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Crioulas e pretas forras: as libertas requerentes de terra na cidade do Natal (1700-1785)

Genograma Relacionamento Familiar

4.2 Crioulas e pretas forras: as libertas requerentes de terra na cidade do Natal (1700-1785)

O projeto colonizador português possuía diferentes diretrizes para as mulheres brancas, pobres ou filhas da nobreza, em relação às mulheres negras escravas e/ou forras. As primeiras eram relegadas ao casamento, e a obrigação de aumentar a população nas colônias. Já no segundo grupo, eram consideradas enquanto mercadorias para seus senhores, visto que a reprodução negra servia para o aumento da população escrava. A Coroa portuguesa não considerava as relações entre homens brancos e mulheres negras algo saudável para a empresa colonizadora, considerando os descendentes mestiços como indisciplinados, principalmente os “mestiços libertos, em

367 VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). Rio de Janeiro, Objetiva, 2000, p.280.

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geral desclassificados e desligados do sistema econômico escravista”368. Por essa razão,

a Coroa enfatizou a necessidade de enviar mulheres brancas para a colônia, com o intuito de conseguir controlar a vida social de seus colonos por meio do casamento. Portanto, as mulheres negras eram consideradas enquanto força de trabalho escravo, e essa deveria ser a sua contribuição para as conquistas ultramarinas.

Nesse sentido, a principal maneira de mudar as condições de vida para a mulher escravizada era conseguir a liberdade em forma de alforria. A liberdade poderia ser também “adquirida no batismo ou por meio de cláusula testamentária, ou ainda por

meio de uma ação civil de liberdade”369. Segundo a historiadora Aldinízia Sousa, a carta

de alforria era “um instrumento legal, por meio do qual o cativo adquiria uma mudança no seu status jurídico, deixando de ser escravo para se tornar livre”370, a alforria assinalava um outro status no mundo colonial, gerando certa autonomia para o liberto. Sousa afirma que muitas vezes a alforria era efetivada apenas mediante algumas condições impostas pelos senhores: “podiam ser pagas ou gratuitas, ou seja, adquiridas mediante alguma contrapartida que implicasse em ônus para o escravo, ou adquirida sem nenhum ônus, o que era nesse segundo caso mais difícil de ocorrer”371. Não é

objetivo deste trabalho, discutir profundamente a questão da alforria, no entanto considera-se importante ressaltar que dentre as requerentes de terra, existiu uma porcentagem de mulheres nesta condição.

Stuart Schwartz372 constatou um padrão para as alforrias que foram concedidas

na Bahia entre 1684-1745: uma proporção de duas mulheres para cada homem alforriado. Os estudos da historiadora Claúdia Cristina Mól sobre a inserção das mulheres forras em Vila Rica, entre 1750-1800, apontam que “uma parcela da

368 FIGUEIREDO, Luciano. O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas gerais no século XVIII, Rio de Janeiro; Ed. José Olímpio,1999.P.115

369 Sobre as alforrias a historiadora Aldinízia Sousa,afirma que forma consideradas duas formas de se conseguir a alforria: a condicional que poderia ser paga com o próprio trabalho do escravo, por pecúlio e a alforria incondicional que dependia do relacionamento com o senhor. Destacou ainda como as principais atividade de ganho que possibilitavam a formação do pecúlio pelos escravos foi o comércio de frutas e verduras pelas negras do tabuleiro e as lavagens de roupa. SOUSA, Aldinízia de Medeiros Liberdades possíveis em espaços periféricos: escravidão e alforria no termo da Vila de Ares ( XVIII- XIX). Dissertação de mestrado, UFRN, Centro de ciências humanas, Letras e Artes. Programa de Pós- graduação em história, 2013. P.68-70.

370 Idem. 371 Idem, p.70.

372 SCHWARTZ, Stuart. Alforria na Bahia, 1684-1785. In__. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: EDUSC,2001,p.171-218.

