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2.2 Percebendo os espaços: os requerentes de chãos de terra da Natal setecentista e sua representação social

2.2.1 Os oficiais militares requerentes de terra da Cidade do Natal.

No período da restauração do Rio Grande, no fim do século XVII, a partir de 1664, a capitania começou a ser repovoada. Segundo Patrícia Dias, “muitos dos novos

73 moradores eram militares, provavelmente das ordenanças” 179. José Eudes Gomes, em seu trabalho, sobre as tropas militares no Ceará setecentista, afirma que a “ascensão social dos indivíduos no interior das capitanias do norte, passava necessariamente pela obtenção das patentes do oficialato das tropas militares estabelecidas localmente”180, assim, observa-se que a condição de possuir uma patente militar, poderia ser um fator de distinção social para o homem que pretendia ascender na sociedade do Antigo Regime. Provavelmente era esse o objetivo desses novos moradores do Rio Grande não apenas aqueles que ocuparam o interior da capitania, mas como busca-se comprovar neste estudo, para os oficiais militares que almejavam ocupar terras urbanas.

A categoria militar no período colonial estava dividida em diferentes grupos. Para Caio Prado Junior, “as forças armadas das capitanias compunham-se da tropa de

linha, das milícias e dos corpos de ordenança”181. Segundo Dias, as tropas de linha ou

regular, eram aquelas formadas e pagas pela Coroa, o único corpo militar com alistamento obrigatório, sendo convocado todo o homem solteiro para estar no exército182. Essa era a tropa regular e profissional, “para o alistamento concorriam, além

dos voluntários, que eram poucos, os forçados a sentar praça, os criminosos, vadios e

outros elementos incômodos de que as autoridades queriam livrar-se”183. Afirma

Patrícia de Oliveira Dias, ainda que no século XVII, as tropas existentes na capitania eram as tropas de ordenança, no entanto, podemos perceber que para período desta pesquisa entre 1700-1785, foi possível observar a existência de alguns pleitos de chão de terra na cidade realizados por 7 soldados de infantaria paga, ou seja, homens que provavelmente pertenciam à tropa de linha.

As milícias eram consideradas como “tropas auxiliares”, organizaram-se em regimentos, segundo Caio Prado Junior, em substituição aos antigos terços, eram

179 DIAS, Patrícia de Oliveira. Onde fica o sertão rompem-se as águas: processo de territorialização da ribeira do Apodi-Mossoró (1676-1725) Dissertação (mestrado em História), Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015, p.49.

180 GOMES, José Eudes Arrais Barroso. As milícias Del´Rei: Tropas militares e poder no Ceará setecentista, Dissertação de Mestrado –, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, departamento de História, Universidade Federal Fluminense, 2009, p.29. Acesso em:

http://www.historia.uff.br/stricto/teses/Dissert-2009_Jose_Eudes_Arrais_%20Barroso_Gomes-S.pdf 181PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia, São Paulo, Companhia das Letras, 2011, p.329.

182 DIAS, Patrícia de Oliveira. Onde fica o sertão rompem-se as águas: processo de territorialização da ribeira do Apodi-Mossoró (1676-1725) Dissertação ( mestrado em História), Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal , 2015, p.104

183 PRADO JR,Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia, São Paulo, Companhia das Letras, 2011, p.330.

74 recrutados por serviço obrigatório e não remunerado, sendo os oficiais escolhidos na população civil184. Já as tropas de ordenança possuíam um caráter administrativo e arregimentava todos os homens livres de uma freguesia, geralmente casados e em idade

produtiva185, não dispensava nem os eclesiásticos e constituíam uma força local que não

poderia ser afastada do lugar em que se formava186. Sobre a sua organização, Caio Prado afirma que as ordenanças conservaram os antigos terços divididos em companhias, cada terço possuía um comandante supremo que era o capitão-mor. As companhias eram comandadas por um capitão, um tenente e um sargento ou alferes e se dividiam também em esquadras que eram comandadas por um cabo. As patentes superiores das ordenações conservavam também as antigas denominações do terço, capitão-mor, que corresponde ao coronel na organização de um regimento, e sargento-

mor, o major da organização regimental ou antes o tenente-coronel187.

