal Bem-estar animal Inclusão social Inclusão social Inclusão social Inclusão social

Proibição Proibição Proibição Quadro 3 - Categorias estabelecidas/ Atores sociais

A definição das categorias buscou explicitar elos entre a visão dos atores sociais e as questões propostas nas entrevistas e questionários, tendo em vista as indagações quanto ao objeto de pesquisa (perceber se há um processo de governança ambiental, como os atores estão situados no contexto e quais os impactos decorrentes das decisões governamentais – para os animais e para as pessoas).

Assim, a categoria “mudança” traduz a reação dos atores em relação à decisão governamental de proibir o trânsito de VTAs ou regularizar, conforme a Região Administrativa; as categorias bem-estar animal e inclusão social evidenciam a percepção dos atores em relação a possíveis mudanças ocorridas em relação aos animais e trabalhadores; ou mesmo se tais aspectos estão considerados devidamente no contexto das ações. O termo bem-estar animal está posto na categoria no sentido de evidenciar a diminuição dos maus-tratos, constatados no cotidiano dessa atividade, e não exatamente no espectro mais amplo da definição científica.

A categoria “informação” denota como determinado segmento está situado em relação às decisões governamentais e também às notícias que circularam na mídia a esse respeito. Por outro lado, a categoria interação e atuação do governo buscaram explicitar a percepção dos atores em relação ao processo estabelecido para desenvolvimento das ações propostas. Já a categoria “proibição evidencia a visão de determinado segmento quanto à hipótese da proibição, em definitivo, do trânsito de VTAs em todo o Distrito Federal.

A análise documental, que consiste em representar o conteúdo de documentos (citações e documentos oficiais emitidos pelos atores sociais, reportagens, relatórios) de forma diferente da original, também foi utilizada neste estudo. Esta análise viabiliza outro olhar de um documento primário, em estado bruto, para uma representação do primeiro. A intenção é a de evidenciar os indicadores para inferir sobre outra realidade que não a da mensagem original, sobretudo quando feito o cotejo com as categorias explicitadas.

Do percurso apresentado inferem-se as hipóteses de que não há um processo de governança ambiental estabelecido para a resolução das questões atinentes aos VTAs e, ainda, que o GDF não tem políticas públicas voltadas ao bem- estar dos animais de tração e inclusão social dos carroceiros. Vale dizer: as decisões tomadas de proibir o trânsito de VTAs no Plano Piloto e regularização nas

demais RAs não lograram êxito – seja no que tange ao cumprimento das medidas, seja na adoção de políticas públicas que concorram para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e familiares, bem como dos animais envolvidos nesse universo.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta fase foi realizada a exploração e a codificação do material existente. Buscou-se transformar os dados, por meio de enumeração, por exemplo, de forma a encontrar uma descrição exata das características pertinentes ao conteúdo - tanto dos registros tabulados nas categorias, quanto em relação aos documentos analisados.

Os registros estão feitos por categoria de ator social, embora exista referência a outros atores sempre que necessário.

5.1 CARROCEIROS / PLANO PILOTO

No âmbito do GT coube à Sedest a realização de cadastramento por meio da aplicação de questionário sócio-econômico para a identificação e quantificação do número de carroceiros e catadores de resíduos sólidos na região do Plano Piloto. Participaram da aplicação do instrumento o SLU, a Sedest e a Administração Regional de Brasília (RA1) que, por sua vez, contaram com a colaboração de alguns carroceiros assessorando esse trabalho, tendo em vista o conhecimento que os mesmos possuem sobre os trabalhadores e os espaços por eles ocupados no Plano Piloto. O processo de cadastramento e aplicação dos questionários deu-se em período correspondente a 15 dias, no mês de julho de 2007.

Segundo o relatório da Sedest (DISTRITO FEDERAL (BRASIL), 2008d), o objetivo foi subsidiar a formulação de projetos sociais dirigidos a essa parcela da população, num total de 360 pessoas cadastradas pelo órgão. O atendimento às famílias, por meio de suprimento de fundos (auxílio-aluguel), albergamento, transporte urbano e/ou passagens de retorno ao local de origem, além do encaminhamento às demais políticas públicas implementadas por outros órgãos do GDF, também constaram no rol de atribuições a serem cumpridas pela Sedest, no contexto dos VTAs.

Cabe destacar que, para efeito de cadastramento, os pesquisadores respeitaram a denominação estabelecida pelos trabalhadores - catadores seletores e carroceiros13.

A seguir são apresentadas algumas características dos trabalhadores entrevistados nessa região. A fonte de tais dados é o relatório da Sedest encaminhado ao MPDFT, como também entrevistas realizadas com funcionários da citada Secretaria (DISTRITO FEDERAL (BRASIL), 2008b).

De acordo com a divisão de trabalho já mencionada, os cadastrados no Plano Piloto correspondem a 89% de catadores, 6 % de seletores e 5% de carroceiros. A maioria é do sexo masculino, com baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto) e identificam-se como pardos. O equivalente a 17,5% dos entrevistados não possuem qualquer nível de instrução. Entre os entrevistados, 22 pessoas não souberam informar se haviam sido alfabetizados por alguma instituição de ensino.

