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As perspectivas morfológicas da cidade colonial portuguesa e as formas e usos da cidade do Natal entre 1700-1785.

A configuração ou produção de um território colonial depende da relação estabelecida com a matriz colonizadora, propiciadas pelos produtos ou formas de exploração, e com o impacto que essas relações são absorvidas na vida econômica da metrópole. “Trata-se do estabelecimento de atividades produtivas que necessariamente envolvem a criação de formas espaciais que se sobrepõem aos meios naturais e aos

habitats preexistentes”84. Para Antônio Carlos Albert de Moraes, a colonização é “antes

de mais nada a ocupação de novas áreas, uma apropriação das riquezas acumuladas, dos

recursos disponíveis, das terras e das populações encontradas”85. É a partir das relações

estabelecidas que é possível vislumbrar a produção do espaço. Provavelmente, devido à exploração do pau-brasil e posteriormente da cana-de-açúcar desenvolvida no litoral, a empresa ultramarina tenha optado pela ocupação da costa na América portuguesa. Sobre a cidade do Natal, pode-se observar que as principais atividades econômicas eram a pesca, a pecuária, a extração de sal e algumas roças de subsistência. Provavelmente a diminuta relevância econômica da cidade do Natal seja uma justificativa para sua demorada ocupação.

Para Sergio Buarque de Holanda, a colonização portuguesa “foi antes de tudo

litorânea e tropical”86, tendo a Coroa “dificultado as entradas terra a dentro com medo

que se despovoasse a marinha”87. Como forma de conter a população no litoral,

Holanda aponta que as cartas de doação de capitanias estipulavam “que podiam os donatários edificar junto do mar e dos rios quantas vilas quisessem por que por dentro da terra firme pelo sertão não poderão fazer menos espaços que seis léguas de uma a outra”88. Essa orientação que a Coroa portuguesa fazia aos seus súditos do além-mar,

provavelmente estava vinculada à necessidade de defesa da costa devido a ataques sofridos por inimigos dos portugueses.

No entanto, ocupar as costas marítimas era uma das prerrogativas portuguesas, em relação ao domínio de um território. Segundo o arquiteto Manoel C. Teixeira, muitas cidades de origem portuguesa localizavam-se junto ao mar, assim seus núcleos

84 MORAES, Antônio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no longo século XVI, Hucitec, São Paulo, 2000, p.91.

85 Ibidem.

86 HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil, São Paulo, 26 ed, Companhia das letras,1995,p.99. 87 Ibidem, p.100.

48 de ocupação primitiva deveriam obedecer à prerrogativa de ser um local de fácil defesa. Por esta razão os portugueses instituíam esses núcleos em “uma colina ou em um morro proeminente, dominando o mar e o porto, enquanto outro núcleo de ocupação se

desenvolvia junto à praia, associado às atividades ligadas ao mar”89. Portanto, a cultura

do território português traduz-se na “forma como as cidades portuguesas têm a capacidade de se articular intimamente com as características físicas dos espaços em

que se implantam, nomeadamente com sua topografia”90.

Muitas cidades de origem portuguesa desenvolveram-se em regiões de encosta, à beira de uma baía, ou junto a rios. No entanto, cidades costeiras ou cidades ribeirinhas apresentam princípios idênticos, nas “cidades à beira-mar, a primeira via estruturante, muitas vezes designada de Rua Direita, acompanha a curvatura da baía e desenvolve-se a relativa curta distância da linha da costa. Nas cidades a beira do rio, esta mesma via estruturante situa-se pendente para o rio, a meia encosta, deixando livres para a agricultura os terrenos mais perto do curso da água”91.

Paulo Santos, em seu estudo intitulado “Formação de Cidades no Brasil colonial”, afirma que as cidades do Brasil colonial, podem “ser antes consideradas como

cidades portuguesas do Brasil do que como cidades brasileiras”92, pois conservaram sob

as mais diversas condições características lusas. Nesse ínterim, afirma que as cidades coloniais do Brasil, “cujas traças, como em geral as das portuguesas da mesma época, acusam dupla origem: a informal da Idade Média e a formalizada da Renascença”93. Nesse sentido, formulou quatro categorias, sobre a evolução dos traçados e vilas no Brasil94, classificando como traçados inteiramente regulares (ex: Vila Boa de Goiás); traçados de relativa regularidade (ex: vilas de Cuiabá e de Manaus); traçados que inicialmente foram irregulares, sendo depois refeitos para adquirirem perfeita regularidade (ex: vila de Barcelos). Observando-se as teorias sobre a formação e traçados da cidade colonial brasileira, elaboradas por Paulo Santos, pode-se afirmar que a cidade do Natal, provavelmente, possuiu as características de ter traçados de relativa

89 TEIXEIRA, Manoel C.A forma da cidade de origem portuguesa , São Paulo: Editora Unesp: Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2012. P.44-45.