Sobre a predominância de militares enquanto requerentes de chãos de terra na cidade do Natal, hipoteticamente pode-se justificar o fato, seguindo a lógica de defesa contra os inimigos da Coroa portuguesa que almejavam a posse desse território, a exemplo dos franceses que no início da colonização se uniram aos indígenas dificultando a posse dos portugueses, o domínio holandês por 24 anos na capitania, assim como a iminente guerra contra os indígenas no século XVIII. A cidade do Natal, portanto, configurava um território onde era primordial que os indivíduos estivessem disponíveis, para defesa da urbe, papel exercido pelos militares, principalmente os inseridos na tropa de ordenança. Eram esses homens como se comprovou por meio das solicitações de chãos de terra que procuraram ocupar a cidade do Natal.

Como já foi exposto na tabela IV, deste estudo, 50 dos requerentes apresentados por meio das cartas e provisões do Senado da Câmara possuíam patente militar, 49 indivíduos apresentaram patente militar e camarária concomitantemente e 5 requerentes possuíram apenas ofício camarário. Os indivíduos que apresentaram apenas patente militar configuram-se como o grupo como maior número de sujeitos, em relação ao total dos requerentes de terra na cidade do Natal. No quadro abaixo, é possível observar

184 Ibidem, p.331.

185 DIAS, Patrícia de Oliveira. Onde fica o sertão rompem-se as águas: processo de territorialização da ribeira do Apodi-Mossoró (1676-1725) (Dissertação de mestrado em História). Natal: Centro de Ciências Humanas Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2015, p.105.

186PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia, São Paulo, Companhia das Letras, 2011, p. 332.

187 PRADO JR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia, São Paulo, Companhia das Letras, 2011, p.332.

75 os requerentes de terra que segundo a investigação, possuíram apenas patente militar na cidade do Natal entre 1700-1785.

Quadro 1: Militares requerentes de chão de terra na cidade do Natal 1700-1785

Nome Patente militar Ano Local do

requerimento

1. Tinoco de Antônio Lopes Alferes 1705 Cidade

2. Pascoal Freitas de Castro Capitão 1679/1706 Cidade

3. Hilário da Silva Vieira Sargento mor 1706 Cidade

4. Diogo de Melo e Albuquerque Capitão/meirinho/cirurgião 1709 Cidade

5. Francisco Martins Faleiro Assistente 1713 Cidade

6. Mathias Quaresma Ajudante 1716/1732 Caminho

p/Ribeira

7. Manoel da Costa Rodrigues Capitão-mor 1719 Na outra banda do

rio

8. Antônio Simões Moreira Sargento mor 1719 Cidade

9. Belchior Pinto Sargento mor 1719 Morro branco

10. José Pereira de Carvalho Assistente 1719 Caminho p/

Ribeira

11. Manoel Fernandes do Nascimento Soldado 1720 Cidade

12. Manoel Lopes Capitão/ soldado de infantaria 1724/1766 Cidade

13. Antônio Barbosa de Aguiar Alferes 1725/1731 Cidade

14. João de Sousa Nunes Sargento mor 1728 -

15. Francisco da Cunha Araújo Capitão 1730/1731 Cidade

16. Felix Barbosa de Araújo Capitão 1731 Cidade

17. Manoel Rodrigues Aguiar Soldado de Campanha 1731 -

18. Antônio da Gama Luna Cabo de esquadra e alcaide 1731 Cidade

19. Albino da Fonseca Soldado 1735 Cidade

20. Simão Pereira da Costa Comissário geral de cavalaria 1738 Ribeira

21. Antônio Martins Assistente 1739 Ribeira

22. Manoel Rodrigues Pimentel Alferes 1741 Cidade

23. Sebastião Correia Rodrigues* Capitão de campanha 1742 Ribeira

24. Francisco Freire Ajudante 1743/1767 Cidade

25. Sebastião Dantas Correia Sargento mor 1748 Ribeira

26. José da Rosa Soldado de infantaria

paga/atravessador de farinha

1750 Ribeira

27. Manoel Dutra Assistente 1751 Ribeira

28. João Batista de Albuquerque e