142 população cresceu sobremaneira a partir da segunda metade do século XVIII373” na região de Vila Rica, são os forros, dos quais se destacavam numericamente as mulheres. Provavelmente esse é um fator recorrente nas demais regiões do Brasil, principalmente no meio urbano, em que as escravas de ganho e de aluguel se destacavam. O comércio era algo natural para as mulheres negras, como afirma Claúdia Cristina Mól. Para a autora, existia um monopólio da mulher africana sobre o mercado, fenômeno que aconteceu comumente na América portuguesa, “o que seria explicado, em parte, pela tradição de comércio já trazida por essas mulheres da África Ocidental, ocorrendo no

mesmo molde em várias localidades”374. Essa propensão ao comércio foi um fator que

facilitou às mulheres o acúmulo do pecúlio para a obtenção da dita alforria.

Para a cidade do Natal, entre 1700-1785, não foi possível obter os registros sobre a atuação dessas mulheres, contudo, averiguou-se que entre as pessoas que pediram o direito de aforar chãos de terra na cidade, constavam seis mulheres forras, entre pretas e crioulas. Da mesma forma, foi possível constatar na investigação que apenas três homens, contando com um escravo e dois forros, foram requerentes de terra na cidade do Natal no mesmo período. É possível que essas ex-escravas tenham alcançado suas alforrias por meio do pecúlio gerado por atividades comerciais entre outras, o que

remeteria a uma alforria condicional375, pelo fato de haver um pagamento pela mesma,

ou em alguns casos essas negras podem ter recebido a alforria incondicional, aquela que provavelmente foi paga pelos anos de cativeiro. Em todo caso, não foi possível verificar a razão das alforrias dessas ex-escravas. No quadro abaixo, pode-se visualizar as forras requerentes de terra da cidade do Natal e o ano de seus pedidos.

373 MOL, Claúdia Cristina. Vendendo desordens e comprando liberdade: A inserção das mulheres Forras em Vila Rica,1750-1800, In: Anais do XI Seminário sobre a Economia Mineira [Proceedings of the 11th

Seminar on the Economy of Minas Gerais], 2004, p.3.

http://www.cedeplar.ufmg.br/diamantina2004/textos/D04A002.PDF Acesso em 02/04/2017

374 Ibidem, p.4.

Acesso em 02/04/2017

375 Os conceitos de Alforria condicional ou incondicional foram extraídos do texto Vendendo desordens comprando liberdade: a inserção das mulheres forras em Vila Rica 1750-1780, a autora Claudia Cristina Mól explica em nota de rodapé,p.4, os significados de ambas as alforrias de acordo com os estudos de Cf: GONÇALVES, Andréia Lisly. As margens da liberdade, 1996, p. 202-208.

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QUADRO 8: Mulheres forras requerentes de terra na cidade do Natal

Nome Condição Ano

Luzia da Silva Forra 1719

Antônia Bezerra Preta forra 1754

Maria José Crioula forra 1756

Bonifácia Pereira Crioula forra 1764

Isabel de Barros Preta forra 1769

Maximiniana Cardoso Crioula forra 1782

Quadro II: mulheres forras requerentes de terra na cidade do Natal. Fonte: cartas e provisões do Senado da Câmara, fundo documental do IHGRN.

No quadro acima, é possível observar as mulheres forras que foram suplicantes de terra na cidade do Natal. Nota-se que cinco das seis requerentes fizeram seus pedidos ao Senado da Câmara a partir de 1750, período de estabilidade da capitania, em que as principais famílias vinculadas à terra já se haviam estabelecido, fator que pode ter beneficiado a alforria dessas mulheres. Considerando-se o número total de mulheres requerentes de terra na cidade do Natal (25), o número de requerentes forras (6) é expressivo.

Luiza da Silva ou de Lima376, crioula forra, pediu ao Senado da Câmara um chão

de terra para construir sua morada na rua da igreja Matriz, ao passo que o Senado concedeu quatro braças de frente e 10 de fundo, em 1719. Luiza é a única forra que pediu terras na cidade, na primeira metade do século XVIII. Percebe-se que a dita forra pede o chão de terra na rua da igreja Matriz, em direção ao rio de beber água. Este era o espaço da cidade, com mais requerentes no período; segundo Rubenilson Brazão Teixeira, as primeiras ruas a serem ocupadas na cidade, entre os anos de 1700-1720, foram as ruas de trás da Matriz e a rua que fazia o caminho para o rio de beber, como se pode observar no mapa presente no capítulo I.