90 TEIXEIRA, Manuel C. A construção a cidade brasileira, Livros Horizonte, Lisboa, 2004, p.8. 91 Ibidem, p.31.

92 SANTOS, Paulo Ferreira. Formação de Cidades no Brasil Colonial 1904-1988, Editora UFRJ, Rio de Janeiro, 2001, p.18.

93 Ibidem. 94 Ibidem, p.58.

49 regularidade, pois assim como as vilas de Cuiabá e Manaus, Natal desenvolveu-se ao longo de um rio, próxima a Fortaleza dos Santos Reis, construída em uma elevação.

Já o arquiteto Rubenilson B. Teixeira, afirma que possivelmente a cidade do “Natal fundada em 1599, se encontre entre os primeiros exemplos de uma localidade que obedecia a algum traçado regular de seu espaço central, embrião de uma futura praça”95. O arquiteto defende suas conjecturas concebendo, que “a cidade, devia se

resumir à atual praça André de Albuquerque no período de sua fundação, resultasse de

algum “traço” ou desenho urbano, ainda que rudimentar”96. Logo, o argumento utilizado

pelo arquiteto sobre a fundação da cidade do Natal ser no período em que as coroas de Espanha e Portugal estavam unidas no reinado de Filipe II, corrobora com suas conjecturas, já que foi o supracitado soberano quem promulgou as Novas Ordenanças de Descobertas e de Povoamento em 1573, documento que comportava regras explícitas de planificação e de desenho urbano das aglomerações urbanas. Tais regras pretendiam estabelecer traçados extremamente regulares no espaço urbano. Teixeira sugere que Gaspar de Samperes, o arquiteto jesuíta de origem espanhola, responsável pelo projeto inicial da fortaleza dos Reis Magos e de outras edificações na capitania, pode ter influenciado de alguma forma a organização espacial da cidade. Contudo, o arquiteto afirma que propõe apenas hipóteses, pois na ausência de alguma comprovação documental não é possível afirmar com absoluta certeza esses fatos.

Observa-se, pois, uma hierarquia que definia a configuração das ruas da cidade colonial. “A localização dos edifícios quanto às ruas que os ligavam, e também os espaços urbanos que geravam, estavam intimamente ligados à estrutura do território e se

desenvolviam a partir dela”97. Segundo a perspectiva de Michel de Certeau, “o espaço é

o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam e o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de

proximidades contratuais”98. Assim, poder-se-ia traduzir o espaço da cidade colonial em

seu processo de construção.

Infere-se que foi a partir do uso, ou seja, das práticas dos habitantes sobre o território que a cidade é arquitetada. Sua estrutura assegurada por meio dos

95 TEIXEIRA, Rubenilson Brazão. O poder municipal e as casas de câmara e cadeia – Semelhanças e especificidades do caso potiguar. Natal: EDUFRN – Editora da UFRN, 2012.p. 210-211.

96 Idem.

97 TEIXEIRA, Manoel C.A forma da cidade de origem portuguesa , São Paulo: Editora Unesp: Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2012. P.43.

50 equipamentos urbanos, os nomes das ruas e os lugares são revestidos de significados que refletem as práticas daquela sociedade. A cidade colonial portuguesa é, em suma,

“um lugar praticado”99. Observa-se essa hipótese no processo que aproxima a toponímia

com o uso do lugar. Segundo a perspectiva de Maria Valentina do Amaral Dick, a toponímia “é a disciplina que caminha ao lado da história, servindo-se de seus dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado contexto regional, inteirando-se de sua origem para estabelecer as causas motivadoras, num espaço e tempo preciso, procurando relacionar um nome a outro, de modo que, da distribuição conjunta, se infira

um modelo onomástico dominante ou vários modelos simultâneos”100. Para a cidade do

Natal, observa-se que o uso das ruas e seus nomes estão intimamente ligados, tanto que

as ruas mais antigas identificavam-se com os equipamentos urbanos que possuíam — a

exemplo, a Rua da Cadeia ou a Rua de Santo Antônio.