Catadores 89% Carroceiros 5% Seletores 6%

Gráfico 1 - Divisão do trabalho Fonte: A Autora

As mulheres representam 42% dos indivíduos amostrados (360 cadastrados). A elas cabe a seleção do material e os afazeres domésticos nas áreas ocupadas por essas pessoas.

Quanto à rotina de trabalho observada na região do Plano Piloto, observou-se que o maior fluxo de coleta de materiais está concentrado no horário entre 7h e 18h, correspondendo a 33,84% dos trabalhadores, seguido de 30,18% que trabalham entre 8h e 18h. Entretanto, há um fluxo pequeno, porém crescente, de pessoas que

13 Na divisão social do trabalho, fator histórico advindo da organização do modo de produção

capitalista, no setor de recicláveis, o catador é o indivíduo que coleta material reciclável utilizando carrinho de tração humana ou carroção, carro com tração animal fora das especificações legais, bicicleta ou mesmo andando à pé. O seletor é o indivíduo responsável pela seleção do material reciclável por categoria. Em geral esta tarefa cabe às mulheres e filhos dos catadores. Carroceiro é o indivíduo que conduz a carroça com tração animal para coleta de material reciclável e também realização de fretes.

trabalham entre 18h e 24h, fazendo coleta em hipermercados, áreas residenciais e comerciais do Plano Piloto. Este dado é objeto de comentário no item “Legislação”.

Ainda em relação à rotina de trabalho, os dados levantados dão conta de que a grande maioria (50,63%) dos trabalhadores realiza duas viagens de trabalho por dia, no espaço compreendido pelos horários citados. Outros 29,75% realizam três viagens. O gráfico 2 destaca outros percentuais relativos à rotina de trabalho que, segundo informações dos trabalhadores, pode ser alterada por questões climáticas.

2 viagens / dia; 52,52% 3 viagens / dia; 29,75% 4 viagens / dia; 8,23% 5 viagens / dia; 2,22% 1 viagem / dia; 7,28%

Gráfico 2 - Rotina de trabalho Fonte: A Autora Das 7h às 18h; 33,84% Das 8h às 18h; 30,18% Das 18h à 0h; 2,13% Das 6h às 18h; 13,41% Das 11h às 18h; 8,23% Das 9h às 18h; 4,59% Das 5h às 18h; 7,62%

Gráfico 3 - Divisão do trabalho Fonte: A Autora

O material coletado não é revendido aos compradores diariamente, uma vez que a coleta é baixa. Sendo assim, a revenda é feita no final da semana ou quinzenalmente, conforme a produção.

Segundo a Sedest (DISTRITO FEDERAL (BRASIL), 2008d), 82,9% possuem apenas uma carroça com tração animal. Por outro lado, uma pessoa informou possuir nove carroças. Fato que sugere a hipótese de que tal pessoa alugue

carroças para os que não as tem ou para suprir aquelas que tiveram as carroças apreendidas pela fiscalização.

Sobre este tema, dois carroceiros informaram em entrevistas que o aluguel de carroças e animais é uma prática de “alguns” (falaram genericamente). Prática que imprime um esforço excessivo dos animais, com intervalos mínimos de descanso.

Quanto ao número de animais, a informação registrada é de que existem 191 na região do Plano Piloto. Da mesma forma que nas demais RAs este dado não é confiável, tendo em vista que, segundo os próprios representantes da Sedest, muitos carroceiros não foram encontrados, como também há aqueles que se recusam a fornecer quaisquer informações.

Os dados relativos ao tempo de exercício de tal atividade denotam que a grande maioria está entre dois a cinco anos no ramo. Entretanto, há casos em que os trabalhadores exercem a função de carroceiro há dez anos, no mínimo. Fato que, segundo a Sedest, sugere a hipótese de serem filhos de carroceiros, ou a segunda geração de trabalhadores que utilizam VTAs.

Para analisar a situação familiar desse contingente de trabalhadores, o relatório apresentado faz referência à Faleiros, 1996, para quem a categoria família deve ser vista em essência em um dado contexto social e não apenas no âmbito de uma estrutura, pois não é qualquer conjunto de homem/mulher/criança que constitui uma família. Assim, nesse universo, há que se considerar a conformação familiar para além da elaboração conceitual de família, uma vez que tais pessoas contam com agregados familiares, fazendo uma rede relacional com vistas ao sustento e sobrevivência dessa comunidade.

A sobrevivência dessas famílias está atrelada à coleta, seleção e venda de materiais e as condições de moradia reduzem-se, em sua maioria, aos locais de seleção do material. Os espaços utilizados para tal são áreas descampadas nos centros urbanos ou em meio ao cerrado do Distrito Federal.

Foto 5 - Moradia no cerrado: invasão próxima à Universidade Católica/Campus Pós-Graduação