Já na metade do século XVIII, em 1754, Antônia Bezerra377, preta forra, pediu

chãos de terra no caminho do rio de beber, pois não tinha onde morar e queria fazer uma casa. O Senado da Câmara concedeu à dita requerente 6 braças de testada e 20 braças de fundo. Observa-se que essas medidas formavam um padrão na cidade do Natal, e que o

376 Data de terra concedida a Luiza da Silva. Caixa 1, Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 06, fl 117.

377 Data de terra concedida a Antônia Bezerra . Caixa 2, Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 09 (1743-1754), fl 270.

144 Senado da Câmara doava praticamente as mesmas proporções para os diferentes requerentes. Eram estes que no momento do requerimento informavam ao Senado as proporções e o lugar que pretendiam ocupar, ao passo que o Senado julgava ser possível ou não o aforamento.

Em 1756, Maria José378, crioula forra, solicitou ao Senado da Câmara chãos de

terra entre as casas de Manuel Raposo e Manuel Cardoso, homens importantes na cidade, que residiam na rua que corria atrás da igreja Matriz. Assim como Maria José, as forras requerentes de terra não se preocuparam em formar uma “rede de vizinhança” entre si, mas queriam assegurar os lugares que eram provavelmente os mais seguros e

próximos à água. Isabel de Barros379, preta forra, fez uma petição ao Senado da Câmara

para que lhe concedesse 40 palmos de terra na rua que ia para o rio de beber água, em 1769. Maximiana Cardoso380, crioula forra, queria fazer uma casa na rua de Santo

Antônio, pois não possuía casa para morar, e pediu, em 1782, ao Senado da Câmara

terras que estavam devolutas. Bonifácia Pereira381, crioula forra, queria fazer uma casa

para morar na estrada que ia para a Ribeira, em 1764. Bonifácia foi a única forra que não pediu terras próximas ao caminho de beber ou à igreja Matriz.

Todos os requerimentos de chãos de terra apresentados ao Senado da Câmara pelas mulheres forras tinham em comum solicitar o não pagamento do foro, uma prática que não diferia mesmo entre as gentes mais aquinhoadas da cidade. A presença das mesmas na cidade do Natal comprova que, provavelmente devido à escassez de moradores na cidade, o Senado da Câmara doava os aforamentos de terra para quem os solicitava e pretendia ocupar, independente do status social. O objetivo era povoar e aumentar a cidade.

Sobre as relações pessoais das mulheres forras requerentes de terra, não foi possível encontrar por meio da pesquisa laços de parentesco ou casamento; pode-se considerar a hipótese que essas mulheres viviam relações ilegítimas. Isto porque foi possível constatar que as uniões ilegítimas configuravam uma prática recorrente no período colonial, devido à dificuldade que as camadas mais pobres “encontravam para

378 Data de terra concedida a Maria José. Caixa 3, Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 10,(1755-1760) fl 92.

379 Data de terra concedida a Isabel de Barros. Caixa 3, Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 12, (1762-1775). Fl. 192.

380 Data de terra concedida a Maximiana Cardoso. Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 14, (1775-1788).

381 Data de terra concedida a Bonifácia Pereira . Caixa 3, Fundo documental do IHGRN. Cartas e provisões do Senado da Câmara. Livro 12, (1762-1775). Fl. 87.

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estabelecer o casamento de acordo com os preceitos religiosos”382. No entanto, o que se

confirma nessa pesquisa é que mulheres de diferentes origens sociais pretenderam tomar para si o direito de aforar chãos de terra na cidade do Natal, o que para os padrões da época sugere a busca por autonomia, anseio que algumas conseguiram alcunhar. 4.3 A espacialização dos chãos das mulheres da cidade do Natal

Segundo o arquiteto Manoel C. Teixeira, muitas cidades de origem portuguesa localizavam-se junto ao mar, assim seus núcleos de ocupação primitiva deveriam obedecer à prerrogativa de ser um local de fácil defesa. Por esta razão, os portugueses instituíam esses núcleos em “uma colina ou em um morro proeminente, dominando o mar e o porto, enquanto outro núcleo de ocupação se desenvolvia junto à praia,

associado às atividades ligadas ao mar”383. Coadunando-se com a perspectiva do

arquiteto, ao descrever os primórdios da cidade do Natal, Luís da Câmara Cascudo afirma que o núcleo de povoamento inicial que deu origem à Cidade Alta teve seu início no “chão elevado e firme à margem direita do rio a que os portugueses chamavam Rio Grande e os potiguares o Potengi, compreende o pequeno platô da colina que sobe pela

Junqueira Aires e desce pela Avenida Rio Branco até o Baldo, praça Carlos Gomes384”.