Sendo assim, pode-se entender que segundo o modelo de ocupação das cidades coloniais portuguesas a toponímia interagiu com a onomástica – ciência do campo da linguística responsável pelo estudo dos nomes, corporificada pela história indo muito além das restrições do estudo dos nomes pela sua significação etimológica.

Na planta a seguir, produzida por Teixeira, pode-se observar a nomenclatura das ruas e quais equipamentos urbanos existiam em cada uma delas, na cidade do Natal no século XVIII.

99 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. P.202.

100 DICK, Maria V. de Paula do Amaral. A dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo - 1554-1897, p.12.

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Figura 2: Planta falada da Cidade do Natal no século XVIII

Planta falada, com destaque para os edifícios e ruas existentes no século XVIII. Produzida pelo arquiteto Rubenilson B. Teixeira. Fonte: TEIXEIRA, B. Rubenilson. Da cidade de Deus à Cidade dos Homens, a secularização do uso, da forma e da função urbana, Natal RN EDFURN.101

Ao observar a planta acima, é possível visualizar as principais ruas e edifícios apontados por Rubenilson Brazão Teixeira, que foram construídos no século XVIII, a Rua Grande ou Rua da Casa de Câmara e Cadeia (assim identificada por possuir o edifício não religioso mais importante da cidade), a rua de Santo Antônio, designada assim a partir de 1763, ano da construção da igreja de Santo Antônio dos militares, e a rua da Conceição, que se encontra por detrás da igreja matriz.

Neste trabalho, ao averiguar os chãos de terra da cidade do Natal, pode-se perceber que em algumas cartas de doação de chãos de terra os requerentes identificavam a localização de seus pedidos por meio de alguns equipamentos urbanos e ruas. A partir dessas cartas foi possível verificar a evolução da ocupação urbana nos diferentes lugares da cidade, e como os vassalos del’rei nomeavam a partir do uso as ruas e caminhos da urbe. Conforme a proposta metodológica sugerida por Maria

101 Planta falada, com destaque para os edifícios e ruas existentes no século XVIII. Produzida pelo arquiteto Rubenilson B. Teixeira. Fonte: TEIXEIRA, B. Rubenilson. Da cidade de Deus à Cidade dos Homens, a secularização do uso, da forma e da função urbana, Natal RN EDFURN, 2009, p.528.

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Vicentina, para a classificação toponímica102, com bases nos dados contidos nos

requerimentos de chãos de terra realizados ao Senado da Câmara da Cidade do Natal, pode-se constatar que as denominações espaciais que foram empregadas no período colonial para designar os espaços da cidade do Natal, possuíram os seguintes referenciais: Hierotoponímico – do imaginário religioso que envolve nomes sagrados (Exemplos para a cidade do Natal: Rua detrás da igreja matriz, Rua de Santo Antônio,

Rua da igreja do Rosário, Caminho do Rosário, caminho da Cruz). Hidrotomonímico

nomenclatura relativa à natureza hídrica, vinculada à importância dos cursos d’água (exemplos para a cidade do Natal: Rua do rio-de-beber ou caminho do rio de beber água, no caminho do rio desta cidade, no rio salgado desta cidade). Geomorfotopominíco – relativo às formas de relevo (exemplo para a cidade do Natal: Ribeira). E por fim, Fitoponímico – denominação referente a vegetação (exemplo para a cidade do Natal: caminho do mangue).

Entre 1700-1720, como se pode visualizar no gráfico a seguir, apenas a igreja matriz, a rua da casa de câmara e cadeia, a rua que ia para a Ribeira, o caminhos dos sertões, o caminho do rio de beber e a rua da Igreja do Rosário apareciam como pontos de referência na documentação.