Portanto, a cidade do Natal foi estruturada seguindo a perspectiva de ocupação portuguesa, que buscava fomentar o traçado urbano seguindo as características físicas do território que estava sendo explorado. Essa estrutura deveria corresponder à lógica de poder que regia a sociedade. Logo, os núcleos de povoação eram desenvolvidos em “duas partes distintas: a cidade alta, local do poder político, institucional, militar e religioso; e a cidade baixa, dedicada às atividades comerciais e portuárias”385.

Dessa forma, pode-se compreender a distribuição espacial que se instituiu na cidade do Natal, que além da Cidade Alta, possuiu um lugar que se denominou Ribeira, pois “o português julgava estar vendo uma ribeira, como pensou enxergar um rio no Rio

382 ALBUQUERQUE, Myrianne Carla Oliveira de, LOPES, Fátima Martins. Práticas ílicitas e estratégias de sobrevivência feminina na Natal colonial. In:Capitania do Rio Grande: histórias e colonização na América portuguesa. (Orgs)MACEDO, Helder Alexandre Medeiros, SANTOS, Rosenilson da Silva. João Pessoa: Ideia; Natal: Edufrn, 2013.p.109.

383 TEIXEIRA, Manoel C.A forma da cidade de origem portuguesa , São Paulo: Editora Unesp: Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2012. P.44-45.

384 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, IHG/RN, Natal, 1999, p. 52.

385 TEIXEIRA, Manoel C.A forma da cidade de origem portuguesa , São Paulo: Editora Unesp: Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2012. P.44-45.

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de Janeiro”386. Além disso, “desde o início da colonização citava-se a região com seus

característicos topográficos”387. Sobre isso, Cascudo caracteriza a Ribeira como um

terreno pantanoso, “em que apenas alguns trechos ficavam descobertos nas marés de janeiro”388.

Ainda segundo Câmara Cascudo, o povoamento da Ribeira ocorreu mais lentamente que a ocupação da Cidade Alta, referindo-se a documentos que mencionam o cultivo de coqueiros na dita Ribeira, e que o povoamento só foi possível depois da realização da construção da ponte que ligava os dois espaços no século XVII, observou o historiador que apenas no século XVIII, iniciou-se a construção de casas na Ribeira “pelas atuais rua doutor Barata, Chile e General Glicério”389.

Observando esta perspectiva de ocupação, neste capítulo buscou-se averiguar quais os espaços que as mulheres que pediram chãos de terra ao Senado da Câmara da cidade do Natal ocuparam por meio de seus requerimentos. No mapa apresentado no encarte abaixo, buscou-se mapear os requerimentos apresentados pelas mulheres da cidade do Natal entre 1700-1785. Para tal, dividiu-se esse período em três diferentes momentos: 1700-1730; 1730-1755 e 1755-1785. As mulheres foram divididas em quatro grupos: Grupo vermelho (1700-1730), o grupo verde (1730-1755), o grupo violeta, (1755-1785), e grupo azul pós 1785.

386CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, IHG/RN, Natal, 1999.p.149.

387 Ibidem, p.150. 388Ibidem, p.150. 389 Ibidem, p. 151.

148 Em primeiro lugar, no grupo vermelho (1700-1730), apenas três mulheres solicitaram terras neste período: Dona Teodósia da Encarnação, em 1718; Dona Maria Rodrigues de Sá, em 1718; e a forra Luiza da Silva, em 1719. Sobre o requerimento de Dona Teodósia da Encarnação, o elemento essencial para que se obtivesse a localização de seus requerimentos – é a única mulher que requereu duas vezes chãos de terra ao Senado da Câmara (o foro sobre o chão que comprou o direito de aforar de Sebastião Cardoso Batalha e depois chãos para seu quintal) – foi a informação de que a mesma teria comprado o direito de aforar um chão que era aforado por Sebastião Cardoso Batalha, o mesmo havia pedido o foro de um chão localizado na Rua Grande próximo à Casa de Câmara e Cadeia. No requerimento de Dona Teodósia contém a informação de que as ditas terras confrontavam com “a banda de Manoel da Costa Bandeira”, que possuiu um chão na Rua Grande. Desse modo, por meio dessas informações, conjectura-se que a localização do chão de terra de Dona Teodósia – ponto 1 em vermelho e verde, pois os seus requerimentos são de períodos diferentes) – seja o registrado no mapa representado pela figura A.

Dona Maria Rodrigues de Sá foi requerente de terra no mesmo ano de Dona Teodósia. Seu pedido era para ocupar chão que tinha como confrontante o já defunto à época, o vigário Simão Rodrigues de Sá, “na estrada que ia para a igreja de Nossa Senhora do Rosário”, terras que estavam devolutas. Neste trabalho, observou-se que a estrada que levava para a igreja de Nossa Senhora do Rosário tanto poderia ser a própria rua da igreja, quanto a rua Junqueira Aires, que também podia ser chamada como a rua que descia para a Ribeira.

Desse modo, a representação do ponto 2 (em vermelho) concernente à Dona Maria Rodrigues de Sá no mapa A, levou em consideração as informações sobre a confrontação com as terras do vigário Simão Rodrigues de Sá. A crioula forra Luzia da Silva pediu ao Senado da Câmara, em 1719, o foro sobre o chão de terra que ficava na rua da igreja Matriz, nesse sentido pode-se observar a requerente representada pelo número 3 (em vermelho), no mapa da figura A.

O grupo vermelho, entre 1700-1730, possui apenas essas três requerentes que solicitaram seus chãos de terra no período do fim da Guerra contra os indígenas, finalizada em 1720. Nota-se que entre 1720-1730, não foi encontrado nenhum requerimento por chãos de terra na cidade suplicado por mulheres. Mesmo que, segundo

149 Câmara Cascudo afirma, “em 1722, o capitão-mor Pereira da Fonseca calcula a cidade

com trezentas casas”390, provavelmente essas casas pertenciam a pessoas que moravam

em fazendas no interior da capitania, e os requerimentos para ocupar esses chãos de terra foram realizados por homens.

Desse modo, o segundo grupo de mulheres requerentes foi o grupo verde (1730- 1755), integrando nove requerentes. Sobre as quais, é possível observar os laços de parentesco e a motivação para solicitar o requerimento ao Senado da Câmara. A viúva Paula Pereira de Abreu pediu ao Senado da Câmara chãos para fazer uma lavoura na vizinhança da cidade, “num pedaço de mato, que pega no morro da mochila correndo

por traz do morro branco”391. Não foi possível por meio dessa descrição localizar a terra

ocupada por Dona Paula. Portanto, o ponto do mapa A relacionado a essa requerente é apenas figurativo, já que a mesma solicitou chãos de terra no período entre 1730-1755.

A viúva Dona Joana Freitas da Fonseca, que foi requerente no ano de 1736, pediu ao Senado da Câmara o aforamento de um chão de terra na Redinha, que havia sido ocupado por seu marido, Manoel Correia Pestana. Mesmo viúva e com filhos órfãos como consta na carta, Dona Joana quis continuar a ocupar uma terra distante da cidade, “na outra banda do rio”; esse pedido só pode ser justificado pela vontade da viúva em querer continuar aforando um chão que já ocupava com seus filhos, assegurando para si e sua família senão a posse da terra, mas o direito de usufruí-la. No mapa correspondente à figura C, é possível visualizar a ocupação de Dona Joana.

A viúva Maria da Conceição Barros solicitou ao Senado da Câmara chão de terra na “fronteira com o oitizeiro, no caminho do rio de beber água”, próximo à terra que ela já ocupava. Desse modo, a localização de Dona Maria da Conceição Barros – ponto 9 e verde no mapa – levou em consideração as terras que foram ocupadas por seu falecido marido, Francisco Pinheiro Teixeira, e o caminho do rio de beber.

Ângela de Oliveira Melo foi a primeira mulher requerente de terra que pediu ao Senado da Câmara chãos de terra na Ribeira da cidade, em 1738. Consta em seu requerimento que a mesma era “moradora da Ribeira porto desta cidade” e que arrematou casas de morada, que foram do falecido Manoel Francisco que as havia