Gráfico 6. Ruas, Caminhos e equipamentos urbanos apresentados nos requerimentos de chãos de terra da cidade do Natal (1700-1720) Fonte: Cartas e Provisões do Senado da Câmara de Natal, IHGRN. Cx. 01,

102 Para melhor compreensão do método taxeonômico organizado por Dick para o enquadramento dos topônimos nos referenciais citados consultar: Dick, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A motivação Toponímica e a realidade brasileira, 1990; Maria V. de Paula do Amaral. Dinâmica dos nomes na cidade de São Paulo – 1554 -1897, 1996.

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livro 04 (1702-1707), Cx.01, livro 05(1708-1713), Cx. 01, livro 06 (1714-1719), Cx. 02, livro 07 (1720- 1728).

No gráfico 06, foram apresentados seis pontos relativos às ruas, caminhos e edifícios que os requerentes de terra da cidade do Natal utilizaram para determinar a localização de seus pedidos ao Senado da Câmara, no período entre 1700-1720.

A Rua Grande ou Rua da Cadeia é a que apresenta maior número de solicitações, situava-se em frente à igreja matriz. Segundo Cascudo, “foi a primeira rua. Teve nome pomposo. Rua Grande. Praça André de Albuquerque depois de ser praça da Mariz. Erguia-se a cadeia, com o Senado da Câmara no andar superior”103, provavelmente constituía a principal via da cidade. O segundo ponto de referência mais citado neste conjunto documental foi a rua do rio de beber água, Cascudo afirma que “o nome

primitivo da Rua de Sant’Antônio foi caminho-de-beber”104, em seus estudos denuncia

que esta rua era bastante popular no período colonial, “depois da Rua Grande era a Rua de Sant’Antônio, a principal. Alguns centos de registros denunciam sua popularidade, fixadora de população. Era a proximidade com a fonte, do rio-de-beber-água. O lado direito foi erguido em primeiro lugar, olhando o nascente. Logo depois da Matriz, ponto especial de referencia para a localização dos requerimentos, descem os lotes

solicitados ao Senado da Câmara, para construir casas de morada”105, dada a

necessidade do elemento para a sobrevivência humana, é compreensível que os moradores da cidade solicitassem chãos próximos ao rio de beber.

A rua da igreja de Nossa Senhora do Rosário é o terceiro ponto mais referenciado na documentação. O requerente Antônio Rodrigues de Sá em 1706 citou “as terras que se queria fundar a igreja de Nossa Senhora do Rosário”; no entanto, as demais solicitações que tinham como referência esta igreja iniciam-se no ano de 1714. O caminho da Ribeira, a estrada que dava para os sertões e a própria igreja matriz foram referenciados apenas duas vezes neste grupo de requerimentos.

Entre 1720-1760 dois novos edifícios foram incorporados à urbe: a casa da Alfândega e o Armazém, estabelecendo uma nova dinâmica para os requerentes que a

103 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, RN: EDUFRN, 2010.p.170.

104 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, RN: EDUFRN, 2010.p.171.

105 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, RN: EDUFRN, 2010.p.171.

54 partir desse período começaram a utilizá-los como confrontantes em suas petições. No quadro a seguir, é possível visualizar todos os pontos que foram utilizados pelos requerentes para determinar a localização de seus pedidos ao Senado da Câmara neste período.

Gráfico 7. Ruas, caminhos e equipamentos urbanos apresentados nos requerimentos de chãos de terra da cidade do Natal (1720-1760) Fonte: Cartas e Provisões do Senado da Câmara de Natal, IHGRN. Cx. 02, livro 07 (1720-1728), Cx.06, livro 17(1728-1736), Cx. 02, livro 09 (1743-1754), Cx. 03, livro 10 (1755- 1760).

No gráfico 07, é possível visualizar os referenciais utilizados pelos requerentes para localizar seus pedidos ao Senado da Câmara e o número de vezes que essa referência foi citada entre os anos de 1720-1760. Conferiu-se que o Rio da cidade, o mangue, o rio de beber, a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a casa da Alfândega, o Armazém, a rua por detrás da matriz e a Ribeira foram citados pelos requerentes. Dentre eles, alguns referenciais foram mencionados pela primeira vez na documentação investigada nesse período; é o caso da rua detrás da matriz, assim como é denominada na documentação, a rua onde se localizava a casa da alfândega e os fundos

do armazém. “Essa rua por detrás da Matriz para Ribeira é a Rua da Conceição”106, que

vai até a atual rua Junqueira Aires. Foi possível verificar que no período desta pesquisa, 1700-1785, a primeira referência a esta localidade ocorreu somente em 1720, no

106 CASCUDO, Luís da Câmara. História da cidade do Natal, coleção cultura, 4ª ed, Natal, RN: EDUFRN, 2010.p.172.

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requerimento de Antônio Barbosa Aguiar107. A dita rua foi citada novamente apenas em

1731, quando José Pinheiro Teixeira solicitou uma terra, que “localizava-se entre a igreja matriz e uma parte do armazém, ao fundo da sesmaria, havia uma estrada, que vinha detrás da matriz108”.

A rua por detrás da matriz foi uma localidade muitas vezes citada na

documentação no período de 1720-1760. Como exemplos, tem-se José dos Santos109,

solicitando uma terra entre as casas de José da Rosa, a oeste, e a leste com a igreja matriz, tendo a parte fronteira confrontando com Matias Araújo ao sul por detrás da

matriz. E Pedro Gonçalves Nóvoa110, no mesmo ano, solicitou chãos entre as casas do

escrivão Bento Ferreira Mousinho, a igreja matriz e a terra do Matias Araújo. Antônio de Sousa111, em 1737, solicitou chãos na rua detrás da matriz, onde segundo a documentação já existia um “andar de casas”. Em 1744, Manoel Raposo da Câmara, solicitou chãos de terra confrontando com as “casas que serviam de armazém de Manoel de Sousa Pereira”112, em direção ao mangue. Em 1751, Antônio de Sousa solicitou

novamente chãos na rua detrás da matriz. Já em 1752, o armazém que fazia fundos com a dita rua por detrás da matriz, é confrontante com a terra de Matias Simões Coelho. Em 1755, o padre Miguel Pinheiro Teixeira solicitou chãos que confrontavam com a “casa

da alfandega e contos de reis”113. Em 1756, José Pedro Vasconcelos114 pediu chãos na

rua detrás da matriz, e por fim em 1758, Manoel Cardoso115 solicitou a data de terra entre a parte detrás da matriz e a Ribeira.

Pode-se visualizar no quadro a seguir as ruas, caminhos e edifícios que foram citados na documentação referente ao período entre 1760-1785.

107 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 6, livro 17, (1728- 1736),fl.51.

108 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 6, livro 17, (1728- 1736),fl.52v.

109 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 6, livro 17, (1728- 1736),fl.52.

110 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 6, livro 17, (1728- 1736),fl.56.

111 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 6, livro fragmentado, (1736-1737).

112 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 2, livro 9, (1743- 1754),fl.21.

113 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 3, livro 10, (1755- 1760),fl.38.

114 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 3, livro 10, (1755- 1760),fl.89.

115 Cartas e provisões do Senado da Câmara. Fundo documental do IHGRN. Caixa 3, livro 10, (1755- 1760),fl.182.

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Gráfico 8. Ruas, caminhos e equipamentos urbanos apresentados nos requerimentos de chãos de terra da cidade do Natal (1760-1785) Fonte: Cartas e Provisões do Senado da Câmara de Natal, IHGRN. Cx.03, livro 10(1760-1762), Cx. 03, livro 12 (1762-1775), Cx. 03, livro 14 (1775-1788).

No gráfico 08, estão representados os chãos de terra, que foram solicitados nos últimos 15 anos a que essa pesquisa se remeteu. Entre 1760-1785, pode-se verificar que a Ribeira recebeu o maior número de requerimentos, o que indica uma expansão da cidade em direção a essa região. Essa expansão pode ser entendida em razão do aumento demográfico, ou talvez em detrimento de indicadores econômicos relacionados com o porto. Em seguida, aqueles que solicitaram chãos na cidade mas que não especificaram pelo nome da rua ou por equipamento urbano a localização do chão a terra que pretendeu ocupar. O rio de beber foi citado por sete vezes no período analisado, é o caminho que permitia o acesso ao rio. Mas outra forma de referenciar a nascente era a cruz da bica, que recebeu esse nome justamente por ficar próximo ao rio de beber, no período analisado recebeu um requerimento de chãos em suas proximidades.

Observou-se que entre 1760-1785, houve uma mudança na nomenclatura da rua que dava acesso ao rio de beber, devido à construção da igreja de Santo Antônio dos